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História Até que a Morte nos Una - Fogos


Escrita por: Nuwandah

Notas do Autor


Tô meio triste por estar postando especificamente este capítulo sem as experiências que pretendia já ter para enriquecê-lo. Eu tinha o plano de viajar pro Japão nos meados de 2020, mas né, não rolou. Então, continuamos com descrições apenas baseadas em pesquisas na internet. Ai, ai…
Uma curiosidade! Esse capítulo estava longe de sair porque estou há meses sem ter tempo livre por conta do combo faculdade + trabalho, mas tive um pequeno recesso que coincidiu nessas duas esferas e quando me toquei que este capítulo se passava no Ano Novo… É, me senti encubida a entregar este bonito pra vocês. Espero que gostem e feliz Ano Novo! <3

Capítulo 26 - Fogos


Fanfic / Fanfiction Até que a Morte nos Una - Fogos

- Sasuke, fique perto do seu irmão. - A voz de minha mãe soou quase imediatamente quando iniciei minha corrida para o campo aberto repleto de cores. Meus pés se forçaram contra a terra para me frear, mas logo começaram a formar pequenos pulos ansiosos.

- Mas eu quero ir ali. - Respondi com manha, apontando para as crianças que estavam logo à frente, cada uma com sua pipa de tamanho e cores que nunca se repetiam. Não era justo, eu queria brincar também!

- A gente vai soltar pipa daqui a pouco. - Kaa-san falou já ao meu lado, colocando uma mão sobre minha cabeça e erguendo a outra, que carregava umas pequenas peças familiares. - Mas antes, vamos levar esses omamoris velhos para queimar, sim?

Numa arfada e esquecendo completamente das pipas, tomei o meu omamori da mão dela e o segurei com toda a força contra o peito.

- Não, não quero! Não gosto de jogar omamori fora. - Tentei da melhor forma esconder o amuleto entre minhas mãos e meu kimono, não ia deixar que levassem mais um embora!

Mesmo tentando me conter, minha visão ficou turva com as lágrimas, e ficou ainda mais difícil entender as diferentes expressões e trocas de olhares que vi quando olhei para cima de novo.

- Mas Sasuke, o omamori não é para te proteger? - Nii-san ajoelhou bem na minha frente e perguntou.

- Uhum. - Acenei com a cabeça, era claro que omamori era para isso, e eu iria proteger ele também!

- Então. - Ele sorriu em aprovação, mostrando o próprio amuleto. Como o meu, o dele também estava um pouco manchado e gasto. - Ele recebe toda a má sorte por você, então precisamos mandar essa má sorte embora todo o ano e pegar um omamori novo. - Ele pausou, levantando tanto as sobrancelhas que elas sumiram de vez atrás de sua franja, ele parecia muito preocupado de repente. - Você não quer ficar com má sorte, quer?

Mas era claro que não! Balancei minha cabeça com toda a força em negação.

- Não, não. - Respondi logo e nii-san riu, olhando de relance para trás, onde nossos pais estavam.

- Eu também não. Então vamos entregar nossos omamoris ao sacerdote? Prometo que logo depois voltamos para comprar uma pipa pra você.

Senti um sorriso largo forçar minhas bochechas com a excitação que aquelas palavras me causaram. Agarrei a mão do nii-san para que pudéssemos logo ir até o sacerdote responsável pela fogueira que seria formada naquela tarde.

 

A fogueira era imensa! Seu topo ia muito além da cabeça de nii-san ou tou-san - ou qualquer outro ali - e eles já eram tão grandões! O sacerdote arrumou tudo - Darumas por baixo, amuletos, decorações no topo e shimenawa e bambu segurando tudo junto. Deu até um pouco de pena ver o sacerdote pôr fogo em tudo. Mas as chamas pareciam dançar em conjunto, o que era até engraçado.

Um estalo ao meu lado tirou minha atenção da cor forte do fogo. Nii-san estava agachado ao meu lado, suas palmas estavam unidas na frente do rosto.

- É num momento assim que devemos agradecer pelo que vivemos e deixar o passado descansar. - Ele disse.

Voltei a olhar o fogo. Agradecer e deixar o passado descansar… Sem perceber, minha mão levantou por costume para segurar na roupa de kaa-san, que estava parada do meu outro lado. Quando meus dedos fecharam-se apenas em volta do ar frio, voltei-me apenas para encontrar ninguém onde antes eu tinha certeza que estava ela.

- Kaa-san? - Chamei enquanto olhava confuso para os outros lados.

- Tá procurando aquela ali? - Nii-san apontou para uma multidão que estava longe, mais perto do santuário.

Kaa-san saía de lá naquele instante, dava para notar o pacote de papel branco e vermelho que ela carregava. Ela não tinha aquilo quando chegamos.

- Ei, meninos, otou-san e okaa-san compraram um presente especial para vocês! - Ela disse quando nos alcançou e não pude evitar ficar mais animado e pular enquanto perguntava o que era. - São novos omamoris! - Ela tirou os amuletos do pequeno pacote e pulei para tentar alcançar, mas era longe demais para mim. - Esses são um yakuyoke, serve para proteger vocês de coisas negativas. E os que peguei têm uma bênção mais especial ainda, são para proteger para toda a vida, então não vão precisar queimar no Ano Novo. Gostou, Sasuke? - E ela finalmente desceu a mão para nos entregar.

Apesar do tecido macio, senti dureza ao segurar o omamori. Tinha que segurar a curiosidade ao máximo para não puxar aquele laço que carregava uma antiga moeda amarrada na ponta e checar o que havia dentro da pequena sacola. Busquei me contentar em traçar com os dedos o relevo do bordado dourado, que reluzia contra o fundo tão vermelho. Era tão bonito - ia carregar aquilo comigo sempre!

- Eu adorei! - Respondi a kaa-san enquanto tentava abraçar o pequeno objeto. - Obrigado, kaa-san!

- De nada, Sasuke! O otou-san e a okaa-san amam muito vocês. - Ela passou a mão em nossas bochechas e inclinei o rosto contra o contato. Quando os olhos de kaa-san levantaram para além de nós, as sobrancelhas dela fizeram um desenho engraçado. - Hm, a fumaça não está indo tão alto.

Nii-san e eu nos viramos para voltar a olhar a fogueira, parecia que o sacerdote observava a mesma coisa naquele instante, e ele balançava a cabeça com uma cara nada contente.

- É um mau presságio. - Alguém perto de nós comentou.

 

- Ei, Uchiha. - O tom de implicância de Kiba era tão evidente que nem me dei ao trabalho de lhe dar alguma atenção. - Sabe que não precisamos mais andar em grupo, né? Está livre de nós.

Mal havíamos passado a esquina da escola e ele já soltava essa. Aposto que ele estava planejando falar algo do tipo desde o momento em que Toya foi expulso do colégio na semana anterior, só estava esperando a nossa primeira caminhada juntos na rua.

Finalmente ergui o olhar, que havia caído quando me perdi em meus próprios pensamentos. Passei por cada rosto ali - o eixo da atenção do grupo havia se movido para nós naquele instante, mas o ar leve se manteve com naturalidade. Era assim desde quando o Toya saiu de nossas rotinas. Quando a tensão e o medo deixaram de ser uma carga constante em nossos ombros na escola, o que restou foi curtir a companhia dos outros e aproveitar o momento. Aquilo… era muito bom. Deixei que um sorriso de canto se formasse em meu rosto enquanto ainda olhava para eles.

