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História As Ruínas da Árvore - Capitulo 2 Adaptando-se à rotina (pt.2)


Escrita por: Lenaboat

Capítulo 5 - Capitulo 2 Adaptando-se à rotina (pt.2)


 

VINTE MINUTOS DEPOIS, NO JARDIM DA CASA

 

- Tudo certo? – Perguntei preocupada.

- Sim, minha filha. – Falou a mamãe. – Roger, você tem que prometer que tudo vai ficar bem enquanto sairmos. – Completou triste, nos encarando com um rosto cansado.

- Mãe, eu não prometo absolutamente nada. Mas posso garantir que nossos companheiros ficarão muito felizes com a minha ajuda, afinal de contas, eu saí de madrugada para roubar as coisas, não é mesmo? – Falou meu irmão sorridente.

Reviro os olhos e o encaro por um tempo.

- Não se encha de arrogância, Roger. Nós ainda não saímos do jardim de casa, sem falar que nossa chance de sermos pegos é bem grande. – Falei desdenhosa.

Quando terminei de falar, noto que o rosto de Roger cora forte, como se alguém tivesse arrancado toda a confiança dele de uma vez.

- Hum... que seja! Mas pelo menos o médico está do nosso lado, e pelo o que sabemos a capitã só volta no final da tarde. Apenas vão logo! O tempo de vocês está acabando. – Falou Roger, vermelho.

 

Enquanto vou na frente da minha mãe, vejo que ela dá um nó firme no mesmo saco de tecido que Roger usara para roubar as comidas na noite anterior. Ao terminar, ela põe o seu capuz e eu faço o mesmo. Antes de entrarmos na floresta fria, sem folhas e cobertas por neve, acenamos para Roger como um sinal de despedida e ele entrou dentro de casa naturalmente.

- Vamos, Beth. – Falou mamãe tocando em meu ombro, enquanto nos aprofundávamos na floresta branca.

O frio estava incapacitante, de tal forma que nem nossos casacos nos ajudavam no momento, assim como a cada baforada no ar, nossa visão era atrapalhada pela fumaça que nossa respiração deixava. Olho para a minha direita e vejo que a cada passo que damos, somos engolidas pela escuridão e pelas árvores, que pareciam nos observar. Quase na metade de nosso percurso, minha mãe cutuca meu braço para chamar a minha atenção.

- Hum? – Pergunto.

- Olhe só, Beth. Logo ali é o fim das ruínas. – Ela apontou para um local onde aparentava terminar as construções rochosas. – Logo ali temos uma árvore, a qual as lendas dizem ser a reencarnação do espírito de uma mulher. Interessante, não? – Completou, apontando para uma árvore com feições humanas, cheia de curvas e estranhamente, a única com folhas de todo o local. Aquilo com certeza era algo esquisito, porém extraordinário.

- Além disso, tem versões que dizem que esta árvore tem vida, mas que a mesma só demonstra para o novo salvador do reino. Uma história no mínimo, fascinante. Qualquer dia conto a lenda inteira. – Continuou minha mãe com um sorriso.

É justamente isso que gosto na minha mãe, ela sempre está feliz mesmo quando tudo ao redor está no mínimo... trágico.

Ainda estamos caminhando, e agora o gélido vento bate em nossos rostos, com um alto assobio que com certeza poderia ser ouvido, o inverno deste local é de fato intenso. Eu não aguentava mais, até que vejo casinhas numa pequena distância... nós chegamos, finalmente chegamos. Nós aceleramos nossos passos e as pessoas nos reconhecem de cara. Isso mesmo, eles.

A vila em que morávamos é bem simples e humilde, seus moradores, nossa família, não podiam ser diferentes. São pessoas que sempre estão felizes e se contentam com o mínimo que tem.

- Eu sabia que vocês iriam conseguir. Estou orgulhoso das minhas garotas. – Falou uma voz masculina no qual eu reconheci sem dificuldade.

- Peter! Oh meu deus, é tão bom vê-lo novamente! Ainda por cima saudável, meu querido! – Falou a mamãe, o recebendo com um abraço e um beijo.

Depois de quatro meses e meio, finalmente conseguimos rever o nosso pai.

- Ficar bem pela família é um trabalho mínimo para Peter Oak. – Ele falou para a mamãe e logo me recebe com um abraço. – Olá, querida. Também foi ótimo te ver depois de tanto tempo. Hum, cadê o Roger? Por que não veio desta vez? – Perguntou o papai com um rosto triste.

