História Até O Último Anoitecer - Capítulo 1

Mais um dia nesse orfanato, ou melhor dizendo prisão é o que define isso, e faço as mesmas coisas de sempre, procuro acordar às 7 da manhã antes das outras meninas, coloco minha calça preta favorita, uma camiseta branca simples e meus tênis. Desço até o refeitório mais vazio que de costume e encontro Jace, meu melhor amigo, sentado sozinho.

- Ei Jace, acordou mais cedo hoje?

- E ai Maryn, bom dia pra você também!- ele sorri com um ar irônico e continua- Na verdade não consegui dormir direito e acabei levantando logo.

-Ah entendi...Ta tudo bem?

- Tudo sim Maryn, só estou um pouco cansado das atividades de ontem, e você?

- Estou bem, tirando minha ansiedade de que a Sra. Luna fará um jantar com todos nós hoje e dirá as novas regras e propostas para esse ano que tenho certeza que não vai mudar em nada, mas como o Mestre Tobias diz precisamos ter paciência com ela, o que pra mim é quase impossível e é sempre os mesmos discursos e joguinhos que ela usa.

- Acho que esse ano será diferente, ouvi outras pessoas comentado sobre isso!- por fim ele diz.

Jace parece desanimado, seu cabelo castanho estava mais bagunçado que o normal e seu olhar estava distante, resolvi deixa-lo sozinho e subi novamente para o meu quarto. Para minha surpresa Anne já havia acordado e prendia seus cabelos enrolados em uma perfeita trança, não é muito de conversar com ninguém, que eu me lembro ela foi deixada aqui pelos pais quando tinha 6 anos e só tinha a companhia do irmão mais velho, que após alguns meses foi transferido para outro orfanato da cidade, desde então ela só fica na biblioteca lendo livros e de vez em quando no jardim que tem do lado de fora, ela tem 14 anos e é a mais nova de todas nós, mesmo assim é uma menina muito inteligente e tem uma imaginação muito boa, do pouco que conversamos pude perceber muitas qualidades que eu gostaria de ter como ela.

Meus pensamentos foram interrompidos quando a Sra. Luna bateu em nossa porta mandando todas levantarem e se arrumarem o mais rápido possível, pois hoje haveria um evento especial no centro da cidade com desfiles e músicas de época. Ninguém parecia animado, entramos em um ônibus que nos levaria até lá, sentei do lado da janela e Jace sentou do meu lado logo em seguida.

-Parece que o casalzinho não se desgruda mesmo- resmungou Penélope entre risos- vocês dois são estranhos... Deve ser por isso que combinam!!

-E seria muito bom se você ficasse quieta no seu lugar.

-Você precisa melhorar seus modos Maryn, desse jeito não vai chegar a lugar algum- Penélope finalmente fica séria, enquanto seu bando de menininhas irritantes dão risada da nossa cara, única coisa que sabem fazer além de obedecerem tudo o que Penélope as manda fazer.

Chegamos no centro um bom tempo antes de começar o desfile e recebemos a ordem da Sra. Luna de nos encontrarmos aqui, ao lado da fonte que fica no meio da praça, daqui uma hora. Enquanto isso eu, Jace e Mike, um menino de outro dormitório, fomos andar um pouco nas feirinhas que tinha logo a nossa frente; havia uma banca de jornais que estava vazia mas o título de uma das notícias me chamou a atenção, falava sobre a descoberta dos cientistas sobre algumas pessoas com DNA modificado, mas que nasceram assim, o que causava certos genes mutantes nas pessoas e que isso poderia causar brevemente uma grande ameaça às pessoas. A notícia me deixou inquieta, um segredo que guardei por tanto tempo e que fazia parte de mim estava sendo descoberto, mas a parte boa é que existem mais pessoas como eu então não estou mais sozinha nesse sentido; Jace percebeu minha mudança repentina de humor se tornando mais uma cara de preocupação e medo. Por sorte Mike, um dos amigos de Jace não percebeu, estava distraído com umas exposições de astronomia ao nosso lado.

-Maryn olha, acho que chegou a hora de você contar sobre seus poderes a outras pessoas antes que isso fique pior.

-Não Jace, eu não posso, você faz ideia do que isso causaria....no mínimo seria levada a um sanatório e seria vítima de pesquisas ridículas que devem fazer com pessoas como eu.

-Você sabe que isso não pode ficar assim!! Suas desculpas à direção do orfanato daqui um tempo não resolverão mais, você já congelou milhares de vezes o lago do jardim pelo seu descontrole e nunca ninguém entende o por quê disso acontecer "do nada".

-JACE!! - eu rosno finalmente irritada- você não entende e nunca vai entender, isso não é tão simples e se eu disser uma palavra a respeito disso eu estarei colocando minha vida em risco e de muitas pessoas assim também. E com respeito a notícia eu quero conhecer essas outras pessoas.

-Maryn isso é loucura, como você vai achá-las e onde? você não pode simplesmente sair por ai achando que vai conseguir alguma coisa.

-Eu sei...mas isso envolve minha família também, preciso conhecê-los e descobrir tudo o que aconteceu, preciso de respostas às perguntas que carrego minha vida toda e creio que isso será uma boa chance de saber de tudo, não posso mais perder tempo.

-Droga, estamos atrasados...vamos logo! Depois conversamos sobre isso.

Espero que ele tenha entendido o que eu quis dizer, Jace às vezes não argumenta muito quando o assunto é sério, sei que ele está preocupado mas já perdi tempo demais. Hoje ao anoitecer darei um jeito de ir atrás e começar minha aventura, o Jace querendo ou não.

No fim da tarde voltamos ao orfanato, subimos cada um para seu quarto e sem falar com ninguém discretamente arrumei uma pequena bolsa com algumas trocas de roupas, água, coisas pra comer, meu celular e o jornal que falava sobre a notícia.

Todo mundo desceu pro jantar, mas eu fiquei no quarto sozinha pensando em como sairia de lá em alguns poucos minutos, o sol já estava se pondo e isso era um alerta de que eu precisava andar mais rápido. Sei que vamos ter a reunião com nossos mestres e com a Sra. Luna após o jantar, mas não posso esperar. Abri a janela do quarto e olhei pra baixo, até que o segundo andar não fica tão alto do chão do jardim, por sorte, muita sorte mesmo, havia uma escada que foi deixada ou mesmo esquecida ao lado da sacada do nosso quarto, nem pensei direito e já estava descendo cada degrau com muito cuidado. Chegando lá embaixo fui em direção ao muro que rodeava toda a construção, ele era bem alto com certeza não conseguiria pulá-lo, então, depois de tanto tempo testaria meu teletransporte...será que eu conseguiria fazer funcionar?

Um calafrio percorreu meus nervos, mas não hesitei e me concentrei fechando os olhos, ao abri-los de novo eu estava do outro lado da avenida, não sabendo como fiz isso apenas fiquei impressionada com um sorriso no rosto de ver que tudo até ali deu certo; peguei o jornal rapidamente e fui decifrando as informações pessoais de cada pessoa citada. Vou sentir falta do Jace, mas até amanhã não vou ter saído da cidade ainda e tenho completa certeza de que ele virá atrás de mim. Minha missão tinha oficialmente começado.