- Aqui não é tão ruim assim. - Disse, e quase de imediato ganhei alguns amigáveis empurrões, que me balancearam para todos os lados possíveis.

Uma das mãos, ao invés de me empurrar, pousou no meu ombro e me puxou até que estivesse pressionado completamente contra um corpo. Não acostumado com tanto contato assim, ergui uma sobrancelha questionadora para Neji. Ele mantinha o olhar para a frente, como se seu maior interesse fosse apenas continuar caminhando.

- Na calçada do outro lado, às sete horas e meia de mim. - Ele começou, segurando um pouco mais forte no meu ombro, como um sinal para que eu não me virasse para ver. - Tem um cara que não para de olhar para cá e ele está se esforçando um pouco demais para manter o nosso ritmo.

Senti como se a neve do ambiente tivesse se metido por debaixo da minha pele naquele breve momento. Seria possível que…?

- Acha que é o Toya? - Perguntei num sussurro que saiu mais fraco do que eu esperava.

Mas Neji logo negou com a cabeça.

- Não, é um adulto. - Foi a vez da confusão me tomar. Por que um adulto estaria seguindo a gente? E como Neji havia notado tudo aquilo? Por acaso tinha olhos nas costas? - Acho que pode ser um repórter. - E o gelo no sangue retornou.

Oh, merda.

Parecia que os esforços de Itachi não adiantaram tanto assim. As imagens que fizeram de mim - tanto no incêndio como na rua - foram parar em todos os jornais que não ligavam o suficiente para a ética ou um processo nas costas. Itachi cumpriu com a palavra e ainda na semana passada entrou com uma ação contra cada jornal que divulgou vídeo, foto ou informações relevantes sobre mim, o que pareceu aquietar os repórteres sedentos. A multidão de profissionais sumiu da entrada de nosso prédio e das redondezas da escola - o único motivo de eu finalmente ter sido liberado para voltar presencialmente às aulas nesta semana.

Mas, pelo visto, o estrago já estava feito. Uma vez divulgado, estava na internet, e uma vez na internet, já era. Isso, sem contar os vídeos gravados pelos alunos da escola e que foram diretamente para a rede. Eu era praticamente domínio público - mais ainda. Não é como se um processo fosse afugentar todos, né? Era óbvio que haveria os que fariam de tudo por um furo de reportagem, eles só precisavam ser mais cautelosos e sutis a partir de agora.

O que só deixava tudo uma merda ainda pior.

- Sasuke-kun. - Sakura me chamou, atravessando parte de Neji. Parecia que ela havia ido checar o homem do outro lado da rua, pela expressão dela. - Eu acho que ele não é o único. - E ela apontou para trás de nós. - Tem uma pessoa com uma câmera chique mais pra lá e não tira o olho daqui também.

Girei a cabeça rápido e, quase de imediato, avistei a pessoa de quem Sakura havia falado. O homem passaria despercebido se não soubéssemos o que estávamos procurando. As roupas eram ordinárias e de cores neutras, do tipo que desaparece fácil numa multidão, o ponto fora da curva era a câmera preta com lentes grandes demais para não serem profissionais. E não havia qualquer modelo por perto para justificar o aparelho a postos em suas mãos. Nossos olhares se cruzaram e arregalaram como se fosse coreografado. Imediatamente voltei para frente.

- É, e tem outra pessoa também. - Disse tanto para confirmar com Sakura como para informar Neji. Já puxava ao máximo a gola da jaqueta para cima, tentando esconder o rosto.

- Percebi. - Neji não parecia notar o quanto ele apertou o braço em volta de mim. - Acho que vamos ter que te acompanhar até em casa de novo, como nos velhos tempos.

Tão velhos que nem deu tempo de sentir saudade.

 

- Não, sério, isso mal começou e já está ficando ridículo. - Naruto não se preocupou em ter o mínimo pudor de manter sua voz nivelada. - Quem é que vai achar normal um cara de boné, capuz e óculos escuros num café? E está nublado! - Um homem com a exata descrição e que estava sentado na área externa de um café que estávamos para passar se levantou rápido, com o olhar fixo no chão, e sumiu dentro do estabelecimento.

Bem, ao menos eu seria poupado de uma abordagem indesejada ou ser cegado por flashes - e como essas coisas podem ser fortes.

- Acho que vou fazer um bolão: quantas pessoas atrás do Sasuke encontramos a cada vez que saímos na rua.

- Ha, ha. - Ri sem qualquer emoção. - Muito engraçado. - E puxei mais ainda o capuz que eu já havia me habituado a usar por cima do uniforme.

 

- Hoje, recebi umas ligações de uns lugares tentando marcar entrevista. - Itachi começou enquanto colocávamos a mesa. - Eu nem sei como conseguiram o meu número. Até da Izumi já foram atrás. - O recipiente de soba tilintou particularmente mais alto quando posto à mesa. Não ouvia Itachi citar sua namorada fazia um tempo. Parecia que eles tinham estado muito ocupados para se ver direito nos últimos tempos. Torcia para que não fosse por minha causa. Por via das dúvidas, decidi que era melhor não comentar. Ouvi-o respirar mais fundo antes de voltar para mim. - E como está o caminho da escola?

Pus o tempura e o molho ao lado do resto do café da manhã e me joguei contra a cadeira. Estava mentalmente exausto com tanto estresse.

- Estão enchendo o saco a semana toda.

Itachi seguiu o meu gesto e sentou à mesa. Seu olhar estava fixo na comida, mas não era para lá exatamente que ele estava olhando. Sua testa cada vez mais estava marcando com vincos.

- Não era pra ser assim. - Ele falou mais para si mesmo do que para mim. Sua mão foi ao rosto e o esfregou. - Pensei que a questão fosse esfriar logo e que iriam se cansar de todo esse circo.

Repórteres são mais persistentes do que a polícia. Não pude evitar o pensamento amargo.

Mas também, após esse belo combo de desgraça Uchiha que chegou à imprensa, não tinha como ser diferente.

Primeiro, havia o arquivamento da investigação do sequestro e assassinato. Aparentemente, quando um caso fica muito tempo sem uma informação nova ou qualquer avanço, ele é arquivado. Afinal, os policiais precisam trabalhar em outros casos também. Não é como se eles pudessem investir todo seu tempo em um caso inútil, sem esperança - como o nosso.

Segundo, o incêndio da escola e toda a problemática de ter sido eu quem se enfiou dentro de uma fornalha gigante para salvar um cachorro e quase morri junto com ele no processo. E isso ainda sem contar na exposição do próprio filho do vice-diretor como um delinquente mirim. 

Portanto, é, tem sido uma semana complicada para todo mundo.

Comemos o desjejum em relativo silêncio e logo fomos nos preparar para sair. O horário de saída de Itachi e o meu, na verdade, era muito próximo, ao ponto de tranquilamente podermos sair juntos sempre. Como antes eu apenas pensava em evitar a presença de Itachi, saía mais cedo para que isso não acontecesse. Agora, já melhor resolvidos, estávamos aproveitando para ir juntos no trecho em que nossos trajetos coincidiam.

Estávamos amarrando nossos sapatos quando a campainha tocou. Itachi e eu nos entreolhamos em confusão. Pela cara que um fez para o outro, nenhum de nós esperava uma visita. Com uma postura formal a postos, Itachi foi abrir a porta.

