História Atracción - Tempo

Fernando abriu a geladeira procurando por algo de comer que ele não precisasse levar ao fogo, ou ter que fazer algo muito elaborado. Depois de muita procura, ele conseguiu ao seu vê montar uma bela bandeja de café da manhã para Letícia.

- Acordou cedo.. - Jorge disse adentrando a cozinha.

- Não consegui dormir direito. - Jorge ergueu uma sobrancelha. - Não... Não é isso que você tá pensando.. Eu só não sei o que fazer com tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo.

- E o que esta acontecendo que o preocupa tanto? - Fernando suspirou desviando seu olhar. Não poderia dizê-lo, não antes que dissesse para Letícia.

- Errr.. Logo, logo, você ficará sabendo. - respirou olhando para sua bandeja de café. - Vou tentar fazê-la comer algo.

- Me faça esse favor.. Tenho certeza que ela mal comeu esses dias. - jorge se aproximou de Fernando. - Vocês precisam se entender, ou alguém vai sair muito mal dessa história.

- Eu sei, eu sei... Daremos um jeito. Eu amo sua irmã, Jorge, mas há algo que não nos deixa entregar.. Eu não sei explicar, as vezes penso que necessitamos tempo, mas quando penso em ficar longe dela tudo ao meu redor parece não fazer mais sentido.

- Entendo. - ele assentiu siente que não deveria meter-se mais. - Bom, hoje haverá um jantar de despedida.. Eu e as crianças estamos indo embora.

- Oh, tão rápido?

- Sim, preciso voltar a trabalhar. - Fernando assentiu.

- Ok, farei o possível para vir.. Err, vou ver se ela já acordou.. Com licença.

...

Com dificuldade Fernando conseguiu abrir a porta do quarto de Letícia, quando o adentrou, de imediato sentiu o seu cheiro adocicado, e a viu sair do banheiro com uma toalha enrolada em seu cabelo.

Ela o olhou surpresa, pensara que o mesmo havia ido embora logo cedo. Sorriu quando viu que ele tinha em mãos uma bandeja de café da manhã, e sorriu mais por seus cabelos estarem totalmente desarrumados, a mesma sabia perfeitamente que parte da culpa dos mesmos estarem assim era sua, amava tudo nele, inclusive seus cabelos.

- Oi.. - ela disse sentando-se na cama.

- Oi.. Eu trouxe algo, caso esteja com fome.

- Obrigada.. - ela tirou a toalha do cabelo, e a colocou de lado.

- Como se sente? - perguntou acomodado a bandeja ao lado de Letícia.

- Estranha.. - ele a olhou preocupado.

- Por que? - sua voz soou um pouco falha, e Letícia rapidamente tratou de segurar em sua mão. Fernando a sentiu gélida, e entrelaçou seus dedos.

- Creio que.. Depois de pensar muito. - ela sorriu nervosa. - Depois de sentir o quão doloroso fora pensar que havia perdido você.. Eu, aceito o que me propor.

Fernando sorriu largo, aliviado a fez levantar-se, e a abraçou sentindo seu cabelo humido roçar em seu rosto.

- Eu só quero está com você.. Sem pressão, sem qualquer coisa que a machuque.

- Eu também, Fernando. - ela segurou em seu rosto, e o beijou.

- Você precisa comer. - disse pegando um pedaço de morango e colocando na boca de Letícia. - Eu quase enlouqueci quando Márcia disse-me que você estava no hospital. - ela engoliu seu doce morango, e olhou. - O que houve? - indagou disfarçando seu nervosismo.

- Eu não sei.. - se afastou dele olhando-se no espelho. Estava com blusa branca com alguns tons de rosa.. ela ajeitou a gola da mesma, e começou a pentear seus cabelos. - Eu estava nervosa, Fernando.. Triste. Você terminou tudo, disse que ia embora.. Eu. - suspirou e o olhou.. - Me apaixonei, sei que não devia ter o feito, mas aconteceu e isso tudo estava acabado comigo.

- Sei... - respirou fundo com as mãos nos quadris. - Me desculpe.

- Não precisa se desculpar.. - sorriu. - Não há nada que você deva se desculpar.. Nos precipitamos e... - ele se aproximou de repente, e a beijou torcendo para que toda tensão que estava sentindo naquele momento passasse. Não sabia como lidar com tanto sentimento, não sabia como seria pai... Pai? Diabos, como seria um bom pai se não sabia nem mesmo identificar o que sentia?

