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História As Quatro Estações - Um Final Feliz


Escrita por: TheLB

Notas do Autor


ATENÇÃO
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ATENÇÃO
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LEIAM AS NOTAS FINAIS
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LEIAM AS NOTAS FINAIS
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LEIAM AS NOTAS FINAIS

Capítulo 17 - Um Final Feliz


NARRAÇÃO ITZIAR

— Atenção, todo mundo! – praticamente gritei para que todos aqueles adolescentes prestassem atenção em mim. – Nós temos exatamente uma hora até que todos os pais e comunidade cheguem para o festival, agora é a hora dos ajustes finais e eu quero todo mundo concentrado.

Escutei um sonoro “sim, senhora” dos alunos. Atrapalhando—me um pouco no salto alto, fazia muito tempo que eu não usava, andei por todos os locais para me certificar de que estavam todos prontos. O cenário estava perfeito, o som instalado, as cadeiras todas organizadas no pátio e os atores estavam na biblioteca terminando a maquiagem e já vestindo o figurino. Alguns alunos de outras apresentações também estavam ali, seja ensaiando a sua parte ou apenas ajudando os outros.

— Ceci, você está maravilhosa. – disse ao vê-la vestindo o vestido vermelho da Julieta.

— Não precisa exagerar, professora. – respondeu tímida, olhando para baixo.

— Espero que eu não tenha te causado problemas ao ir até a sua casa aquele dia. – eu disse baixinho para ela, com todos os preparativos para a peça não tivemos muito tempo de conversarmos a sós.

— Não, imagina. – ela imediatamente negou.

Olhei bem fundo nos seus olhos, tentando captar algum sinal de dúvida, mas logo escutei uma baderna atrás de mim e tive que ir segurar os ânimos das pestinhas.

— Luís, Giulia. – disse ao ver que os dois usavam roupas combinando. – Levaram mesmo a sério essa história de dupla.

— Espere só pra ver, Itz. – Giulia disse, ela mesmo havia me dado aquele apelido. – Tem certeza de que não tem nenhum produtor musical famoso aí não? Por que com certeza vão querer nos contratar.

— Sem ofensas, prof, mas vamos ser bem mais aplaudidos do que a peça de teatro. – Luís disse presunçoso.

— Esse é o espírito, gostei da confiança. — ri.

— Itziar do céu, já tem um monte de gente lá fora. – Alba apareceu do nada ao meu lado. – Você tem que me ajudar a recepcionar os pais.

Quando chegamos ao pátio, havia muito mais pessoas do que eu imaginava que teriam ali naquele horário e muitos estavam sentados nas cadeiras, aguardando o início das apresentações. Ficamos perto da entrada agradecendo a vinda de cada um, muitos deles eu já conhecia devido a reunião de pais e estavam acostumados com os eventos da escola. Os alunos do terceiro ano estavam em um canto vendendo refrigerante e pastel para arrecadar dinheiro para a sua formatura e alguns pais com seus filhos pequenos já iam garantir o seu.

Estava com as bochechas doendo de ficar sorrindo para recepciona-los, mas ao ver um casal de idosos chegando não precisei sorrir mais, pois o meu queixo havia caído.

— Boa noite... – disse ainda boquiaberta ao ver a mãe e o padrasto de Álvaro, completamente desconfortáveis e olhando para todos os cantos.

— Meu Deus, pastel, isso é uma feira? – Marta disse baixinho, mas não o suficiente para que não pudéssemos ouvir.

— O que vieram fazer aqui? – perguntei, ainda surpresa.

— O que você acha? Viemos ver a nossa neta. – Michel debochou. – Depois de sermos acusados de não nos importamos, resolvemos vir aqui, mas já estou começando a achar que é perda de tempo.

— Ah, que isso! – Alba entrou no meio. – Tenho certeza que vocês vão adorar, vou colocar vocês lá na fileira da frente.

Agradeci a Alba com o olhar e continuei na entrada recepcionando o resto dos pais. Não demorou muito para que Álvaro chegasse acompanhado de uma mulher alta e que o brilho do seu colar quase me cegasse.

— Oi. – ele me deu um beijo rápido.

— Oi... – respondi e fiquei observando a mulher que olhava tudo com um olhar enojado.

— Sinceramente, Álvaro, você tem que concordar que esse lugar não tem a mesma estrutura que o outro colégio da Giulia. – sua voz era fina e até mesmo um pouco irritante, e, então, finalmente ela prestou atenção em mim. – Ah, você deve ser Itziar, eu sou Bárbara.

— Ex-mulher do Álvaro. – eu me lembrei. – Algum problema com a escola? Você também não concordou com a mudança?

— Olha, querida. – ela disse – Concordar totalmente não, mas se os velhos ali estão descontentes, eu estou feliz.

Ela pontou para Marta e Michel que relutavam em sentar nas cadeiras.

— Bárbara nunca se deu muito bem com meus pais. – Álvaro explicou.

— Diziam que eu não era boa o suficiente. – Bárbara riu – Mas agora eles pagaram com a língua, né, gata? Adorei que o Álvaro começou a namorar com você, agora sim que a velhota vai arrancar o cabelo com aquelas unhas falsas.

Encarei Álvaro sem entender muito bem se encarava aquilo como um elogio ou ofensa.

— Vou me sentar, a apresentação da Giulia vai demorar muito? – perguntou e quando eu ia responder, ela mexeu a mão na minha cara balançando as suas joias. – Não tem problema, eu espero. Bye, darling!

— Ela é um pouco doidinha, mas não tão pior quanto eu imaginei. – ri com Álvaro.

— Pode ir ajudar os alunos nos bastidores, eu fico aqui recepcionando os pais. – ele disse.

— E o Pedro? Vai vir? – perguntei antes de ir.

— Mais tarde, ele teve que resolver algumas coisas na editora, mas ele chega a tempo da apresentação da Giulia. – respondeu e eu segui para atrás do palco, onde os alunos já se preparavam para apresentar logo.

A peça de teatro seria para encerrar o festival, e todos estavam muito ansiosos para que tudo desse certo.

Arturo subiu no palco com o microfone.

— Testando, testando. – disse bem alto no microfone, causando microfonia e incomodando todos ali sentados na plateia. – Carlito, isso não tá funcionando!

— Fala mais baixo. – o aluno responsável pelo som bateu com a mão na testa.

— Ah, sim. – Arturo assentiu com a cabeça e se virou para a plateia. – Boa noite a todos que vieram prestigiar os nossos alunos no nosso V Festival de Artes, organizado pela professora de artes Itziar. Pode vir aqui.

Subi no palco e peguei o microfone da mão de Arturo.

— Obrigada a todos pela presença e um obrigada mais do que especial para todos os alunos envolvidos na organização do evento. – agradeci e sorri me virando para alguns deles que estavam ao lado do palco. – Sem eles nada disso estaria acontecendo, e eu sinto muito orgulho de ver como eles são jovens engajados e apaixonados pela arte. Hoje, vocês serão testemunhas disso, que se inicie o festival!

Todos aplaudiram e eu desci do palco, Alba seria a cerimonialista e ela não demorou para anunciar a primeira aluna da noite com uma apresentação de ballet. Um aluno recitou uma de suas poesias, enquanto outro apresentou um stand-up.

— Agora, me respondam uma coisa. – ele fazia uma cara de curioso. – Por que o homem não tem 3 ovos?

Alguns olhos se arregalaram na plateia.

— Porque de um deles nasceu um pinto! – respondeu como se fosse óbvio e muitos caíram na gargalhada, enquanto outros ainda estavam um pouco surpresos.

— Vamos descontar um pouco da nota dele? – Alba perguntou.

— Vamos. – assenti com a cabeça e demos risadas juntas, quando ele terminou, Alba subiu de novo no palco para anunciar a próxima apresentação.

