História Através da Porta - Capítulo 29: Nunca mais diga isso.

 Ele agarrou as mãos da garota. O coração de Frisk palpitava cada vez mais rápido sentindo o calor de suas mãos juntas e o ouvir balbuciando aquela frase. Fechou seus olhos por um momento, em seguida abrindo-os com uma expressão confusa em seu rosto, ele havia terminado por ela? Suspirou. Encarou seu rosto, desviando o olhar em seguida, Sans a encarava, nenhum dos dois sabiam o que dizer, era o tipo de momento o qual você esperou praticamente sua vida inteira, mas quando finalmente chega, você fica sem palavras.

Não por não saber o que dizer, claro que em alguns casos, sim. Mas nesse caso, eles apenas queriam aproveitar aquele momento, o silêncio constrangedor, não tão mais constrangedor assim, suas mãos entrelaçadas uma na outra, corações acelerados, respirações ofegantes, a chuva caindo sobre suas cabeças, seus olhares se encontrando lentamente, os dois se aproximando um do outro devagar e... 

— SANS! FRISK! ENTREM! O JANTAR JÁ ESTÁ SENDO SERVIDO! — Papyrus gritou da porta, recebendo um olhar mortal de Sans, apenas riu.

— Já estamos indo, Papyrus. — Frisk disse com um sorriso paciente. Sans bufou, recebendo um olhar brincalhão de seu irmão mais novo enquanto voltava para dentro da casa. 

— Obrigado, Papyrus... — Disse pra si mesmo, porém Frisk havia escutado, rindo fraco em seguida. 

— Melhor entrarmos, devem estar sentindo nossa falta. — A garota disse, soltando sua mão da de Sans, indo em direção a porta, Sans apenas ficou parado encarando o chão. — Você não vem? — Questionou, parando em frente a porta. 

— S-sim já estou indo. — Sorriu. 

[...]

Todos estavam se servindo na cozinha, outros apenas procurando algum lugar pra sentar, Chara estava encostada na porta, com uma cara nada boa, afinal nem mesmo ela, que já havia feito muito mal a algumas pessoas, merecia ouvir aquelas palavras. Isso era a coisa mais escrota e indigna de perdão que poderia ser feita com alguém, por pior que essa pessoa fosse. Frisk abriu a porta, passou tão rápido adentrando a cozinha, que nem percebeu sua presença ao lado da porta. Aproveitou que todos estavam distraídos na cozinha, e saiu para fora da casa, dando de cara com Sans, que estava prestes a entrar. 

— O que ia fazer lá fora? — Indagou, colocando as mãos no bolso de sua jaqueta. 

— Não é da sua conta. — Disse irritada, fechando a porta atrás de si. 

— Ei, ei. Calma aí, Chara. — Disse barrando a garota. — O que aconteceu? Por que tá tão irritada? — Questionou. 

— E-eu... Não quero... Falar sobre isso. — Disse pausadamente o som que balbuciava saía trêmulo, o tom de choro em sua voz era nítido. 

— Chara... eu já te disse uma vez, e repito... Conversar vai te fazer se sentir melhor. — Disse pegando nas mãos da garota.

Foi surpreendido por um abraço inesperado, Chara molhava os ombros de sua jaqueta, apertando-o com cada vez mais força. "Seja lá o que estiver acontecendo, deve ter sido bem ruim..." Pensou, retribuindo o abraço, acariciando as costas de Chara, que chorava cada vez mais, até finalmente se soltar de Sans. Sentando-se na escadinha que ficava de frente para a porta. 

— Vou perguntar de novo... O que aconteceu? — Perguntou, encarando a garota. 

— Eu sou uma burra, isso que aconteceu... — Disse enterrando o rosto em seus braços, que estavam apoiados em seus joelhos. 

— Por que diz isso? 

— Eu devia ter percebido antes, ele nunca ficaria com uma louca feito eu... Eu só, devia ter evitado isso... — Sussurrou. 

— Ele? Ele quem? 