- Eu só amo você.. - ele sussurrou quando a deixou respirar. Tocou seu rosto com as pontas dos dedos, e de imediato sentira paz, talvez se ela aceitasse tudo bem, funcionaria, ter um filho funcionaria.

- Eu também.. - sorriu. - Bom, precisamos ir..

- Pra onde?

- Oh... Você não trabalha mais com Carlo.. - disse confusa.

- Você vai trabalhar?

- Sim.. Preciso voltar a minha rotina.

- Se sente bem o suficiente pra ir?

- Sim, Fernando. - murmurou comovida com sua preocupação. - Me sinto bem.

- Tudo bem.. - aceitou ainda contra gosto. - Eu ainda tenho algumas coisas para assinar, e conversar com Carlo.. - disse procurando por suas coisas que estavam jogadas pelo quarto.

- Então nos vemos lá.. - disse abrindo a porta. - Te amo.

...

- Como se sente? - Carlo, perguntou a Letícia.

- Bem... - sorriu.

- Bem demais pro meu gosto. - ela o olhou trevessa.

- Fernando e eu... Estamos definitivamente juntos! - Carlo de imediato franziu o cenho.

- Como?? Ele não fora embora? Meu Deus já sei.. Você está delirando.. Letícia você andou se drogando?

- Só porque estou de bom humor vou aceitar a brincadeira sem graça..

- Então, é verdade?

- Claro! Por que eu inventaria?

- Eu não sei.. Eu ultimamente acho que você está doida.. - Lety riu. - Vai ficar com ele? - ela assentiu. - E a coisa da idade?? Ou "meu Deus ele é novo demais pra mim", ou "eu não posso ficar com o novinho caliente".

- Não há mais isso.. - disse segura. - Ele me ama, e eu o amo... E eu não sei mais lidar com isso senão aceitando o que estou sentindo... E sinto que o quero, Carlo. Tudo dentro de mim o quer.

- Deus.. Você está totalmente amecer.

- O que posso fazer?

- Não pergunte a mim..

- Foi uma pergunta retórica.. - virou os olhos. - Preciso voltar ao trabalho.

- É, eu acho bom... - brincou ele.

- Até mais.. - ela saiu diretamente para sala de Fernando.

...

- Mara..

- Lety... Que bom que voltou. - a secretária riu animada.

- Bom, já não era sem tempo.. O Fernando está?

- Sim, está com a ex assistente dele, já que ele se demitiu.. - Lety semicerrou os olhos tentando lembra-se da suposta "assistente" de Fernando.

- Eu não me lembro de nem uma assistente, Mara. Tem certeza?

- Ela chegou um tempo depois que você sumiu misteriosamente. - Letícia riu sem graça. - Ela é ótima.

- Como se chama?

- Mônica. - Letícia sentiu o impacto daquele nome, logo soubera de quem se tratava. - Ela e o senhor Fernando parece que se conhecem há bastante tempo... Sempre estão conversando e rindo.

- Tá, tá, Mara! Já entendi... - disse rapidamente abrindo a porta da sala de Fernando.. Sua cabeça deu um "giro" quando os viu tão "íntimos", e ela recordou-se de algo...

"Fernando nunca será fiel a você. Você ficará cada vez mais velha, e ele irá olhar para você com "gastura" e desanimado.."

Ela ficara parada diante da porta, até que Fernando se deu conta de sua presença e se aproximou dela.

- Tudo bem? - ele perguntou, mas Letícia continuava com os olhos cravados em Mônica.

- Fernando, depois continuamos.. - Monica disse sem jeito, o olhar de Letícia pesava sobre a mesma. - Com licença. - ela saiu fechando a porta. Fernando ainda não entendia o porque de Letícia está tão tensa.

- Letícia??

- Que? - ela respondeu se afastando dele.

- Esta bem?

- O que ela faz aqui? - indagou referindo-se a Mônica.

- Bem.. Ela disse que precisava de trabalho, e Carlo a contratou.

- Tem certeza que foi ele que a contratou? - perguntou desconfiada.

- Por que esta me perguntando isso?

- Eu não sei, Fernando.. - se aproximou dele. - Eu realmente não sei. - não o diria nada, sabia que seria difícil de convencê-lo de qualquer coisa que Mônica teria feito.