— Agora teremos Giulia e Luís, apresentando uma canção para nós. – anunciou.

Os dois subiram no palco e Giulia parecia um pouco nervosa ao pegar o microfone, mas quando Luís tocou a primeira nota no violão, ela não permitiu a timidez vencer e começou a cantar maravilhosamente bem. Alguns dos alunos gritavam e assoviavam, cada vez mais entusiasmados pela música que ficava mais animada a cada nota.

Procurei por Álvaro  na plateia, ele estava sentado junto de Pedro e Bárbara que olhavam admirados para Giulia e Luís, diferente de Michel e Marta, cujos rostos estavam tão duros que era impossível dizer o que se passava na cabeça deles. Quando a música terminou, foram aplaudidos de pé, e abracei os dois quando desceram do palco.

— Vocês foram maravilhosos! – exclamei.

— É claro que fomos, você tinha dúvidas? – Luís revirou os olhos e riu depois.

— Agora vão sentar, só vão ficar aqui os alunos da peça. – disse e fui até atrás do palco. – Ceci, está tudo bem?

— Sim. – ela estava pálida. – Eu estou bem.

— Tem certeza? – segurei sua mão.

— É só um frio na barriga, eu vou conseguir. – apertou a minha mão e eu fiquei ali com ela para que se acalmasse.

Alba anunciou o início da peça e as cortinas improvisadas na frente do palco se fecharam para todos poderem se posicionar nos seus lugares.

— Vai dar tudo certo, você vai arrasar. – eu disse e Ceci sorriu para mim, ao ir para seu lugar ela olhou para trás, trocamos olhares e sorri para ela, a incentivando a ir.

O narrador começou a contar a história e as cortinas se abriram, pudemos ver uma briga da família Capuleto e Montecchio, reafirmando a rivalidade entre as duas famílias que se odiavam havia diversas gerações. Então, um baile começou onde Romeu finalmente conhece Julieta e os dois se apaixonam.

As cortinas se fecham para a troca de cenários. E Julieta aguardava por Romeu em sua sacada.

— Romeu, onde estarás o meu Romeu? – Ceci interpretava com maestria.

— Estou aqui, minha Julieta. – Vitor, o aluno que interpretava o Romeu também não ficava para trás.

Os pais não tiravam os olhos do palco, e, quando chegou a cena da morte dos dois, muitos se emocionaram, até mesmo eu não pude deixar de me apaixonar.

— Oh, não, Romeu! – Ceci tinha até mesmo lágrimas nos seus olhos. – Meu amor, eu me juntarei a você.

Ela deu um selinho rápido e discreto em Vitor, que havia tomado o “veneno”.

Assim, Julieta morreu e quando as duas famílias os encontraram, decidiram que aquela rivalidade apenas tinha trazido morte e que era hora de acabar com isso. Quando as cortinas se fecharam todos aplaudiram e continuaram quando as cortinas se abriram para que os atores agradecessem a plateia, todos de mãos dadas.

— E assim encerramos o nosso festival. – Alba entrou no meio. – Obrigada por virem, tenham uma volta segura para casa e não esqueçam do casaco, está começando a esfriar de verdade agora.

Os alunos correram para tirar o figurino e colocar as suas roupas normais, e aproveitei para ir até lá. Abracei cada um deles, todos tinham sido perfeitos, tinha sido a melhor peça de teatro que tínhamos apresentado em todos aqueles anos realizando o festival.

No pátio ainda tinham alguns pais esperando os seus filhos se arrumarem para irem embora. Fui até Álvaro, estava tenso por Michel e Marta estarem se aproximando.

— Cheguei bem a tempo de impedir uma explosão? – eu disse e coloquei minha mão em suas costas.

— O que vocês estão fazendo aqui? – Álvaro perguntou ríspido.

— Cadê a sua ex-mulherzinha? – Michel revidou.

— Foi embora. – ele se limitou a responder.

Marta encarou Michel, que suspirou antes de falar mais alguma coisa:

— Giulia cantou ok. – deu de ombros. – Vamos embora, Marta, já tive o suficiente de breguice por hoje.

— Giulia foi ótima. – Marta sorriu para Álvaro e seguiu Michel sem nem olhar em minha direção.

— Bom, foi melhor do que o nosso último encontro. –  tentei aliviar o clima, Álvaro deu um sorriso tímido.

Estávamos prontos para ir embora quando vimos Giulia e Ceci vindo da biblioteca, até que escutei alguém gritar.

— Onde está aquela vadiazinha? – era o pai de Cecília.

— Ei, calma aí. – Álvaro entrou na frente dele, mas o homem o empurrou.

— É isso que te ensinam na escola, garota? – ele agarrou Ceci pelo braço com força. – A sair por aí beijando garotos igual uma puta?

— Pai, era só fingimento. – Ceci chorava desesperada.

— Ah, é? Vou te mostrar o que é fingimento. – disse e levantou a mão, mas Álvaro foi mais rápido e o segurou, evitando que o pior acontecesse.

— Se você quiser bater na Cecília, vai ter que passar por mim. – intervim, me colocando entre os dois.

— Não é problema pra mim. – ele me encarou.

— Chega, vai embora agora! – Álvaro o empurrou.

— Vamos, Cecília. – ele ordenou, mas Ceci continuou paralisada no lugar, chorando.

— Ceci, você não precisa ir. – segurei as suas mãos.

— Obedeça o seu pai. – ele disse com autoridade.

Tremendo, ela se soltou de mim e caminhou até o seu pai, que a segurou pelo braço praticamente a arrastando para fora da escola.

— Isso não vai ficar assim, amanhã mesmo nós vamos fazer uma denúncia. – Álvaro disse, e o meu coração apertou ao pensar tudo o que aquela menina tinha passado.

Ao ir embora, vi uma folha amarela cair da árvore, o outono estava chegando ao fim e o inverno estava batendo na porta, só esperava que o nosso futuro não fosse tão gelado quanto o próprio inverno.

Nós iríamos resgatar Cecília.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

NARRAÇÃO ÁLVARO

 

O vento gelado batia em meu rosto, o nariz já estava vermelho devido ao frio e eu mantinha as minhas mãos dentro dos bolsos do meu casaco. O inverno havia chegado com tudo e a previsão era de muito frio pela frente.

Vi Itziar sair do Conselho Tutelar completamente frustrada, os cabelos balançando contra o vento.

— E então? – perguntei.

— Eles disseram que estão fazendo visitas frequentemente, mas que não há nada acontecendo ao ponto de prendê—lo. – ela passou a mão na cabeça. – É óbvio que ele não vai fazer nada, ele não é burro.

Abracei-a numa tentativa de confortá-la, desde o Festival de Artes estávamos tentando ajudar Cecília a escapar de seu pai violento, mas uma briga por conta de um pai chateado por sua filha ter beijado em uma peça de teatro não era o suficiente para tirá-la de lá, de acordo com as assistentes.

— Eu sei que ele a maltrata. – Itziar estava transtornada. – Eu vi as marcas no braço dela, Álvaro.

— Acredito em você, nós vamos conseguir. – segurei seu rosto em minhas mãos. – Você está gelada, vamos embora.

Ela entrou no carro e ficou com a cabeça baixa durante o caminho inteiro, eu sabia que ela não ia se contentar com apenas visitas das assistentes sociais, Cecília precisava de muito mais do que isso. Na escola, ela parecia cada vez mais reclusa do que nunca e seus problemas com matemática pioravam.

— Vamos até o meu apê. – eu disse. – Assim você distrai a cabeça, tenho certeza que Pedro e Giulia vão encontrar algum assunto que te entretenha por um bom tempo.

