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História As Máscaras de Sakura - Especial: Dia das Crianças


Escrita por: SiryenBlue

Notas do Autor


Oi! Peguei muitas de vocês de surpresa não é? Haha! Eu sempre quis mostrar um pouco da infância SasuSaku, então achei a oportunidade perfeita.

Dedicado a todas as crianças maravilhosas que lêem a fic! Jubs, vc tem 12! Ainda te considero criança! <3

Er... Vcs perceberam? Eu mudei a capa! A diva da Sthe que fez! Ela disse que está preparando uma outra, mas quer fazer surpresa. Só resta esperar.

E eu tbm coloquei nome nos capítulos. Será melhor de trabalhar com os especiais e segunda fase, sem ter q ficar necessariamente dando número aos capítulos.

Feliz dia a todos!

Enjoy!

Capítulo 16 - Especial: Dia das Crianças


[Cinco anos]

Mamãe e papai estavam brigando de novo.

Poxa!

Por que eles não podiam ficar amiguinhos?

Eu tinha medo de todas as vezes que eles se falavam. Sempre terminava em gritos. Não importava se o assunto era sobre o que teria no jantar ou sobre a música do papai. As brigas apenas surgiam, de uma maneira ou de outra.

Era como se eles não suportassem a  simples existência um do outro.

Talvez não suportassem mesmo.

Eles já estavam gritando palavras feias um pro outro há algum tempo.

Como sempre... Eu fiquei sentada na frente de casa esperando que eles parassem de se xingar.

Que feio.

Feio! Muito feio!

Eu não sabia bem o significado do que eles diziam, mas papai falou para eu não repetir porque não eram palavras bonitas.

Hunf! Então por que eles falavam?

Quando eu fiz essa pergunta pro papai, ele simplesmente disse que eu era nova de mais para entender.

Nova?!

Eu já tenho cinco anos e nove meses!

Já sou quase uma criança madura!

Eles, por outro lado, estão mais para adultos infantis.

Por que sério... Eles são os únicos que não percebem que essas brigas deles nunca levam a nada!

Suspirei, apoiando meu cotovelo no joelho, e meu rosto em minha mão.

Que. Tédio.

Aliás... Tédio é uma palavra bem interessante.

Aprendi seu significado há poucos dias e ela já estava definindo a minha vida.

Palavra chata. Significado chato.

Será que demoraria muito até que eles ficassem em silêncio e eu pudesse voltar para dentro e assistir meus desenhos?

"Ei, menininha!" Uma voz desconhecida me fez pular de susto. Olhei em sua direção e vi uma mulher muito bonita sorrindo para mim. "Desculpa. Não queria te assustar."

Pisquei, meio sem jeito.

Quem era ela?

A mulher estava na frente da casa que ficava ao lado da minha. Mas que eu saiba, ninguém morava lá desde que os Muramoto se mudaram.

"Onde estão seus pais, menininha?" Ela perguntou.

"Em casa." Respondi.

A mulher se aproximou de mim.

À medida que ela se aproximava, sua expressão ia mudando para algo que eu não sabia descrever. Era mais... Séria.

"São seus pais brigando, lá dentro?" Apontou para minha casa.

"São." Fiquei preocupada que ela pensasse coisas ruins de meus pais. Eles não são más pessoas. Só brigavam demais. "Mas é normal." Tentei defender.

No entanto a expressão dela só ficou pior.

"E eles te deixaram aqui fora sozinha?" Perguntou.

"Eu que quis sair. Prefiro ficar aqui fora." Falei.

A mulher balançou a cabeça. Parecia chateada.

Mas então ela sorriu para mim, gentilmente.

"Meu nome é Uchiha Mikoto. Eu e minha família nos mudamos para cá ontem à noite." Ela disse. "Qual o seu nome?"

"Sakura. Haruno Sakura."

"Oh! Que nome lindo! Combina com você." Ela me fez sorrir. Estava começando a gostar dela. "Quantos anos você tem?"

"Cinco anos e nove meses!" Estufei o peito, orgulhosa de já estar grandinha.

"Ah, claro! É muito importante dizer os meses também." Ela piscou um olho.

"VOCÊ É UM FILHO DA PUTA!" Os gritos vindo de casa ficaram ainda mais altos. "SEMPRE FOI! EU QUE ME DEI CONTA TARDE DEMAIS!"