- Bem, ele teve de tomar conta da casa enquanto estamos fora, para levantar o mínimo de suspeitas possível. – Falei estremecendo um pouco de frio, algo que meu pai notou no instante.

- Vamos entrar, queridas? Tenho certeza que vai ser melhor para vocês. Sigam-me, por favor! – Completou sorridente.

Nós o seguimos até a cabana... a nossa cabana em que morávamos até sermos arrancados daqui. Lá encontramos eles, meu tio, meu primo mais novo e minha avó. Até hoje não consigo compreender como que uma cabana tão pequena consegue abrigar quatro pessoas, principalmente num lugar onde comida é algo tão escasso. E por falar nisso...

- Pessoal, não sei se isso vai animar vocês mas, o Roger pegou umas coisas para nós ontem à noite. – Falo retirando o nó do saco de tecido onde continham as comidas.

O rosto de toda a minha família se encheu de alegria quase que imediatamente. Cada um pegou uma fruta ou um pedaço de queijo.

- Está bem fresco, maravilhosa. – Falou meu tio com uma maçã.

- É da feira local. – Falou minha mãe.

Pode ter certeza que não era um banquete preparado pelo melhor chef do país, mas garanto que nunca vi pessoas tão felizes e satisfeitas com alguns queijos e frutas. Olho para o pequeno relógio que se localizava na cômoda e vejo que já vai-se completar quatro horas da tarde, o horário em que a capitã disse que voltaria.

- Mãe! Precisamos ir! Quatro horas da tarde! – Falo desesperada.

Mamãe fica com um olhar preocupado e logo se apressa para sair. Nós nos despedimos de todos e já nos preparávamos para irmos, até que meu pai se lembra de algo.

- Meninas, receberam os remédios? Soube que o Roger esteve gripado recentemente. – Perguntou o meu pai.

Minha espinha congelou ao ouvir aquela frase, uma sensação de pânico percorreu o meu corpo na mesma hora. Meu deus, a capitã havia encontrado um pequeno pacote com três tipos de remédios, um deles sendo um remédio para gripe. Preferi não comentar para o meu pai.

- Não, ainda não. – Menti. Então eu e mamãe voltamos à casa, com o mesmo percurso gélido, a neve fofa, juntando com a floresta branca sem folhas com exceção daquela árvore. Aquela estranha árvore.

 

DE VOLTA À CASA, NO FINAL DA TARDE.

 

 

Termino de me banhar e me enxugo com a toalha enquanto era golpeada pelas correntes frias do vento de inverno. Ao terminar, volto para o quarto e visto-me com a roupa na qual fui presenteada. Primeiro a cinta, depois as roupas de baixo e a meia-calça branca. Finalmente, por cima de tudo, o vestido e os sapatos. Olho-me no espelho e não me lembrava de ter ficado tão arrumada na minha vida.

Já estava empolgada com a festa e em ir arrumada do jeito que estava, até que Marie e Liza atravessam a porta do quarto, aparentemente sujas de neve e com as mãos cheias de produtos de beleza.

- Ah, não. – Pensei comigo mesma.

Elas me pedem para sentar na cadeira, então eu as obedeço. Assim que sento, Liza pega uma mecha do meu cabelo e faz uma trança nele, depois prendendo o penteado em um laço azul-marinho na parte de trás do meu cabelo.

- Para combinar com o vestido, querida! – Falou Marie com um sorriso.

Eu estava emburrada. Elas continuaram aquilo por mais dez minutos, passando pó no meu rosto, cacheando meus cabelos já arrumados e apertando mais a cinta que eu havia colocado, algo no mínimo, bem desconfortável. Quando menos esperava, senti duas lufadas de um perfume doce e forte em meu pescoço.

- Pronto! Você está linda, minha querida! – Falou Marie, orgulhosa de ter me arrumado.

- Um momento!  - Falou Liza, pegando da caixa o delicado cordão e colocando o no meu pescoço, em seguida colocando um par de brincos na em minha orelhas, duas pequenas bolinhas douradas, bem delicadas assim como o cordão.

- Obrigada. – Agradeço. Mas minha cabeça me marretava com a seguinte dúvida. – Meninas, por que suas roupas estão sujas de neve? O que houve? –

Marie e Elizabeth se entreolharam nervosas por um certo tempo.

- Por nada. Apenas estávamos arrumando o jardim enquanto você se arrumava. Só isso, nada demais. – Respondeu Liza, friamente.

 As duas passaram vários minutos me admirando, até que escuto o som de pneus freando. A capitã voltara à casa, e daqui a alguns minutos iríamos sair para a tal festa.