Itziar apenas sorriu de canto e encostou a cabeça no vidro. Os prédios da cidade foram passando e eu pensei por alguns minutos, quantas outras pessoas estariam em situações parecidas como a da Cecília, mas não havia ninguém que se importava o suficiente para tentar mudar isso?

A luz do sol nesta época do ano era fraca e opaca, como se o mundo paralisasse por um tempo e tudo acontecesse em câmera lenta. As flores secas indicavam que a primavera logo viria, mas até lá, tínhamos que aguentar o frio e o vento cortante.

— Álvaro... – Itziar me tirou dos meus devaneios. – Pode encostar o carro?

— O que foi? – perguntei preocupado ao ver que ela estava pálida.

— Não estou me sentindo muito bem. – disse e parei o carro, no momento em que ela abriu a porta, vomitou.

— Aqui, bebe o resto dessa água. – entreguei para ela a minha garrafa.

Ela tomou um gole e jogou a água fora para tentar lavar a boca, ainda estava pálida e respirando fundo, coloquei a mão na sua testa para me certificar de que não estava com febre.

— Está se sentindo bem? – perguntei. – Quer que eu te leve para o hospital?

— É claro que eu não estou me sentindo bem, não é, Álvaro? – revirou os olhos. – É só uma náusea, logo passa, vamos embora.

— Chegando em casa, vou fazer um chá de erva cidreira para você, vai ajudar o seu estômago. – disse e dei partida no carro, não indo muito rápido para que ela não se sentisse mal de novo.

Quando chegamos, segurei sua mão para que fosse ao elevador comigo, ela ainda estava pálida e tinha medo de que ela acabasse desmaiando. Quando entramos dentro do apartamento, Pedro logo veio até nós.

— Como foi lá no Conselho Tutelar? – perguntou. – O que aconteceu, Itz?

— Estou um pouco nauseada, apenas preciso me deitar um pouco. – ela disse e se dirigiu ao sofá. – Acho que a minha pressão caiu.

Assim que Itziar se deitou no sofá, coloquei a água para ferver na cozinha e escutei Giulia conversar com ela na sala, aparentemente preocupada. Pedro estava no batente da porta, ora olhava para mim, ora olhava para Itziar.

— O que você quer me dizer, Pedro? – perguntei.

— Como assim? – ele se fez de desentendido.

— Eu sou seu irmão mais velho, conheço essa cara. – falei enquanto pegava um punhado de erva cidreira em um dos potes das ervas. – Anda, desembucha.

— Náusea? – falou baixinho e vindo para perto de mim, para que apenas eu escutasse. – Você não acha isso estranho? Itziar sempre foi saudável, fisicamente falando.

— Fisicamente falando? – levantei uma das sobrancelhas.

— Não que não seja mentalmente, enfim, você entendeu. – Pedro se explicou gesticulando. – A questão é, se uma mulher, que geralmente é saudável, começa a vomitar e a passar mal do nada, é porque aí tem.

— Eu sei o que você está dizendo, Itz tem dificuldades para engravidar, então não é isso, demorou anos para que conseguisse quando ela ainda era casada. – disse e coloquei o chá em uma caneca. – E se você abrir a boca para dar essa ideia pra Itziar e ela acabar tendo esperanças, eu enfio essa caneca você sabe onde.

Pedro levantou as mãos para o alto como se ele se rendesse, e eu fui até a sala para entregar a caneca de chá para Itziar.

— Obrigada. – ela disse e se sentou para tomar o chá.

— Não acredito que você vai fazer a      Itz tomar esse negócio ruim. – Giulia torceu o nariz. – Só de sentir o cheiro eu já passo mal.

— Menos, dona Giulia. – eu disse. – Está melhor?

Itziar assentiu com a cabeça enquanto tomava mais um gole do chá.

— Acho que minha pressão está voltando ao normal. – ela sorriu para mim. – Aliás, o que acham de pedirmos pizza para o jantar?

— Deixa que eu peço. – Giulia prontamente se levantou correndo em direção ao telefone.

Me sentei ao lado de Itziar, ao terminar de tomar o chá ela colocou a caneca de lado e descansou a cabeça no meu ombro, um filme qualquer passava na TV e eu entrelacei os nossos dedos, ficar ao seu lado me ajudava a acalmar a minha mente.

Vi que Pedro nos olhava de relance, desconfiado, essa ideia de gravidez era sem pé nem cabeça. Respirei fundo ao lembrar que sim, não nos cuidamos algumas vezes, mas o médico já havia dito para Itziar que ela tinha problemas para engravidar devido ao seu útero, então as chances eram mínimas.

Mas mesmo assim, aquilo ficou na minha cabeça.

E se Itziar realmente estivesse grávida?

 

NARRAÇÃO ITZIAR

Foi difícil manter a animação enquanto eu comia pizza junto da família de Álvaro, no momento em que passei mal uma única palavra passava pela minha cabeça e não queria sair de jeito nenhum: gravidez.

Durante a semana, diversas vezes passei na frente de uma farmácia, tentando tomar coragem para comprar um teste e acabar logo com todas aquelas dúvidas, mas não sabia o que seria pior, se ver um negativo enterraria todas as minhas esperanças logo de uma vez ou se um positivo traria de volta toda a angústia e o medo de perder de novo mais um bebê.

— Tudo bem, Itz? – Alba colocou a mão no meu ombro, eu estava no pátio parada, observando os alunos irem embora. – Te percebi um pouco aérea esses últimos dias.

— É que está tão frio, não é? – inventei uma desculpa qualquer – É difícil manter a animação quando se está tremendo por conta desse vento gelado.

Alba me analisou de cima em baixo, ela provavelmente sabia que eu estava mentindo, me conhecia bem demais para que eu conseguisse escapar com uma justificativa esfarrapada dessa.

— Eu entendo se você não se sentir confortável para falar sobre seja lá o que estiver te perturbando, mas não tente mentir para mim. – ela disse. – Você está indo na sua psicóloga?

— De vez em quando, ela disse que não vai demorar muito para que eu não precise ir mais. – expliquei – Eu estou bem, Alba, são só pensamentos irritantes, e também estou muito preocupada com a Cecília, ela faltou hoje na escola.

— Ela faltou alguns dias da semana passada também. – Alba ponderou. – O pai dela disse que ela estava doente.

— Sei bem a doença. – eu disse.

— Bom, eu vou indo, ok? – Alba disse. – Fique bem, me avise caso precisar de qualquer coisa.

Assenti com a cabeça e sorri, quando a escola estava praticamente deserta decidi ir embora também. O vento gelado batia forte contra mim e eu cruzei meus braços, estava absorta demais nos meus pensamentos para me importar com o frio.

Meu coração acelerou ao ver que eu me aproximava da farmácia localizada no meio do caminho de minha casa. Seria mesmo melhor ficar nessa dúvida? Eu não conseguia aceitar não saber, mas também não aceitaria ver mais um resultado negativo, ou temer pela vida que segurava em meu ventre se visse um positivo. Eu não poderia ter filhos, o médico tinha sido claro.

Eu não conseguiria levar a gestação adiante.

Estava parada na frente da farmácia, uma senhora comprava remédios e a atendente a ajudava a colocar tudo em uma sacola. Era como se o frio do inverno tivesse me congelado e eu não conseguisse me mover, já tinha dado tantos passos para a frente na minha recuperação e eu tinha medo de que isso me fizesse voltar para trás, voltar para as sombras que me embalaram por tanto tempo na minha vida, alimentadas pela tristeza e pela dor personificadas em minhas lágrimas.

— Posso te ajudar? – a atendente disse, quando percebeu minha presença e a senhora foi embora.

Abri a minha boca, mas era como se as palavras se perdessem antes que eu pudesse dizê-las. Um estrondo no céu fez com que nós duas nos assustássemos, uma chuva começou e o dia parecia noite devido as nuvens escuras no céu.

