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História Avatar - Dois Mundos (Sonadow) - Apenas Um Ex-Fuzileiro


Escrita por: Allita_Prime e NaraBaby

Notas do Autor


Nº de Palavras: 2909

Capítulo 1 - Apenas Um Ex-Fuzileiro


Ano de 2154. 14 de Maio. 15:27.

Shadow P.O.V.

Acordei deitado numa cama, aparentemente em um hospital. Senti uma sensação estranha, um vazio incômodo. Logo tratei de tentar lembrar me da última coisa que vi ou fiz antes de apagar.

on flashback

Eu estava correndo em retirada por um campo de guerra. Havia gritos, tiros e explosões por todos os lados. Centenas de corpos pelo caminho e poucos soldados ainda vivos correndo também em retirada. De repente, senti uma pontada e uma dor agonizante nas costas, me fazendo cair próximo a uma trincheira e bater a cabeça. Tudo ao meu redor escureceu e os sons iam sumindo gradualmente enquanto ouvia chamarem meu nome no fundo. Ainda podia ser ouvido o barulho dos tiros incessantes.

off flashback

Após lembrar do ocorrido, olhei novamente o local onde estava. Era um leito pequeno com alguns aparelhos ligados ao meu corpo medindo minha pressão arterial e agulhas com soro em meus braços. Podia ouvir sons do lado de fora, outros soldados sendo atendidos e médicos trabalhando.

Nesse momento, sabia que algo havia acontecido comigo e o melhor que eu podia fazer agora era esperar, dolorosamente pacientemente, por respostas. Olhei para mim mesmo sem muita força para me mexer, vi várias faixas pelo meu corpo, incluindo em minha cabeça, era facilmente notável que estava extremamente ferido, estava me recuperando aos poucos. Mas... por quanto tempo estive apagado em recuperação? Logo olhei para meus pés, notei que não conseguia mover los, nem mesmo sentir los. Comecei a ter um mau pressentimento sobre isso, mas pensei que fosse apenas minha falta de energia e força. Tratei de me manter calmo. Alguns minutos após meu despertar lento, uma médica entrou em meu leito, percebendo minha atividade.

- Enfermeira: Oh, você acordou. -Era uma mobiana, uma raposa dourada de olhos rosados, ela se aproxima verificando os monitores que apresentavam meu estado- Como se sente, soldado?

- Shadow: Bem... Eu acho. -Olhei de canto para ela, me mantendo calmo para não explodir de perguntas- Ao menos não sinto dores notáveis.

- Enfermeira: Isso é ótimo! O Coronel vai adorar saber que ao menos seu favorito sobreviveu. -Ela disse enquanto verificava meus ferimentos enfaixado- Está se recuperando rápido! Isso é impressionante, levando em consideração seu estado atual.

- Shadow: O que aconteceu comigo? -Perguntei impacientemente. Já estava cansado de esperar. Ela me olhou com um olhar misto de surpresa e tristeza, quase como se fosse doloroso dizer a verdade me fazendo entrar em pânico interno- Por favor, me diga o que aconteceu comigo! -Insisto seriamente. Ela parecia hesitante de dizer para mim o meu real problema.

- Enfermeira: Bem... Sr. Shadow, você foi diagnosticado como... -Ela olhou para o papel que estava em suas mãos e olhou para mim de volta- Como paraplégico.

Assim que ouvi isso, eu suspirei calmamente, colocando meu antebraço em meu rosto.

- Shadow: Como isso pôde acontecer? -Estava evitando olhar para ela, ainda ouvindo em minha mente a notícia se repetindo.

- Enfermeira: Seus ferimentos eram muito graves e suas pernas foram as que sofreram mais no processo. -Ela disse dando uma breve pausa- Eu sinto muito. -Seu nome foi chamado e a ouvi suspirar com pesar- Com licença, volto logo.

Ouço seus passos se afastarem até saírem da sala onde estava. Agora estava sozinho, enfim começo a liberar minha fraqueza de chorar em silêncio, já que era orgulhoso demais para me permirtir ser visto chorando por qualquer ser. Agora sei o que significava aquele vazio dentro de mim. Um mês se passou e pareceu uma eternidade naquele centro de recuperação para veteranos. Não podia mais andar e fui dispensado das forças armadas por isso, sem nem receber aquela cerimônia tediosa, o que de certa forma foi um alívio. Eu não tinha mais serventia para eles. Podem até consertar sua coluna, se tiver dinheiro. Mas não com a pensão de um veterano e não nessa crise que há no mundo hoje. Não tive outra escolha se não aceitar e me adaptar a minha nova vida. Após receber alta do hospital, saí com o único benefício que recebi das forças armadas, uma cadeira de rodas de segunda mão.