- Letícia, você pode me explicar o que você tem? - ela respirou fundo e fechou os olhos. - Ok, deixe-me ver.. Se o problema é a Mônica, nós nunca tivemos nada sério.. Você sabe disso... Lety... - ele suplicou em um sussurro. - E eu não a verei mais, hoje é meu último dia..

- Tudo bem.. - ela abriu os olhos. - Você não tem que me explicar nada.. Eu só não a quero perto de mim.. Não me importo se vocês são amigos ou não.. Só não a quero perto de mim.

- Por que? O que ela fizera?

- Me magoou muito, Fernando... Mas não quero falar disso.

- Meu am..

Ela o interrompeu.

- Preciso ir... Até o jantar. - ela o beijou no rosto e se fora.

...

Márcia, Federico e Jorge conversavam na sala de jantar, enquanto Letícia e seus sobrinhos terminavam com a sobremesa, haviam feito um enorme bolo, e agora os três o confeitavam a gosto.

- Terminamos. - Letícia disse orgulhosa do trabalho que havia feito com a ajuda de seus sobrinhos.

- Esta lindo! - clara disse. A campainha tocou, e como um raio os pequenos correram para porta, estamos ansiosos pela chegada de Fernando. Letícia logo ouviu os gritos e teve certeza que era o mesmo, ela não sabia explicar, mas seus sobrinhos amavam Fernando de uma forma inexplicável.

- Esta atrasado, tio Fernando... Nós já jantamos!

Márcia tratou logo de se aproximar de Fernando. Queria saber todos os detalhes, e como Letícia reagiu ao saber que estava grávida.

- E então? - ela perguntou enquanto Fernando segurava uma das crianças no colo.

- Que?? - indagou confuso.

- Como ela reagiu ao saber do bebê? - sussurrou.

- Eu não a disse... Ainda.

- O que?? E o que você está esperando?

- Eu não sei.. Talvez que ela descubra por si só. Eu estou nervoso, Márcia.. Não sai o que dizer.

- É só dizer que ela está grávida, e que vocês irão ser pais! Pais maravilhosos inclusive.

- Não é tão fácil assim!

- Então você quer que eu diga? - indagou brava. - Não seja corvade.. Papai não te deu uma boa educação para você ser um covarde..

Ele cobriu os ouvidos de Clara com as mãos e murmurou: Vai se danar...

Márcia sorriu.

- Ela está na cozinha.. - ele assentiu, e saindo de fininho rumou pra mesma.

Letícia procurava por algo na geladeira quando sentiu os braços de Fernando em sua cintura. Ela sentiu seu perfume e virou-se para olhá-lo.

Ela amava olhá-lo nos olhos, via tanta coisa nos mesmo, porém, via o que mais a encantava... afeto. Ele era verdadeiro, apesar de parecer um menino confuso. Sua roupa era a mesma do trabalho, seu cabelo estava no lugar, e seu sorriso era um mar de doçura. Era encantador vê-lo sorrir tão terno. Seu coração batia mais rápido, sentia vontade de morrer em seus braços e renascer em um lugar onde eles não tivessem dúvidas, e nenhum empecilho que os separasse.

Ela sorriu o correspondendo. Ele a sentia manhosa em seus braços, e seu corpo teve uma reação imediata. Ele a beijou, adentrando seus cabelos com as mãos, e a encostando na geladeira... Letícia sentiu seu corpo presionado, nada fazia mais sentido, ao não ser que naquele momento, Fernando estava a fazendo flutuar. E que Deus a perdoasse, mas desejou que ambos estivem sozinhos, e que pudessem sentir um ao outro mais profundo ali mesmo.

- Fernando.. - ela disse sem ar. Fernando apoiou o rosto em seu pescoço enquanto esperava sua respiração se normalizar. Estava doente por aquela mulher. - Precisamos ir..

- No momento eu só preciso de você. - ela sorriu limpando sua boca suja de batom.

- Você chegou tarde.. Chegou na hora da sobremesa.

- Eu precisei ligar para o papai..

- E como foi?

- Nós brigamos. - ela o olhou indiferente.

- Por minha causa? - engoliu em seco.

- Não, não tem nada a ver com você.. Foi por mim. - sorriu sem jeito. - Digamos que, ele não gosta de ser desobedecido.

- É autoritário..

- Totalmente..

- Er.. Você quer um pouco de vinho? - ela disse tentando amenizar o clima que ficara.. olhou para o balcão para certificar-se se havia taças em cima do mesmo.

- Você bebeu? - perguntou preocupado.

- Não... Na verdade estava esperando você...

