História Awumbuk - Refúgio

 Tsukishima estava suando frio e suas mãos estavam tremendo. Comportamento exagerado para quem olhasse de fora. Mas para o loiro o pesadelo em que estava preso era sem dúvidas assustador. Mesmo sem fazer sentido. Durante uma queda infinita na completa escuridão Kei tentava alcançar o que no sonho ele reconheceu como a saída. Continuou buscando a superfície sem parar até sentir um impacto contra seu corpo. Se assustou buscando fôlego e quando teve certeza que estava de volta deitou novamente. Ele encarou o lado vazio da cama e alisou o lençol frio se questionando se a cama sempre foi tão grande. Respirou fundo e fechou os olhos tentando voltar a dormir.

 Só se passaram nove dias sem Tadashi. Mas para Tsukishima nove dias era como a eternidade. Kei estava acostumado a morar sozinho. Chegar em casa e não ter ninguém esperando era uma rotina confortável para ele. Mas desde que Yamaguchi havia voltado para sua vida ele ansiava pelo fim do expediente, por um trânsito limpo que não o atrasasse e nunca esquecia de colocar gás no carro. Tudo para ver seu namorado o quanto antes. Eles auternavam entre passar as noites na casa de um ou na do outro. E na maioria das vezes não faziam nada além de sentarem no sofá e assistirem filmes. Filmes que Tsukishima fazia comentários avaliativos do começo ao fim, o que seria chato mas Yamaguchi não se importava em ouvi-lo e até opinava também.

 Mas agora Tsukishima se encontrava passando as noites sozinho porquê Yamaguchi precisou viajar para lidar com assuntos do seu trabalho como mangaká. Kei pensou em ir junto mas também tinha um emprego. A viajem de Yamaguchi veio logo depois da oficialização do namoro, o que fez Tsukishima soltar suspiros de decepção.

 O loiro ainda estava tentando voltar a dormir, sem sucesso.

- Se ao menos respondesse minhas mensagens...

 Havia fundamentos nas suas inseguranças. A única mensagem de Tadashi dentro desses nove dias foi "cheguei bem". Kei enviou alguns "bom dia" e "você já comeu?" Mas não recebeu resposta. É claro, ele estava ocupado com seu trabalho. Afinal esse foi o objetivo da viagem. Tsukishima sabia disso, mas mesmo assim ainda era agonizante não receber nenhum sinal.

- O que aconteceu com você? - Tsukishima segurou o braço de Tadashi e o levou para o banheiro masculino.

- Eu... Eu briguei. Mas no fim não era um bom motivo.

 Kei molhou alguns pedaços de papel e limpou o sangue que escorria ao lado do rosto de Yamaguchi. Ele respirou fundo e ficou em silêncio olhando para os machucados do outro. 

-...Sério, eu vou precisar ficar 24/7 vigiando você?

- São só arranhões. E é normal pessoas se machucarem, por quê esse exagero? - Tadashi cruzou os braços e virou o rosto para evitar o contato visual com um par de olhos claros intimidadores.

- Por que é você. Não se machuque por razões fúteis. - Kei estava irritado - Eu não quero ter que me preocupar com você.

- Por que está agindo assim? Me disse para dar um espaço e eu dei. Fui fazer outras coisas e agora estou levando sermão? Você não é meu pai... Nem meu namorado. Então para de ser tão infantil. Eu não pedi para se preocupar comigo. - ao contrário de Tsukishima, Yamaguchi estava bem relaxado com a situação.

- Tsk. Não muda de assunto. Eu não quero ser sua babá então pare de se meter em confusões.

- Desculpa por fazer você ficar preocupado. Vamos sair? Eu pago seu jantar. - Yamaguchi se aproximou de Tsukishima e esperou a resposta com um sorriso singelo.

- Não estou com vontade de sair.

- Não é só "sair". Vai ser um encon..

- Vamos voltar. A aula já vai começar. - Kei saiu primeiro e deixou Yamaguchi sozinho no banheiro.

 Kei acordou com o barulho irritante do seu despertador. Se levantou com esforço e passo a passo se preparou para mais um dia de trabalho. Antes de sair ele pegou o celular e olhou mais uma vez. Nada. Talvez o celular de Yamaguchi tivesse quebrado de novo, ou ele só esteja muito ocupado. Tsukishima guardou o aparelho e trancou a porta. Foi sem nenhuma vontade ao escritório. Só em pensar que teria um dia inteiro de estresse e falação sentiu a boca amargar. 

....

 Cansado, não queria nada além da sua cama. Foi assim que Tsukishima chegou em casa. Quando abriu a porta do apartamento não notou nada de diferente. Trocou de calçado, largou a pasta em qualquer lugar e foi direto para o quarto. Assim que abriu a porta encontrou Yamaguchi deitado na cama. Ele pegou uma toalha no armário, uma muda de roupas confortáveis e foi para o banheiro.

 Tsukishima tomou um banho quente demorado. A água fez os músculos tensionados relaxarem um pouco. Ele parou em frente ao espelho e observou sua expressão cansada.

 Kei saiu do banheiro secando o cabelo com uma toalha branca e parou quando viu Tadashi deitado.

- Yamaguchi...? Você cortou o cabelo...

- Oi, você passou por mim. Haha. Cortei só um pouco.

 Tsukishima jogou a toalha para longe e caminhou devagar até a cama. Ele deitou e se aconchegou nos braços de Yamaguchi.

- Oi. Como entrou?

- Eu imaginei onde você guardaria a chave reserva. Tudo bem? Como foi seu dia? - Tadashi sussurrou.

- Foi chato.

-...Desculpa não ter ligado. Eu esqueci meu carregador antes de viajar e fiquei sem dinheiro para comprar outro. Vim direto do aeroporto. Desculpa a bagunça também...

 Kei não olhou em volta. Só se aprofundou mais no abraço de Tadashi e sentiu o perfume suave de hidratante corporal.

- Você comeu bem esses dias? A viagem foi tranquila? - Tsukishima sussurrou como Yamaguchi.

- Sim para as duas perguntas.

- Ok. Posso dormir assim com você?

- Sim. Mas por quê estamos sussurrando?

- Não sei... Boa noite. - Tsukishima falou sonolento.

- Boa noite Tsukki. Amanhã você faz o café.