"E VOCÊ É UMA VAGABUNDA QUE EU TIVE O AZAR DE CONHECER!" Papai respondeu à mamãe, no mesmo tom.

Estremeci, encolhendo-me.

"Você está com fome? Eu comprei dangos!" Mikoto-san falou. "Vamos lá para casa! Quero que conheça meus filhos."

Pisquei para ela. "Seus filhos vão ser meus amiguinhos?"

Mikoto-san estendeu a mão para mim e eu a peguei de bom grado, levantando-me.

"Claro que sim! Serão seus melhores amiguinhos." Respondeu.

Eu a segui enquanto ela me levava para a casa dela.

Quando entrei pude ver que nada estava arrumado ainda. Tinham caixas espalhadas por todo o canto e eu não vi nenhum móvel.

"O caminhão de mudança com as nossas coisas ainda não chegou." Ela explicou.

"Olá." Ouvi uma grave voz dizer. Um homem alto e muito bonito saiu de uma porta, encarando-me.

"Quem é você?"

"Haruno Sakura." Curvei-me* em respeito. Ele se inclinou levemente, em resposta. "E o senhor?"

Algo no que eu disse pareceu divertí-lo, porque ele deu um pequeno sorriso.

"Sou Uchiha Fugaku." Falou, gentil.

"Ela é nossa vizinha, querido." Mikoto-san disse. "E esse é meu marido, Sakura-chan."

Franzi a testa, olhando para ela. "É com ele que você briga?"

Por um momento ela apenas me olhou de volta, mas depois sorriu. "Bom... A gente não briga muito. Nós somos parceiros."

"Como... Amiguinhos?"

"Sim! Exato. Nós somos amiguinhos!" Respondeu, rindo.

Ué... Era possível ser amiguinho da pessoa com quem se casava?

Isso era novo para mim.

Enquanto eu tentava entender como duas pessoas casadas podiam ser dar bem, uma música começou a tocar pela casa.

Era muito bonita. Mas o som não era parecido com nada do que papai tocava.

"Vem." Mikoto-san chamou. "Vou lhe apresentar meus filhos."

Ela me conduziu pela escada. A música ia ficando mais forte a cada passo que eu dava.

Ela abriu silenciosamente uma porta.

Dentro do quarto havia um garoto alguns anos mais velho que eu, com cabelos negros que iam até embaixo do ombro, presos em um rabo-de-cavalo baixo. Ele estava com um instrumento na boca, mas eu não sabia qual era. Nunca tinha visto antes.

Ao nos perceber, parou de tocar. Ele me encarou, com um pouco de surpresa. "Oi." Falou.

"Oi." Respondi, incerta do que fazer.

"Itachi, essa é a Sakura, nossa vizinha." Mikoto-san falou. "Sakura, esse é o meu filho mais velho, Itachi."

Curvei-me para ele, que retribuiu o gesto.

"Er..." Comecei, sem jeito. "O que é isso?" Apontei para o objeto em duas mãos.

"Ah... Isso?" Balançou o instrumento. "Isso é uma flauta."

"Ah, sim." E então nós ficamos calados. Sem assunto.

"Onde está Sasuke?" Mikoto perguntou.

Logo após ela terminar de falar, o barulho de algo de quebrando chamou nossa atenção.

"Acho que tem sua resposta." O garoto falou.

Mikoto-san saiu do quarto e eu a segui.

Ela parou em frente à uma porta aberta e colocou as mãos na cintura, parecendo brava. "Sasuke!"

Aproximei-me, espiando por detrás das pernas de Mikoto-san.

Foi quando o vi.

Um garotinho da minha idade com cabelos negros arrepiados. Tão bonito! Não acho que já tenha visto um menino mais bonito. 

Ele estava segurando uma bola de futebol e rodeado de cacos de espelho quebrado.

Seus olhos vívidos me notaram, olhando-me como se eu não fosse desse mundo.

Eu não sabia o que fazer, então só o encarei de volta.

"Quem é ela, mamãe?" Perguntou, sem tirar os olhos de mim.

"O nome dela é Sakura. É nossa vizinha." Mikoto-san respondeu, mas sua voz ainda estava irritada. "Mas não tente mudar de assunto! Quantas vezes eu vou ter que te dizer que não é para jogar bola dentro de casa?"