— Eu... – gaguejei. – Eu quero comprar um exame de gravidez.

— Ah. – a mocinha disse e saiu de trás do balcão para pegar uma caixa no lado esquerdo da farmácia. – Esse aqui é o mais vendido.

Relutei alguns segundos antes de pegar a caixa cor de rosa na minha mão, quantas vezes eu havia feito um teste desses? Várias vezes foi apenas para chorar por conta do único risco presente, se eu soubesse que teria sido melhor continuar assim, nunca teria passado pelo que passei.

— Tem algum banheiro aqui que eu possa usar? – pedi. – É que eu não quero associar a segurança que meu lar fornece para mim, com seja lá qual o resultado que isso der.

— Lá atrás. – apontou e eu paguei rapidamente no caixa. Segui para onde ela havia apontado e entrei no banheiro, trancando a porta.

Era como se as sombras estivessem nos cantos, apenas esperando o resultado para que elas também tomassem conta de mim novamente, sem que eu pudesse ter o que fazer, sendo arrastada para a escuridão mais uma vez, logo agora que eu finalmente havia descoberto a luz novamente dentro de mim.

Abri a caixa devagar, segurei o pequeno copo em minha mão e o apertei levemente, não sabia o que queria ver naquela vareta. Quando a coloquei dentro do líquido, não podia passar os próximos 5 minutos olhando fixamente para aquilo, ou teria um ataque cardíaco dentro daquele banheiro. Já podia imaginar as manchetes no jornal.

“Mulher morre dentro do banheiro sem saber se seria mãe ou não”.

Sentei-me no chão, encostada na porta. A chuva lá fora estava violenta e pela pequena janela do banheiro pude ver a luz dos raios que caiam lá fora, como se o mundo estivesse em caos, mas apenas ali dentro tudo estivesse calmo e em silêncio, apenas aguardando uma resposta para uma pergunta tão cruel para mim.

Eu vou ser mãe?

Perdi a conta dos minutos, minhas mãos suavam frio e meu coração batia acelerado, me levantei devagar sem olhar diretamente para o teste. Segurei-o pela ponta dos dedos como se ele fosse cheio de espinhos, e, devagar, direcionei o meu olhar para ele.

Estava lá.

Lá.

Estava claramente lá.

Minha alma já não pertencia mais ao meu corpo e, jogando tudo no lixo, bati a porta do banheiro com força indo embora dali sem nem agradecer a atendente, não me importava com chuva ou com raios, eu só queria sair dali.

Corri chorando pela rua, escutei algumas buzinas de carros que evitavam me atropelar até que eu chegasse no meio de uma praça, várias árvores por volta do lugar se mexendo conforme o vento. As minhas lágrimas se misturavam com a água da chuva e eu não me importaria se um raio caísse em mim naquele exato momento.

Gritei para os céus enquanto caia de joelhos no chão de cimento.

— Por que, meu Deus? – eu chorava. – Por que eu não posso ser mãe?

A imagem do único risco vinha a minha mente e coloquei a minha cabeça entre as minhas mãos, a chuva ficava violenta, mas eu não me importava com a água caindo bem em cima de mim, pois era assim mesmo que me sentia. Eu não era nada mais do que a água que caia e ia embora, sabia que era uma idiota por ter pensando que eu fosse estar grávida.

Talvez fosse algo que eu comi?

Talvez minha pressão tivesse caído?

Talvez eu estivesse doente?

Talvez eu fosse morrer, talvez já estivesse morta por dentro todo esse tempo e o que me mantinha ali era apenas uma esperança falsa de ser feliz.

— Por que? – eu não parava de repetir isso.

Continuei ali, ajoelhada, no meio da chuva sem me importar com o frio, completamente absorvida pelos meus pensamentos mórbidos até que escutei um som no meio de todo aquele dilúvio vindo da minha bolsa. Era o meu celular, protegido da chuva ali dentro.

Ao ver que era o número de Cecília, o atendi imediatamente.

— Ceci? – eu estava confusa e não entendi logo o que ela dizia assim que atendi. – Não estou te ouvindo direito.

Por favor, me ajuda. – ela praticamente gritava do outro lado da linha. – Ele vai me matar!

Me dá essa merda, garota. – reconheci outra voz na linha, a do pai de Cecília e então a chamada se encerrou.

— Cecília, não. – tentei discar o número de novo mas ninguém atendia.

Joguei o celular na bolsa e saí correndo até a minha casa para pegar o meu carro. Sabia que o pai de Cecília não aguentaria manter a linha de bom moço, ela precisava de mim e eu não a deixaria na mão.

A imagem da única linha no teste de gravidez foi desaparecendo na minha mente e a imagem do rosto de Ceci e do hematoma em seu braço se tornou mais viva do que nunca, eu não deixaria que ele tocasse um único dedo nela de novo. Peguei a chave do carro e larguei minha casa aberta sem nem me atentar a fechá-la, dei partida no carro e saí o mais rápido que pude, acelerando cada vez mais para chegar a tempo em sua casa, antes que o pior acontecesse.

Disquei o número de Álvaro, que não demorou para atender.

Oi, amor. – ele atendeu feliz.

— Álvaro, estou correndo para a casa de Cecília nesse exato momento. – eu disse enquanto ultrapassava um carro. – Chame a polícia, acho que dessa vez vamos conseguir dar um flagrante.

Desliguei antes que houvesse respostas, precisava prestar atenção nas ruas. Sem paciência, atravessei alguns sinais vermelhos, não me importava quantas multas fosse receber depois, nada disso era mais importante do que o bem estar da Cecília. Após errar o caminho algumas vezes, torci para que meu atraso não me fizesse chegar a sua casa tarde mais. Ao ver a sua casa, suspirei de alívio e assim que desliguei o carro, pulei para fora.

As janelas estavam fechadas como se não houvesse ninguém lá, abri o portão e fui para os fundos, vendo que a porta da cozinha estava aberta. Sem pensar nas consequências, entrei dentro da casa.

— Ceci? – eu a chamei baixinho.

— O que você está fazendo dentro da minha casa? – o pai de Cecília surgiu por trás de mim como uma sombra prestes a me arrastar para a escuridão. – Vá embora daqui antes que eu chame a polícia!

— Eu deveria chamar a polícia. – eu disse firme, me colocando em sua frente com a cabeça erguida. – Assim eles podem ver a merda de pai que você é, onde está a Cecília?

— Isso não é da sua conta, agora sai daqui antes que eu te leve pra fora a força. – o homem começou a se alterar, uma veia saltava em sua testa. – Cecília está de castigo.

— Pelo que, posso saber? Por simplesmente ser uma pré-adolescente? – quase gritei.

— Professora? – eu me virei ao ver a imagem de Cecília surgir ao som da minha voz, e quase senti o meu coração sumir ao vê-la.

Um olho estava roxo e inchado, praticamente fechado e uma ferida aberta na sua boca tinha um pouco de sangue seco ainda, ela estava praticamente encolhida devido ao medo do pai.

— Seu monstro, covarde, demônio! – não aguentei e me joguei em cima daquele crápula, caindo juntos em cima da mesa da cozinha.

Eu tentava de todo jeito estapeá-lo, queria mata-lo pelo que ele havia feito com Cecília, por ter deixado marcas, não apenas no seu corpo, mas na sua alma, marcas que ela carregaria pra sempre com ela devido a um pai que não merecia esse título, a única coisa que ele merecia era queimar no inferno.

Ele conseguiu me segurar pelos pulsos e me arrastou, as marcas de seus dedos já evidentes.

— Vagabunda, quem você pensa que é? – senti o tapa arder em meu rosto, ele era mais forte do que eu e jamais ganharia uma briga contra ele.