As primeiras semanas foram um tormento. Fui obrigado a mudar de casa, morar de aluguel, já que minha antiga casa era um apartamento no 15º andar de um prédio simples, não era lugar para um cadeirante. Ainda estava um pouco difícil de aceitar essa nova vida patética, e o mais patético ainda era os outros te desprezando como se você tivesse perdido seu lugar nesse mundo. Meses se passaram, meses infernais, e ainda não recebi uma resposta de meu irmão dês de que mandei uma carta contando minha situação atual. Não falava com ele à anos, dês de que entrei pro exército e ele foi pro ramo científico. Olhei centenas de vezes minhas correspondências para ver se não tinha pelo menos uma miserável carta. Um certo dia, já estava de cabeça quente e notei que os armários da cozinha estavam começando a ficar vazios, então decidi sair um pouco daquela casa que só me fazia me sentir como um inútil. E aliás, não faria mal nenhum se fosse à um supermercado.

No mercado.

Estava na seção dos congelados. Até meu estoque de alimentos havia acabado. Dirigi minha cadeira para mais próximo da geladeira, o mundo era totalmente diferente do ponto de vista de um cadeirante. Analisava os produtos quando avistei uma garotinha morcego quase ao meu lado, ela tinha um sorriso meigo no rosto e... Uma mancha roxa perto do olho?

- Mamãe! Mamãe! Posso pegar um desse? -A garotinha tinha um pote de sorvete em mãos, observei do canto do olho aquela família, a mãe tinha uma expressão sofrida e machucada.

- Filha, cubra seu rosto! -Sussurrou a mãe, que tinha um sorriso forçado. Ela cobriu a mancha roxa da garotinha com os próprios cabelos da pequena.

Para olhos não treinados aquilo passaria despercebido. De repente, um morcego se aproximou delas e não estava com uma expressão boa. Acho que era o pai.

- Devolve isso, agora! -Falou meio ameaçador para a garotinha. No mesmo instante sua feição infantil se transformou em terror- Mande sua filha devolver isso! Eu não tenho dinheiro pra essas porcarias.

- Filha, devolve, por favor. -Disse a mãe, que estava aflita e observou a pequenina devolver o pote de cabeça baixa. A morcega olhou para o morcego ao seu lado- Tom, deixe ela pegar, só dessa vez. -Sua voz tremia um pouco. O morcego se irritou e encarou a pequenina.

- Deixe essa merda aí, Sofia! Não vou gastar meu dinheiro com porcarias! -Esbravejou, ele olhou para a mãe e pegou seu braço brutamente- E quanto à você, sua vagabunda! Por que não pede para aquele seu amante comprar pra ela?

- Po-Por favor, Tom, me solta! Você tá me machucando! -As lágrimas de seu rosto caíram sem parar, ela estava puxando seu braço sem sucesso. Eu vi as pessoas assistindo aquilo, mas ninguem fazia nada.

- Papai, solta a mamãe! -Gritou a garotinha em choros. Aquilo foi o gatilho pro morcego bater na mãe sem parar, a garotinha tentava segurar o pai para não bater em sua mãe e o mesmo a jogava no chão com brutalidade e voltava a bater na morcega.

- Shadow: Não! Alguém ajuda ela! -Eu olhei para as pessoas, aflito com a cena quase bem à minha frente, mas ninguém fez nada e ainda me olhavam como se eu fosse louco.

Eu não conseguia aceitar ver aquilo, não conseguia ficar quieto. Olhei rapidamente em volta e vi algumas latas ao meu alcance, na mesma hora peguei uma e, com uma mira perfeita, lancei uma lata consideravelmente grande, acertando em cheio a cabeça do morcego, o fazendo cair no chão e perder brevemente a consciência. Deixei minha cesta de compras no chão e dirigi minha cadeira até a morcega que estava ajoelhada no chão abraçando sua filha em prantos. Fiquei ao lado delas e gritei com todo fôlego dos pulmões tentando chamar algum segurança daquele maldito mercado. Finalmente, após alguns minutos, apareceram 3 seguranças e o que parecia ser o gerente do local perguntando logo o que havia acontecido ali. Antes que eu dissesse algo, a morcega se prontificou dizendo que ela e sua filha estavam sendo espancadas pelo marido e que eu o apaguei de alguma forma, me agradecendo no final ainda chorando. Os seguranças logo prenderam o morcego que ainda estava inconsciente e ajudaram a morcega e sua filha com o que precisava. Porém, nem tudo terminou bem. O gerente me olhou torto e me adivertia para que não voltasse a estragar os produtos do local.

