História Azar - 1/17

 Tantos problemas, e eu era cego em relação a todos eles - como costumavas dizer, podia haver um tiroteio ao meu lado, e eu continuaria a crer na paz não existente. Mas peço te que me compreendas, mesmo que eu não te tenha dado ouvidos quando tinhas toda a razão! Foi muita coisa, Mingyu. A casa nova, os meus pais, o risco de reprovar… E ele. Ele era a razão dos meus sorrisos quando estava perto de mim, e dos choros e crises de ansiedade que só tu aguentavas. Aguentaste tanto por mim, Mingyu, e eu não fui capaz de crer que todas as desgraças que me aconteciam podiam ser evitadas - não era karma, não era azar; era ele. Desculpa só ter aberto os olhos tarde demais. Não ter evitado tudo isto, ter sido egoísta ao ponto de não ver mais ninguém sem ser o meu maldito namorado… Tu eras o meu melhor amigo, porra! “Ele controla tudo em ti, Minghao!” mas eu não te ouvi, “Ele não te deixa sequer sair com os amigos, Minghao!”. Para além de cego, eu fui surdo. Lamento. Parece que tudo poderia ter acabado bem se aquele não fosse um namoro com mais desvantagens que vantagens - lembraste quando cheguei 30 minutos atrasado à aula? Foi ele que me convenceu a ficar consigo e bem… Nós não fizemos coisas propriamente adequadas… E eu arrependo-me tanto. Arrependo-me e ainda me arrependerei mais enquanto for vivo de ter ignorado os teus avisos, “Ele não é bom para ti, não te merece!”. Ele bateu-me, Mingyu, sabes disso. Mas só quando descobriste os cortes nos meus pulsos e que as lágrimas borraram a maquiagem que cobria as marcas dos socos no meu rosto. Até lá eu aguentei firme, mas depois desabou. Eu amava-o mais do que me amava a mim mesmo. Desculpa por te ter desiludido. Mas nós não escolhemos o que sentimos - as coisas acontecem. Mas ter escolhido te ouvir, isso sim teria sido uma escolha. Mas foi por azar que eu fui estúpido o suficiente para não ter fugido dele, antes que o mesmo me pudesse apanhar…