Quem estava do outro lado era um homem jovem que não me invocou nenhum nome no momento em que pus os olhos nele. Sua aparência era comum, tirando a câmera fotográfica grande pendurada em seu pescoço.

Recuei de leve por reflexo. Antes mesmo que eu pudesse alertar Itachi, ele já mudava sua postura para uma que praticamente tomava toda a passagem da porta, formando um escudo entre o homem e o interior do apartamento - entre o homem e eu.

- Como você chegou aqui em cima? - Era o mesmo tom que ele usou com aquele monte de repórter no dia do incêndio.

Mesmo com a visão quase obstruída por completo, foi possível ver quando o homem deu de ombros.

- Um primo meu mora nesse prédio.

Tá… de sacanagem.

Enquanto Itachi ainda tomava fôlego, o homem balançou as mãos na frente dele, travando o que quer que ele fosse falar.

- Mas isso não vem ao caso! Eu posso só tirar umas fotos e fazer uma entrevista-relâmpago? Obviamente com sua permissão, Uchiha-san. Seria só o tempo em que a gente estivesse descendo o elevador.

Uma inesperada pancada forte da porta fez com que eu pulasse do meu lugar e Sakura ganir entre os dentes.

Itachi trancou a porta e marchou de volta para o interior do apartamento, de sapato e tudo, completamente ignorando os protestos do homem do lado de fora. Ele foi ao balcão, onde estava fechado seu notebook, e o abriu com uma mão enquanto a outra deslizava furiosamente pela tela do seu celular.

- Desculpa, Sasuke. - Ele falou sem tirar os olhos de ambas as telas. - Mas hoje não vai ter escola.

- Mas a gente não precisa só esperar ele ir embora ou só ignorar ele e sair? - Fui me aproximando de Itachi com certa cautela. Apesar de ele só parecer muito focado, conseguia ver a agitação e estresse nele. - Por que você está em site de imobiliária?

- Pelo menos metade do país deve saber onde moramos e agora estão arrumando formas de chegar na nossa porta. Não tem como estarmos seguros assim. - Itachi parou de mexer no computador por um instante para me lançar um olhar indulgente. - Vamos ter que sair daqui. Vai separar suas coisas para empacotar, por favor.

 

- Eu vim o mais rápido que pude. - Izumi se desculpou em meio a pequenas arfadas de ar, ela realmente veio o mais rápido que pôde. Quando ela terminou de remover os sapatos e o casaco na entrada, me avistou carregando mais uma caixa de papelão para fora do meu quarto. - Sasuke, quanto tempo não te vejo! - Desde quando Itachi me flagrou quase sendo atropelado no metrô, me lembro muito bem. - Como você está? Tirando toda essa loucura, claro.

- Tentando entender por que Itachi tá sendo tão radical. - Larguei a caixa por cima de outra que já havia deixado na sala, uma mão foi se apoiar no quadril. - Talvez você consiga convencer ele a mudar de ideia? Ele está irredutível comigo.

Izumi juntou as palmas das mãos e riu sem jeito.

- Desculpa, mas estou com ele nessa. - Ela ergueu o indicador num leve gesto imperativo. - A situação está ficando meio estranha para a segurança de vocês, principalmente a sua. - Ela puxou o longo cabelo para trás e o amarrou em um rabo de cavalo alto. - Tem mais caixa pra trazer pra sala? - Mas ela nem esperou a minha resposta e já foi entrando em um dos quartos, porque era óbvio que tinha muito mais caixa para carregar.

- Quem é? - Sakura pergunta baixo, se aproximando como se alguém mais pudesse ouví-la. - Vocês parecem se conhecer bem.

- Minha cunhada. - Sussurrei enquanto arrumava o empilhamento das caixas. - Ela e meu irmão estão juntos desde, sei lá, sempre. - Sakura pôs a mão no queixo, pensativa.

- Oh! Eu lembro dela! Ela estava com o Itachi lá no metrô naquela vez. - Acenei positivamente. - Ah, você já me agradeceu por te ajudar com aquilo? - Não consegui evitar que uma risada escapasse pelo nariz. Por salvar a minha vida, ela quis dizer?

Neste momento, Izumi voltou à sala carregando uma caixa velha e praticamente vazia, salvo os objetos que faziam pequenos barulhos lá dentro toda vez que ela dava um passo. Izumi caminhou até a outra ponta da sala, onde ficava a TV, e colocou a caixa no chão com um certo drama, praticamente queimando os DVDs que estavam no rack apenas com o olhar.

- Uf! Vocês nem têm muita coisa, na verdade. Mas Itachi tem tanto DVD e livro, sério! - Ela se sentou no chão em frente às muitas fileiras de capas. - Eu espero que haja formas mais práticas de ter acesso a uma penca de filme e livro até a gente se casar, porque olha…! - Ela tombou a caixa que trouxe consigo e deixou os objetos dentro dela caírem para fora.

O que se encontrou com o chão não poderia ser mais aleatório: muda de roupa ensacada, acessórios e prendas de festivais. Aquela caixa já devia estar sendo usada para guardar ocasionalidades e Izumi achou de aproveitá-la para o empacotamento também. Eu já ia voltando para o meu quarto para buscar mais caixa quando Izumi inspirou em surpresa.

- Ah! Eu lembro de vocês com isso. - Voltei minha atenção para ela a tempo de vê-la retirando um objeto vermelho dentre as roupas ensacadas. Um trem de memórias me atingiu de frente quando reconheci o omamori em sua mão. Antes que eu notasse, já estava me agachando ao lado de Izumi para ver aquilo melhor. - Você morria de ciúme de mim com o seu irmão naquela época, lembra? - Ela riu enquanto me entregava o omamori.

- Aawn. Devia ser fofinho. - Limitei-me a lançar um olhar amuado para Sakura. Duas implicando comigo já era um pouco demais. Mas seu sorriso sacana apenas aumentou. - Ha! Devia ser bem assim. Deixa eu ver o que é… - Ela disse, inclinando-se para avistar o que eu havia recebido. Seus olhos se arregalaram imediatamente. - Oh…

Os omamoris que Itachi e eu havíamos recebido naquela vez, tantos anos atrás, eram idênticos. Então, era claro que Sakura reconheceria um outro omamori igual ao que dei para ela, também tantos anos atrás. O de Itachi estava um tanto surrado, sujo com o que parecia ser ferrugem e outras avarias causadas por muitos anos de uso - ou proteção? Sabia que o yakuyoke deveria tomar toda a má sorte e energia negativa pelo seu portador, por isso ficava cada vez mais gasto. Fazia sentido sua aparência atual, então.

Seria bom ter continuado a andar com um. Vai que…

As pontas dos meus dedos traçaram o relevo dos bordados com nostalgia e reverência. Os movimentos eram familiares, as formas antigas de escrita do santuário, os círculos infinitos feitos por cima do mitsudomoe… (N/A: Para garantir que vocês não percam a referência: sabe o símbolo do sharingan de três vírgulas? Aquilo é um mitsudomoe, ele é um símbolo importante no xintoísmo. Ba tum tss) O laço complicado ainda estava bem firme em volta da moeda e, o que quer que estivesse dentro daquele pequeno saco, não havia se quebrado. Aquilo tudo trazia um sentimento estranho, mas ainda assim tão familiar, era como ser criança de novo. Sem me importar com o fato daquele ser o omamori de Itachi, guardei o amuleto no bolso interno da minha jaqueta. Não é como se ele fosse dar falta, mesmo.