— Pai, deixa ela. – Cecília chorava e tentava segurar o pai pelo braço, mas ele a empurrou, a fazendo cair no chão.

— Eu vou te ensinar a nunca mais mexer comigo ou com a minha filha, vadia. – ele disse bem perto do meu rosto. – Professorinha de merda.

— Pai, por favor. – Cecília implorava, ainda deitada no chão em lágrimas.

— Você pode me bater o quanto quiser. – vociferei. – Mas eu nunca vou deixar você encostar um dedo que seja em Cecília, vou fazer você apodrecer dentro de uma cela na prisão.

Cuspi em seu rosto e pude ver a fúria se acender em seus olhos, me assustei quando o vi levantar o punho fechado, esperando o soco que com certeza faria o meu nariz sangrar. Mas eu aceitaria quantos socos e tapas fossem necessários para que fossem provas da monstruosidade daquele homem, assim podendo livrar Cecília daquele inferno, de um pai violento, de um lar sem amor.

— Eles estão aqui. – demorou alguns segundos até que eu entendesse que aquela voz era a de Álvaro.

— Parado aí! – um policial gritou para o pai de Cecília, que ainda me segurava forte.

Ele me jogou no chão, fazendo com que minha cabeça batesse com tudo no piso de madeira. Senti a dor na hora e passei a minha mão na testa, havia um pouco de sangue. Engatinhei até Cecília que parecia estar em completo pânico, afogando em um rio de lágrimas. O policial algemou seu pai, que permanecia com uma expressão vazia.

— Acabou, está tudo bem. – sussurrei em seu ouvido enquanto a abraçava. – Você vai ficar bem.

— Itziar, Cecília, meu Deus! – Álvaro veio ao nosso encontro. – Precisamos levar vocês ao hospital.

— Eu estou bem, é só um pequeno corte. – eu disse. – Mas Cecília precisa ir, ela tem que fazer o exame de corpo de delito.

— Você está a salvo, Ceci. – Álvaro a abraçou, a ajudando a se levantar.

Ele beijou a sua cabeça e ela o abraçou forte, ainda chorando. Caminhamos juntos para fora, a polícia estava ali e agora não havia mais como escapar, o pai de Cecília havia sido pego em flagrante e a justiça seria feita. Segurei uma das mãos de Cecília enquanto Álvaro segurava a outra, uma policial se aproximou de nós.

— Você tem algum outro lugar onde possa ficar enquanto o processo está em andamento? – perguntou gentilmente para a Cecília. – Mãe, avós, tios?

Ela apenas balançou a cabeça negativamente.

— A mãe foi embora. – expliquei. – Sem família, era apenas ela e o pai.

— Vamos precisar que você venha com a gente. – a policial explicou. – Precisamos fazer alguns exames, entre outras coisas, assim seu pai nunca mais vai encostar a mão em você. Nós vamos achar um lugar para você ficar temporariamente e o que vai acontecer depois, nós vamos resolver, ok?

— Está tudo bem, Ceci. – Álvaro a tranquilizou. – Essas pessoas só querem te ajudar.

— Eu não quero ir para um abrigo. – ela choramingou.

— Ela pode ficar comigo, sou professora dela. – eu prontamente me voluntariei.

— Então vamos agilizar isso. – a policial sorriu e segurou na mão de Cecília, levando ela.

Ela olhou para trás e eu sorri, a encorajando, e assim pude respirar fundo, agora ela estava livre.

— Talvez nós possamos pegar algumas roupas dela lá dentro. – Álvaro disse.

— Sim, tomara que ela não fique brava por eu invadir a privacidade dela. – falei, já me dirigindo para dentro da casa.

— Ei, você salvou ela. – Álvaro me segurou pelos ombros. – Você é o anjo da guarda.

Sorri com esse pensamento, e entrei dentro da casa, o quarto de Cecília era pequeno e ela não possuía muitas coisas. Coloquei algumas peças de roupas dentro de sua mochila que estava em cima da cama, junto de alguns sapatos, e observei como aquelas roupas pareciam já estar velhas e algumas até com uns furos. Prometi a mim mesma que quando fosse uma hora apropriada, levaria Cecília para o shopping e faria dela a pré-adolescente mais feliz da face da Terra.

— Tudo pronto? – William perguntou.

— Tudo pronto. – sorri e saímos da casa.

Olhei para trás uma última vez, a imagem daquele lugar me trazia arrepios e Cecília nunca mais precisaria retornar aquela casa dos horrores, ela nunca mais iria viver com medo.

Eu estaria com ela, sempre.

 

NARRAÇÃO ÁLVARO

1 mês.

1 mês desde que havia recebido a ligação desesperada de Itziar, de que havíamos pegado o crápula do pai de Cecília em flagrante e ele estava preso desde então, e, se a justiça realmente funcionasse, ele ficaria assim por um bom tempo.

Cecília estava ficando na casa de Itziar, e com o passar dos dias ela parecia estar mais à vontade e mais feliz, o semblante sério e fechado estava sendo substituído por uma jovem alegre e que adorava falar e falar. Frequentemente levava Giulia para passar o tempo com ela, o que fazia bem para ambas que começaram a desenvolver uma amizade muito forte.

Dirigindo até a casa de Itziar com Giulia, que iria passar a noite lá em uma festa do pijama, eu não pude deixar de apertar o volante com força ao lembrar de como Cecília estava naquele dia, eu poderia matar aquele homem se eu estivesse sozinho. Quando chegamos, Giulia foi correndo para dentro e acabei tendo que levar suas coisas.

— Giulia, que bom que você chegou. – Itziar apareceu na porta com o telefone na mão. – Cecília está no quarto, estou pedindo pizza.

— Valeu, Itz. – Giulia a cumprimentou com um beijo no rosto como sempre fazia e correu para dentro.

— De quanta coisa ela precisa para passar uma única noite aqui? – indaguei, segurando duas mochilas pesadas e dois travesseiros.

— Para de implicar com ela. – Itziar riu e me deu um selinho rápido. – Você vai ficar? Sabe que tem uma gaveta da minha cômoda cheia de roupas suas aqui que você esqueceu.

— Tem uma lá no apê também com as suas. – ri e entrei, deixando as coisas de Giulia no chão. – Acho que vou ficar sim, já que tem pizza.

— Só por isso? – Itziar colocou o telefone no lugar.

— Bom, por outras coisinhas também. – sorri e a segurei pela cintura, a beijando com paixão.

— Eca. – escutamos duas vozinhas estridentes.

Rimos ao ver que eram Giulia e Cecília, já de pijamas, enojadas com o nosso beijo.

— Elas falam isso agora, mas espera mais um pouco e vamos ter que tomar cuidado com elas em questão de beijos e namorados. – Itziar disse.

— Por favor, não me fale em Giulia namorando, eu não quero ver isso. – balancei a cabeça e todas riram.

Giulia e Cecília se jogaram no sofá ligando a TV imediatamente na Netflix, haviam vários filmes de terror na lista e elas não perderam tempo em colocar um para rodar. A pizza também não demorou para chegar e ficamos os quatro assim, comendo pizza e gritando a cada assombração que aparecia na tela.

— Eu acho que não tenho mais idade pra isso. – disse e me levantei. – Inclusive pra comer pizza a essa hora da noite, não tem um chazinho de erva cidreira aí não?

— Eu imaginei que você iria reclamar disso, é só ferver a água. – Itziar disse.

Deixamos as meninas terminando de assistir o último filme e coloquei a água para ferver, Itziar olhava pela janela, admirando a lua cheia que brilhava na noite.

— O inverno está indo embora finalmente, mas ainda está um pouco frio. – comentou.

