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História Assassin's Creed: Aftermath - Um Estranho no Ninho


Escrita por: B4dWolf

Capítulo 39 - Um Estranho no Ninho


Davenport Homestead. 15 de Maio de 1778.

 

A noite tinha caído. Do lado de fora da recém-reformada mansão de Achilles Davenport, havia três charretes estacionadas. Seus ocupantes já se encontravam do lado de dentro da casa, protegidos do sereno da noite, que caía impetuosamente. O céu estava escuro, negro e coberto por nuvens, sem qualquer estrela. Sem dúvida, aquela seria uma noite de forte tempestade.

A Mansão de Achilles estava, a cada dia, mais parecida com aquela em que passei os anos de minha juventude. Ainda assim, o caminho que era necessário percorrer me era feito com tristeza. Eu não mais avistava a casa dos colonos que tanto ajudei, ou as construções que nasceram por aquelas terras. Aquela ainda era uma terra triste e solitária, num reflexo do estado de espírito de seu dono. Nem meus esforços, ou os de Minowhaa, conseguiam reverter este quadro.

Com grande proeza, consegui conciliar os Contratos de Assassino de todos, e assim pude reunir os recém-recrutados, sem exceção. Havia tantos presentes ali que o velho porão era inadequado para aquela reunião, além de acreditarmos que Howard Davidson não encontraria qualquer motivo em vigiar todos os passos de um velho manco e aparentemente inofensivo. Além disso, estávamos em bom número, e prontos para uma represália, se isto realmente viesse a acontecer.

Enquanto vivo, Achilles jamais teve o privilégio de ver todos os Assassinos recém-recrutados reunidos diante de si. Seus olhos brilhavam, de satisfação e alívio, por ver que nosso Credo ainda era pungente, como antes da Guerra dos Sete Anos.

Minowhaa tomou a palavra primeiro.

–Senhores, as notícias que tenho a dizer...

O barulho da porta se abrindo repentinamente nos deixou sobressaltados. Afnal, todos estavam presentes. Não estávamos esperando ninguém. No entanto, nos tranquilizamos, quando constatamos que não era nenhum capanga, ou mesmo Templário, que interrompera bruscamente nossa reunião.

–Haytham Kenway. – disse Minowhaa. Notei o semblante de Achilles se contorcer. Claramente, ele o detestava, e eu sabia que ele tinha razão para isto.

–Interrompo alguma coisa? Não respondam, eu vejo que sim.

–Mas que diabos você faz aqui? Connor... – pediu Minowhaa, voltando-se para mim. – Explique-nos o que seu pai faz aqui.

Antes que eu pudesse abrir a boca para finalmente contar-lhes da novidade, meu pai me interrompeu.

–Estou aqui para...

Silêncio. Todos os olhos daquela sala, mesmo os abnegados e revoltados de Achilles, se voltaram para o meu pai. Isso só o deixava ainda mais desconfortável para dar-lhes a boa nova.

–Estou aqui... – ele pigarreou. – Estou aqui para me juntar à vocês.

O término daquela frase levou a todo tipo de reação. Suspiros de assombro, sorrisos descrentes, cochichos de “impossível”, ou rostos preocupados. Mesmo Achilles estava surpreso. Minowhaa soltou uma gargalhada. Isso deixou meu pai ainda mais envergonhado – e devo dizer, irritado.

–Confesso que esperava ouvir qualquer coisa... Menos isto... – disse Minowhaa, com os olhos quase lacrimejando de tanto rir.

Os olhos de meu pai se voltaram a todos os presentes, percebendo que todos evitavam o mero contato com o olhar. A princípio, pensei que isto fosse devido ao próprio constrangimento da situação, mas depois, notei bem o porquê.

Todos ali o temiam.

Meu pai caminhou até a direção de Achilles. Os dois se observavam fixamente. Como dois predadores.

–Achilles Davenport. Os motivos que me levam a juntar à sua causa “romântica”, eu devo dizer, estão muito longe de serem por qualquer simpatia ao Credo de vocês.

–Não me surpreende. – disse Achiles, com a voz neutra.

–Temos um inimigo em comum. Um homem chamado Howard Davidson, o Grão-Mestre Templário Britânico. Ele já comanda os Templários do Rito Colonial, e agora deseja estender seus domínios à América definitivamente.

Todos os presentes, à exceção minha e de Minowhaa, pois já sabíamos da notícia, pareceram surpresos.

