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História Baby - Orfeu e Eurídice


Escrita por: _Pandagiih

Capítulo 6 - Orfeu e Eurídice


   Quando acordei, Jeon não estava ao meu lado. Espreguicei meus bracinhos curtos e me sentei em cima dos lençóis, coçando meu olhos. 


   Passei os olhos pelo quarto e observei a porta da sacada aberta, supondo que Jeon estivesse lá.


  Me levantei, meio zonzo, e caminhei até a área, encontrando o meu papai sentado em uma mesinha que ficava ali.


 O moreno conversava ao telefone e sorriu para mim, me chamando com as mãos para sentar consigo. 


   Me sentei nas coxas firmes do mais velho e recebi seu tão amado carinho.


   — Claro, sem problemas. Adoraria vê-la. — Pausou, escutando o outro lado da ligação, antes de responder. — Amanhã? — Me encarou. — Encontro com vocês no aeroporto então. 

   Aeroporto?


  — Até mais. — Encerrou a ligação e desligou seu celular, me presenteando com sua atenção. — Bom dia, bebê. Dormiu bem? — Assenti, recebendo um selar no pescoço, de meu namorado.


   — Quem era?


  — Yeri. 


    Kim Ye-rim, era uma atriz muito famosa e reconhecida. Participava de muitos doramas e programas de TV e era extremamente linda. 


A garota perfeita em minha opinião, com exceção de um pequeno detalhe: ela era a mãe da filha do meu dominador.


   Sim, Jungkook tinha uma filha. 


   Há alguns anos, cinco para ser mais específico, Jeon fez uma entrevista com a artista e os dois acabaram se atraindo um pelo o outro e quando descobriram o gosto em comum, vulgo BDSM, transaram loucamente em uma festa e se esqueceram da camisinha.


   Jeon ficou sabendo da gravidez dois meses depois e deixou claro que se a mulher decidisse continuar com a gestação, ele assumiria seu papel paterno com a menina. 


E assim os dois fizeram. Mesmo sem um relacionamento, decidiram cuidar do bebê.


   Na época, a notícia estourou para a mídia e seus nomes saíram em tudo quanto era capa, inclusive na Euphoria, que aproveitou da situação para fazer uma jogada de marketing.


  Jeon ajudou em tudo que foi necessário, e continua ajudando até hoje, mas acabou se separando da pequenina, quando há três anos, a Kim aceitou um trabalho na Europa e se mudou com a filha para a França.


   Quando começamos a namorar, o CEO me contou sobre a criança e eu não tive muito sobre o que reclamar, o que eu poderia fazer afinal?


   Kim Ye-Eun, a pequenina de quatro aninhos e alguns meses, era a coisa mais fofa do mundo. Ela era muito engraçadinha e comportada, também filha de quem é, e era uma tagarela sem limites.


   Algumas vezes, quando a mãe da garota viaja ou ela está de férias na escolinha, a filha de Jeon vem para a Coréia ficar com o pai, que morre de amores pela bolinha manhosa e agitada que ela é. Chego a sentir inveja da garotinha, por ter um pai tão maravilhoso.


  Não tenho ciúmes da Kim mais velha, brincadeiras a parte, sou muito confiante em meu relacionamento com o empresário, e também sei que não há interesse sexual entre os dois, além de que Yeri é tão graciosa quanto a filha.


   — O que ela queria? — Perguntei, acariciando seu peitoral descoberto.


   — Kim virá para a Coréia, amanhã, e perguntou se eu gostaria de ficar com a pipoquinha durante a semana em que ela estará aqui. — Explicou, me observando.


   Pipoquinha era o apelido de Jungkook para a garota, porque ela era ligada no 220 e não parava quieta de jeito nenhum.


  — A Eun vai ficar aqui, com a gente? — Questionei, animado.


  — Sim, meu amor. Agora estarei cheio de bebês fofinhos comigo, sim? — Brincou, me segurando enquanto enchia meu rosto de beijinhos. 


