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História As palavras que eu nunca disse - Capítulo 03


Escrita por: KatherineHanzen

Capítulo 4 - Capítulo 03


            Seu novo apartamento não podia deixar de ter uma sacada que lhe permitisse observar a lua durante todas as noites em que tivesse vontade, o que era sua principal e única exigência.

            Observar a lua era seu passatempo predileto, pois lhe permitia pensar em tudo ou não pensar em nada, tudo em uma coisa só, conforme melhor lhe convinha. Podia conversar com ela, ou somente ficar em silêncio, o que normalmente fazia, e também podia sentir-se conectada com o resto do mundo, com as estrelas, ou com o que está depois do céu.

            “Estamos todos sob o mesmo céu, querida”. Seu pai dissera. “Então não importa se eu esteja aqui ou do outro lado do planeta, se você olhar para o céu, sentirá como se estivéssemos lado a lado, como agora, olhando para o mesmo céu, a mesma lua, e as mesmas estrelas, aqui da janela do seu quarto”.

            “Eu te amo, papai... Do tamanho do céu!”

            Lembrar doía, todas as vezes.

            Não podia calar as vozes e as lembranças em sua cabeça por mais que tentasse. Mas, no fundo, as lembranças a mantinham viva e eram a essência do que era. Se não temos lembranças, não temos nada, pois não importa para onde estejamos indo, o que importa, é sabermos de onde partimos.

            Assustou-se com o som do toque de seu celular, já que não estava mais acostumada a receber ligações (e já nem lembrava mais qual era mesmo o toque que havia deixado), e atendeu a ligação, mesmo já sabendo de quem se tratava.

            - Alô?

            - Kath?

            - Oi Rosa.

            - Você está em casa?

            - Esqueceu que me mudei este final de semana? Onde mais estaria?

            Ouviu uma risada do outro lado da linha.

            - É verdade, esqueci que você tem problemas com adaptação.

            - Sua idiota.

            - Mas, voltando ao ponto, por quê não vem até aqui na casa do Leigh? Vamos pedir pizza e você pode conhecer o Lys-fofo!

            - Lys o quê?!

            - Lys fo-fo! – Ela bufou. – Lysandre, o irmão do Leigh... Eu te falei dele!

            - Rosa, você me falou de tantas pessoas em um único dia que ainda estou processando todas as informações... Mas o Lys-fofo acaba de cair um nível na minha escala de consideração, já que se deixa chamar assim.

            - Não é como se ele tivesse escolha...

            Katherine riu. – Foi o que eu pensei mesmo.

            - Então, você vem?

            - Não sei, Rosa, ainda tenho tanto para...

            - Não continue. Só deixe de ser rabugenta e mexa esse lindo traseiro até aqui, antes que vá te buscar!

            - Tudo bem. – Suspirou derrotada. – Qual o endereço?     

            ...

            Exatos trinta minutos após Rosalya lhe informar o endereço, ela estava estacionando o carro em frente à casa do Leigh. Ficou surpresa ao ver que não era muito longe de seu apartamento e sentiu-se confortável por poder ter conhecidos por perto no final das contas.

            Desceu do carro e bateu na porta, ouvindo Rosalya gritar que atenderia.

            - Quero deixar claro que só estou aqui porque fui ameaçada.

            Disse assim que a porta fora aberta.

            - É claro, como se você tivesse muitas opções de companhia. - Rosalya a abraçou em cumprimento. – Como você está?

            - Estou bem, obrigada. – Ela sorriu em resposta e entrou na casa.

            Era aconchegante e totalmente... Normal.

            Esperava que fosse cheia de quinquilharias e decorações extra-exageradas que pensou que seriam do feitio de Rosalya, mas estava enganada. Era tudo simples, harmonioso e elegante.

            Os móveis variavam de branco a marrom madeira, as paredes eram todas brancas e as cortinas também. A sala era conjugada com a cozinha, apenas separada por um balcão, o que fazia o andar de baixo parecer enorme. Na sala, havia um enorme sofá que parecia comportar cerca de 10 pessoas e uma enorme televisão de 40 polegadas, onde passava um show de rock de uma banda dos EUA.