–Espere, Connor... E Charles Lee? Ele não é mais o Grão-Mestre, é isto? Então por que ainda estamos rastreando seus contatos? – perguntou Duncan Little, descrente.

Um burburinho entre eles se seguiu. Isto deixou-me desapontado. A partir daquele momento, todos sabiam que nosso trabalho tinha sido quase em vão. Para meu alívio, Amália decidiu interceder por mim.

–Rapazes, se acalmem. Todos nós fomos pegos de surpresa, eu sei, mas sabemos como os Templários são ardilosos. Não podemos culpar a ninguém por tal mudança de planos e...

Amália foi interrompida, entretanto, por uma reação que juro ter sido impensada.

Meu próprio pai arrancou-lhe o capuz, revelando seu rosto por completo.

–Você?! – exclamou com surpresa e também decepção. – Eu não sabia que você era um deles...

–Pai, agora não é o momento. – disse, quando notei que ambos trocavam um olhar gélido. Coube a Minowhaa intervir, finalmente.

–Pessoal, deixemos de lado a confusão trazida por este maldito Templário...

–Ex-Templário, Minowhaa. – corrigi-o, começando a me irritar com sua atitude.

–Que seja. O fato é que eu estava prestes a avisá-los disto. E não se irritem, ou pensem que o trabalho de vocês foi em vão. Suas últimas ações contribuíram, e muito, para fazermos um minucioso levantamento das atividades templárias pela Colônia. Simplesmente, houve uma alteração na liderança, e só.

–Mas estávamos planejando um cerco a Charles Lee. – interrompeu Clipper. – Iríamos até bombardear o Forte George...

–O Forte George?! Mas que idéia estúpida! – comentou meu pai.

–Não fale de nossos planos na presença desse estranho, Clipper. Ele não convence ninguém. - cochichou Duncan, recebendo um assentimento do próprio Clipper. Minowhaa continuou.

–No entanto, Charles Lee jamais deixou de ser um Templário importante, e portanto, um alvo. Não devemos nos esquecer disto. Se o eliminarmos, estaremos prestando também um grande favor à Revolução, que finalmente ficará livre de um Comandante que nada fez além de conspirar. Tenho certeza de que, em breve, redigiremos a Independência. Se isto acontecer, Howard Davidson não poderá ficar com os dois Ritos. O Rito Americano será independente...

Meu pai parecia irritado com as palavras de Minowhaa. Braços cruzados, semblante insatisfeito, balançando nervosamente a perna.

–Isto é o que você pensa...

Minowhaa, entretanto, escutou seu balbucio. Com o ar debochado, virou-se para o meu pai.

–Pois então, quase me esqueci de que temos um “ex” Grão Mestre em nossa reunião. Pois então, Grão-Mestre Haytham Kenway, por que não nos agracia com o privilégio de sua presença aqui e conta mais a respeito de como funciona as coisas entre os Templários?

Notei meu pai ficar em silêncio. Não um silêncio normal, mas um silêncio incomodado, quase apalpável. Os olhos de Minowhaa reluziam em satisfação.

–“Manter os princípios da nossa Ordem, e tudo aquilo que representamos. Nunca compartilhar os nossos segredos, ou divulgar a natureza do nosso trabalho. Fazê-lo até a morte, custe o que custar...” Não foi este o seu juramento, Templário?

Percebi que meu pai estava ferido. Certamente, Minowhaa tocou em um ponto sensível. Aquilo me deu um tanto de desgosto. Ele não era mais um Templário, mas suas convicções ainda estavam lá. Por mais que os recentes acontecimentos tivessem lhe empurrado para o lado oposto da guerra, ele não tinha qualquer apreço por nossas crenças, por nossos ideias.

–Foi o que eu pensei. – decretou Minowhaa. – Haytham Kenway, você tem exatamente dois minutos para deixar este cômodo em segurança. Do contrário, eu passarei a te considerar uma ameaça à nossa Ordem, e passivo de ser destruído.

Meu pai ria daquela situação.

–É isto o que mais quer, não é? Um pretexto para me destruir.

–Jamais precisei de um pretexto para conseguir o que quer, Haytham. Só está vivo ainda porque tenho muita consideração por sua esposa...

–Não ouse falar de Ziio, seu desgraçado. – vociferou meu pai, fazendo Achilles se levantar instantaneamente.