Como se pressentisse o pequeno crime, Itachi apareceu atrás de nós, nos sobressaltando um pouco devido à distração em que estávamos.

- Umi, os DVDs não vão pro lixo.

- Droga, você descobriu o meu plano. - Izumi jogou as costas da mão contra a testa, num completo falso drama. - Mas eu não ia jogar fora, seria um desperdício. - Ela virou a cabeça para direcionar a ele um grande sorriso que esbanjava malandragem. - Eu só queria que mais pessoas tivessem acesso aos seus filmes incríveis.

Após um segundo de provável perplexidade, Itachi soltou uma risada pelo nariz e levou sua mão ao topo da cabeça da namorada, ensaiando um cafuné ali. Izumi fechou os olhos e se inclinou mais contra a mão de Itachi. Antes de que eu pudesse mandá-los para o quarto, os dedos de Itachi se enrijeceram e ele os balançou rápido contra o escalpo de Izumi, puxando e bagunçando fio para todo lado. Ela soltou um pequeno grito e se encolheu para longe do toque de Itachi. Com um sorriso satisfeito, ele caminhou para o meu lado antes que ela pudesse revidar fisicamente.

- Eles são fofos juntos. - Sakura comentou, agora sentada ao meu lado.

Até que aquilo era verdade. Itachi e Izumi se conheciam desde pequenos, o que resultou em muita intimidade entre eles, bem do nível que nós dois tínhamos, só que com menos trauma e drama. Izumi também trazia uma leveza para a vida de Itachi, era uma pena eles não poderem se ver tanto ultimamente.

- Sasuke. - Ele chamou por cima das reclamações e xingamentos de Izumi. - A gente vai prum hotel enquanto procuro algum apartamento com entrada imediata, ok? - Assenti com a cabeça. - Separou uma mala com tudo o que você vai precisar para os próximos dias? Pegou tudo da escola?

- Você sabe que sim. - Revirei os olhos, mas ele apenas sorriu, sabendo que eu estava apenas forçando uma pose.

- Verdade. Eu sei que sim.

 

- Hm. A gente tem mesmo que ir de carro? Não podemos fazer que nem pessoas normais e só pegar o metrô? - Perguntei quando descemos ao estacionamento com as malas e finalmente entendi como iríamos para o hotel. Senti cada músculo de meu corpo travando só com a ideia de ter que entrar no carro.

Itachi e Izumi trocaram um olhar significativo. Izumi, então, delicadamente tirou da mão de Itachi a mala e as chaves que ele carregava e continuou andando para o carro, nos deixando sozinhos - em tese, até que vi Sakura indo atrás dela também.

O suspiro pesado de Itachi me tirou a atenção das duas.

- Eu sinto muito por estar impondo tudo isso a você, de verdade. - Ele se apoiou contra uma grande coluna que estava perto de nós. Parecia cansado. - Mas, Sasuke, você sabe que eu não estaria fazendo isso se não como último recurso, não sabe? Eu não queria que a gente saísse desse apartamento, mas ele claramente não é mais seguro, um desconhecido conseguiu chegar no nosso andar e bater na nossa porta. E nem temos como saber se aquele cara era um repórter de verdade, entende? Esse caso pode atrair todo o tipo de atenção, e se alguém com outras intenções também conseguir o mesmo que aquele cara de manhã? - Dava para ver como ele a todo custo evitava falar que os homens que mataram nossos pais podiam estar nesse meio. - E tudo isso já tem sido estressante demais, e sabemos o que isso já te causou. - “Colapso após sucessiva exposição ao estresse”, eu sei.

- Eu entendo que botei a gente numa situação bem ruim, ok? - Porque se eu não tivesse me envolvido tão diretamente em um incêndio na escola, se pudesse ter ajudado em algo na investigação do assassinato dos nossos pais, se tivesse protegido eles durante o sequestro, se tivesse-

As mãos de Itachi vieram imediatamente aos meus ombros, demandantes por atenção, mas ainda confortantes e quentes.

- Ei, primeiro, não foi você quem nos colocou nisso. - Pisquei algumas vezes, ainda aturdido pela pequena turbulência que comecei a me botar. - Que culpa você tem por algumas pessoas não terem senso básico? Não se culpe pela falta de limite das outras pessoas.

- Ok. - Nada ali estava “ok”, mas estávamos sem tempo para esse tipo de conversa. - Mas não tem só como a gente não ir de carro?

Os olhos de Itachi ganharam um tom triste e dolorido.

- Eu sei que você fica desconfortável. - “Desconfortável” seria uma forma de descrever. - Mas é a nossa única opção. Se formos andando ou de transporte público, vamos ficar expostos e também podem nos seguir até onde vamos ficar. Seria tudo em vão.

Cruzei forte os braços contra o peito para tentar conter a ansiedade que borbulhava no fundo do peito e olhei para o lado para conter a vergonha. Era óbvio que tudo aquilo era necessário, eu só não conseguia evitar ficar um poço de nervos. Já havia passado por dias de estresse inacabáveis com o lance de Toya, a suspensão da investigação dos meus pais, o assédio da imprensa, essa sensação de que eu causava a saída de Itachi do apartamento dele e agora tinha que entrar naquela coisa de novo. Finquei os caninos na parte interna do lábio, tentando me conter.

- Tanto faz. - Disse ao chão. - Só vamos logo com isso.

Itachi não pareceu satisfeito, mas nada disse. Ele apenas apoiou a mão nas minhas costas, bem a altura das escápulas, e me seguiu no meu ritmo até o carro. Apesar do suporte silencioso e a distância de poucos metros até o veículo, a caminhada pareceu dolorosamente longa, com os meus pés cada vez mais se transformando em blocos de concreto.

- Tudo certo? - Izumi perguntou com certa cautela, desencostando da porta do motorista.

- Na medida do possível. - Itachi respondeu enquanto recebia as chaves de volta.

- Ok, vou indo, então.

Hm?

- Você não vem com a gente? - Perguntei quase automaticamente.

- Vou sair pela frente para atrair a atenção deles pra garantir que vocês saiam sem que alguém note. - Ela se aproximou de Itachi e de mim e nos abraçou, um braço apertando o pescoço de cada um. - Tomem cuidado, vocês dois. - Ela falou entre nossas orelhas.

- Você também. - O cabelo de Izumi roçou contra o meu rosto quando Itachi o acariciou. - Qualquer coisa, sabe o que fazer, né? - Ela riu de imediato.

- Oh, Itachi. - Ela desfez o abraço, mas manteve a mão nele, repetindo o gesto dele em seu cabelo. - Uma garota sabe muito bem se virar.

 

Eu precisava mesmo colocar o cinto de segurança? E se tivesse que sair logo do carro? Se houvesse uma emergência? A maçaneta estava bem ali, do meu lado, tinha que gravar bem onde ela ficava, não, era melhor se mantivesse logo a mão ali, aí era só puxar para abrir a porta se precisasse.

Mas nada deve acontecer, né? Só estamos indo para um hotel em outro bairro, são só alguns minutos de viagem, não é como se algo de ruim fosse acontecer nesse meio-tempo, né?

… Né?

Mas é a Lei de Murphy, qualquer coisa pode acontecer, qualquer coisa ruim pode acontecer, e no pior momento possível.