Após todo o ocorrido, tentei finalizar minha compra em paz, mas todos ao meu redor me olhavam torto com seus cochichos alheios, e até mesmo os funcionários me observavam atentamente, até que finalmente terminei a compra e saí daquele lugar, e com toda certeza, não voltaria lá novamente. Durante o caminho de volta pra casa, meus pensamentos estavam tão grandes que ignorei completamente o peso das compras sobre mim. Me lembrava do início da minha adolescência, quando estava entrando pro exército, pedi para ser um fuzileiro. Havia me tornado um fuzileiro por conta da dificuldade, da emoção e adrenalina que sentiria e senti em meio aos campos de batalhas, achava incrível ser moldado pela vida dessa forma. No fim do dia, enquanto organizava as compras na cozinha, refleti sobre meu estado atual e minha determinação, lembrava toda hora da cena do mercado, lembrava das pessoas ali, agora superiores a mim e minha condição, que só observavam e ninguém fez merda nenhuma. Quem fez foi justamente o menosprezado. O deficiente. O "ninguém". Me peguei parado em frente ao sofá da sala agora, e naquele momento, falei para mim mesmo, que não importaria o que a vida faria comigo dali por diante, não importa o desafio que a vida me desse, passarei em qualquer um deles. Me deitei no sofá, já que ainda não havia comprado uma cama nova, e adormeci com o som da pequena televisão a minha frente.

Mais alguns meses haviam se passado e comecei a notar como esse mundo era falso, cheio de rostos amigáveis que escondiam quem as pessoas realmente eram por dentro. Mas, mesmo o mundo sendo cruel com gente como eu, ainda pude ver que existiam mobians de bom coração. Reencontrei aquela morcega e sua filha, ambas pareciam ótimas e soube que aquele canalha estava no seu devido lugar, preso. A morcega me ofereceu um emprego em um bar de seu amigo, que por sorte, não via nenhum problema em me contratar. Eu não precisava de emprego, já que tinha dinheiro suficiente para "sobreviver" por mais alguns anos, mas acabei aceitando dar uma ajuda sem remuneração, ao menos me manteria distraído da espera agonizante pela resposta de meu irmão que ainda não havia recebido. Um dia, estava no bar desse amigo e conversava com ele e outros mobians que frequentemente estavam lá, até que um deles, um chacal marrom, puxa a conversa para outro lado:

- Então, Ben disse que você era fuzileiro. Isso é verdade? - Os outros me olham com curiosidade também, incluindo Ben, o dono do bar.

- Shadow: Bom, sim. Me tornei um fuzileiro bem jovem graças ao meu pai.

- Ben: Entrou jovem, saiu jovem. Pode aproveitar a todo vapor a aposentadoria agora, rapaz. -Ele diz rindo.

- Shadow: Preferia receber essa aposentadoria mais tarde. Sinto falta das missões de campo. - Eu digo rindo também. O chacal me olha de canto tornando a falar.

- Sabe, conheço muitas meninas que tem uma tara insuportável por cadeirantes. A maioria delas até que são bem gostosas.

- Nem tente, Sentry! Esse aí gosta das fieis. -Disse um raposo vermelho em risadas ao lado do chacal.

- E você sabe muito bem que mesmo tendo essas taras malucas, não é qualquer cadeirante que vai chamar a atenção delas, nem se for um ex-fuzileiro. -Um outro ouriço entrou na conversa.

- Shadow: Ow, ow, espera! Nem mesmo se eu mostrasse do que já fui capaz? O que mais teria que fazer para ter a atenção delas? Agora fiquei curioso com essa história.

- Ben: Ah! Esqueça isso Shad! Você não precisa provar seu valor para um bando de loucas.

- Sentry: Melhor tomar cuidado com o que fala, Ben! Aquelas mobians não são loucas, elas só tem um gosto... -Ele diz dando uma breve pausa e olhando para mim - "Diferente". E aliás, não importa se ele é apenas um ex-fuzileiro ou o presidente do planeta, pra elas, ele é igual à qualquer outro cadeirante.

- Shadow: "Apenas um ex-fuzileiro"? Ok! Vou te mostrar quem é "apenas" aqui! -Eu pego um copo de choop colocando em minha testa- Ben, enche aí.

- Impossível! O copo vai virar e esse choop queima os olhos até o fundo da alma! -Disse o raposo vermelho com ar desafiador.