            Os dois rapazes olharam em sua direção assim que pôs os pés na sala.

            Esperavam que se apresentasse, era isso.

            - Bem, olá...

            Tentou sorrir da melhor forma possível, mas a verdade era que fazia uma eternidade que já não fazia mais isso, e aquela situação a fazia ter vontade de ir embora correndo pela porta de onde veio.

            - Meninos, esta aqui é a Katherine, aluna nova e minha nova amiga... Por favor, sejam bonzinhos e educados, sim? Ela precisa mesmo de amigos.

            Rosalya tomou a frente, mas Katherine não sabia se deveria se sentir agradecida ou ultrajada pelo comentário.

            Girou os olhos. - Obrigada, Rosa. Agora a primeira impressão que tiveram é que sou uma coitada.

            - E não é?

            - Touché. – Katherine girou os olhos. – Muito obrigada pela positividade, aprecio sua sinceridade.

            - Eu sei. Amiga é para essas coisas, né? – Rosalya sorriu.

            Amiga.

            Conhecera Rosalya à menos de um dia e já a considerava assim, sem nem pensar duas vezes. O que, no final das contas, era estranho, já que a porcentagem do que ela sabia sobre sua vida estava em algum lugar entre 0 e 1. Mas, por outro lado, sabia que se tivesse que contar à alguém, seria para ela.

            Katherine sorriu em resposta e foi arrastada pela mão para perto dos rapazes, que estavam confortavelmente distribuídos no enorme sofá.

            - Lys, esta é a Kath. Ela é um amor, é solteira, e é tudo o que precisa saber.

            Katherine e Lysandre giraram os olhos igualmente.

            - Como se você soubesse de mais alguma coisa pra falar, Rosa.

            - Katherine, você tem o direito de permanecer calada, ou ainda estraga tudo.

            - Estragar o quê? – Perguntaram em uníssono, rindo em seguida.

            - Ela é sempre metida a casamenteira?

            Lysandre sorriu. – Incorrigivelmente.

            - Vamos evita-la sempre que possível, sim?

            - Combinado. – Ele soltou uma breve risada. – É um prazer conhece-la, Katherine.

            - O prazer é meu. – Ela sorriu em resposta.

            - Então, de onde você veio... – Katherine sentiu o frio descer pela espinha com a pergunta que viria a seguir. Lysandre não tinha culpa. - ...Escutam música boa?

            Relaxou quando ele mudou o rumo da pergunta. Não sabia se havia deixado transparecer o seu incômodo e esperava mesmo que não. Mas agradecera internamente por ele não ter perguntado nada sobre seu passado. Ainda não estava preparada para falar sobre isso.

            Ela sorriu, um pouco desconfortável. – Depende o que você considera boa música.

            Então, ouviu-se batidas na porta outra vez.

            - A pizza! Eu vou atender. - Rosalya levantou saltitante em direção à porta. – Ah, é você.

            - Lysandre está? – Katherine conhecia aquela voz, e não precisou nem olhar em direção à porta para saber de quem se tratava.

            - Está. Pode entrar, Castiel. – Rosalya abriu passagem para ele, que estava escorado no batente da porta com os braços cruzados, o que parecia ser sua posição de defesa predileta.

            Katherine levantou os olhos para ele assim que ele se aproximou de onde estavam.

            - Até você está aqui? Continua aparecendo nos momentos mais inconvenientes? – Ele perguntou, com um sorriso de canto que praticamente gritava: “me desafie, vamos ver até onde você é capaz de chegar.”

            - Pelo visto sim e você está aprendendo bem. E você, continua com o tráfico de drogas? – Ela sorriu em resposta, levantando as sobrancelhas casualmente.

            - Podemos formar uma parceria, aposto que faríamos um ótimo par.

            - Eu dispenso, obrigada. Não me sentiria à vontade por ter que tirar a roupa sempre que não acreditam em mim.