O garotinho a olhou, revirando os olhos. "Foi mal, mamãe."

"Eu vou buscar algo pra limpar essa bagunça!" Mikoto-san disse, bufando. "Cuidado com os cacos."

E ela saiu, deixando a mim e ao garotinho sozinhos.

Ele voltou a me encarar.

"Eu sou o Sasuke." Disse.

"Sakura." Respondi.

"Queria ter olhos verdes iguais aos seus." Ele falou, aproximando-se de mim, com cuidado para não se cortar com os cacos no chão. O garotinho se inclinou ficando com o rosto bem próximo ao meu. Ele olhava meus olhos com admiração. "Eu realmente gosto de olhos verdes! São tão bonitos!"

Sorri com o elogio. "E eu queria ser tão bonita quanto você."

"Ah... Mas você já é muito bonita!" Ele pegou uma mecha do meu cabelo. "E tem cabelo rosa. Cabelo rosa é legal!"

"Verdade?" Pisquei para ele.

"Verdade." Afirmou.

Estava decidido! Eu gostava desse garoto!

"Você sabe jogar bola, Sakura?" Ele perguntou.

"Não." Balancei a cabeça.

"Quer que eu te ensine?"

Sorri. "Quero!"

O garoto de nome Sasuke também sorriu. Ele pegou minha mão e me puxou para fora do quarto. "Vem comigo!"

E nós corremos pelas escadas passando por Mikoto-san.

Olhei para trás e a vi sorrindo.

Sasuke me levou para frente de casa e nós brincamos de bola, sendo observados pelo pai dele.

Não me importei de ainda ouvir os gritos de meus pais, mesmo estando na rua.

Porque eu estava feliz.

O tédio tinha passado.

E eu havia encontrado um amiguinho para mim.
 

*

*

*
 

[Dez anos]

Depois da aula eu fui até a residência Uchiha.

A porta, como sempre, estava aberta* e eu entrei sem bater. Já era como se eu fosse de casa.

Itachi estava sentado, desleixadamente, no sofá.

Quis ir chamar Sasuke-kun, mas resolvi passar um tempo com o irmão mais velho.

Ele me olhou, curioso, quando me sentei ao seu lado.

Passei a observá-lo.

Não pude deixar de notar como ele estava ficando cada vez mais bonito. Com seus catorze anos, Itachi estava na fase adolescente e em constante mudança.

No entanto, eu não sabia se gostava disso.

Havia algo errado. Eu não sabia dizer o que era... Mas nos últimos meses ele tinha estado estranho... Calado demais. Pensativo demais. Distante demais.

Ele me olhou, interrogativo. "O que foi?"

"Eu não sei..." Apertei as mãos. Resolvi falar o que estava em minha cabeça. "Eu meio que queria saber o tem de errado com você nos últimos tempos..."

Itachi piscou. "Nada, ué."

"Tem sim." Insisti. "Eu te conheço. Quer dizer... Achava que conhecia. Porque você está bem estranho."

O moreno bufou. "Como se uma pirralha como você pudesse entender."

É o quê?

Hunf!

Por que todos viviam subestimando minha capacidade de entendimento?

Fala sério!

Eu já era praticamente uma adolescente!

"Sou grande o suficiente pra saber que algo não está certo." Afirmei.

Itachi balançou a cabeça, olhando para o outro lado.  "Se você quer mesmo saber, eu apenas percebi que esse lugar é pequeno demais para mim."

O que ele queria dizer com isso?

"Como assim? Você fala sobre sua casa?" Perguntei.

Itachi deu um sorriso de lado. "É, Sakura. Talvez uma casa maior fosse resolver meu problema."

Algo em sua voz me fez perceber que ele estava... Como é que dizem mesmo? Ah! Sendo irônico! Ele estava sendo irônico!

Só que eu não tive chance de insistir com ele, porque Sasuke-kun desceu correndo as escadas com seu violão em mãos.

"Nii-san!" Chamou. Não ficou nem um pouco surpreso quando me viu. "Oi, Sakura!" Disse, sorrindo. Eu tive aquele frio na barriga, que tinha toda vez que ele sorria. "Eu consegui! Consegui compor minha primeira música!"

Itachi sorriu para o irmão. O primeiro sorriso verdadeiro que eu via em um longo tempo. "Sério? E está esperando o quê para tocá-la?"

