História Back Home. - Capítulo VIII.

De uma maneira bem estúpida, nos dias que se seguiram, eu passava diariamente no twitter. A fonte mais rápida para saber por onde os meninos do 5sos andavam no mundo. Eu segui Ashton e obtive até um follow back. Algumas fãs notaram e notificaram em sites de notícias “Ashton começou a seguir uma garota chamada Emma”. Mas, como era esperado, eu não tinha notícias diretas dele. Nós não entramos em contato um com outro, mesmo tendo os números de telefone.

Eu foquei em fazer minha torta boa parte do tempo. Demoraram quase três semanas para que ela ficasse boa o suficiente, e então, eu senti as coisas melhorarem um pouco desde a partida de Ashton:

- Ok, Emma. Sua torta será vendida. Troque o uniforme, você está do lado de dentro agora. – Dona Nora anunciou no final do expediente. Frida gritou comemorando e me abraçando. – Parabéns, querida. – Dona Nora me cumprimentou.

Outras meninas da cozinha vieram me dar as boas vindas, porque agora eu fazia parte da equipe delas. Eu respirei fundo, satisfeita. No dia seguinte, já poderia usar um uniforme branco como das outras cozinheiras e começar a fazer tortas junto com elas sem precisar servir mesas.

Então, à noite, quando deitei na cama, tomei uma decisão rápida. Eu não sabia em qual parte do mundo Ashton estava. Eu não tinha tido notícias no twitter, mas estava aliviada que Bryana não apareceu no primeiro show deles. Mandei uma mensagem rapidamente antes que me arrependesse:

¬Emma: Quando você voltar, provará da minha torta. Agora é oficial. :)

A resposta demorou cerca de três horas para chegar. Eu já tinha quase desistido achando que ele não ia me responder. Estava dormindo e senti o celular vibrar embaixo do travesseiro. Eram duas horas da manhã em Los Angeles:

¬Ashton: Bom dia, Ems. Parabéns! Mal espero até estar de volta e ver você com uniforme de cozinheira. ;)

Eu ri da mensagem, mesmo meio zonza do sono. Bom dia? Que horas eram onde ele estava?

¬Emma: Não é um uniforme muito atraente. Em que parte do mundo você está?

Dessa vez, a mensagem veio mais rápido, só cinco minutos encarando a tela do telefone, ansiosa.

¬Ashton: Tailândia. As coisas são bem malucas por aqui. Estou passando fome. Tenho quase certeza que comi um lagarto no café e ninguém me avisou.

¬Emma: Hahaha Oh, Ash. Que sofrimento. Então aí já é de manhã?

¬Ashton: Perto da hora do almoço. Estou pronto para passar fome novamente.

¬Emma: Vocês vão ficar aí por quanto tempo?

¬Ashton: Não tenho certeza. Mas, ainda temos um show aqui e uns dois dias livres. Depois vamos para o Japão.

¬Emma: Legal. Espero que esteja se divertindo. :)

O problema é que a resposta para aquela mensagem nunca veio. Ele parou de responder simplesmente e eu tive que compreender que ele deveria estar em algum compromisso importante. Caí no sono rapidamente. Mas, não estava mais feliz por ter falado com ele. Era o oposto, estava cada vez mais triste.

“I got a ticket to another world

I don’t wanna go

I don’t wanna go

Suddenly words are hard to speak

When your thoughts are all I see

‘Don’t ever leave’, she said to me”.

(Eu tenho uma passagem para outro mundo

Eu não quero ir

Eu não quero ir

De repente, as palavras são difíceis de falar

Quando seus pensamentos são tudo que eu vejo

‘Não vá embora nunca’ ela disse para mim).

O tempo começou a passar mais rápido para o meu alívio. Foi no dia em que completou um mês da partida de Ashton que meu coração apertou mais.

Eu estava na aula de História da Culinária, mexendo no twitter quando me deparo com novas fotos da 5sos. Todas tiradas à noite, com péssima qualidade, por um paparazzi. Aparentemente, os meninos tinham ido a uma festa polêmica na Tailândia com muita bebida e muitas mulheres. Todas as fãs estavam malucas, porque Michael foi visto andando de mãos dadas com uma desconhecida que, com certeza, não era Crystal. Luke foi visto em estado deplorável de tão bêbado. Diziam que ele cambaleava e falava alto, pagando bebida para todo mundo. Obviamente, as fãs fizeram festa e torciam para ele ter traído Arzaylea, mas ninguém tinha certeza de nada. Calum foi visto com Ashton andando em companhia de mais de sete mulheres. Eu vi a foto em que eles andavam em um grupo, por uma rua, à noite. Tanto Calum quanto Ashton seguravam garrafinhas de cerveja na mão. Em determinado momento, eu percebi em uma das fotos, que Ashton olhou diretamente para a câmera, como se tivesse achado o paparazzi. Ele olhava sério, um tanto irritado. Sete meninas estavam em volta deles, andando com eles como se fossem todos amigos. E se ele tivesse faturado uma das meninas naquela noite?

- Emma? – Yan me chamou, sussurrando e eu o olhei, sem conseguir esconder o meu descontentamento com a notícia. Ele fez uma cara acuada e me passou o celular dele. Era só o que faltava.

A notícia, no aparelho dele, mostrava novas fotos. Em uma delas, Ashton estava sozinho com uma garota desconhecida. Eles não estavam se abraçando nem nada. Ele só estava parado na frente dela, ainda com a garrafa de cerveja na mão enquanto a menina falava alguma coisa para ele. E ele apenas prestava atenção e depois em outra foto, Ashton localizava novamente o paparazzi, olhando diretamente para a câmera. Para a minha surpresa, na próxima foto, ele falava algo para a menina e os dois saíam dali juntos. A última foto era a pior. Ele não tentava pegar nela, mas ela olhava para ele, rindo e segurava seu braço, olhando diretamente para o rosto dele. Não dava para ver a reação de Ashton, porque ele estava de costas, andando para longe das câmeras com a garota ao seu lado.