- Não, Letícia... Você não pode beber! - ele olhou para os lados procurando qualquer vestígio de bebida..

- E por que não? - disse estranhando a reação de Fernando. - Fernando, por que eu não posso beber?

- Porque... - ele passou as mãos em seu cabelo. - Porque.. Você está grávida, Lety. Você está grávida!

Ela o olhou incrédula, e começou a andar de um lado para outro. Até que de repente começou a rir.

- Do que está rindo? - Fernando perguntou sem acreditar na sua reação.

- Fernando eu não estou grávida.

- Sim, esta! - ele disse em um tom mais alto.

- Não estou.. Eu saberia se estivesse grávida. - ela respondeu no mesmo tom. - Sei que nos descuidamos algumas vezes.. Você principalmente, mas eu nunca deixei de me medicar.

- Você sabe que esses medicamentos contraceptivos não são 100% confiáveis..

- Eu não estou grávida! Eu jamais teria um filho seu... - ela deixou escapar, e Fernando sentiu de repente como se alguém tivesse o golpeado. - Eu não quis dizer isso... Er..

- Então quis dizer o que? - Letícia sentiu raiva em sua pergunta.

- Nós não estávamos em uma relação estável.. Eu nem sei como se chama aquilo que estávamos vivendo... Como eu ficaria grávida de alguém que só queria ter uma "ralação" comigo durante um mês, e depois sumiria pra Deus sabe onde?? Eu não sou burra! Não faria isso comigo, muito menos com você.

Márcia ouvira os gritos da sala, e sem pudor nenhum invadiu a cozinha. Fernando estava ao fundo da mesma, com os olhos em chamas e olhando para Letícia. Lety também o olhava, mas diferente dele, tinha seu rosto marcado por lágrimas.

- O que está acontecendo? - ela perguntou, mas nenhum dos dois a respondeu. - Letícia..

- Não se preocupa.. Err, eu vou pro meu quarto..

- Não... - Fernando andou em sua direção e segurou em sua mão.

- O que está havendo?? - desse vez fora Federico quem indagou.

- Letícia tem certeza que não está grávida. - Fernando respondeu.

- Mas nos vimos no exame.. - Marcia disse.

- Crianças vamos para o quarto... - jorge disse saindo da cozinha e levando seus filhos.

- Que exame? Espera... Você já sabia? - Letícia perguntou a Márcia, e a mesma assentiu. - Mas... Eu não estou grávida! Os exames com certeza erraram... Eu saberia. Tenho trinta anos, e saberia!

- Espera um segundo.. - Federico pegou seu celular e rapidamente efetuou uma ligação. - Letícia diga-me seu nome por inteiro..

Ela bufou e disse: Letícia Padilla Solís.

Federico continuo falando, até que encerrou a ligação. Ele olhou para todos sério, e respirou fundo.

- Bom, ela está certa... Eu e a Márcia nos confundimos.. O nome da paciente que está grávida é Letícia Pasoz Salles.

Todos olharam para Letícia, mas ela estava muito concentrada observando a reação de Fernando, e sentiu que o mesmo havia tirado um peso de suas costas.

Ela o olhou... O olhou. Então, como uma forma automática seus lábios o perguntaram:

- Você ficou apenas pelo bebê?

- Não.. Você sabe que não!

- É claro que sim.. Toda a preocupação.. Tudo agora faz sentido. Eu não sou a segunda parte, o suposto bebê era!

- Letícia!

- Me olha nos olhos e nega... Você não seria capaz.. Fernando, me olha, e nega! - ela ficou em sua frente. Seu lábio inferior tremia como os infernos, todo seu corpo estava anestesiado, e apesar de já saber sua resposta, ela precisava ouvir dele; com sua voz, sua entoação... Precisava sentir que o amor que Fernando sentia por ela não era o suficiente para o impedi-lo de ir embora.

- Você.. Esta certa. - Márcia segurou-se em Federico por se sentir afetada com toda situação. - Mas...

- Shhh. - Letícia se afastou dele. - Eu acho que... Você precisa arruma novamente suas malas, Fernando.

Ela disse indo para seu quarto, passou por jorge sem conseguir olha-lo, e trancou-se. Não queria ver ninguém... Não precisava de ninguém...

Um dia depois Fernando viajou.. Sem vê-la, pois não a encontrou mais em seu apartamento; sem ouvi-la, pois a mesma sequer atendia seus telefonemas. Sem dizer pelo menos um Adeus.