   — Você deveria abrir uma creche. — O moreno solta uma gargalhada com minha fala.


   — Fico tão feliz por ver você se dar tão bem com ela. — Declarou, sincero.


   — Ela é uma gracinha, sabia? Não é igual aquelas crianças birrentas e mimadas, que dão nos nervos.


   — Jura? — Arqueou a sobrancelha, debochado, e só então entendi a ironia de minha própria fala.

 

   — Ah, papai, para! Eu sou um menino muito bonzinho.


   — Só quando é conveniente para você. 


  — Eu nem faço birra direito! — Exclamei, emburrado.


  — Porque eu coloco você na linha, Park. — Constatou o óbvio e eu ri sapeca, concordando.


  — Papai. — Chamei, pensativo.


  — Fale, bebê.


  — Eu não vou poder ser seu bebê essa semana, né? — Me toquei do fato, algum tempo depois.


   — Sempre vou ter espaço para meus dois bebês. — Respondeu com calma.


   — Não, papai. Disso eu sei, acho que você não me entendeu. — Me endireitei em seu colo. — Mas é que eu não vou poder mais usar minhas chupetas, e minha mamadeira, e meus pratinhos, porque a pipoquinha pode achar estranho. Imagina se ela volta pra mãe e fala: "Mamãe você sabia que o Minnie usa chupeta igual eu?".


   — Nada que ela já não saiba. — Deu de ombros, me fazendo revirar os olhos. — Não revire os olhos para mim, Jimin. — Beliscou minha gordurinha, localizada na cintura, me fazendo resmungar. — Você se lembra de que a Yeri é uma switcher¹, não lembra? — Assenti. — Ela já viu algo parecido, não tem com o que se preocupar, mas se ainda sim você não se sentir confortável em usar na frente da Eun, você não precisa usar.


  Assenti, decidido de que eu usaria somente quando estivesse sozinho com Jeon.


   — Além do mais, Jimin, acho que Eun não usa mais chupeta. — Implicou.


  — Fiquei bem mais tranquilo agora. — Ironizei, rindo de desespero, da situação. — Com certeza a fala: "O Minnie mama na mamadeira e nem eu faço mais isso, mamãe" se encaixa bem mais.


  — Jimin. — Chamou-me, sério. — Não estou entendendo porque está se ridicularizando tanto sobre isso.


  — Eu não estou me ridicularizando, mas é que eu já tenho vinte anos!


  — E?


  — Daqui um tempo você vai olhar para mim e vai se cansar da minha brincadeira de papai e filhinho e vai querer alguém sério para você se relacionar. — Suspirei, incomodado.


   — O que é que está acontecendo com você ultimamente, Park? — Questionou decepcionado, me fazendo abaixar o olhar para meu colo. — Você se sente bem agindo da forma que age? — Se referiu ao meu fetiche. Assenti. — Então está tudo bem. Eu me sinto bem agindo do jeito que ajo com você, fora que continuaríamos juntos mesmo sem essa relação 24/7.


  — Me desculpa.


  — Não posso prometer que nunca irei me apaixonar por outra pessoa ou até mesmo que você não irá, pois não temos controle sobre nossos sentimentos, mas posso te garantir que no momento, a possibilidade de estar com outro alguém que não seja você, sequer passa pela minha cabeça. E digo você, do jeito exato que é, com todas suas perfeitas imperfeições e imperfeitas perfeições. Me cansar da forma que decidimos que você se sentiria confortável de agir, não é uma opção.


   — Eu te amo, papai. — Levantei meu rosto, mais calmo. — E eu queria muito te beijar, mas ainda não escovei os dentes.


  — Que bebê mais sujinho. — Brincou. — Vamos trocar de roupa para tomarmos café, sim?



    Na manhã seguinte, fui acordado logo cedo e só não comecei o dia de mau humor, porque estávamos indo ao aeroporto, buscar a princesinha de Jeon.