- Venha conosco! – Falou Marie animada. – A capitã ficará feliz em te ver assim arrumada! Principalmente com a roupa que ela lhe deu. –

Dou de ombros e faço que sim com a cabeça. Marie abrira a porta, dando passagem para mim, Liza e eventualmente, ela mesma. Ouço que a porta da sala havia sido destrancada e os guardas adentraram, no mesmo instante suspirando de alívio por entrarem em um ambiente mais aquecido e confortável. Seguro a saia do meu vestido e ando pelo corredor do primeiro andar, cada passo que eu dava fazia com que o cômodo ecoasse com o som de madeira rangendo, pelo simples fato de ser uma casa bastante velha. Chego ao final do corredor e no início das escadas, o início da descida, feitas de madeira de carvalho, porém também velhas. Olho para o andar inferior e noto meu pai com um livro debaixo do braço, cumprimentando um dos guardas. Cada degrau que meus pés tocavam faziam com que a madeira rangesse um pouco, com menos frequência que o corredor. Finalmente chego no andar de baixo e vejo que todos os olhares se voltam para mim, desde o olhar do meu pai até o Roger. Todos faziam uma expressão de quem acabara de encontrar um tesouro no fundo de uma caverna.

- Recebemos realeza em casa e não fui avisado! – Brincou Roger, como sempre.

Apesar da tentativa de alívio cômico de Roger, o silêncio predominou o ambiente por completo, e alguns dos guardas partiram, indo para suas respectivas casas. Encaro meu pai indo em minha direção, sorridente e ainda fraco.

- Emilie, você está divina. – Falou colocando suas duas mãos em meus ombros. – Parece uma pequena princesa. A minha princesa. – Ao terminar sua frase a capitã me observa. Apesar de seu olhar frio, ela dá um meio-sorriso e se aproxima de mim com passos largos em suas botas reluzentes.

- Impressionante. – Falou a mulher, enquanto dava voltas ao meu redor, observando cada pequeno detalhe do meu vestido, sapatos, meu cordão e até a maquiagem. – Sabia que tinha feito uma boa escolha. Você está belíssima, Emilie. – Completou, em seguida apertando minhas bochechas com suas mãos frias.

Ao olhar para o seu lado esquerdo, onde estava a família Oak, seu pequeno sorriso logo se tornou uma expressão de desdém, desgosto. Porém o que me impressionou foram as palavras da capitã.

- Vocês ainda não se arrumaram? – Disse a capitã irritada. – Pelo o amor de deus... se querem ir então sejam breves! E aproveitem que hoje eu estou com boa vontade para levar vocês. Imprestáveis... – A última parte foi dita num sussurro.

No mesmo instante, Roger e Elizabeth foram correndo da sala até seu pequeno quarto para se arrumarem logo. Enquanto os gêmeos corriam, a casa ecoava com o som de passos rápidos e agitados, junto com a madeira de carvalho rangendo, como se fosse quebrar a qualquer instante. Como assim, os empregados que ela tanto despreza vão para uma festa de ‘’ alta classe’’ conosco?

- Eles vão junto? – Pergunto para a capitã, fingindo desdém.

- Sim. – Respondeu fria. – Ordens do médico. O velhote fala que eles precisam de um tempo de descanso, de lazer. Por mim ficariam aqui o dia todo, todo dia. Afinal de contas, são nossos servos e não estão aqui por um motivo diferente, não é verdade? – Completou com um sorriso sádico.

Meu rosto e minhas orelhas ficam vermelhas pela raiva, porém tento não demonstrar, apesar de ser uma tarefa difícil. Meu pai fica com uma cara de choque ao ouvir, mas não fala nada. Todos que estavam na casa ouviam as risadas da pequena família.

- Então... – Diz meu pai com a voz meio rouca, limpando a garganta. – Vou me arrumar, não estou a fim de atrasar nenhum de vocês. –

A capitã faz que sim com a cabeça, concordando, e dá um beijo no meu pai antes de ele subir para o nosso quarto. Ainda com raiva, subo depois dele, o seguindo.

- Sério, pai? De novo, você não falou ou fez nada para defendê-los. – Digo corada.

Ele me olha de uma forma cheia de desdém, e ainda cheio de raiva.

- Pela última vez... já falei para você não colocar a segurança dessa família em nossas costas, vamos acabar nos dando mal. Entendeu, menina?! – Meu pai gritou comigo de uma forma que eu até estranhei, ele raramente alterava a voz comigo. Corro até a minha cama, sentando nela enquanto olhava os objetos ao meu redor, assustada e surpresa.