O carro era muito pequeno, estava apertando, sufocando, e não parava de encolher. Senti meus dedos doerem quando apertaram demais no encosto da porta, as unhas da outra mão afundavam contra a tira do cinto de segurança. Ele estava apertado demais, pressionando e enlaçando o meu corpo até cortar o ar. Como era difícil expandir ou contrair o peito para respirar, estava tudo sendo segurado firme no mesmo ponto. Estava tudo ficando escuro lá fora, e mais ainda dentro do carro.

Não dava, minha pele estava se esticando, estava fina demais, expondo tudo. Havia nada que pudesse me proteger e todo mundo iria mor-

- Os meninos estavam falando de virar o ano em Shibuya, né? Ou seria Asakusa? - A voz de Sakura cortou ao meu lado, e abri os olhos que nem sabia que havia fechado. - Ah, eu acho que eles vão virar em Shibuya e depois ir em Asakusa para o Hatsumode. - Ela estava sentada ao meu lado, segurando os calcanhares cruzados à sua frente. Até balançava um pouco para os lados, completamente casual, como se aquilo fosse um simples passeio-

E era um simples passeio. A gente só estava indo de um ponto ao outro, só isso. Mas também era o que estávamos fazendo naquela vez-

- Você sabe, só para fazer umas preces, agradecer e comprar um omamori novo para o ano. - Ela continuou, movendo meu foco mais uma vez. - Como vocês têm vestibulinho agora, acho melhor comprar um gakugyou-jojo, eu tinha milhares desse, e funcionavam! E eu era sempre a primeira da classe, então pode crer que ele funciona muito bem. Só não sei o que acontece se outras pessoas da turma comprarem um também… Ah, acho que aí desempata com quem é melhor, mesmo!

Omamori, claro. Desgrudei minha mão do encosto e levei ao interior da minha jaqueta. Pela visão periférica, vi rapidamente um sorriso se formar na boca de Sakura, mas ignorei o motivo daquilo. Agarrei o amuleto como se minha vida dependesse daquilo. No automático, os polegares passaram pelo bordado repetidas vezes.

Omamoris surtem mais efeito quando são dados de presente, e mais ainda se você se importa com a pessoa para quem os dá. Minha mãe e meu pai que deram esse omamori, ele era especial e incopiável. E era para toda a vida, como se o amor deles por nós continuasse nos acompanhando através daquele amuleto.

- Isso aí é aquele omamori que ganhamos? - Ergui o olhar e Itachi estava me olhando do espelho retrovisor um tanto abismado. Acenei com a cabeça.

- Tava naquela caixa de lixo que a Izumi pegou. - A sobrancelha dele que estava visível para mim se ergueu.

- Sério? Deve ter caído lá sem querer. - Ele franziu um pouco o cenho, pensativo. - Na verdade, eu pensei que tivesse deixado em Nakai. Ah! Chegamos. - Ele virou o volante para o lado, jogando o carro para uma entrada. - Tem uma caixa de máscara entre os bancos, pega uma pra você. Vai ser melhor se usarmos isso enquanto estivermos fora.

 

- Devemos ficar aqui só uns dois dias. - Itachi disse quando entramos no quarto. Ele era simples, com duas camas, escrivaninha, guarda-roupa e TV. Nada de incrível, mas era o suficiente para o tempo em que ficaríamos ali. - Vou terminar de selecionar os apartamentos ainda hoje e devo fazer as visitas amanhã. Quer me ajudar com a pesquisa?

Dei de ombros, não me importava muito com isso e confiava no bom gosto de meu irmão.

- Pode ser. Só vou fazer o dever de casa e vejo isso contigo. - Mesmo tendo faltado aula, a escola não desgrudava e os professores mostraram muita boa vontade em enviar tudo por e-mail devido a situação.

- Ok. - Ele disse enquanto tirava suas coisas da mochila. - Vai querer jantar o quê? Podemos pedir de um restaurante da região para conhecer.

- Pizza, talvez? - Ele puxou o celular do bolso como se estivesse sacando uma pistola num filme de faroeste.

- Pizza será.

 

Ok, apartamentos em Tokyo podiam ser caros, muito caros. E minúsculos além do que se pode esperar de um espaço que um ser humano possa ter como seu lar. O apartamento no qual tenho morado com Itachi nos últimos meses não era grande, mas era amplo e não dava a impressão de que se estava numa lata de sardinha, então foi estranho ver espaços que nem um quarto daquilo.

Acompanhados de uma margherita local e palpites de Sakura que só eu poderia levar em conta, passamos parte da noite procurando um novo abrigo, de preferência que fosse inviolável. Fechamos a noite com uma lista interessante de apartamentos para Itachi visitar no dia seguinte - sem mim, porque era melhor eu “não sair desnecessariamente”. Mas estava tudo bem, o importante era Itachi gostar do apartamento que ele estaria substituindo pelo seu.

 

Tec, tec, tec.

O metal reluzia contra a luz fraca e fracionada, o que fazia com que os sulcos do tambor do revólver fossem ainda mais evidentes quando o homem começou a manuseá-lo.

Tec, tec, tec. Tec, tec, tec.

Com um movimento limpo do pulso, o homem fez o tambor se encaixar de volta no corpo da arma. No instante seguinte, eu estava vendo o diâmetro perfeito do cano, pois ele estava apontado bem para o meio dos meus olhos.

Tudo estava longe demais, o zumbido em meus ouvidos tomando todo espaço. Havia uma comoção que certamente vinha dos meus pais, mas era difícil enxergar com a luz tão pobre e os olhos repletos de lágrimas.

Um puxão forte da minha mãe cortou um pouco o efeito do choque e pisquei as lágrimas que teimavam em me cegar junto ao cabelo de minha mãe. Os braços dela estavam tão fortes em volta de mim que eu não sabia se a falta de ar era por isso ou pelo movimento estranho e arrítmico de meu peito. A arma estava um pouco mais longe, mas ainda numa distância certamente mortal, não havia modo de escapar de um acerto ali, preso dentro do carro.

No momento de um piscar de olhos, a arma sumiu da minha frente e o rosto do homem foi jogado para o lado em um baque, a máscara sumindo de seu rosto quando meu pai recuou o punho com o tecido preto pendurado em seu relógio de pulso.

O olhar furioso do homem era perfeitamente visível, tal como a meia-lua de sangue - de um diâmetro idêntico ao do relógio do meu pai - que te formou em sua têmpora e começou a escorrer, sujando seu olho direito de carmim e, de lá, descendo como uma lágrima.

Ele ergueu novamente a arma que meu pai abaixou, porém, desta vez, não mais para a minha direção, mas para a dele. Meu pai só teve tempo de tentar pegar a arma de novo.

Não, não-

E ele disparou.

Afundei o rosto no tecido e o agarrei com todas as minhas forças porque tudo que eu queria era gritar. A tensão era tanta que me surpreenderia se a coberta não rasgasse.

Coberta?

Abri os olhos e tudo que pude ver era a cor clássica da roupa de cama de hotel. Uma mão delicada e cálida fazia movimentos de vai e vem no meu antebraço e lutei contra a rigidez em meus músculos para virar a cabeça e ver Itachi sentado ao meu lado, iluminado pela luz suave do abajur.

- Hey. - Ele saudou quando nossos olhares se encontraram. - Estamos de volta?

Precisei piscar algumas vezes para entender o que era tudo aquilo e o que era que Itachi havia perguntado. Quando finalmente juntei os pontos, quis voltar a enfiar a cabeça contra o travesseiro, mas apenas soltei um grunhido sufocado em frustração.

- Eu te acordei?