  Quando chegamos na área de desembarque, avistamos a Kim e sua filha, que empurrava uma mala três vezes maior que si, enquanto sua mãe ria e tentava ajudá-la, sendo impedida.


  — Minnie! — Gritou quando me viu, largando sua mãe e sua mala e correndo em minha direção, pulando em meu colo.


  — Como você cresceu! — Comentei, quando notei o tamanho da garota em meu colo.


  — A Eun tá quase do seu tamanho, Minnie. — Declarou, orgulhosa. 


  — Mas o Jimin é pequenininho, pipoquinha. — Jeon comentou, nos observando.


  — É, verdade. — Concordou.


  — O papai não ganha abraço? — Fingiu um bico.


   Kim Ye-Eun gargalhou, gostosamente e estendeu seus braços para o pai, que a pegou e girou-a pelo ar, arrancando gritinhos animados da menina.


  — Senti sua falta, papai. — Beijou a bochecha de Jeon, sendo retribuída.


  — O papai também sentiu muita falta de você, princesa. Falta do tamanho do Minnie.


  — Mas o Jimin é pequeno, papai.


  — Ya! — Exclamei, ofendido. — Sou mais alto que você. — Mostrei a língua. 


   — Olá, rapazes. — Cumprimentou Ye-rim, quando chegou com as malas onde nós estávamos. 


   — Oi. — Sorri. — Como foi a viagem?


   — Essa macaquinha quase deixou o passageiro do nosso lado maluco, contando sobre o papai e o namorado bonito dele que estavam esperando ela em Seul, mas fora isso foi tudo bem.


  Corei.


   — Só o namorado do papai que é bonito? — Dramatizou, Jeon.


   — É porque você é maravilhoso, papai. 


   Puxa saco.


   — Ye-Eun, meu amorzinho, venha dar um abraço na mamãe, sim? — A garota desceu do colo de seu pai e correu até a mãe. — Eu vou ficar com muita, muita, muita, muita saudade de você. — Apertou a mais nova.


   — A gente vai se ver depois de depois de depois de depois de depois de amanhã, mamãe. — Explicou, "acalmando" a progenitora, arrancando uma risada de nós.


  — Você tem razão, vida. Se comporte, sim? — Beijou a filha, liberando-a. — Bom, meninos, tenho que ir agora. Qualquer coisa podem me ligar. 


   — Fique tranquila, Yeri.


   — Estou tranquila, Jungkook, sei que ela estará em boas mãos. — Confessou, lhe entregando a mala e a mochila da criança e explicando coisas básicas para Jeon, para atualizá-lo rapidamente de algum problema que a garota tivesse tido, como alguma dor de barriga, entre outros.


   Enquanto os dois conversavam, eu e Ye-Eun andávamos de um lado para o outro e ela me contava de desenhos que tinha feito da família dela e que me colocava em quase todos eles.


  — O Jun sempre me mostra, Eun. Eles são lindos! Vou fazer um desenho para você também. — Decidi, aproveitando minha animação com esse novo hobbie de desenhar, que eu estava aperfeiçoando.


   — Você tá falando sério? — Arregalou os olhos.


   — Sobre o que meus dois amores estão falando? — Jeon chegou com as malas, para irmos embora.


  — O oppa vai fazer um desenho pra mim, papai.


   — Que legal, meu amor. — Me encarou, sorrindo. — O papai tem um desenho que ele fez, na geladeira na cozinha.


   — Posso ver? — Assentimos, enquanto íamos para o carro.


   Jeon guardou as bagagens no porta-malas e arrumou a filha na cadeirinha que estava no banco de trás, abrindo a porta para mim em seguida, e colocando o meu cinto.


  Observei a filha do meu dominador pelo retrovisor. Os dois eram extremamente parecidos, os cabelos tão negros quanto os olhos, os lábios finos, até às pintinhas do rosto eram no mesmo lugar. Não tinha como falar que a menina não era sua filha.