O mais novo sorriu, empolgado.

"Quer ouvir, Sakura?" Perguntou, com brilho nos olhos.

Assenti, freneticamente. "Claro!"

O sorriso dele aumentou. Eu senti um calorzinho gostoso no coração.

Oh! Como eu gostava desse garoto!

Suspirei quando ele começou a tocar uma linda melodia.

Era incrível como que mesmo tendo apenas dez anos, Sasuke-kun conseguia ser tão habilidoso ao violão.
 

Blackbird singing in the dead of night

Take these broken wings and learn to fly

All your life

You were only waiting for this moment to arise

Pássaro negro cantando na calada da noite

Pegue essas asas quebradas e aprenda a voar

Durante sua vida toda

Você só estava esperando este momento para decolar
 

Sasuke-kun cantou com sua voz suave e melódica. Eu poderia ouví-lo cantar o dia inteiro!

Tinha certeza que sua voz ia ficar ainda melhor quando ele crescesse e ela engrossasse.
 

Blackbird singing in the dead of night

Take these sunken eyes and learn to see

All your life

You were only waiting for the moment to be free

Pássaro negro cantando na calada da noite

Pegue estes olhos fundos e aprenda a enxergar

Durante sua vida toda

Você só estava esperando este momento para ser livre
 

Sorri ao prestar atenção à letra que Sasuke-kun havia escrito.

Ano passado, nós estávamos caminhando até a escola e Itachi viu um pássaro negro no chão, tentando voar. Só que a asa dele estava bem machucada.

Naquele dia, nós faltamos aula. Tudo para cuidar do pássaro.

Ficamos na casa dos meninos, enquanto os pais deles trabalhavam.

À noite, o pássaro já estava melhor, e começou a cantar. Itachi disse que era a forma que ele tinha de nos agradecer. E então, mesmo com a asa ainda machucada, ele alçou vôo, desaparecendo na escuridão.

De alguma forma, eu estava surpresa da primeira música de Sasuke-kun ser sobre aquilo.
 

Blackbird, fly, blackbird, fly

Into the light of the dark black night

Blackbird, fly, blackbird, fly

Into the light of the dark black night

Pássaro negro, voe, pássaro negro, voe

Para a luz da escura noite

Pássaro negro, voe, pássaro negro, voe

Para a luz da escura noite
 

Itachi havia nos dito que na vida, às vezes, era necessário voar mesmo que suas asas estivessem quebradas. Que tínhamos que aprender a identificar o momento em que devíamos voar para longe... Para a liberdade.

Eu nunca havia entendido o que ele dissera. Mas, aparentemente, Sasuke-kun havia.

Eu estava me perguntando como uma criança poderia criar uma melodia tão bela ao violão quanto aquela.

Ele tinha dez anos, pelo amor de Deus!

Prodígio! Sasuke-kun era um verdadeiro e talentoso prodígio.
 

Blackbird singing in the dead of night

Take these broken wings and learn to fly

All your life

You were only waiting for this moment to arise

You were only waiting for this moment to arise

You were only waiting for this moment to arise

Pássaro negro cantando na calada da noite

Pegue essas asas quebradas e aprenda a voar

Durante sua vida toda

Você só estava esperando este momento para decolar

Você só estava esperando este momento para decolar

Você só estava esperando este momento para decolar
 

Sorri, bobamente, enquanto ele terminava de tocar sua música.

Sasuke-kun havia se tornado um compositor!

E a música não era nada menos que excelente! Curta e com letra genialmente simples e profunda. A melodia mostrava toda a habilidade que ele tinha ao violão.

Senti meu coração dar piruetas dentro do peito.

Ok. Era isso.

Essa a era a prova que eu necessitava!

Há algum tempo eu já tinha percebido que meus sentimentos por Sasuke-kun ultrapassavam a barreira da amizade.

Nas histórias que eu ouvia, lia e assistia, as mocinhas que se sentiam de algo parecido com o que eu sentia, diziam que isso era se apaixonar.

Então devia ser mesmo.

Era uma coisa boa, não era?

Sim. Tinha que ser!

Eu tenho dez anos e já encontrei meu amor pra vida inteira!

Algumas pessoas chamam de sorte. Eu, de destino.