Itachi olhou para cima e balançou a cabeça um pouco para os lados, com uma cara de quem tentava só descobrir como o tempo ficaria.

- Talvez. - Quando o olhar dele voltou para baixo, tomou um ar mais empático. - Foi tão ruim assim? Quer falar sobre isso?

Uma negação estava pronta na ponta da língua quando notei que Itachi continuava com o pequeno gesto de conforto no meu braço. Aquilo serviu como um pequeno estalo. Não queria mais tratar Itachi como um estranho que às vezes se mete demais em minha vida ou até mesmo em assuntos dolorosos demais, eu queria o meu irmão de volta. Quando eu era pequeno, antes de tudo desmoronar em nossa volta, eu buscava aconchego em Itachi sempre que ficava perturbado demais com algum sonho ruim. Ele nunca se irritou por acordá-lo no meio da noite, mas me convidava para baixo de sua coberta para ficar com ele. E aquele gesto reconfortante no braço era feito até que eu caísse novamente no sono.

Tinha saudades daquilo. Tinha saudades daquele conforto. Tinha saudades do meu irmão.

Sem muita confiança no nó em minha garganta, acenei com a cabeça. Itachi pareceu hesitar a princípio, provavelmente por não esperar o meu aceite. Mas, quando ondeei para trás, abrindo espaço na cama, a realidade finalmente bateu e ele prontamente deitou ao meu lado, a face um pouco mais iluminada do que seria o ideal para a situação principal. Sua mão não parou de passear pelo meu braço um instante sequer.

E assim ficamos, eu tentando tomar coragem para falar e Itachi me acalmando e encorajando com o seu gesto e olhar, sem jamais pressionar.

- Eu… pensei que as coisas fossem melhorar com o tempo. - Disse sem olhá-lo nos olhos, preferi focar na sua camisa em vez disso. Ela era antiga o suficiente para me lembrar de tempos melhores, o que ajudava. - Mas, toda vez que fecho os olhos, estou naquela noite de novo. E de novo e de novo. É sempre a mesma tortura, e só piora, nunca melhora, nunca. - Forcei os dentes contra os lábios para selar qualquer som quando senti minha garganta tensionar novalmente.

- É um fardo bem difícil de se carregar sozinho. - Era evidente a compreensão em Itachi, e só consegui acenar com afinco, porque aquilo era a mais pura, dolorosa e exaustiva verdade.

Tec, tec, tec.

Meu corpo todo se contraiu, o ar ficou espesso de repente e minha mão avançou da coberta para a blusa de Itachi em busca de algo que me segurasse na realidade. Aqueles olhos… O olho manchado de sangue e cheio de um ódio infundado, pronto para dar um fim às nossas vidas.

- Eu… - Comecei, mas precisei engolir o que quer que estava preso na garganta para continuar. - Eu não consigo tirar da minha cabeça a cara daquele homem... logo antes de apertar o gatilho. - Meu corpo se encolheu mais ainda com aquela constatação externalizada.

A mão de Itachi paralisou e um estranho silêncio suspendeu no ar. Olhei para cima e encontrei um Itachi completamente atônito. Seus olhos estavam arregalados com um certo assombro, mas por quê?

E foi aí que a compreensão me atingiu com força total e me senti espelhando a expressão de Itachi.

- Sasuke. - Ele tentou falar firme, mas era mais do que visível que ele foi abalado pela nova informação. - Você tem certeza? Você lembra do rosto de quem matou nossos pais? - Exprimiu devagar e com cuidado, a voz vacilando um pouco no final.

Aquela pergunta carregava um peso imensurável, do tipo que sufoca sem dó, mas a resposta era tão óbvia, estava cravada em minhas córneas e eu precisava revivê-la a cada piscar de olhos. Então, é, eu lembrava - e muito bem - do rosto do homem que matou nossos pais.

Mesmo assim, com cuidado e certa hesitação, confirmei com a cabeça levemente. Podíamos ainda obter justiça pelos nossos pais, afinal.

 

Na manhã seguinte, Itachi não foi visitar apartamentos para alugar, e sim me levou à delegacia.

- Antes de irmos com isso. - Itachi parou nos degraus da delegacia de repente e pôs as mãos em meus ombros, demandando minha completa atenção. - Você tem certeza disso? Isso certamente será mais exaustivo pra você do que na primeira vez. E a reabertura do caso não vai passar despercebida. Então, se isso tudo for mais te prejudicar de qualquer coisa, eu prefiro que deixemos como está.

Minhas sobrancelhas se uniram de imediato.

- Como assim? É claro que tenho certeza. Finalmente temos uma pista melhor para achar aqueles caras. Nada é mais importante. - E foi a vez de Itachi franzir o cenho.

- Entre a sua integridade e encontrar quem matou nossos pais, eu escolho você. Nada é mais importante. - Ele rebateu com uma dose de claridade.

Entender que Itachi estava disposto a abrir mão da justiça pelos nossos pais em prol do meu bem-estar era estranhamente comovedor e incômodo. Eu podia não carregar mais todo esse apreço pela minha vida, mas Itachi parecia que fazia o trabalho muito bem por nós dois - não só ele, como também aquela figura rósea parada ao seu lado. Mas também queria me vingar daqueles homens, fazê-los pagar pelo que fizeram conosco, por acharem que tinham algum direito.

- Não se preocupe. - Disse, pondo a mão por cima da dele que ainda repousava sobre meu ombro. Encaminhei-a para baixo devagar, não querendo parecer arisco. - Eu tenho plena certeza de que é isso que eu quero, tá tudo bem.

 

Não é como se estivesse tudo bem. Principalmente com os tipos de perguntas não tão bem niveladas ao cuidado e tato que se diria ideal. Acharam que seria necessário recapitular tudo que eu lembrava do sequestro, já que eu agora me “mostrava mais disposto”. Foi um tanto árduo ter que me forçar a pensar em como tudo ocorreu, me preocupar com cada detalhe. Sakura saiu da sala ainda na parte que apaguei com a coronhada, a mão colada firme contra a boca. Itachi permaneceu ao meu lado a todo momento, sua mão sólida mantida em minhas costas serviam como uma âncora no presente, e, por isso, fui imensamente grato.

Quando chegamos às partes das quais eu havia me recordado nos últimos tempos, partes que obviamente não constavam nos relatórios antigos, feitos quando eu ainda estava no hospital, Itachi perdeu um pouco do autocontrole, mas não foi pelo meu relato, pelo menos não diretamente. Quando um dos investigadores começou a questionar a veracidade daqueles novos dados, os dedos de Itachi apoiados em mim tensionam de imediato e ele cortou o oficial sem pestanejar. Foi a minha salvação, pois eu mesmo já estava começando a questionar o que seria sonho e o que seria memória de verdade. Vai que minha mente não era mais confiável, vai que a bala me deixou louco com alucinações, vai que-

- Viemos para fazer o retrato falado, podemos focar nisso? - A reivindicação de Itachi foi um corte limpo no ambiente.

Os agentes sentados à nossa frente se entreolharam. Aproveitei para tomar mais um gole d’água do meu segundo copo. Minha garganta continuava estranhamente seca, não importava quanta água tomasse. Ouvi um dos oficiais limpando a garganta e batendo junto a pilha de papel.

- Mas é claro. Vou chamar o papiloscopista.