- Shadow: Ótimo! Vamos tornar esse desafio mais interessante então! -Digo e equilibro minha cadeira sobre as rodas maiores, fazendo um empinar com as rodas da frente e mantendo o copo ainda em minha testa, fazendo isso, volto a dizer- Vamos, Ben! Enche o copo.

- Ben: Tudo bem, você quem pediu! Depois não me venha choramingar por uma folga! -Disse rindo e enchendo o copo em minha testa.

- Sentry: Você só pode ser louco! -Disse o chacal rindo de empolgação.

- Hey, pessoal! Vem dá uma olhada nisso! -Gritou o ouriço do grupo, chamando a atenção de todos ali.

- Shad! Shad! Shad! Shad! Shad!

Todos os outros companheiros formaram um círculo e começaram a torcer gritando meu nome e alguns até gritavam o famoso "Vira! Vira! Vira!". Com isso, fui um pouco para trás com minha cadeira ainda a mantendo empinada e equilibrando o copo na testa, ganhando espaço. Tirei uma das minhas mãos do sustento das rodas e a levei ao copo, o virei diretamente em minha boca sem perder o equilíbrio da cadeira, fazendo todos se agitarem pelo meu feito do momento.

Após a comemoração de todos com minhas "habilidades" e as apostas feitas entre eles, vi dois overlanders de terno escuro entrarem no bar e sentarem distantes da multidão. Algumas horas se passaram e notei que os overlanders tinham uma observação constante em minha direção. No fim da noite, Ben me dispensa mais cedo pois percebeu minha inquietação e me pediu para ir descansar. Sem questionar, assenti com a cabeça e saí do bar para voltar pra casa, e durante o caminho, tive a estranha sensação de estar sendo seguido, mas tentei ignorar esse sentimento e apenas chegar logo em casa. Quando estava próximo ao meu bairro, passei por um beco e ouvi sons de gemidos de dor e alguns socos vindo do mesmo, olhei beco a dentro e vi dois jovens mobianos, um menor sendo surrado por outro maior e ouvia o maior dizer que o outro pagaria por olhar pra alguém. Então, era assim que o mundo agia. O mais forte em cima do mais fraco.

Naquele instante, varias situações rodaram minha mente: a cena da Morcega e sua filha apanhando no mercado, os olhares tortos da sociedade sobre mim e a frase de hoje mais cedo: "Ele é apenas um ex-fuzileiro". Percebi que tudo o que eu queria nessa vida era ter algo pelo qual valesse a pena lutar, não importava mais minha condição agora. Entrei no beco e gritei chamando a atenção do agressor, ao fazer isso, o menor aproveitou a brecha dessa distração e saiu correndo dali, deixando o maior mais furioso e vindo tirar satisfação comigo. Ótimo! Estava mesmo com saudades de uma boa briga.

- Vai ver o que acontece por se meter onde não é chamado, tiozão! -Disse o jovem, me tirando de minha cadeira e preparando pra me jogar ao chão.

O derrubo primeiro com um soco, ganhando vantagem me jogando acima dele para mantê-lo no chão. Consigo dar uma boa lição no moleque, mas acabo perdendo um pouco dessa vantagem por conta da imobilidade de minhas pernas, abrindo uma brecha para ele também fugir, mas não antes de tropeçar e jogar minha cadeira de rodas em mim.

- Shadow: Me procura se quiser outra surra, seu moloide! Gritei para o jovem que se afastava rapidamente. Me virei e deitei no chão com pequenas poças de água- Arg. Seu merda. -Falei para mim mesmo me referindo ao agressor. Olhei para o céu nublado, me fazendo ter devaneios de minha época nos treinamentos no exército- Se não está chovendo não tem treinamento! -Gritei aos céus ao lembrar disso, dando um sorriso involuntário ao sentir pequeninas gotas da chuva que passou.

Nesse momento, dois overlanders de terno sobretudo se aproximaram de mim, os reconheço e vejo que eram os mesmos que estavam no bar mais cedo. Meu sorriso logo se torna uma cara séria e os encaro levemente confuso enquanto os dois olhavam algo em seu tablet de vidro fazendo comentários entre eles.

- Não se parece. -Começou o overlander loiro dizendo ao parceiro moreno.

- Mas é ele. -Respondeu o moreno com um leve sorriso.

- Você é Shadow Darkness? -Perguntou o loiro me olhando com satisfação.

- Shadow: Vão embora. Vão acabar com meu bom humor. -Digo sério voltando a olhar pro céus, apenas querendo ficar sozinho. Mas o overlander tornou a falar, e o que ele disse me deixou tanto surpreso internamente quanto aflito.

- É sobre seu irmão. -Disse seriamente o moreno.



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