Sasuke-kun e eu havíamos nascido um para o outro. Acho que é isso que dizem de pessoas que estavam destinadas a ficarem juntas.

Ele era, sem dúvidas, o amor da minha vida.

Ninguém nunca faria eu me sentir do jeito que ele fazia. Ninguém nunca me encantaria do jeito que ele encantava.

Sasuke-kun era e sempre seria meu único e verdadeiro amor.

Isso nunca mudaria.

Agora eu tinha certeza.

Como que alguém poderia sequer chegar aos pés dele?

Impossível!

"Não baba, Sakura." Itachi zombou, dando um peteleco em minha testa.

Dei um tapa em sua mão.

"Vocês gostaram?" Sasuke-kun perguntou, tímido.

"Se gostamos? Você foi perfeito, Sasuke-kun! Como sempre!" Sorri de orelha a orelha. Seus olhos brilharam para mim.

Ele esfregou a nuca, sem graça. "Obrigado, Sakura."

Itachi riu. "Que bonitinho, irmãozinho! Você está corando!"

Sasuke-kun fechou a cara. "Não estou não!" Disse, emburrado.

Mas o ponto era: ele realmente estava corando.

Itachi gargalhou. "Eu quero ser o padrinho do casamento de vocês."

"Itachi!" Gritamos juntos. Sasuke-kun só o chamava pelo nome quando estava com raiva.

Mas isso só fez o mais velho gargalhar ainda mais.

Sasuke-kun avançou no irmão, deixando o violão de lado.

Logo, eles estavam brincando de luta.

Sorri ao ver a cena.

Esse sim era o Itachi que eu conhecia.

Esse era o Itachi que fazia o Sasuke-kun feliz.

E se o Sasuke-kun ficava feliz, então, eu também ficava.

Era simplesmente como as coisas funcionavam.

Mais tarde, quando eu voltei para casa, estava decidida a compor algo para ele. Algo que mostrasse meus sentimentos.

Só que eu não sabia por onde começar.

Então, resolvi pedir a ajuda de papai. Ele sabia tudo sobre música.

"Papai!" Chamei. Ele estava tocando piano. "Eu quero aprender música!"

Ele me olhou por um momento, surpreso. "Mas o que você quer aprender?" Perguntou.

"Tu-do!" Respondi. "Eu quero tocar todos os instrumentos que o senhor toca! E quero compor!"

"E por que esse interesse súbito?" Ergueu um sobrancelha.

"O Sasuke-kun compõe! Eu quero compor pra ele também!"

Papai riu, balançando a cabeça. "Tudo bem então, princesa. Se é isso o que você quer... Eu vou te ensinar tudo."

Mais uma vez ao dia, senti um calor no coração.

Papai me convidou a sentar ao seu lado, no banco em frente ao piano.

Ele guiou meus dedos em notas simples.

Havia algo mágico sobre aquilo.

Encostei minha cabeça no ombro de papai, deixando-o guiar meus dedos.

Eu esperava que algum dia pudesse compor algo que ficasse à altura de Sasuke-kun.

Mas naquele momento, tudo que importava era papai e a música. Meu coração foi invadido por uma paz diferente de tudo que eu conhecia.

Fazer música era melhor que escutá-la.

Estar ali... Com papai, e meus dedos ao a piano parecia apenas... Certo.

Havia realmente algo mágico sobre aquilo.
 

*

*

*
 

[Doze anos]

Hoje completava um mês.

Um mês desde a morte de papai.

Não era como se a dor estivesse diminuindo.

Mas acho que é verdade quando dizem que você se acostuma à ela.

Sim... Agora, eu chorava com menos frequência. Eu já estava indo para a escola. Algumas vezes eu até ria de algo que meus amigos falavam.

Mas a dor... Ela simplesmente estava lá. Impossível de evitar.

As coisas estavam... No automático.

Eu comia no automático. Tomava banho no automático. Arrumava a casa no automático. Estudava no automático... Tudo era no automático.

Eu tinha que arranjar um jeito de continuar vivendo, mas era tão difícil... Tão difícil.

Hoje, no entanto, eu me permitiria sair do automático. Não iria pra escola. Não iria para o banho. Não iria comer. Eu apenas me entregaria ao buraco em meu coração. Só por hoje.

Um mês.

Um mês sem meu pai.

E cada dia parecia que se tornava mais difícil viver.