 

Nossas intenções eram ficar na surdina quanto ao caso, mas de que adiantaria um retrato falado sem a divulgação dele para o grande público? Mesmo não revelando como chegaram àquela descrição do criminoso, ficou muito óbvio que partira da única pessoa que se tem conhecimento que viu o assassino e viveu para contar: eu. A mídia foi ainda mais à loucura, teorias se espalharam pelas emissoras e pela internet.

Foi quase impossível fazer a mudança para o apartamento novo. O pessoal do transporte precisou carregar o caminhão na garagem no horário permitido pelo condomínio, mas só saiu para nossa nova localidade na calada da noite, quando não se via mais rostos estranhos rondando a região de forma minimamente suspeita. O descarregamento só pôde ocorrer de manhã, também dentro do horário permitido para mudanças. Foi um saco e Itachi precisou ter uma conversa com os funcionários da empresa sobre eles precisarem manter sigilo sobre esse serviço.

Izumi veio ajudar com a reorganização, aproveitando que estava livre com o recesso de fim de ano de sua faculdade. Mesmo com o reforço, foi um absoluto saco ter que arrumar tudo. Parecia que tínhamos o dobro de caixas que arrumamos. E Izumi tinha razão: Itachi possuía muitos livros e DVDs.

Foram dois dias remontando os móveis e guardando coisas e, mesmo assim, já na véspera de Ano Novo, tínhamos caixas espalhadas aqui e ali no apartamento. Mas não fazia diferença para mim, estar desencaixando tralha horas antes do ano virar já que, graças à chama reacesa a toda potência do Caso Uchiha, ficou impossível de eu ir com o pessoal passar a virada de ano em Shibuya. Era um tanto deprimente a situação, mas eu estava ciente das consequências quando decidi comprar essa briga.

- Ha! Sabia que vocês o tinham colocado aqui! - Sakura soltou de repente, fazendo com que eu saltasse levemente do chão. Há quanto tempo eu estava parado só perdido em pensamentos?

- O que é? - Perguntei, voltando a atenção para a caixa da qual estava cuidando sem o mínimo interesse.

Sakura apontou para uma lateral no interior da caixa, e um monge cego e bem raivoso fazia careta para mim.

- Aquele Daruma! - Apanhei o objeto de madeira. Havia parcialmente esquecido de sua existência. Parecia que fazia anos desde quando perseguimos Toya até sua casa e quase fui descoberto graças à vendedora da loja da qual esse Daruma veio. Mas faziam o quê? Duas semanas? Tanta coisa aconteceu nesses poucos dias. Sakura inspirou fortemente ao meu lado. - Ele ainda está sem olho? Não fez nenhum pedido? - Suas mãos foram ao quadril, que pendeu para o lado. - Como você quer que seus desejos se realizem se você nem pinta o olho do seu Daruma?

- É sério?

- Seríssimo.

- Sasuke. - Itachi me chamou da porta. - Já jogamos a toalha por hoje. Quer assistir um filme? - Izumi, que estava inclinada por trás dele, balançou a capa de um Blu-Ray para mim. Reconheci vagamente a capa de pouco tempo atrás dos cartazes de cinema.

- Ah, mentira que esse filme já saiu! - Sakura levantou em disparada, indo até eles. - Esse filme com certeza é muito bom! Eu li o livro há um tempo e ele é apenas incrível!

Não ligando muito para toda aquela animação de Sakura, chequei o celular, faltavam praticamente duas horas para o Ano Novo. Já estava há tanto tempo assim arrumando as coisas? O desânimo recebeu o reforço do cansaço. Eu estava exausto, já chega.

- Podem ir. - Forcei o tom mais casual possível. - Acho que vou dormir agora, tô cansado já.

Sakura tombou a cabeça para o lado, mas nada falou. Izumi e Itachi também não insistiram, apenas desejaram boa noite e fecharam a porta.

Finalmente sozinho, respirei fundo. Meus membros estavam pesados, sem qualquer força ou vontade. Forcei-me a sentar na beirada do meu colchão. Ainda tinha tanta coisa, tanta, mas só conseguia pensar no quão exausto de tudo aquilo eu estava. Encarei o Daruma ainda em minha mão. Lembrava de fazer desejos e pintar um olho do boneco quando criança, de pintar o par quando o desejo se realizasse e levá-lo para queimar no santuário no Hatsumode. Senti o relevo da tinta passada à mão. Era um pouco diferente dos de Nakai. Lá, por ser cidade pequena, provavelmente eram os próprios sacerdotes que produziam os Darumas. Este que comprei aqui, em Tokyo, devia vir de uma fábrica. Mas não fazia diferença, né? No final, era o mesmo monge zangado de madeira pintado em vermelho e dourado, na mesma paleta do meu omamori, as cores da boa sorte e felicidade.

Como você quer que seus desejos se realizem se você nem pinta o olho do seu Daruma?

Talvez o questionamento de Sakura tivesse algum fundamento. Ou até mais de um. Se eu achava que o omamori podia fazer alguma coisa, por que não o Daruma também?

Estiquei meu corpo até alcançar a minha pasta da escola, tirando um caderno e uma caneta de lá. Rasguei uma tira em branco do caderno. Não foi difícil pensar no que escrever.

“Que as coisas melhorem”.

Segurei o Daruma firme entre as mãos e pintei seu olho direito com cuidado, para que nada manchasse. Peguei o pedaço de papel e o dobrei para que entrasse bem na parte inferior oca do boneco. Pronto, Sakura ficaria radiante se soubesse que finalmente andei com isso. Talvez deva mostrar para ela amanhã, isso se ela não o vir primeiro, claro.

Com o Daruma posto na mesa de cabeceira, no mesmo ponto em que Sakura e eu escolhemos deixá-lo quando o comprei, apenas troquei de roupa e me enterrei nas cobertas, torcendo para ter uma noite sem a perturbação de sonhos ou lembranças.

 

- Sasuke-kun! Sasuke-kun, acorda! - A voz de Sakura era urgente e me tirou rápido do meu sono. Eu estava tendo outro pesadelo? Havia atrasado para a escola? Tinha aula hoje?

Sakura estava agitada à minha frente quando abri os olhos. Pus-me sentado na cama, esfregando o olho para forçar a visão a desembaçar logo.

- Sakura? O que foi?

- Anda logo! Você precisa ver isso! - E foi aí que entendi que existia muita excitação junto ao afobamento dela. - Vem comigo!

Sakura correu para fora do quarto e tive que me esforçar para acompanhá-la. Abri a porta do meu quarto e me apressei pelo corredor até o seu final, na sala de estar. Na TV, sem rack para mantê-la fora do chão, parecia ainda passar aquele filme para o qual Itachi e Izumi me chamaram. Sakura queria que eu assistisse alguma cena? Era sério isso?

Mas Sakura cortou toda a sala e atravessou a porta de entrada sem nem lançar um olhar para o filme.

- Andaaa! - Ela se esgoelou do outro lado e, enquanto ainda confuso, notei Itachi e Izumi espalhados amontoados pelo sofá, num sono que parecia muito mais profundo do que o meu de instantes atrás.

O que Sakura estava querendo?

- Calma aí, eu não atravesso paredes que nem você! - Reclamei baixo, mas esperava que ela conseguisse me ouvir.

Destranquei a porta e consegui ver Sakura já quase no final do corredor. Quando ela me viu, deu pequenos saltos e balançou o braço exageradamente para que eu a seguisse logo.

- Vem, vem!

- Tô indo, que saco. - Murmurei ao correr em direção a Sakura, mas ela sumiu em outra porta. Ah, não.