            Os dois se encararam por breves segundos, o que pareceu uma eternidade. Até que Castiel finalmente sorriu de lado, mas optou por não continuar a discussão. Talvez tivesse algum pingo de sensatez e soubesse onde é que iria parar.

            Quando voltaram ao mundo exterior, os demais os encaravam um tanto quanto assustados, com o semblante dizendo que não estavam entendendo nada.

            E nenhum dos dois se propôs a explicar.

            - Tuuudo bem... – Rosalya os encarou em um misto de perplexidade, susto e indignação. – Não estou entendendo nada aqui, mas estou com fome... Então, caso já tenham terminado e não tenham reparado a pizza acabou de chegar. Podemos, enfim, comer?

...

            - Eu vou indo, Rosa. Estou exausta.

            - Tem certeza? – Rosalya perguntou, observando Katherine sorrir em resposta. – Tudo bem, então. Lysandre pode levar você, só um minuto que eu vou chama-lo e...

            - Não precisa, eu levo.

            Castiel descia as escadas com as mãos nos bolsos da calça jeans escura. Parecia desinteressado e imparcial a qualquer coisa, mas algo em sua voz sugeria à Katherine que não seria uma boa ideia.

            - Não se incomode, eu gosto mesmo de caminhar à noite.

            - Que desfeita, albina. Meninas indefesas não deviam caminhar por aí sozinhas à noite.

            - Ele tem razão, Kath. Por mais que eu continue alimentando a ideia de que ele é uma das pessoas de quem você deveria manter distância... – Rosalya olhou de lado para Castiel, que sorriu cinicamente em resposta. – Mas ele tem razão desta vez.

            Katherine suspirou desanimada. – Tudo bem, então vamos logo antes que me arrependa.

            Ela se despediu de Rosalya com um abraço terno.

            - Mas se precisar de alguma coisa, qualquer coisa, me liga.

            Katherine sorriu. – Obrigada, e boa noite.

            - Até amanhã, Kath.

            Castiel limitou-se a apenas fazer um aceno com a cabeça para todos. Nenhuma palavra, nenhuma reação, esboço de sorriso ou qualquer coisa do tipo. Simplesmente se manteve com o mesmo semblante o tempo inteiro até fechar a porta atrás de si, com Katherine caminhando logo à sua frente.

            - Albina?

            Ele a encarou, curvando o canto da boca quase imperceptivelmente. – Ué, foi a primeira coisa que me veio à cabeça quando olhei pra você.

            Era mentira, ele sabia, mas não era algo que algum dia iria admitir.

            - Não vou nem falar qual foi a primeira coisa que me veio à cabeça quando olhei pra você a primeira vez.

            Ela o encarou, esperando ao lado do único carro estacionado em frente à casa. Era preto, cujo modelo ela desconhecia.

            - Na verdade, estou bem curioso para saber... – Ele sorriu de maneira mais evidente desta vez, desafiando-a, instigando-a, mas impulsivamente, pois jogos em seu ponto de vista eram perda de tempo.

            Ela estreitou os olhos em resposta, mas sorriu igualmente em seguida. – Jamais irá saber...

            - Então, acho que vamos esperar aqui fora até você ter a boa vontade de me contar. – Ele se aproximou.

            - Então, você se importa se eu xingar em francês pra parecer mais elegante?

            Ele riu pelo nariz. – Você pode xingar em todas as línguas que quiser, eu gosto de todas elas... – Ele terminou a frase com a voz insinuante, o que a fez novamente estreitar os olhos em resposta e finalmente se dar conta que não havia chegado assim tão perto dele, desde o ocorrido na diretoria.

            Sentiu seu corpo acender outra vez, mas prendeu a sensação em uma jaula completamente isolada dentro de si.

            - É uma pena eu não estar com disposição para te dar esse gosto.

            Ele balançou a cabeça em resposta, e parecia estar se divertindo. Deu a volta no carro e abriu a porta do motorista.  

            - Você vai ficar aí parada?

            Ela soltou ar pela boca e entrou, se sentando no banco do carona e colocando o cinto de segurança sem dizer mais nenhuma palavra.