   Paramos em uma cafeteria, antes de irmos para casa e eu e Eun aproveitamos os mimos de Jeon, de nos liberar doces e bolos, o que era extremamente raro.


   Quando a pipoquinha fez amizade com outras crianças no playground do estabelecimento e seu pai a deixou ir brincar, só restamos eu e Jungkook, sentados na mesa.


   — Bebê. — Chamou-me, acariciando minha mão por baixo da mesa. — Precisamos conversar.


   — Eu não fiz nada de errado! — Respondi, de modo defensivo. Eu não tinha me comportado mal.


    — Sei que não, apenas me escute, sim? — Assenti. — Eu sempre fui sincero sobre tudo com você, certo?


   — Papai… — Gemi, frustrado, sabendo onde aquilo iria resultar.


   — Preciso saber o que anda te deixando tão mal, Jimin. Concordamos que eu cuidaria do seu bem estar, e não posso fazer isso se você não compartilhar alguns de seus segredos comigo.


   — Eu não gosto de falar de mim, Jun. — Justifiquei, vago.


   — Park, alguma coisa te pertubou o suficiente para fazer com que você passasse mal de uma forma que você não passava por quase um ano, você não deveria fingir que nada aconteceu, meu amor.


   — Eu não consigo falar, papai! — Exclamei, irritado. — Eu tento, mas não sai, ok? Eu quero te contar muita coisa sobre mim, ou sobre minha vida, mas eu ainda não estou preparado o suficiente. — Terminei, já com os olhos marejados.


  — Está tudo bem, bebê. — Me abraçou. — Eu vou te esperar, sim? — Assenti, me aninhando contra seu abraço.


  — O Minnie parece um bebê. — A Kim apareceu, do nada, me observando nos braços de seu pai.


   Tentei sair da posição, constrangido, mas fui segurado pelas mãos do mais alto, me mantendo naquele lugar.


   — É mesmo? — Perguntou.


   — Sim, ele é fofinho e lindo, e tem bochechas gordinhas que dá vontade d'agente apertar. 


   — Eu concordo com você, princesa. — Selou minhas bochechas, arrancando uma risada da pequena. — Cansou de brincar?


  — Eu acho que tou com soninho. — Confessou, bocejando. E eu ri, antes de bocejar também.


  — Vamos para casa então, para meus dois bebês dormirem. 


   E assim, nós fomos embora.


   Eun dormiu o resto da manhã inteira, e eu tirei um leve cochilo no colo de Jeon, mas acordei de um pesadelo e optei por não voltar a dormir.


    — O que você tá lendo? — Perguntei, observando o moreno concentrado em um livro, do meu lado, na cama.


    — Um conto mitológico. — Sorriu curto, me respondendo.


     — Sobre o que é? 


     — Meu gatinho é tão curioso. — Brincou. — É sobre Orfeu e Eurídice.


     — Tá, mas qual a história, papai? 


    O moreno então fechou o livro, descansando-o na mesinha da cabeceira, e passou a mão por meus fios negros.


   — De acordo com o conto, Orfeu era um poeta, músico e cantor. Orfeu cantava e tocava um instrumento de corda chamado lira. Ninguém conseguia resistir à música de Orfeu. Até animais, árvores e pedras dançavam ao seu redor.


     Explicou, me olhando, intensamente.


   — Suas melodias acalmavam até mesmo os animais selvagens, que o acompanhavam enquanto tocava. As árvores e flores inclinavam-se para sua direção afim de ouvi-lo, bem como até mesmo o mais rude dos homens, e os passarinhos que paravam para lhe escutar.


    — Até os passarinhos? — Assentiu para mim.


   — Ele ganhava batalhas, encantava as sereias e acalmava a fúria do mar, apenas com seu canto. Em um belo dia, Orfeu conheceu Eurídice. Ele ficou fascinado pela ninfa e enfim conquistou-a. Logo se apaixonaram e se casaram.


   — E viveram felizes?


   — Não, meu amor. — Negou, suspirando. — Termine de ouvir, sim?


