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História Até a última pena (Fanfic Leoon) - Capítulo I-Primeiro fio


Escrita por: SarahGhibli

Capítulo 1 - Capítulo I-Primeiro fio


  Se você pudesse dar uma definição para vida, qual você daria?

  Geonhak pensava constantemente nisso enquanto se punha a olhar para Midgard, costumando a chegar sempre à mesma conclusão: Uma perda de tempo.

  Para muitos, essa poderia ser uma opinião forte e, dependendo da pessoa, bastante insensível, porém, ele tinha lá seus motivos para pensar assim. 

  À princípio, ele não era humano, mas sim, um tipo raro de ser conhecido como "filhote de valquíria". Um ser que nasce da mistura das penas das asas de uma valquíria que perdeu uma batalha com o sangue de um guerreiro que ela estava tentando levar para junto de Odin. Assim como sua deidade progenitora, ele possuía asas de corvo, imortalidade, uma força descomunal e, o que era sua característica principal, o seu controle sobre as almas.

  Quando ele sentia que alguém estava prestes a perecer, ele logo estaria por perto para atrair sua alma para fora do corpo, deixando-a completamente à mercê de sua vontade, podendo sugar sua energia para sobreviver, levá-la para o limbo eterno do reino de Hell, ou, se assim desejar, jogar essas almas para suas semelhantes levaram para Asgard.

  Sendo um ser desse tipo, não demoraria muito para que ele começar a pensar sobre o que era a vida para os mortais de Midgard e, no final das contas, chegando à conclusão que lhe contei logo de início. O motivo era bem simples: Por que viver, ter suas escolhas, ser bom ou ruim, se no final das contas todos vão parar no mesmo lugar? Nos braços da rainha dos mortos por toda a eternidade. Então… Qual o objetivo de tentar se manter vivo? Qual o motivo de implorarem tanto para se manterem naquele plano? Geonhak simplesmente não conseguia entender.

  E então… Ele fica assim, farejando a morte eminente dos humanos, devorando suas almas e, quando sentia-se entediado, os via tentar manter aquele conceito vago de existência acima de tudo.

  —Mas que saco… —Era o que ele costumava falar toda vez que tomava coragem para sair de cima de sua árvore favorita de Asgard e finalmente fazer seu trabalho.

Viver e morrer

Viver e morrer

Viver e morrer

Um ciclo sem sentido para quem nasce e apenas existe eternamente.

O que de novo ele poderia encontrar?

***

    Se tinha uma coisa que Geonhak tinha que admirar nos humanos era a sua capacidade de mudar de cenários. Quando nasceu, aqueles seres de Midgard guerreavam entre si com espadas e lanças, e agora, pareciam ter aprendido a manipular a energia dos raios do céu e usá-la ao seu bel prazer. Ele poderia soltar um “Uou” se realmente se importasse com isso.

  Os cenários poderiam mudar. Casas de pau a pique poderiam se tornar prédios envidraçados, caminhos de terra poderiam virar estradas de concreto, mas a ordem dos fatores não alterava o produto: Ele sempre estaria rondando  aqueles que estavam prestes a falecer, pronto para devorar suas almas ou dificultar sua transição entre os mundos, às vezes ganhando um pouco mais de emoção quando seus interesses entravam em conflito com suas colegas de céu, acostumando-se a lutar com afinco e sanguinolência quando uma delas o ameaçava.

Uma existência dura.

Dura e solitária.

  Geonhak só podia contar consigo mesmo em suas tarefas. Se via a aurora das valquírias se aproximando quando estava em desvantagem, xingava baixo e abria vôo, tentando escapar de um conflito que não poderia ganhar. Preferia fazer suas caçadas à noite, pois assim ficava mais fácil pegar pessoas desprevenidas. Se precisasse, ele mesmo interferia no destino de alguém que morreria de qualquer forma, acelerando o processo para se satisfazer mais rápido.

  Os humanos mudavam seus cenários e ele aprendia a se adaptar a todos eles, seguindo o instinto com o qual nasceu.

  Naquele final de tarde não fora diferente. Ele sentara-se no telhado de uma casa qualquer, localizada num subúrbio qualquer, observando a movimentação das crianças que brincavam alegremente na rua. “Qual o nome desse jogo mesmo? Futebol? Tcs. Qual o sentido de ficar igual idiota atrás de uma bola? Que saco...”, o filhote de valquíria rangeu os dentes, entediado. “Vamos logo... Estou ficando com fome!”. Sabia que às vezes tinha que se segurar para não aparecer para os humanos de maneira desnecessária, mas não podia deixar de ficar irritado quando as coisas não iam tão rápido quanto queria.

  Seus olhos negros passavam de criança a criança, observando a epiderme de suas joviais almas, como se fosse uma energia presa a seus corpos, limpando a saliva que escorria de sua boca toda vez que imaginava a hora daqueles jovens espíritos deixassem aquele mundo e ele pudesse abocanhá-los. “Calma, Geon... Calma. Não quer criar um escândalo, não é?”.

