História Augustus: O Retorno - Consolo

Ela havia passado dos limites com suas palavras e atitudes Imaturas, seu comportamento era intolerável. Ela não podia ter se transformado naquilo, eu nunca imaginei uma Hazel Grace daquele jeito. Eu me sentia culpado por todo o seu comportamento, pela maneira como ela tratou a Agatha e por todo o resto —  principalmente pelo seu namoro com o Dean. Depois que soltei aquelas palavras na cara da Hazel, o Dean quis me bater, mas ela o impediu e preferiu ir para casa. Talvez ela mesma tenha concordado comigo. Agatha, depois de algum tempo voltou para a mesa, e pediu para irmos embora, seus olhos não davam nenhum sinal de choro, mas ela não estava lá essas maravilhas.

Após deixar Agatha e Isaac em casa, dirigi até aqui. Até esta pessoa. A pessoa que parece me entender em todos os sentidos, a Lana...

Sua casa, de cor amarela e portas e janelas brancas escondiam uma mulher linda e compreensível, não eram suas roupas e maquiagem que a tornavam elegante, mas sim o caráter e personalidade  que lhe vestiam. Ela era aquele tipo de mulher que mesmo amando um babaca, o pedia para lutar por quem amava, porque o amor que ela sentia era baseado na felicidade dele e não apenas na sua própria vontade.

Bati na porta algumas vezes, na quarta investida alguém a abriu. Era ela. Sem pensar, apressei-me em abraçá-la  e ela retribuiu. 

— O que você quer a essa hora, Gus? —  Lana perguntou, colocando o meu rosto de frente para o dela.

— Eu quero você — disse, e em seguida arrisquei um beijo

Nosso beijo foi profundo, não me lembro de tê-la beijado daquela maneira, eu precisava seguir em frente, precisava começar a dar valor a quem realmente merecia. Teria que ser Lana.

— Espera, espera, calma —  ela disse, afastando-se e interrompendo nosso beijo.

— Calma por quê?

Lana cruzou os braços e me encarou, seriamente.

— Vamos entrar, precisamos ter uma conversa.

Era estranho, parecia que havia anos que eu não entrava naquela casa, embora muitas coisas continuassem iguais. O tapete na sua sala parecia tão limpo quanto antes, os sofás ainda com as mesmas almofadas, tudo estava igual, menos eu.

— Acho melhor subirmos para o meu quarto, minha mãe está dormindo e não quero acordá-la —  ela sussurrou.

— Tudo bem.

***

— A Agatha não merece passar por isso, mas ainda acho que essa Hazel só quer chamar atenção. Coisa de mulherzinha. 

Depois que contei todo o ocorrido para Lana, ela ficou horrorizada e dizia cada vez mais que a Hazel era uma ogra sem coração. Não por minha causa, mas pela maneira como vinha tratando Agatha.

— Entende o porquê de eu querer você, agora? Você não me tratou mal quando eu lhe falei sobre ter forjado a minha morte —  falei, aproximando-me dela e dando um beijo em seu rosto.

— Gus, meu amor, eu não fiquei com raiva porque não foi a mim que você enganou. Mas lembre-se de quando você disse que amava outra na minha cara. Pense na forma em que lhe tratei.

Rimos, naquela altura, a mordida parecia engraçada.

— Mas você pediu para que eu lutasse por ela, e eu lutei. Não deu certo, agora é você quem eu quero —  Insisti, tentando beijá-la, mas Lana não deixou. — Só uma chance, só mais uma. Deixa eu passar essa noite com você, por favor.

Ficamos abraçados durante um longo tempo de silêncio, só nós dois ouvindo a respiração um do outro, sentindo um ao outro e pensando em como seria daqui para frente.

— Eu preciso tanto de você — falei enquanto nossos lábios pertenciam um ao outro.

— Você pode ficar aqui essa noite, mas só vamos dormir. Amanhã conversamos sobre a possibilidade de ficarmos juntos.

***

A luz da lua iluminava o quarto de Lana, e tudo parecia hamônico: o silêncio, a iluminação, a respiração da Lana. Até nossas mãos entrelaçadas pareciam fazer sentido, como jamais fizera. Ela estava acordada, mas eu já queria cair no sono, não podia controlar minhas pálpebras, mas ainda assim pude acariciar o rosto ela.

— O coração é tão cruel — e foi a última coisa que ouvi, antes de perder a consciência.

***

Antes de abrir os olhos, coloquei meu braço para o lado esquerdo da cama, na intenção de abraçar Lana, mas acabei abraçando um amontoado de lençóis. Abri os olhos e sorri comigo mesmo, imaginando se ela não estaria preparando o nosso café da manhã. Ao trazer meu braço de volta, senti algo diferente sobre os lençóis, virei o rosto e encontrei um papel. Comecei a ler:

Gus.

Você não tem noção do quanto eu fiquei feliz quando você chegou ontem. Quando você me abraçou daquela forma e quando me beijou. Desde que te conheci, você sempre foi o cara para mim.

Mas pensei em nós durante quase toda essa noite. Por mais profundo que tenha sido o seu beijo ou o seu abraço, descobri que faltou profundidade no seu olhar e nas suas palavras. Você nunca vai me olhar como você olha para a Hazel. E daí que ela é uma mulherzinha chata? Você a ama ainda assim, e é claro que você não lutou ainda, ainda há chances para vocês. Era óbvio que você estava apenas se consolando comigo, mas tudo bem, não estou lhe julgando. Ontem quando você dormia, me abraçou de uma maneira que nunca havia abraçado, eu sorri, mas sabia que você estava sonhando e não era comigo, porque você repetia em sussurros "eu te amo, eu te amo". Eu até me permiti pertencer àquilo e saber como era ser amada, como era ser uma Hazel Grace. Mas não posso ser ela todos os dias, por isso peço para que se levante e saia da minha casa e se não for pedir muito, peço para que saia da minha vida. 

Seria uma droga um relacionamento onde um idealiza o rosto do outro, ou até mesmo a sua presença. 

Eu te amo Gus, mas acima disso eu tenho amor próprio. Faça bom proveito da sua liberdade e não a use indevidamente. 

Lana.