   — Então termina, Jun. — Pedi, ansioso.


   — Eurídice era uma ninfa bela, tão bela, que o casamento não impediu o olhar desejoso de outros homens para si.


    — Ela traiu Orfeu?


    — Se você me interromper mais uma vez, não vou mais terminar, Park. — Avisou, sério. — Enfim, Aristeu se encantou com sua beleza e acabou sendo rejeitado. Com raiva, decidiu então, perseguir a ninfa. Enquanto Eurídice fugia, ela acabou tropeçando em uma serpente, está que a picou, fazendo com que a jovem morresse sob o efeito do veneno.


 — E o Orfeu? — Arregalei os olhos, tampando a boca, quando percebi que Interrompi o mais velho de novo. — Me desculpa, papai!


   — Está tudo bem, meu amor. — Selou meus lábios. — A noite eu lhe conto o final.


   — Jun… — Manhei, emburrado.


   — Quer que eu morda esse bico, Jimin? — Arqueou a sobrancelha, sorri sapeca. — Venha ajudar o Jun a cozinhar. — Chamou.


    Estendi meus braços e o moreno revirou os olhos com minha "carência", antes de me pegar no colo e me levar até a cozinha.


    A Kim mais nova, também não demorou muito para aparecer no ambiente.


  Quando chegou, com a carinha inchada e as mãos esfregando os olhinhos, correu direto para os braços do Jeon que a pegou, sem nenhuma dificuldade.


   — Papai, cadê a vovó?


    — A vovó está na casa dela, Eun. — Respondeu, colocando-a sentada, no balcão.


  — Quando eu vô vê ela? 


   — Quando você quiser, bebê. — Explicou, abrindo a geladeira.


   — Pode agora? — Perguntou, animada.


   — Eu não sei, temos que ver se ela está ocupada. Tente ligar para ela, sim? — Entregou o celular, com o número discado, na mão da criança, que pulou e saiu correndo, em seguida.


    — O que você vai fazer? — Questionei, observando o moreno pegando algumas panelas.


    — Picadinho de Jimin. — Brincou.


    — Papai! — Gargalhei. — Me abraça. — Pedi, manhoso.


    — Meu bebê está carente hoje? — Arqueou a sobrancelha, divertido.


    O mais velho veio em minha direção e me apertou entre seus braços, fazendo cócegas no processo.


    — Sabe…


    — Lá vem. — Jeongguk, riu.


    — O final da história…


    — Desiste, Park. 


    — Argh! Como você é chato. — Me levantei da cozinha e fui para a sala, emburrado.


    A Kim mais nova estava no telefone com a avó, estava toda falante contando todas as novidades de sua vida na Europa e também explicando o quanto seus amiguinhos eram divertidos. Acabou que a garota fez tanta manha que ficou definido que ela dormiria na casa da mais velha hoje.


    Nós ficamos desenhando juntos e assistindo algum desenho bobo, até Jeon nos chamar para almoçar.


      Observei Jeon servir a garotinha em um pratinho colorido dos ursinhos carinhosos, e murchei ao me dar conta de que teria que comer no prato normal, branco e sem graça.


   Meu dominador, percebendo minha tentativa falha de disfarçar a decepção em minha face, pegou outro pratinho com desenhos e colocou a comida para mim também.


   — Jun… — Tentei protestar, recebendo uma encarada de Jeon, como quem diz: "você quer mesmo me desafiar?"


  — O pratinho do Minnie combina com ele. — Declarou a menor, achando engraçado o ursinho.


   — Concordo com você, pipoquinha.


   Revirei os olhos com os dois.



   Quando anoiteceu e a lua resolveu dar as caras, Jungkook deu banho na criança e arrumou uma mochilinha pequena com coisas que ela precisaria para dormir fora. 


   Jeon dirigiu até a casa de sua progenitora, e depois de descermos e cumprimentarmos seus pais, deixamos a garotinha animada na casa dos avós e resolvemos voltar para o nosso cantinho.