–Minowhaa, Kenway, parem. Não é hora para tais conversas. – Achilles fez um gesto. – Kenway, me acompanhe. Eu ainda sou o Mentor e, portanto, cabe a mim definir o que é melhor para a Ordem.

Abnegado, meu pai acompanhou Achilles até a sala de estudos, onde se reuniram a portas fechadas, longe de qualquer interferência.

–Aposto que você o trouxe até aqui. – resmungou Minowhaa, irritado e de braços cruzados, olhando para mim. – Veja só todo o distúrbio que esse Templário levou à nossa reunião. Estou deveras decepcionado com você, Ratonhnhaké:ton.

Virei-me para ele, também irritado por suas eternas provocações.

–Não pense que chamar-me pelo meu nome nativo irá me dobrar. E pare de usar a Ordem para trazer discórdia ao meu pai. Eu sei que sua implicância com meu pai tem outras razões.

–Você não entende... – disse, tentando disfarçar. Jamais admitira a qualquer um sobre seus sentimentos por minha mãe, mas fazia questão de demonstrar toda a raiva por meu pai, raiva esta que eu sabia a natureza.

–Eu sou adulto o bastante para entende-las. E saiba que isto é motivo o bastante para que eu fique decepcionado com você, talvez até mais que a decepção que você sinta por mim. – disse, deixando bem claro o quanto ele também estava errado. Ainda furioso, Minowhaa retornou ao seu assento.

–Tenho certeza de que Achilles o enxotará, assim que aquela porta se abrir. – disse, com ar triunfante. – Então, poderemos planejar nossa estratégia, sem interrupções indesejáveis.

Senti meu pulso prestes a fechar, mas Amália se pôs ao meu lado.

–Acalme-se. Tenho certeza de que dará tudo certo.

 

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Haytham acompanhou Achilles até sua sala particular, que era, na verdade, a biblioteca da casa, repleta de livros. Muitos, ele percebera, tratavam de literatura a respeito Daqueles Que Vieram Antes, mostrando que, em pelo menos algum aspecto, ambos tinham algo em comum. Havia também livros de Filosofia, com destaque para algumas obras de Maquiavel – um famoso Assassino italiano, é claro. Era curioso, pensava Haytham, o quanto a variedade daqueles livros transpareciam a alma de seu dono.

No entanto, Haytham mal pôde noticiar ou comentar qualquer coisa a respeito dessa impressão. Quando ensaiava uma observação qualquer, foi pego de surpresa por um golpe dado pela bengala de Achilles em suas pernas, que lhe fizera momentaneamente cair no chão. Arqueando a boca em surpresa, Haytham notou o idoso sorrir diabolicamente.

–Me diga, Haytham. Como é estar no chão? – perguntou Achilles, encostando uma espada perigosamente em seu pescoço.

Uma vingança, é claro. Eu deveria ter previsto. Ainda assim, Haytham não se conformava. Não era momento para isto.

–Não seja tolo, velhote. – exclamou Haytham, - Vingar-me não apagará o seu passado vergonhoso.

–Eu sei que não. Mas inegavelmente fará um bem a minha alma.

–Sim, mas e depois? Acha que meu filho ficará feliz em ver-me morto em sua sala de estudos?

Após alguns segundos, a espada de Achilles se afastou de seu pescoço. Haytham sentiu maior liberdade, e pôde enfim se levantar.

–Jamais faria isto. Simplesmente a oportunidade de te ver em posição oposta da que estivemos há mais de vinte anos atrás me foi muito irresistível para deixar passar. – disse o idoso, calmamente.

–Bela forma de me testar, velhote. – disse Haytham, ajeitando sua roupa.

Ele riu. – Agora sei porque Connor costuma ser tão insolente. Você teve uma educação de Assassino, e se tornou Templário mais tarde. Connor teve uma educação Templária e se tornou um Assassino. Para não mencionar o histórico horripilante de seu pai, Edward, que... Como fez mesmo? Se associou à Templários, depois procurou os Assassinos e os ajudou, claro, em troca de um punhado de moedas e promessas de enriquecimento, e depois... Bem, essa é uma longa história que creio que você conhece bem. A família Kenway é mesmo um caso a ser estudado.

–Por que não vamos logo ao que interessa? – inquiriu Haytham, bastante descontente em perceber como Achilles tão bem conhecia sua família. Para não dizer a menção ao seu pai. Provavelmente, Edward estava na pauta de conversa entre Achilles e Adewalé – e essa conversa deveria ter um sabor especial, uma vez que afetava diretamente seu maior inimigo.