Agora com a porta fechada, minutos depois, escuto o som de água descendo pelo ralo, pelos canos, pouco a pouco. A porta do banheiro é destrancada e então eu vejo meu pai já vestido com uma camisa branca e uma calça preta. Ele me encara com uma cara de culpa, logo se aproximando de mim.

- Desculpe Emilie. – Disse. – Eu estou mais estressado que o normal hoje, me perdoe por isso. É que as vezes você é uma menina bem... teimosa, no mínimo. Eu vou terminar de me arrumar, espere mais um pouco, certo? – Completou.

 Minhas orelhas e meu rosto queimaram com um rubor intenso. Como assim, ‘’ teimosa’’? Desde que cheguei aqui, só fiz seguir ordens e ficar na minha. Não é culpa minha se têm uma família trabalhando como reféns aqui nessa casa sem direto a um prato de comida sequer. Não fiz diferente desta vez, engoli e aceitei aquilo calada, pois não havia muito o que fazer pela pequena família.

Observo meu pai pela porta aberta, penteando seus cabelos ruivos para trás, deixando-os arrumados para uma ocasião formal e especial como a festa de hoje. Ele abotoa seu velho terno, que por mais desgastado que esteja, fica bem nele como ninguém. Meu pai ajeita a gola da camisa branca por baixo de seu terno e vira, me encarando e tossindo por um tempo.

- Estou pronto, filha. Vamos? – Falou já mais calmo que agora a pouco.

Sorri, fazendo que sim com a cabeça. Pego na mão dele e vamos à frente do espelho. Ele me encara e olha de volta para o espelho.

- Seremos as pessoas mais bonitas daquela festa! – Riu, apertando as minhas bochechas.

Saindo do quarto, andamos juntos pelo corredor, que agora rangia mais alto, pelo fato de nós dois andarmos por aquela velha e fraca madeira. Logo descemos as escadas e vemos a Capitã, seus guardas, Roger, Liza e Marie, todos prontos para irem juntos conosco.

- Estamos prontos para ir. Adiante! – Falou Vincent, um dos guardas da capitã, abrindo a porta para todos nós.

Ao ver a porta aberta, lá estavam os carros a nossa espera, eram quatro deles. Não sei ao certo como isso funciona, mas sabemos que a capitã iria na frente do primeiro, e nós iríamos logo atrás deles. Visto o casaco logo ao sair da casa, pois o clima ainda estava extremamente gélido. Tremia de frio ao me aproximar dos carros, mas tirei o mínimo de tempo para olhar para trás e observar Marie, Liza e Roger, todos com sorrisos de orelha a orelha no rosto. Pelo o que eu sabia, aquilo seria a primeira vez que eles saíam para algum lugar em anos.

- Eu não acredito! Só posso estar sonhando e ainda não acordei! – Disse Liza com os olhos marejados, prestes a chorar de felicidade. Estava bem arrumada e com um vestido marrom belíssimo. Roger estava com um terno meio velho, porém bonito. Marie estava combinando com a filha, mas seu vestido tinha uma faixa de seda branca na saia.

Agora mais perto dos carros, respiro fundo e observo ao redor da casa, acabo parando meus olhos no jardim. Lá estava ele, o estranho inseto, escalando um galho de uma árvore, enquanto batia as asinhas. Sentia que aquela criatura estranha, bizarra e no mínimo, exótica, estava me seguindo desde a hora em que meu pai passara mal no dia anterior. Vai ver é uma pequena fada do local.

Não. Não pode ser, isso seria maluquice. Por mais que eu goste de contos de fada, tenho de aceitar que existe uma grande barreira entre o real e a fantasia.

- Emilie? Está tudo bem? Chegamos no carro. – Diz o meu pai, chamando a minha atenção ao tocar em meu ombro.

Me perdi em meus pensamentos. Apenas faço que sim com a cabeça e entrei no mesmo carro em que estivera no dia anterior. A minha janela estava perto de um arbusto, encaro o mesmo e novamente, lá estava ele.

O estranho e peculiar inseto que estivera me seguindo nos últimos dias.

Ouço meu pai entrando no carro e afivelando os cintos, junto com o restante do pessoal. Momentos depois, sinto que o carro está em movimento e vejo as árvores desaparecendo enquanto saíamos pelo portão da casa, a rua coberta de neve. Quanto mais nos distanciávamos, mais as árvores desapareciam.

Que comece a comemoração.



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