    — Papai. — Chamei, observando o mais velho sentado no banco de motorista.


    — Sim? 


    — Me deixa dirigir?


     Jungkook me olhou, tenso, e eu sorri para si, animado e empolgado.


     — Por favorzinho? — Continuei, quando o moreno não respondeu.


      Há algum tempo, eu já vinha pensando em tirar minha carteira de motorista, porém, habilitação é um custo muito grande e eu não estava com reservas o suficiente na poupança para me dar o luxo de aprender a dirigir.


     Não era como se eu não soubesse nada sobre direção. A família da minha vó era bem interiorana, então vez ou outra, eu já havia "dirigido" na fazendo da mais velha. Claro que nada se comparava ao carro super, mega, hiper, blaster moderno e chique do meu namorado, mas não devia ser tão diferente.


      Jeon sabia da minha vontade em tirar a CNH, e se eu pedisse sua ajuda, financeiramente falando, não tenho dúvidas de que ele me presentearia, mas eu não queria que nossa relação se tornasse uma espécie de sexo em troca de "dinheiro" ou bens materiais, logo, eu nunca tive coragem de lhe pedir, com medo de que eu soasse interesseiro demais.


      — Certo. — Resolveu se pronunciar. 


     — Jura? Eba! — Comemorei, sem acreditar que ele tinha cedido de verdade. 


      — Mas… — Sempre tem um mais, revirei os olhos. — Não revire os olhos para mim se quiser que eu não mude de ideia. 


     — Desculpa, papai.


    — Iremos para uma rua menos movimentada e você irá seguir minhas orientações. — Exigiu. Assenti sem problemas.


     Quando estávamos próximos do condomínio onde morávamos, o CEO estacionou o carro em uma rua deserta e nós trocamos de lugar.


    — Coloque o cinto, Park. — Ordenou, assim que eu me sentei no banco de motorista.


    Obedeci sua ordem e esperei seu próximo comando. Jeon pareceu respirar profundamente, como se duvidasse de sua própria escolha, ilegal, e me mandou colocar a alavanca no "P" e lligar o carro.


    Girei a chave na ignição e o painel do veículo se acendeu. 


    — Cadê o pedal da embreagem?


     — O carro é automático, Park. Ele não precisa de um pedal para embreagem. — Explicou. — Sempre que for dirigir você tem que se arrumar no banco e observar os retrovisores antes.


    — Sim, senhor. — Brinquei.


    — Pise no freio e mude o câmbio para a posição "D".


      — Como eu faço isso? — Recebi sua expressão, desacreditada, como resposta. — Calma, tô brincando. — Menti, observando o painel na esperança de que algo me indicasse como fazer aquilo.


      — Céus, Jimin. — Passou a mão pelos cabelos, suspirando. — O botão. — Apontou e respirei, aliviado. — Agora tire o pé do freio e pise no acelerador.


      O carro começou a andar, e Jeon me orientava no curto percurso que estamos fazendo, praticamente andando em círculos.


     — Diminua a velocidade e pise no freio. — Ditou quando percebemos um muro no final da rua sem saída.


    Me assustei e fiquei travado com meu dominador ao meu lado, preocupado.


     — Freio, Jimin. — Não me mexi. — Jimin, use o pedal. Pise no freio, Park! — Exclamou assustado, quando nos aproximamos muito da parede.


    Gritei, apavorado, e tirei o pé do freio de uma vez, fazendo com que o carro alavancasse e nossos corpos impulsionaram-se para frente. Olhei para o lado. Jungkook estava quase transparente de tão branco.


    — Se machucou? — Questionou, atento. Neguei. — Ótimo, desça do carro.


     Abri a porta e desci, o moreno fez o mesmo logo em seguida, trocando de lugar comigo, novamente.


     — Não foi tão ruim assim… — Quebrei o silêncio, quando já estávamos no caminho de volta para casa.


     — Não foi tão ruim assim? Você quase nos matou, Jimin.