Eu já estava deitada, encarando o teto de meu quarto, há algumas horas. Já tinha até amanhecido.

Foi quando ouvi alguém subir as escadas que levavam à meu quarto/sótão.

Sasuke-kun apareceu, empurrando a pequena portinha e terminando de subir. Ele voltou a fechá-la e veio até mim, sentando na beirada do meu futon.

Balançou uma sacola em minha frente. "Comida. Trouxe seus dangos preferidos." Ele disse.

"Estou sem fome." Retruquei,

"Precisa comer." Insistiu.

"Você não deveria estar indo para a escola?"

"Não hoje." Respondeu, simplesmente. "Você conseguiu dormir?"

"Não." Fui sincera.

Ele assentiu.

Puxando meu braço, obrigou-me a sentar.

"São dangos, Sakura." Falou. "E estão deliciosos. Coma só um pouquinho."

"Eu realmente não quero." Neguei.

"Por mim?" Ele pediu.

Só então eu suspirei, cedendo.

Consegui engolir três dangos, com muito esforço.

Estavam gostosos, mas de alguma maneira... Minha garganta parecia estar fechada.

Voltei a desabar no futon, quando terminei, puxando as cobertas e deitando de lado.

"Durma um pouco."

Hunf. Impossível.

Bem que eu queria. Minha noite tinha sido em claro. Mas eu apenas sabia que dormir não era algo que eu conseguiria.

Sasuke-kun me surpreendeu, deitando-se ao meu lado, ficando de frente para mim.

Olhei para ele, interrogativamente.

Mas ele apenas se aconchegou embaixo das cobertas e acariciou meus cabelos.

"Você sabe que eu estou aqui para você, não é? Não importa o que aconteça. Eu estou com você. E isso nunca vai mudar." Falou.

E aquilo trouxe lágrimas aos meus olhos.

Sasuke-kun me abraçou, passando um braço por debaixo de mim e me segurando firmemente.

Chorei em seu peito. Muito.

Desde a morte de meu pai eu me sentia tão sozinha. Como se o mundo não fizesse mais sentido.

As pessoas vinham me confortar, abraçar, dizer palavras de incentivo. Mas a grande verdade era que nada daquilo preenchia o enorme vazio que papai havia deixado.

No entanto, pela primeira vez, eu senti que tinha alguém ao meu lado.

Um pouco do meu mundo voltou a fazer sentido.

Sasuke-kun apenas continuou me abraçando e acariciando meus cabelos.

"Eu estou com você." Ficou repetindo inúmeras vezes.

Eventualmente, eu dormi.

Mais tarde, ao acordar, ainda estava nos braços de Sasuke-kun. A primeira coisa que ele fez, foi perguntar se estava melhor.

Melhor.

Sim. Eu estava melhor.

Depois que ele foi embora, senti a necessidade de escrever tudo que estava sentindo em relação a meu pai.

Então, foi o eu eu fiz.

Quando a noite caiu e mamãe foi dormir, escapuli para o quarto de instrumentos e compus uma melodia para acompanhar a letra. Tudo veio extremamente fácil para mim.

Era libertador.

Um alívio para a dor que eu sentia.

Quando eu achei que estava pronta, toquei-a.
 

Outra lágrima minha caiu, bem na sua frente

Eu tentei escondê-la , mas você já tinha notado

Eu sabia que não teria volta

Mas ainda hoje, eu espero por você
 

Lembrei-me de quando meu pai estava no hospital e eu tentava fingir que seu estado moribundo não me abalava.

Mas, na maioria as vezes, eu não conseguia levar a farsa muito longe e minhas lágrimas simplesmente saíam, sem que eu desse permissão. Eu via o quanto ele ficava triste ao me ver chorar. Então tentava me controlar ao máximo.
 

De fato, pareço uma idiota por ficar te chamando

Mas sei que um dia nos encontraremos novamente

Enquanto espero e desejo lhe ver

Estou acumulando lágrimas e assim mais um dia se passou
 

Eu via meu pai em todos os lugares. Eu o tinha em meus pensamentos o tempo todo.

Já tinha perdido a conta de quantas vezes havia desejado partir para o outro mundo, onde eu poderia estar com ele e com meu avô. Onde poderia reencontrá-los.

Mas eu sabia que precisava continuar a viver. Mesmo sentindo a falta deles todos os dias.
 