— Asriel. Nos beijamos, foi bem inesperado... — Levantou a cabeça. — Eu não tinha entendido nada. Mas agora, eu entendo perfeitamente... — Sorriu fraco enquanto lágrimas escorriam por seu rosto, seu rímel havia borrado. 

— Entende? 

— Eu não sabia o que tinha significado pra ele... Achei que ele tinha feito por que me amava, ou pelo menos gostava de mim, mas ele abriu meus olhos, me contou que era só uma aposta... — A voz de choro havia retornado. Fechou os olhos, apertando-os enquanto mais lágrimas escorriam. 

— Chara... Eu não conheço Asriel a tanto tempo assim, mas sei que ele nunca faria isso. Você o conhece há mais de dez anos, acha mesmo que ele faria isso? — Indagou, encarando-a, a deixou pensativa.

Asriel nunca havia feito isso com nenhuma garota, todos seus relacionamentos ao longo do tempo sempre foram sinceros e recíprocos, afinal, quem não o amaria? Ele era um amor de pessoa... Pelo menos com ela. 

— Eu... Não sei... — Disse cabisbaixa. 

— Você sabe... A resposta vai vir, e tem que vir o mais rápido possível, o jeito como vocês ficam quando estão juntos... Nunca foi apenas amizade Chara, e você sabe. — Pegou nas mãos da garota, que sorriu fraco para o mesmo. 

— O-obrigada. — Murmurou.  

Chara aproximou-se de Sans, acariciando-o, Sans estava confuso, não fez nada, apenas ficou estático, observando. Foi surpreendido com um beijo, era engraçado pensar que estava ganhando um beijo de alguém que tentou te matar... Não retribuiu, apenas ficou parado, observando a cena com suas órbitas arregaladas. 

— Sans, você não vai come-...? — Frisk indagou abrindo a porta, observando a cena a sua frente, com uma expressão surpresa e zangada ao mesmo tempo, Chara separou-se de Sans imediatamente, olhando com uma expressão de surpresa para a irmã. 

— Frisk! Olh-... — Dizia, até a garota interrompê-lo. 

— N-não... Não precisa dizer nada. — Murmurou com a voz trêmula, entrando dentro da casa e fechando a porta. 

— Sans! Me desculpa, eu não sei o que me deu! Eu tô triste e não sei o que deu em mim... — Ela colocou a mão no rosto, puxando-o as bochechas para baixo. 

— Não foi sua culpa, Chara. Você tava frustada, eu te consolei, foi o calor do momento. — Disse coçando a nuca. — Vou falar com ela. — Levantou-se, sendo acompanhado por Chara logo em seguida. 

— É melhor, explica isso pra ela, a história toda... Espero que ela não fique brava comigo. — Desviou o olhar. 

— Bom, melhor eu ir logo. Acho que você devia fazer o mesmo. — Disse indo em direção a porta, já com sua mão na maçaneta, prestes a girá-la. 

— Como assim fazer o mesmo? Falar com a Frisk? — Questionou, com uma expressão confusa. Sans deu uma risada fraca, balançando a cabeça negativamente. 

— Falar com Asriel. — Disse girando a maçaneta e adentrando a casa, fechando a porta atrás de si, deixando Chara sozinha com seus pensamentos. 

[...]

Frisk saiu correndo em direção ao andar de cima, enquanto Toriel olhava a garota subir apressadamente as escadas com uma expressão confusa. Adentrou seu quarto, apagando a luz e jogando-se em sua cama, enfiando a cara no travesseiro, sentindo as lágrimas chegando. A única luz que iluminava o quarto, era a luz natural da lua que podia ser facilmente vista de sua janela, era uma vista bonita, mesmo triste tinha que admitir que era verdade. Ela não era o tipo de pessoa que quando um momento deprimente chegava, simplesmente via negatividade em tudo, muito pelo contrário, ela apreciava as coisas boas, pra se esquecer das ruins. 

— Pelo menos está lindo lá fora... — Disse abraçando seu travesseiro, e esboçando um sorriso em seu rosto, fechando os olhos por um breve momento. 

[...]

Sans adentrou a casa às pressas, procurando pela garota nos cômodos mais próximos, falhando em sua busca. 