            - Como eu pensei. – Ele concluiu, satisfeito.

            - Será que você consegue me deixar em paz? – Ela grunhiu, sem olhar pra ele.

            - Que graça teria, garota?

            Ela sorriu ironicamente. – Pra você não sei, mas eu iria adorar.

            - Então porque você não banca a boa menina e me conta onde você mora pra que eu possa te deixar em casa?

            Ela explicou onde morava e assim que ele deu partida no carro, olhou através da janela do carro, perdida em pensamentos e cansada demais para entrar em uma nova discussão com Castiel. Ele lhe sugava a energia quando estava por perto, mas por outro lado a recarregava também, como se tivesse o poder de brincar consigo e de alguma maneira soubesse disso.

            Talvez ele soubesse mesmo.

            - Então... – Ele começou e ela estremeceu por dentro. [i]Lá vamos nós,[/i] pensou. – O que te trouxe para cá?

            Ela o encarou, surpresa. Procurou qualquer vestígio de sarcasmo ou sorrisos cínicos, mas não encontrou. Ele estava mesmo tentando iniciar uma conversa normal?

            Ela voltou a encarar o céu noturno, em silêncio por breves segundos.

            - Eu só não tinha mais motivos para continuar lá. – Ela disse, sem nenhuma emoção na voz.

            Castiel absorveu a resposta em silêncio por alguns segundos também, e ela agradeceu por ele não começar uma avalanche de perguntas e respostas dolorosas. Tinha conseguido evitar falar disso com todos, e ele era a última pessoa com quem esperava ter esse tipo de conversa desde que o viu pela primeira vez.

            - Eu compreendo. – Ele respondeu, simplesmente. O que a fez encará-lo surpresa pela segunda vez em poucos minutos.

            Compreendia? Ele nem sabia do que se tratava ou quão fundo era seu abismo. “Eu compreendo”, pra ela, significava mais uma entre as várias frases de apoio emocional que havia recebido ao longo do último ano. Mas quando olhou pra ele, que estava com os olhos fixos na estrada, porém com o olhar parecendo estar muito distante disso, ela se perguntou se realmente ele não compreendia de alguma forma.

            - Está me olhando assim por quê? Gosta do que vê?

            Lá estava outra vez o sorriso cínico estampado em seu rosto e o letreiro gigante com letras neon escrito “vamos jogar” pendurado em sua testa.

            Ela sorriu sarcasticamente também, simplesmente não conseguia lutar contra o instinto selvagem que tinha para iniciar conversas irônicas e cheias de duplo sentido.

            - Tenho outra opção melhor?

            - Não me desafie, garota. Você não sabe com o quê está lidando.

            - E você, sabe? – Ela perguntou e ele a encarou. Seus olhares selvagens se cruzaram fazendo com que aquele instinto brotasse novamente e de alguma forma fizesse sua vida voltar a arder em chamas ao invés de continuar na ponta de um iceberg.

            - Talvez.

            - “Talvez” não pode ser considerado uma resposta segura.

            - E eu deveria me importar?

            - Sim, deveria.

            - Então precisa se esforçar mais.

            Ela sorriu de lado, quase parecendo sádica. – Jogos mentais não são o meu forte.

            - Então o que é o seu forte? Tentar ser invisível?

            - Não pense que eu vá lhe contar, idiota.

            - Ora, ora... Já subimos um nível e estamos nos xingando? Daqui a pouco chegamos à etapa onde você me joga na parede e diz que eu sou tudo o que você mais odeia, e que me odeia por isso.

            Castiel disse com um sorriso sarcástico no rosto, que não vacilou em nenhum momento.

            Ele a estava testando, e ela sabia disso. Mas gostou mais do que deveria e por um breve momento a cena passou diante de seus olhos, invadindo seus pensamentos.

            - Sobre você ser tudo o que eu mais odeio não sei, precisa evoluir muito na cadeia alimentar pra isso. Mas, jogar na parede quem sabe...

            Castiel soltou uma risada, como há muito não fazia.

            - Garota, quem está no fogo é para se queimar.

            - Pode apostar que sim.



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