–Bom, como deseja. Por que quer entrar para a Ordem? Seria esta uma crise de meia idade tardia?

–Não seja debochado, velho. Eu jamais disse que desejava entrar para essa sua “Ordem”. Eu quero... Cooperar. Apenas isso.

Achilles ergueu uma sobrancelha.

–Esse Howard Davidson deve ser um inimigo e tanto... – sondou o idoso.

Haytham olhou de soslaio.

–Não posso negar que a oportunidade de acabar com ele me atrai. Nós nunca fomos amigos, e não foi por falta de tentativas de meu antigo mentor, Birch.

–E por que a inimizade, se me permite perguntar?

Haytham suspirou. Ao notar sua reação, Achilles concluiu

–Ele sabia sobre seu pai. Isso não me surpreende, de todo. Confesso que sempre achei estranho que os templários tenham... Permitido sua presença de bom grado.

Haytham riu amargamente. – A maioria assim o fez. Alguns outros se juntaram ao grupo dos satisfeitos comigo, à medida que provei meu valor. Mas uns poucos ainda me detestavam. “Sangue chama sangue”, era o que esse Howard dizia. Tal como o finado General Braddock. Todos estes desejavam que eu tivesse morrido junto ao meu pai, mas Birch não permitiu. Ele acreditava em meus talentos.

Após um longo momento em silêncio, finalmente Haytham decidiu falar.

–Olha, não vá esperando por um pedido de desculpas de minha parte.

–Por isso? – ergueu Achilles, amargamente, a bengala. – Convenhamos, Haytham, se você viesse à minha casa para me pedir perdão por tudo que me fizera naqueles tempos, eu deixaria de te achar homem o bastante para ajudar a nossa causa.

Haytham assentiu, até um lampejo lhe surgir à mente.

–Espere, “deixaria de te achar”? Então...

O velho Achilles o interrompeu, com o olhar cansado e abnegado.

–Minowhaa não está errado, entretanto. Você ainda é um Templário, e temo que jamais deixará de o ser. E isso me põe em dúvida se sua... Participação em nossos planos seria algo a se considerar.

–O que pensa que farei? Que irei converter seus discípulos?

–Largue de ironias, Kenway. As palavras de seu filho podem te-lo convencido a caminhar até minha porta e se prontificar, mas em algum momento tivera dimensão do que está prestes a aceitar? Que estará prestes a destruir tudo que você mesmo construiu?

Haytham assentiu, e soltou um forte suspiro.

–Quando eu estava em um momento de intensa dúvida a respeito de meu próprio caminho, um homem apareceu em minha vida. Um homem disposto a ir contra tudo que ele estimava, apenas para defender suas próprias crenças, não importando o preço que lhe custasse.

–Não importa o preço que custar. Essas são as palavras finais do juramento dos Templários... – observou Achilles.

–Palavras estas que faltam ao Credo dos Assassinos.

–Talvez, mas não é este o ponto. – desconversou Achilles.

–Há algo maior que qualquer Credo, ou Ordem, Mr. Davenport. Nossos princípios. E nós não devemos dar as costas ao que acreditamos por causa de um juramento que fizemos a um grupo em específico, nem seguirmos cegamente qualquer coisa. Foi isto que aprendi com um homem chamado Shay Patrick Cormac.

Desgostoso, Achilles franziu o cenho. Shay era um nome que sempre lhe causava dor. A mera menção o fazia estremecer. Haytham, então, continuou.

–Além disto, quem melhor que o Criador para destruir a Criatura?

Após um longo momento com o semblante neutro, Achilles sorriu, satisfeito com a última sentença.

–Você me convenceu, Templário.

No entanto, o idoso não esperava que Haytham lhe estendesse a mão. Após alguns segundos, estendendo a mãos para o ar, Haytham pensou em recolhê-la, mas Achilles finalmente cedeu, apertando-a.

–Temos um acordo, então.

–Sim. – disse Haytham. – Temos um acordo.


Notas Finais


E Haytham foi "adicionado" ao Grupo dos Assassinos...

Rsrsrs Claro que Achilles não deixou escapar a oportunidade de tripudiar um pouco da situação do Haytham. E Minowhaa, é claro, fazendo uma oposição daquelas na Irmandade kkkkk
No proximo cap, veremos a reação dos Assassinos ao mais novo coleguinha.

Pessoal, espero que tenham gostado do cap!
Até o próximo!!!


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