Se sentaram, eles dois, já arrependidos de terem marcado o encontro. Esvaziaram os pulmões, num suspiro de aborrecimento. Aos dois, especialmente á Katsuki, faltava a coragem, ironicamente, de perguntar: – Por que isto? Por que não vamos embora de uma vez?
Preferiram ser gentis e tentar. Todoroki perguntou á ele queria beber alguma coisa, ou comer alguma coisa. Ele respondeu um “nada” de quem anseia abreviar a angústia de estarem juntos. Ambos sentiam calor, sentiam o nervosismo. Que saudade os trouxera ali? Nenhuma. Qual motivo? Nenhum. Vieram, simplesmente, porque ambos gostariam de saber, se no coração do outro, qual o tamanho da falta que estava fazendo.
As pessoas são muito vaidosas e, quando acabam seus romances, têm a mania de pensar que, de um modo ou de outro, marcaram, para sempre, a pessoa amada. É um pensamento tolo, este de ser inesquecível. O mundo muda á todos nós. Ou quando não muda, envelhece, ou nos torna sábios (de tanto cair na mesma armadilha), enchendo-nos a vida de coisas novas ou de novas dores, que abrange todo o ser, nos protegendo contra qualquer recaída [...].
Sentados frente a frente, trocavam perguntas, cujas respostas eram dispensáveis: “Como vai Fujumi?” “Sua mãe se separou, afinal?” “Como está a faculdade de direito?”. Depois de tudo isso foi que se olharam bem nos olhos. Um olhar sem mágoa, sem mensagem, sem o sentimento que ali vivia. Um olhar compreensível, só isso. Como era estranho, depois de tanto amor, tantos momentos, tanto tempo juntos, verem-se agora como se fossem dois parentes. Nem ao menos se odiavam. Como a vida é revoltante, em suas acomodações! Riram-se, cada um de si mesmo e os dois da vida. Não havia nada a dizer, porque sabiam de tudo, só com o olhar. As palavras complicam muito. Levantaram-se. Deram-se as mãos uma última vez, foram caminhando e largando-se aos poucos, até que passou um táxi e Katsuki correu para alcançá-lo. Ao entrar no carro, ainda olhou para trás e gritou-lhe um “adeus” qualquer. Que Todoroki não ouviu, porque tinha entrado em uma loja de doces. E pensaram nos momentos, no que sentiram, nas magoas, e, por fim, da história, que viveram juntos. E por ali por diante, nada os uniu.
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