— Por isso um chá vai tão bem. – entreguei uma caneca para ela e saímos para fora, o céu estava limpo e as estrelas estavam mais belas do que nunca.

Sentamos juntos na varanda, pertos um do outro e tomamos o nosso chá em silêncio e, enquanto ela admirava a beleza das estrelas, eu admirava a beleza da mulher pelo qual havia me apaixonado e fiquei admirado de ver onde nós havíamos chegado. Nunca pensei que depois de Bárbara eu iria me permitir amar de novo, e eu sentia tanto orgulho de Itziar por ter decidido lutar pela sua felicidade apesar de todas as dores dentro dela que ainda existiam, mas como parte do seu ser, como parte da mulher que ela é hoje.

Que luta pelo que é certo e pelas pessoas que ama, que não tem vergonha de ser quem é e de sair por aí toda suja de tinta. Sorri com o pensamento da primeira vez que nos vimos, eu apenas conseguia pensar que só podia ter sido um encontro arrumado pelas estrelas para que pudéssemos estar ali naquele momento para admirá-las juntos. Beijei o seu rosto e ela sorriu com o meu gesto, encostando a cabeça no meu ombro.

— Quer casar comigo? – perguntei baixinho.

Ela ficou em silêncio por alguns segundos, a cabeça ainda encostada no meu ombro, as estrelas e a lua nos observando lembrando que nosso primeiro beijo foi sob a sua luz.

— Quero. – ela também respondeu baixinho.

Entrelaçamos as nossas mãos enquanto continuávamos ali, apenas duas almas apaixonadas que haviam se encontrado depois de tanto sofrimento, finalmente a felicidade tinha chegado a nós, como uma flor mágica que nascia após suportar um inverno rigoroso. Conforme ficava cada vez mais tarde e mais gelado, entramos para dentro juntos. Giulia e Cecília dormiam profundamente juntas no sofá. Coloquei um cobertor em cima das duas e beijei a testa de cada uma, Itziar observava tudo com os olhos um pouco lacrimejados.

— O que foi? – perguntei chegando perto dela.

— Nada, só percebi uma coisa. – deu de ombros. – Vamos dormir.

E assim fomos, sabendo que amanhã era um novo dia.

 

NARRAÇÃO ITZIAR

Estávamos eu, Álvaro e Cecília tomando sorvete em uma pracinha cheia de árvores e um grande chafariz. O inverno finalmente havia partido e as flores começavam a nascer coloridas e o clima a ficar ameno, coloquei o último pedaço do sorvete de limão na boca antes de começar a falar.

— Então, Cecília, como você sabe, você estava na minha casa temporariamente. – eu disse.

Cecília abaixou o olhar, e algumas lágrimas se formaram em seu rosto, ela deixou o pote do seu sorvete inacabado em cima da mesa de pedra.

— Por favor, eu não quero ir para um abrigo ou ir morar com uma família estranha. – uma lágrima caiu do seu olhar. – Eu faço tudo o que você quiser.

Olhei para Álvaro segurando o riso e tirei um papel que estava em minha bolsa. Entreguei para Cecília, ela o segurou sem entender direito o que aquilo significava e leu atentamente as palavras escritas, demorou alguns segundos para que a ficha caísse do que aquilo realmente queria dizer.

— Você me adotou? – as lágrimas de dor se tornaram lágrimas de alegria.

Eu não me aguentei, a puxei para um abraço apertado. Derramei algumas lágrimas junto com ela que também me abraçava com força, não tinha intenção de soltá—la tão cedo. Ela sussurrava vários “obrigada” enquanto eu acariciava o seu cabelo.

— Eu que preciso agradecer. – segurei o seu rosto em minhas mãos. – Por tantos anos sofri pensando que jamais teria um filho ou que eu não era merecedora disso, achando que isso já havia se tornado um sonho impossível, mas a minha filha estava na minha frente todo esse tempo.

Cecília me puxou para mais um abraço apertado e eu sabia no fundo do meu coração que ela também me amava, assim como ela era grata a mim, eu era grata a ela por ter tornado o meu sonho realidade. Ela era a minha filha e não importava que ela não tinha o meu sangue, eu a amaria como se tivesse nascido de mim. Vi que Álvaro também tinha algumas lágrimas escorrendo pelas suas bochechas e ele se juntou ao nosso abraço.

— Agora chega de choro. – ele disse e tirou da sua carteira um cartão de crédito. – Eu e Itziar estivemos dando uma olhada nas suas roupas e achamos que você talvez precise de algumas novas.

Ele entregou o cartão para Cecília que olhava incrédula.

— Pode gastar. – ele a encorajou. – Tem uma loja de roupas muito legal nessa esquina.

— Eu morri e fui para o céu? – ela disse e nós demos risadas.

Fomos todos juntos para a loja e de início ela havia ficado um pouco tímida de experimentar roupas, mas conforme o tempo foi passando ela já havia provado quase a loja inteira e Álvaro sorria para ela, sempre dizendo que estava linda. Segurei sua mão com a minha, uma aliança de ouro com um diamante pequeno decorava a minha mão e eu nunca pensei que estaria usando uma assim na minha vida. Às vezes sentia que precisava me beliscar para ter certeza de que tudo não era um sonho.

— A Giulia vai amar essa camiseta! – Cecília exclamou ao ver a peça cheia de glitter e a imagem gigante de um unicórnio.

Álvaro torceu o nariz.

— Tem muito brilho pro meu gosto, então com certeza ela vai gostar. – ele disse e nós demos risadas.

Passamos todas as roupas no caixa e, segurando várias sacolas, estávamos prontos para ir embora.

— Eu ainda não acredito. – ela disse enquanto colocávamos as sacolas no carro. – Eu ainda tenho que te chamar de professora?

— Professora, Itziar, Itz, do que você quiser. – ri e beijei a sua testa. – O que fizer você se sentir confortável.

Fomos embora para casa, Álvaro tinha saído do seu apê, o deixando para Pedro, e havia se mudado com Giulia para a minha casa. As duas dividiam o quarto, o que havia feito com que elas se aproximassem mais e isso era bom, ainda mais agora que seriam irmãs.

Esse pensamento fez com que eu sorrisse sem perceber, tudo parecia bom demais para ser verdade.

Quando chegamos, a primeira coisa que Cecília fez foi correr para abraçar Giulia, que já sabia da adoção, mas nos ajudou mantendo a surpresa. Ela entregou a blusa de unicórnio e como dito, Giulia não poderia estar mais feliz com o presente. Observei tudo com o coração aquecido, vendo finalmente a família dos meus sonhos bem ali, na minha frente.

Jantamos todos juntos e acompanhei as meninas até o seu quarto, me sentei na cama de Giulia e chamei Cecília para que chegasse mais perto.

— Vocês não vieram de mim, mas são as minhas filhas. – eu disse com a voz já embargada. — Eu amo tanto vocês.

Abracei as duas bem forte.

— Também amo você, Itz. – Giulia disse, ainda abraçada em mim.

— Eu te amo. – Cecília disse baixinho.

E assim as deixei no quarto, dando um boa noite e indo para o meu onde Álvaro já estava deitado na cama, lendo um livro de drama, provavelmente. Ele sorriu ao me ver.

— Eu já te agradeci o suficiente por ter entrado na minha vida? – disse me deitando ao seu lado.

— Quem deve agradecer aqui sou eu. – ele me beijou na bochecha, na testa, no pescoço, até repousar seus lábios nos meus. – Você deu a mim o amor que eu achei que nunca mais ia sentir na minha vida, deu a Giulia uma companheira e uma irmã.

Sorri e o abracei, trocamos carinhos até que o sono vencesse e dormimos assim, abraçados e felizes. O caminho até aquele momento tinha sido duro, mas estar ali com ele fez tudo valer a pena, tínhamos a nossa família.