Naquele dia eu chorei

Seu adeus para sempre, desejando que eu fosse feliz

Às vezes eu até rio de alguma coisa

Então não se preocupe

Eu estou bem,

Obrigada,

Adeus
 

'Seja feliz, minha princesa.'

Essas haviam sido as últimas palavras de meu pai. Logo depois os aparelhos fizeram aquele barulho tenebroso, indicando sua morte.

Eu lembro de gritar desesperada para que ele voltasse para mim, enquanto minha mãe permanecia calada, sem reação.

Não houve momento mais doloroso do que aquele.

Eu tinha perdido o meu mundo.
 

Como se não existisse, você foi desaparecendo

Mesmo que eu pense muito em você

Não se preocupe

Eu ficarei bem
 

Papai murchou aos poucos.

Eu o assisti definhar dia a dia.

Talvez isso tenha sido o pior: perdê-lo lentamente para a hepatite.
 

De fato, pareço uma idiota por ficar te chamando

Mas sei que um dia nos encontraremos novamente

Enquanto espero e desejo lhe ver

Estou acumulando lágrimas e assim mais um dia se passou
 

Eu podia sentir as lágrimas descendo livremente por meus olhos.

Todas as lágrimas que eu havia acumulado estavam, finalmente, se libertando.
 

Naquele dia eu chorei

Seu adeus para sempre, desejando que eu fosse feliz

Às vezes eu até rio de alguma coisa

Então não se preocupe

Eu estou bem,

Obrigada,

Adeus
 

Eu estou bem.

Eu vou ficar bem.

Se por algum momento ele olhar para mim da outra vida, é isso que eu queria que soubesse.

Eu estou bem.

Eu vou ficar bem. 
 

Nos dias difíceis eu sinto tanto a sua falta

O vento sopra nas direções das montanhas como se chamasse meu nome

Se fosse você, eu correria até lá e o abraçaria forte
 

Havia vezes eu que eu jurava poder senti-lo perto de mim.

Como quando o vento acariciava minha pele.

Mas eu me convencia de que era tudo imaginação.

Ele não estava mais aqui.
 

Naquele dia eu chorei

Seu adeus para sempre, desejando que eu fosse feliz

Às vezes eu até rio de alguma coisa

Então não se preocupe

Eu estou bem,

Obrigada,

Adeus
 

Eu seguiria em frente.

Eu riria mais.

Eu ficaria bem.

A ele, eu devia tudo o que eu sou.

Meu coração era grato por todos os valores que ele me ensinou e que estariam comigo a vida inteira.

E, claro, pela música. Que agora era parte do meu ser.
 

Estou bem, 

Obrigada, 

Adeus

Estou bem, 

Obrigada, 

Adeus
 

Quando eu terminei de cantar, meu rosto estava banhado em lágrimas.

Mas minha alma estava serena.

Minha primeira canção, composta para a pessoa que me ensinou a fazer música.

Fechei os olhos enquanto sentia a paz interior.

Era como se ele estivesse comigo naquele momento.

Sim.

Ele estava. Eu podia senti-lo.

"Eu estou bem. Obrigada. Adeus." Sussurrei, com a certeza de que ele poderia me ouvir.

E mesmo que estivesse em um quarto fechado, pude sentir um leve vento em minha pele, como resposta.

Sorri.
 


Notas Finais


Sobre os asteriscos (*): acho que já comentei aqui, mas a curvatura é um cumprimento japonês que demonstra respeito.

Em cidades pequenas do Japão é muito comum as portas das casas ficarem destrancadas durante o dia. Até mesmo em Tokyo, a capital, acontece. Isso se deve à baixa taxa de criminalidade e aos próprios costumes japoneses. Konoha é minúscula, onde quase nada acontece. Então é bem comum para eles ficarem de portas abertas.


As músicas do especial são:

- Blackbird (essa nem preciso apresentar, não é?) dos Beatles;

- E I'm fine, thank you da banda coreana Ladies' Code. Muito triste, gente. Elas sofreram um acidente de carro que matou duas das cinco integrantes. Essa música já existia, e quando elas morreram meio que virou um hino em homenagem a elas. Bom, vale ressaltar que a canção sofreu modificações para estar na fic. E como eu sempre digo, nada drástico.

XOXO ❤️


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