— Procurando algo, Sans? — Toriel chegou por trás do mesmo. 

— N-não... Quer dizer... Sim! Onde está Frisk? — Questionou.

— Bem, acabei de vê-la subindo as escadas. Ela parecia triste... Aconteceu alguma coisa? — Indagou arqueando uma de suas sobrancelhas. 

— Só uma pequeno imprevisto... Preciso falar com ela... Posso? — Fez a melhor cara de pidão que conseguia. 

Toriel assentiu, com um sorriso gentil, adentrando a sala, para conversar com alguns amigos. Sans subiu a escadaria as pressas, precisava encontrá-la e esclarecer tudo o mais rápido possível. Ele se perguntava se Chara estava fazendo o mesmo. Chegou ao quarto da garota, ficando de frente com a porta, encarando a madeira escura e fria, preparando-se para bater. Cerrou o punho, batendo duas vezes na mesma, sem resposta vinda do lado de dentro. 

— Frisk? Sou eu... Por favor me deixa entrar... — Chamou, encostando a testa na porta, sem resposta. — Olha eu sei que você deve estar me achando um babaca agora... Mas até a pior das pessoas tem o direito de se explicarem, não acha? — Disse baixo, ouvindo a porta ser destrancada lentamente. Dando de cara com a garota, que aparentava ter chorado, sob seus olhos, rímel preto escorria, ela o encarava, segurando seu travesseiro em uma das mãos, era uma cena fofa, se ela não estivesse chorando. 

— Entra. — Murmurou, assim Sans o fez, a garota fechou a porta atrás de si. 

— Frisk eu... — Foi interrompido por gritos. 

— PRECISAVA MESMO DISSO? PRECISAVA ME ILUDIR TODO ESSE TEMPO? ME BEIJAR E... DEPOIS DIZER AQUELAS COISAS E TER A CARA DE PAU DE BEIJAR A MINHA IRMÃ? — Gritou, ela estava muito zangada. 

— Eu nã-... — Foi interrompido, novamente. 

— SANS! VOCÊ NÃO FAZ IDEIA, DE COMO DOEU TE VER BEIJANDO ESSAS GAROTAS ALEATÓRIAS POR QUEM VOCÊ NÃO SENTIA UM PINGO DE AFETO! — Ela pegou uma das almofadas de sua cama. TE OUVIR FALAR DA GAROTA QUE VOCÊ PEGOU EM TAL LUGAR, E AINDA FICAR SE GABANDO POR ISSO! — Gesticulou. — SABE, TANTAS PESSOAS... PESSOAS QUE NÃO FARIAM METADE DO QUE VOCÊ FEZ COM ESSAS GAROTAS, QUE EU PODIA TER ME APAIXONADO, OU ATÉ NAMORADO COM ALGUMAS DELAS! MAS EU TINHA QUE ACABAR ME APAIXONANDO POR VOCÊ! — Apontou. — QUE USA ESSAS GAROTAS POR DIVERSÃO, FAZ ELAS SE APAIXONAREM E NO FINAL... — Gritou, enquanto lágrimas escorriam pelo seu rosto, borrando seu rímel cada vez mais, jogou a almofada em Sans, que a segurou com as mãos. — E no final... Apenas finge que não aconteceu. — Murmurou cabisbaixa, sentando-se na cama. 

— Frisk. Você não tem nenhum direito de dizer isso... — Ele largou a almofada no chão. — Sabe o quanto eu sofri? Vendo você com Josh? Ou até mesmo com Asriel? — Indagou. — Desde o dia em que nos vimos pessoalmente... Eu me apaixonei por você... E não consegui parar. — Deu um sorriso tristonho. —  Você agarrou meu coração, e não quis mais soltar... E sinceramente... Muitas vezes eu realmente quis me soltar! — Respirou fundo. — Essas garotas... Todas tentativas falhas de te esquecer de alguma maneira... Mas você é inesquecível Frisk...  — Encarou a garota. — Então, por favor, nunca mais diga isso, porque você não sabe o que eu passei.