Adormeci com esse pensamento na cabeça, e com a lembrança do casamento que estava cada vez mais perto.

 

NARRAÇÃO ÁLVARO

Suspirei fundo antes de tocar a campainha, a casa mais parecia uma mansão e a cor branca quase me cegava com o sol que batia forte. Não demorou muito para que uma empregada atendesse a porta e me convidasse para entrar, sentei no sofá da sala de visitas, um belo piano estava ali no meio, mas eu sabia que era apenas por decoração.

Esperei por alguns minutos até que minha mãe aparecesse.

— Álvaro, querido, que surpresa! – ela me abraçou rapidamente, o que já era muito. – Você nunca vem nos visitar.

— Bom, dessa vez é uma ocasião especial. – sorri. – Onde está Michel?

— Estou aqui. – me virei em direção a sua voz. – Eu tenho classe de não deixar as minhas visitas esperando, Álvaro.

Revirei os olhos, tudo era motivo para receber uma alfinetada de meu padrasto. Ele ficou ao lado de minha mãe e cruzou os braços, como se estivesse impaciente e querendo que falasse logo de uma vez o motivo de eu estar ali.

— Este é o convite do meu casamento. – entreguei para minha mãe o envelope branco.

Ela pegou um pouco surpresa e o abriu.

— Você vai mesmo se casar com uma professora de artes? – Michel balançou a cabeça. – Francamente...

— Você se casou com uma viúva, com um filho nos braços e desempregada. – minha mãe o cortou e olhou profundamente para mim. – Eu estou cansada dessas brigas, de não ter meu filho e minha neta aqui sempre nos visitando.

— Acredito que você saiba que não é por minha causa. – eu disse e olhei de soslaio para Michel.

— Agora a culpa é minha. – ele disse baixinho e balançou a cabeça.

— Não se faça de vítima, Michel. – me surpreendi ao ver pela primeira vez minha mãe estar do meu lado. – Na minha idade, a presença da família é mais do que importante, eu quero participar de mais momento da vida de Giulia como naquele festival da escola dela.

— E de Cecília, acredito. – sorri. – Nós a adotamos.

— Francamente... – Michel segurou o riso. – Então você vai cuidar de uma bastarda? Que destino.

— Cecília não é uma bastarda. – eu me segurei para não gritar. – Diferente de você, Michel, não me importo com sangue, vou cuidar dela como um pai de verdade.

— O que você quer dizer com diferente de mim? – perguntou indignado. – Eu te dei comida, lar, educação, o que mais você queria?

— Um pai. – eu me limitei a responder. – Eu queria um pai.

Michel me encarou sem saber o que responder, e eu me levantei para ir embora.

— Espero vocês no dia. – eu disse olhando para o convite e virei as costas.

Caminhei para fora da casa onde eu havia crescido, mas só havia sido feliz quando saí para fora daqueles portões de ferro definitivamente. Apesar de no fundo, ainda desejar que Michel tivesse sido a figura paterna que eu queria na minha vida quando era criança, eu sabia que não precisava do afeto dele para nada.

Sabia também que eu era um bom pai e saber disso, que eu era completamente diferente dele, já bastava para mim. Entrei no carro e dei partida, dei uma última olhada para a casa, antes eu sentia raiva, mas agora não sentia nada. Agora tinha a minha própria família, e isso me bastava.

Eu estava feliz.

 

NARRAÇÃO ITZIAR

Me olhei no espelho do salão, meu cabelo estava preso em um coque e apenas alguns fios caíam sobre o meu rosto, trazendo um ar delicado. A maquiagem leve destacava o meu olhar, não que eu precisasse, a felicidade estampada no meu rosto já trazia o brilho necessário.

— Eu ainda não acredito que você está casando de novo, só que dessa vez com um cara de verdade. – Kátia, uma de minhas primas disse enquanto uma das cabelereiras passava a chapinha no seu cabelo. – Nunca gostei do Juan.

— Nem eu. – Tatiana, mais uma das minhas primas concordou. – Dava pra ver na cara dele que era um cafajeste.

Ri e me senti feliz ao ver todas as minhas primas ali, eu podia não ter tido irmãs, mas elas fizeram esse papel muito bem na minha infância. Éramos inseparáveis, e podíamos sempre contar uma com a outra quando algo acontecesse.

— Detestei esse batom. – escutei Alba reclamar com a maquiadora. – Parece que eu morri.

— Mas o seu olho já está bem destacado, então a boca precisa ser mais neutra. – ela tentou explicar.

— Só coloca um batom vermelho, por favor? – Alba pediu.

Balancei a cabeça, ela não ia mudar nunca. O resto da manhã seguiu tranquilo e em poucas horas, todas as minhas madrinhas estavam prontas e o fotógrafo nos juntou para tirar uma foto de todas juntas no salão de beleza. A hora estava correndo e, em pouco tempo, eu estaria casada com o homem da minha vida.

As meninas já vestiam os seus vestidos, era um tom de azul bebê delicado e sutil, e elas já tiravam várias fotos no celular.

— Vem, priminha. – Tati chamou, e eu sorri para a câmera.

— Está na hora de se vestir, minha querida. – Alba me puxou. – Se não vai chegar atrasada.

— Não é chique a noiva atrasar? – perguntei, brincando.

— Não quando vai ter um jantar depois e está todo mundo esperando pra comer. – ela disse e me empurrou para dentro de um quarto mais privado onde meu vestido estava.

Segurei o tecido branco em minhas mãos e, com a ajuda de Alba e Kátia, o vesti e me surpreendi ao me ver no espelho. Fazia muito tempo que eu não me via tão bonita. O vestido era mais apertado no busto, o que realçava o meu corpo e sua saia era solta, os detalhes na barra traziam uma elegância e sorri perante a minha imagem enquanto colocava os brincos.

— Algo velho, algo novo, algo emprestado e algo azul. – Kátia repassou. – Brincos antigos da vovó, ok. Lingerie comprada semana passada, ok. Pulseira emprestada da Tati, ok. Só falta algo azul.

— Eu já me encarreguei disso. – disse e mostrei, embaixo do meu salto alto, uma pedrinha azul. – Esses sapatos de noiva já vêm com essa pedra azul.

— Perfeito. – ela bateu palmas.

— Sabe, Itz, ainda dá tempo de pedir para o meu pai entrar com você. – Tati disse, aparecendo no quarto.

— Eu amo o tio, Tati, mas isso é algo que eu realmente preciso fazer sozinha. – eu disse. – Meus pais vão estar comigo, mesmo que não do jeito que eu queria.

— Ele era um homem muito bom. – Kátia suspirou.

— Sim. – ri com as lembranças. – Era só eu me deitar em um horário diferente que ele corria para ver se eu estava com febre, se eu precisava de alguma coisa. Ele era diferente de todos, cuidava de mim como uma flor delicada.

— Precisamos ir, meninas. – Alba lembrou. – Te vemos lá.

Elas saíram me deixando ali sozinha, e eu me olhei mais alguns minutos no espelho.

Lembrei de tudo que havia passado nos últimos anos, como parecia uma outra vida, todas as lágrimas deram lugar para sorrisos infinitos e eu gostava dessa sensação. O peso que me matava havia sumido e me sentia agora leve como uma pluma. Eu admito que tinha medo de um dia a tristeza voltar sorrateiramente para dentro do meu coração, mas dessa vez eu teria Álvaro, Giulia e Cecília comigo para segurar a minha mão.

Olhei no relógio e percebi que estava começando a ficar atrasada, corri para o carro estacionado na frente do salão a minha espera e fomos para a pequena capela que ficava fora da cidade, perto de uma cachoeira onde eu e Álvaro tiraríamos muitas fotos, com certeza. Quando chegamos, vi os carros dos convidados estacionados e eu comecei a ficar nervosa, aquilo era real.