Empurrei a porta corta-fogo a ponto de ver Sakura sumindo em um lance de escada acima.

- Sério, pra que isso? - Perguntei num volume mais normal, subindo rápido as escadas com a ajuda do corrimão.

- Você vai ver! - Sakura respondeu já lá de cima. Fantasmas não cansam quando correm pelas escadas, não?

Quando as escadas acabaram e o único caminho era uma porta, empurrei-a logo para questionar Sakura o que ela tinha naquela cabeça. Mas luzes fortes e estouros invadiram meus sentidos. Tentei me proteger com um braço por reflexo, até que entendi o que aquele escândalo todo era, e me faltaram palavras.

- Feliz Ano Novo! - Sakura estava mais à frente, voltada para mim e com as mãos voltadas para o céu.

Céu este que estava completamente tomado por explosões de todas as cores e combinações. Seu manto negro era o plano de fundo perfeito que permitia os fogos de artifício exibirem todo o seu explendor. A cada sequência, novos padrões eram desenhados no céu. Nem tive como deixar de olhar para cima mesmo enquanto caminhava para observar o espetáculo ao lado de Sakura. Um único rastro serpenteou solitário ainda mais alto e explodiu em diversas bolas de cores, tornando-se uma chuva de luz logo em seguida.

- Muito lindo, não é? Sabia que isso iria te animar.

Estávamos no terraço, mas os fogos iam tão longe que víamos as explosões acontecendo bem antes do barulho delas nos atingirem. Mas não havia barulho para os fogos que explodiam dentro de mim quando desgrudei meus olhos do céu e eles pousaram em Sakura.

Aquela luz toda reluzia nela, as cores dançavam e brincavam pelo seu rosto, pelo seu cabelo, tingindo-o do que quisessem. Olhar para seus olhos era como observar o nascimento de uma nova galáxia  a cada nova erupção acima de nós. Não havia uma lâmpada sequer ali, mas os fogos já eram mais do que suficientes para vê-la por completo e não perder a forma como seu sorriso era refletido tão belamente. Não havia pintor ou poeta que conseguisse reproduzir a sublimidade daquela imagem diante dos meus olhos.

- Sim. - Lembrei de ter a presença de respondê-la. - Muito lindo.

E Sakura também desceu seu olhar até mim. Sentia-me hipnotizado, aqueles olhos, aquele sorriso, tudo me atraía para ela como um ímã. Remotamente, notei que ela estava mais perto, mas todo o meu foco estava naquele sentimento estranho e inédito dentro de mim, só ela importava. Eu só precisava estar com aqueles lábios róseos e senti-los-

Meu corpo pendeu totalmente para frente quando não recebeu o apoio esperado e, por pouco, não ajustei novamente meus pés abaixo de mim a tempo. A realização bateu forte, então. Eu havia passado direto pelo corpo de Sakura, porque…

Porque tentei beijá-la.

Aquela sensação diferente e boa logo se converteu em um calor que poderia muito bem me fazer entrar em combustão naquele exato momento. Mas o que foi isso que eu tentei fazer?! O que diabos acabou de acontecer?! 

- Sakura, me des-

- E-eu sinto muit-

E nós dois pausamos nossas desculpas no meio quando notamos, naquele mesmo instante, que um havia tentado beijar o outro concomitante, sem unilateridade.

Aquilo havia sido recíproco, e meu coração batia tão rápido que sentia o sangue bombear por todo o corpo. Sakura ficou ainda mais vermelha e eu provavelmente a seguia naquele mesmo processo.

Uma pequena risada nervosa e levemente histérica saiu de mim. O que isso tudo significava? O que era aquilo tudo que senti e que ainda estava sentindo? Como interpretar isso?!

Um lado de mim queria me chutar porque era muito simples a resposta. Tirando aquela névoa densa de sentimentos, estavam as ações que falavam muito bem por si só. Se Sakura e eu tentamos nos beijar, isso só tinha um motivo.

Que ela gostava de mim, isso não era novidade, afinal, esses sentimentos foram o que nos uniram até aqui. Mas, da minha parte? Quando foi que isso aconteceu? Eu notei mais ou menos quando criei um apego e maior afeição por ela, mas… mas… isso? Ok, talvez fosse idiota querer tanto racionalizar tudo, mas Sakura se tornou uma outra âncora na minha vida, isso era inegável. Convivemos todos os dias há meses e ela só vem sendo cada vez mais um porto seguro para mim, uma fonte de luz acolhedora e cálida, preenchendo cada vez mais a minha existência vazia.

… É, definitivamente, meus sentimentos por Sakura haviam evoluído mais uma vez.

- Caramba. Isso é loucura. - Soltei enquanto jogava o cabelo para trás, ainda processando tudo. Isso estava além de qualquer parâmetro já estabelecido até agora em minha vida, e olha que eu já havia alterado os meus incontáveis vezes. E eu estava até um pouco suado no meio de todo esse frio? Nem estava com roupa apropriada para o lado de fora.

Sakura também riu baixinho. Ela estava mais parecendo o fruto da cerejeira do que a flor, de tão vermelha que estava. Seu tom era abobado, como de quem não acreditava em algo.

E ela ficou absolutamente incrível desse jeito também.

- Os fogos daqui a pouco vão acabar. - Tentei controlar ao máximo a vergonha, porque, apesar de tudo, eu não queria deixar de viver aquele momento. - Você não me acordou no meio da noite para a gente perder eles logo aqui, né?

Sakura pareceu um pouco atônita de início, mas logo voltou a sorrir, agora com um enlaço melhor na bagunça de seus sentimentos. Ela acenou com a cabeça e fomos até o guarda-corpo do terraço. O espetáculo de fogos continuava, completamente alheio ao que fizemos ali embaixo entre nós dois.

Mas estava tudo bem, já éramos um reflexo de todas aquelas explosões que tomavam o céu.

- Sakura… Obrigado. - Em meio a tantas emoções e pensamentos que me tomavam, foi tudo que eu consegui expressar após um momento de silêncio entre nós. Porque tudo o que eu sentia se resumia àquilo, à gratidão.

Sakura virou seu rosto para mim, os olhos arregalados em descrença.

- Eu que devia estar te agradecendo, Sasuke-kun! Obrigada de verdade… por tudo.

Como antes, eu só tinha que aceitar a reciprocidade de nossos sentimentos, porque parece que acabamos nos tornando essa corrente de mutualidade e isso era parte do que somos agora.

Acho que eu devia logo dar um segundo olho àquele Daruma e aproveitar o período para levá-lo ao santuário para queimar. Esta era uma época de renovações, afinal.

 

Continua...


Notas Finais


Foi uma longa década até aqui, MAS FINALMENTE CHEGAMOS A ESSE PONTO DA HISTÓRIA. Sério, eu tô MUITO empolgada com esse final, escrevi ele me sentindo uma adolescente de novo, foi uma delícia!
Ah, eu segui um ritmo meio diferente neste capítulo, com muitos blocos de cenas. Acharam estranho? Com a renascença Avatar na internet, o AO3 lotou de gente escrevendo fanfic desse desenho (que eu AMO). E havia esse estilo mais direto em comum entre os escritores mais populares no fandom e eu curti bastante. Então, tentei deixar minha escrita menos prolixa, tanto que não precisei cortar o capítulo dessa vez haha Mas me digam o que acharam! Um feedback de vocês seria a coisa mais importante! <3


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