     — Eu fiquei nervoso. — Respondi, na defensiva.


     — Você nunca mais irá dirigir até ter uma carteira, meu bem. — Declarou. — Estamos entendidos? — Assenti. — Responda com palavras.


    — Sim, senhor.


[...]


     — Quero o final da história! — Exclamei quando cheguei na suíte, subindo em cima das costas do CEO que estava deitado em nossa cama, com o tronco despido, e sentando em cima de seu bumbum.


    Muito tempo havia se passado e nós já havíamos chegado em casa. Depois de muitos minutos de sermões do mais velho, sobre minha experiência horrível dirigindo seu SUV, eu fui assistir desenho na sala e meu namorado foi para o nosso quarto.


    — Certo, bebê. — Respondeu sem se mover. — Onde paramos?


    — Eurice morreu.


    — Eurídice. — Corrigiu, risonho. 


    — Tanto faz.


    — Faça uma massagem no papai, meu amor.

 

       Minhas mãos encontraram sua pele, morna e bronzeada, e meu dedos começaram a trabalhar em seus músculos.


       — Orfeu ficou devastado com a morte de sua esposa. — Continuou, de onde tinha parado. — E desesperado ele resolveu descer até o mundo dos mortos, com sua lira para resgatar Eurídice. A canção emocionada que entoou, convenceu o barqueiro Caronte a levá-lo e, em seguida, fez adormecer Cérbero, o cão de três cabeças que vigiava a entrada do mundo inferior.


     Pressionei sua lombar, dedilhando seus ossinhos, trocando entre pressionar e acariciar suas costas.


     — Quando Orfeu chegou, perante Hades, o deus do submundo ficou muito irritado em ver que um vivo conseguira penetrar no mundo dos mortos, mas sua música o comoveu. — Prestei atenção em sua história, atento. — Perséfone, que estava com Hades, o convence, então, a atender ao pedido do músico.


    — Ele conseguiu trazer ela de volta, então? — Pude escutar sua risada fraca de quem havia desistido de tentar me fazer parar de interromper.


     — Eles fizeram um acordo, gatinho. Eurídice poderia sair, seguindo Orfeu, mas ele só deveria olhá-la novamente, quando estivessem à luz do sol.


    — Fácil. — Dei de ombros, parando com a massagem e descendo de cima do mais velho, enquanto encarava suas nádegas firmes cobertas pelo short curto de tecido fino.


    E se eu desse só um tapinha nelas? Mais tentador do que saco de arroz, em supermercado.


    — Nem pense nisso. — Repreendeu, se virando para mim. Sorri amarelo.


    — Termina de contar, papai!


    — Orfeu partiu, então, pela trilha íngreme que levava para fora do mundo inferior, tocando músicas de alegria e celebração, a fim de guiar a sombra de Eurídice de volta à vida. Ele não olhou nenhuma vez para trás, até atingir a luz do sol. Mas, então, virou-se, procurando se certificar de que Eurídice o estava seguindo. Por um momento ele a viu, perto da saída do túnel escuro, perto da vida outra vez. Mas, — Pausou dramaticamente. — enquanto ele olhava, ela se tornou um fantasma novamente. Ele a perdeu para sempre.


    — Que injusto! — Me exaltei, contrariado.


    — Todos os nossos atos têm consequências, gatinho. Orfeu sabia que isso aconteceria, caso ele quebrasse o combinado, e mesmo assim não mudou sua decisão.


    — Tá, tá. — Fiz pouco caso da lição de moral do conto. — Acabou? Foi só isso?


   — Com uma tristeza profunda, Orfeu ficou perambulando durante dias sem comer e beber. Depressivo, resolveu que nunca mais amaria nenhuma mulher, o que levou a fúria das mênades que tentavam conquistá-lo. Sem resposta de Orfeu, elas resolveram matá-lo. 


     Ofeguei, surpreso.


    — Que tragédia!