  Ele vagou por cada uma daquelas pequenas criaturas, pousando em duas em particular: Eram dois irmãos. Gêmeos idênticos para ser mais preciso. Ambos tinham cabelos num tom bastante escuro de castanho, usando roupas casuais que se complementavam em cor. Um deles parecia bem mais animado e expansivo, enquanto o outro era bem mais calmo e contido, mas ambos pareciam estar se divertindo com seus colegas. “Almas de irmãos gêmeos são mesmo preciosas... As Nornas costumam tomar cuidado redobrado na hora de tecer os nós que colocam em seus fios. Será que isso torna suas almas mais saborosas?”. As penas de suas asas eriçaram-se, o que indicava de que ele já estava marcando seu mais novo alvo. “Hehe... A hora está chegando!”.

  Foi quando ouviu o barulho de um carro virando numa velocidade acima do comum para um bairro residencial que um brilho sórdido apareceu em seu semblante. Assim que as crianças viram o carro se aproximar, elas rapidamente correram para a calçada, o que não foi diferente para os gêmeos.

Porém...

  —A-Ah!

  —Dongju?!

  O jovem Dongju sentiu as pernas amolecerem no momento em que seu corpo começara a correr. Aquilo já havia acontecido algumas vezes, entretanto, em ambientes controlados, como o corredor da escola ou a sala de casa. Ele já acumulara alguns curativos e machucados feios por conta disso, mas nada se comparava a sua situação atual.

  Ele caíra de queixo no chão, machucando e muito aquela região à ponto de sangrar, fora a dor de ter batido os cotovelos e os joelhos. Instintivamente, ele soltou um grito alto, seguido de um choro, tentando se mover inutilmente.

  Seu irmão observou aquela cena completamente horrorizado, sentindo o corpo gelar. O que era suposto dele fazer ali?! Se jogar para salvar seu irmão?! Gritar por ajuda?! Ficar parado?! Seu cérebro simplesmente não sabia decidir, bem diferente de alguém que já se fazia presente nessa hora.

  Ao cair de Dongju, Geonhak abriu um sorriso macabro. O filhote de valquíria abriu vôo, dando um rasante no ar, sedento pelo acidente que estava prestes a ocorrer. Sua forma assemelhou-se demais à de um grande corvo, tal qual o grunhido gutural de que soltara. Depois de tanto esperar, ele finalmente poderia saciar sua fome eterna por pelo menos um breve momento. Ele só precisava que o destino fizesse seu trabalho, que as Nornas decretassem o fim daquela pequena alma e que o espírito se separasse do corpo.

  O ser fúnebre já abria a boca, mal podendo esperar para aquele sublime momento... Mas...

Dongju o viu.

Não apenas o viu, pois isso muitos já fizeram antes de ter sua alma roubada por ele.

Dongju o olhou no fundo dos olhos, tentando esticar o braço.

  Geonhak já vira os mais variados tipos de reação quando ele se mostrava para humanos: Foram desde sorrisos de alívio, gritos desesperados que imploravam por piedade e até mesmo tentativas de ataque direto, porém, nada se comparava àquilo! Era um olhar que Geonhak nunca tivera a oportunidade de ver. Um olhar que ele não conseguia decifrar. Aquele garoto achava que ele estava ali para salvá-lo? Ou Dongju estava se entregando para ele? As lágrimas cortavam seu rosto já manchado de vermelho mórbido e sua pálida mão tremia, tentando encostar em algo vago.

  Aquele simples e ambíguo ato fez o filhote de valquíria hesitar por um momento. “O-O que esse moleque tá fazendo?!”. Sua fome animalesca fora rapidamente esquecida, substituída por um sentimento de confusão. Ele nem ao menos se tocara de que, por conta dessa pausa súbita em seu ataque, ele estava se mostrando não apenas para Dongju, mas para todos à sua volta, só se dando conta disso quando o barulho do freio do carro se fez presente.

  “A-AH! MERDA!”, O que acabara de acontecer?! Como ele se distraiu dessa forma?! Fora tudo muito depressa! Ele prontamente vôou para bem longe, voltando a se tornar invisível para os humanos e ficando em um lugar que pudesse observar o caos que se instaurava. Geonhak ofegava, sentindo o coração bater na mesma intensidade que batia quando lutava com uma valquíria. “P-Por que eu parei?!”, ele questionava-se, saboreando pela primeira vez em muito tempo algo semelhante a medo.

  Involuntariamente, ele tocou as próprias asas, constatando que havia perdido algumas penas. Não só isso, ele também reparou que o garoto que deveria morrer naquela hora conseguiu agarrar uma delas, abraçando-a com dificuldade contra o próprio corpo.

  —Dongju! Dongju! Você tá bem?! —O irmão do rapaz veio ao seu socorro, completamente em choque.

  Ele tocou o rosto de Dongju, levando as mãos à boca ao ver o estado que seu gêmeo se encontrava.

  —Meu Deus! Aqui, Ju! —O jovem garoto ajuda o irmão a ficar de pé, afastando a aglomeração de vizinhos que os rodeava —Mamãe vai saber o que fazer!

  Diante daquela cena imprevista, os olhos de Geonhak, antes tão frios e sombrios, pareceram um tanto afáveis.

  —Esse garoto... Acabou de mudar o próprio destino? —Ele balbuciou

  Ele não teve muito tempo para pensar nisso. Logo, a fome voltou a atacar-lhe ferozmente, o que o obrigou a ir atrás de novos alvos, contudo... Aquela história ainda iria voltar a sua mente, até porque... Como um ser tão pequeno poderia ser capaz de ir contra o que as três tecelãs do destino preparavam?



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