Uma moça me entregou o meu buquê e sorri ao ver as flores amarelas.

Cheguei perto da entrada, as portas estavam fechadas, ela ajeitou o meu vestido e o meu véu e eu segurei o cabo do buquê com força. A última vez que havia feito o caminho até o altar, foi um caminho que me trouxe apenas sofrimento. Respirei fundo, tirando aqueles pensamentos da cabeça. Pensei no meu pai e sorri, o imaginando ali do meu lado, segurando a minha mão como sempre fez.

Eu poderia estar entrando sozinha, mas a minha força esteve sempre comigo.

— Pronta? – a moça perguntou.

— Pronta. – assenti com a cabeça.

A porta se abriu e escutei o som dos violinos. Com cuidado dei cada passo em direção ao altar, não pude evitar de lacrimejar ao ver Álvaro com um belo terno, os cabelos, que geralmente tinham alguns fios bagunçados, estarem devidamente no lugar, e o fiel óculos que ele nunca tirava. Ele sorriu para mim, um sorriso sincero e cheio de amor.

Olhei para os lados, vi todas as pessoas que participavam da minha vida ali, amigos, família, colegas de trabalho, todos sorriam para mim, finalmente felizes de me verem encontrar a felicidade. Giulia e Cecília estavam sentadas juntas na frente, e pareciam maravilhadas ao me verem passar, todos os nossos padrinhos nos olhavam contentes. As flores estavam mais coloridas naquela primavera, seu perfume enchia a capela.

Álvaro estendeu a mão para mim e eu a segurei delicadamente.

— Você está linda. – sussurrou.

— Você também. – sussurrei de volta.

Viramo-nos para o padre, que começou a cerimônia. Eu não podia parar de sorrir, por mais que tentasse, o padre falava e falava, mas a minha cabeça estava a quilômetros de distância, eu estava perdida olhando fundo nos olhos de Álvaro e ele também, tanto que nem percebi quando finalmente, o padre nos entregou as alianças.

— Eu te aceito, Itziar, como a minha esposa. – Álvaro segurou a minha mão enquanto colocava a aliança gentilmente. – Em toda a minha vida, nunca achei que conheceria alguém como você. Eu quero passar o resto dos meus dias ao seu lado, sendo mais do que seu marido, mas seu amigo e companheiro, alguém que você pode confiar. Não existe como medir o amor que sinto por você, pois ele é maior do que qualquer coisa que existe nesse mundo. Eu sou seu eternamente, Itziar!

— Eu te aceito, Álvaro, como o meu marido. – coloquei a aliança no seu dedo. – Eu sei que a fala é “até que a morte nos separe”, mas nem mesmo a morte é capaz de acabar com o amor que eu sinto por ti. Continuarei te amando quando eu morrer, quando eu renascer e morrer de novo, pois o que sentimos não é possível existir apenas agora. Eu sei que fiz a escolha certa quando te aceitei, pois agora você é minha vida, a nossa família é o que me motiva a continuar vivendo. Eu sempre vou ser tua!

— Bom, eu os declaro, marido e mulher. – o padre sorriu. – Pode beijar a noiva.

Beijamo-nos ao som de muitos aplausos, sua mão em minha cintura me puxava para mais perto dele, de onde eu desejei que nunca mais pudesse sair.

Saímos da capela junto com todos e, enquanto os convidados se dirigiam para onde seria a festa e o jantar, em um salão não muito longe dali, os fotógrafos nos cutucaram em diversas poses até que ficassem satisfeitos com o resultado e podíamos seguir para a festa.

— Espera um pouco. – Álvaro me segurou. – Acho que os convidados podem esperar um pouco a gente chegar.

Ele me puxou para perto dele e me abraçou forte.

Ele me olhou fundo nos olhos e não precisava dizer mais nada,  já sabia tudo o que ele queria dizer para mim. Acariciei o seu rosto, eu tinha tudo o que queria, e não poderia ser mais feliz.

Beijei-o com muito desejo, o fazendo entender o amor que eu sentia por ele, e ele correspondeu o beijo com a mesma intensidade. O som da água caindo da cachoeira preenchia o ambiente e a minha vontade era de ficar ali mesmo, apenas nós dois, finalmente casados.

— Ei, esqueceram que vocês iam levar a gente pro salão? – paramos de nos beijar ao vermos Giulia e Cecília, se aproximarem de nós. – A lua de mel é só depois, queridos.

— Menos, Giulia. – Álvaro revirou os olhos.

— Vamos logo, eu estou com fome. – Cecília pediu, e ela e a irmã foram em direção ao nosso carro, que era o único que estava ali.

— Melhor irmos. – Álvaro disse e, de mãos dadas, as acompanhamos.

Entramos todos juntos e partimos em direção a festa, olhei para ele e para as meninas sentadas atrás no retrovisor e sorri.

Seria esse, então, o nosso final feliz?

 

Epílogo

NARRAÇÃO ITZIAR

O sol já raiava forte lá fora, o verão não estava pegando nada leve com a gente naquele ano, e eu peguei a vasilha de água da nossa gata, Princesa, que havíamos adotado há alguns anos. Troquei a água por uma mais fresquinha e ela logo veio se esfregar nas minhas pernas.

— Está calor, não é, Prin? – eu disse e acariciei seus pelos brancos e macios, o seu rabo cinza era peludo e ela me encarava com aqueles grandes e emotivos olhos azuis.

Era sábado e Álvaro estava lá fora na varanda, lendo.

— Por favor, me diga que não está lendo o meu livro de novo. – disse, e me sentei ao seu lado, observei a capa azul e constatei que era sim o meu livro, publicado alguns anos atrás.

— Eu simplesmente não me canso da história. – deu de ombros. – Acho que é a melhor obra já publicada na minha editora.

— Você só diz isso porque sou sua esposa. – ri. – Aliás, sua mãe ligou, disse que Michel nos convidou para jantar lá amanhã.

— Depois eu ligo para confirmar que vamos. – disse e fechou o livro.

Escutamos gritos vindo de dentro da casa e logo Giulia e Cecília apareceram bufando.

— O que foi dessa vez? – Álvaro perguntou, pacientemente.

— Giulia pegou o meu vestido de novo, pai. – Ceci reclamou.

— É só para eu ir na pizzaria hoje com a galera do colégio. – Gi se explicou. – Coisa que você não pega vestido emprestado meu, não é?

— Mas eu peço antes. – Ceci revidou. – Mãe, explica pra ela.

— Mãe, não! – Giulia interviu

— Por que vocês não resolvem isso com maturidade? – eu disse. – É só um vestido, vocês não precisam brigar por isso.

Elas bufaram e entraram dentro da casa, ainda resmungando.

— Daqui 5 minutos estão se amando de novo. – Álvaro riu. – Eu e Pedro éramos do mesmo jeito nessa idade.

Sentei—me mais perto dele e segurei a sua mão, Princesa apareceu do nosso lado e deitou no meu colo, William fez um carinho na sua cabeça e ela começou a ronronar.

Éramos felizes, a flor do nosso amor ainda tinha pétalas vivas e vibrantes que sobrevivia até o inverno mais rigoroso, mas não era apenas sobre o nosso amor. Tínhamos Giulia, Cecília, nossos amigos, todos eles faziam o nosso dia valer a pena.

Afinal, a vida não é sobre isso?

Sobre família.

 

Fim


Notas Finais


Depois de 2 anos, concluí essa história de amor com vocês e por vocês. Seus comentários me fizeram ter certeza de que o que eu estava fazendo era bom e me deu coragem de continuar e seguir o meu sonho, e agora ele se tornou realidade.
Obrigada por tudo!
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