   — Com sua morte, ele finalmente conseguiu encontrar seu amor. 


    — Ele é retardado! Quem em sã consciência se mataria para ficar com a amada?


    — Não foi suicídio, ele foi morto, bebê.


   — Mas ele deixou!


   — Por que está chorando? — Perguntou me observando, achando graça. 


    — Porque é triste, essa história.


    — Meu bebê chorão. — Me abraçou, apertado. — Pense pelo lado bonito, eles se encontraram e ficaram juntos no submundo.


     — Sério? — Funguei, e o moreno deu de ombros.


     — Eu prefiro acreditar que sim.


    — Eu também. — Concordei, limpando o cantinho dos meus olhos. — Mas quem matou ele não foi punido? — Perguntei, curioso.


    — Reza a lenda, que depois de seu corpo ser atirado no rio Ebro, ele foi sepultado próximo do monte Olímpio e ali onde jazia seus restos mortais, os rouxinóis entoaram belas canções. Por sua vez, as mênades, mulheres furiosas da Trácia que decidiram matá-lo, foram punidas pelos deuses, que as transformaram em carvalhos e rochas.


     — Bem feito.— O moreno gargalhou de minha expressão brava.


     — Eu iria para o submundo se a Eurídice fosse você. — Confessou, suave.


     — Eu também iria por você, papai. 


    [...] 


   Passamos o resto da semana inteira com Ye-Eun e também com os pais de Jeon, que estavam próximos por causa da netinha fofa. O tempo passou muito rápido e quando piscamos já estava na hora da garotinha voltar para a casa com a mãe.


    A casa ficou vazia sem a presença da tagarela, e acabou que quem precisou ser consolado pela partida fui eu e não o pai da garota. 


   Lógico que Jungkook havia ficado triste com o retorno da primogênita, porém ele era muito mais equilibrado do que eu, no que se dizia respeito a emoções.


    O lado bom, entretanto, foi que eu pude voltar a espalhar meus acessórios pela casa, sem receio nenhum, ou seja, agora Jeon já podia voltar a chamar minha atenção, por deixar minhas chupetas em qualquer lugar.


    — Quero essa sala brilhando em cinco minutos, Park Jimin. — Mandou, surtando internamente ao reparar em meus ursinhos jogados pelo tapete e meus copinhos fofos distribuídos entre eles. 


   O chão estava coberto por migalhas de bolachas e biscoitinhos que eu havia "dado" para as pelúcias e minha mamadeira estava caída perto do meu pezinho, e só não tinha derramado todo o meu leite no tecido, porque ela tinha uma trava de segurança para evitar acidentes.


    — Mas é hora do chá dos brinquedos, papai! — Exclamei, como se fosse óbvio que eu não poderia acabar com a reunião daquela forma.

— Cinco minutos. — Repetiu, me deixando com a "bagunça".


Notas Finais


Switcher¹: O termo refere-se a quem troca de papéis, é a pessoa que exerce o papel de dominador e de submisso, dependendo de seu estado de espírito, ou necessidade, no dia.

Final bosta? Poisé hahahahahah
Capítulo aleatório, mas é isso. Oq acharam? Agora já posso postar o cast para vcs, com foto dos personagens, o problema é que como o Spirit é diferente do watt, ele está linkado no Google documentos, vcs querem o link?
É isto, estamos quase chegando na metade da fic, se não me engano no próximo, já é um dos capítulos onde Jimin conta mais sobre si. Estejam preparados, hahahahahahahaha. E só avisando, tia Giih não dá ponto sem nó, e tudo que aparece em capítulo será importante em algum momento da história. Outro aviso, assim que meus capítulos prontos acabarem, as att mudaram para 15 em 15 dias, ou seja, semana sim, semana não.

Eu tinha esquecido que hj era dia de att, hahahahha, me lembrei hj, enquanto tomava banho e dps vi uma notificação de leitor, comentando sobre

Beijinhos, fiquem bem e se cuidem. Vejo vcs dia 20/09


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