Eu engoli em seco e espantei as fotos da minha cabeça. Porque, é isso que você tem que fazer quando começa a sofrer e o cara está longe. Eu não podia tirar satisfações mesmo que ele estivesse perto, porque não tínhamos nada. E eu inventei todos os tipos de desculpas que consegui para não culpar Ashton. Ele estava só conversando. Ele nem pegou na menina. Era só uma festa. Ele tem direito a estar nessas festas depois de trabalhar tanto.

Eu tinha um repertório feito para qualquer pessoa que chegasse tentando comentar sobre a festa que os meninos estavam.

- Só fico feliz que Luke conseguiu se divertir nessa festa sem a vaca da namorada na cola. E me divirto só de pensar na reação dela quando soube. – Frida falou, maldosa, enquanto estávamos todas sentadas na cama gigante de Bianca. O apartamento dela era enorme e impecável.

- Eu não quero falar dessa festa, por favor? – Felícia pediu, mal humorada, deitada na cama e encarando o teto. Ela estava chateada de saber que Michael tinha ficado com outra. Não é como se eles tivessem tido alguma coisa, mas ela sempre se chateava com essas notícias. E era ainda pior agora que ela tinha tido a chance de conhecê-lo pessoalmente.

- E você, também ficou imaginando com qual das meninas o Ashton ficou? – Bianca me perguntou, com cuidado e eu respirei fundo.

- Você ficou tentando adivinhar?

- Passei noites em claro tentando adivinhar com qual das meninas, Calum ficou. – Ela admitiu e eu ri baixinho.

- Eu não preciso adivinhar. Afinal, tem as fotos de Ash com aquela garota.

- São fotos bem confusas. – Frida observou com cuidado.

- Ele só estava conversando. – Eu tentei defende-lo, pateticamente.

- Ela estava agarrada no braço dele. Obviamente, ela queria algo a mais. – Bianca falou, sem jeito e eu olhei para o teto.

- Ele tem que se divertir mesmo.

- Garota, você vai explodir se não se dar ao direito de ficar irritada com isso. – Frida me avisou e eu dei de ombros.

- Vou ficar bem. Nós não temos nada mesmo.

- Queria ter a calma que você tem. – Felícia observou.

Nós acabamos dormindo todas na casa de Bianca, porque ninguém queria ficar sozinha no final de semana curtindo a foça e a polêmica recente da banda.

Já eram quase quatro horas da manhã quando meu celular apitou, acordando todas nós.

- Desliga essa bosta aí. – Felícia resmungou, sonolenta, colocando o travesseiro em cima da cabeça. Eu peguei o celular correndo e atendi sem ver quem era, pulando entre as meninas no colchão para sair do quarto.

- Alô? – Eu falei, sonolenta, quando cheguei na cozinha.

- Te acordei? – Meu coração parou imediatamente. Eu reconheceria aquela voz mesmo zonza de sono.

- Ash?

- Desculpe. Eu devia ter esperado o horário inverter.

- Como assim o horário inverter?

- Estou no Japão.

- Oh. Legal. – Eu disse, hesitante. As lembranças das fotos estavam voltando para mim e eu não sabia o que falar. Um silêncio constrangedor se fez na linha.

- Eu sinto a sua falta. – Ele disse, de repente, com a voz embargada. Eu engoli em seco sem reação.

- Também sinto a sua falta. – Eu admiti, nervosa. O silêncio invadia novamente a ligação. O que estava acontecendo? – Está tudo bem? Você está com algum problema?

- Está tudo bem, Emma, não se preocupe. Preciso desligar, vamos para uma entrevista agora.

- Tudo bem. – Eu disse, atordoada e confusa.

- Tchau, Ems.

- Tchau, Ash.

“When we both fall asleep, underneath the same sky

To the beats of our hearts at the same time

So close but so far away

Can you hear me?”.

(Quando nós dois cairmos no sono debaixo do mesmo céu

Com as batidas do nosso coração ao mesmo tempo

Tão perto, mas tão longe

Você pode me ouvir?).

---*---

 - Que ligação estranha. – Frida comentou no dia seguinte quando contei que Ash me ligou.

- Ele parecia diferente. Tinha algo estranho. – Eu admiti, sem jeito.

- Isso devia ser bom, meninas. Ele sente a sua falta! – Felícia tentou argumentar.

- Ah, que romântico, vai? – Bianca começou a falar enquanto tomava seu café. – Ele está literalmente do outro lado do mundo e te ligou para dizer que sente sua falta.

- Huhum. – Eu neguei, pensativa. – Tem algo errado. A voz dele. Ele estava chateado com algo.

- Credo, você não sabe curtir nada mesmo. – Felícia falou, frustrada e eu dei de ombros.

A verdade é que Ashton parecia hesitante, parecia estar magoado com algo. No meu coração, de alguma forma, eu sentia que algo pior estava por vir. Eu não sabia exatamente o que era, mas sabia que não devia me iludir com aquela ligação.

---*---

Quando finalmente liberaram uma entrevista de 5 Seconds Of Summer no Youtube, eu passei quase uma semana revendo-a. Sempre que sentia falta da voz dele, eu parava para assistir de novo. O sorriso empolgado, os olhos verdes brilhantes e as piadas com os meninos. Era o meu motivo para rir quando o coração apertava. Ele parecia feliz e meu coração se aquecia. Como eu poderia impedi-lo daquilo só para ficar comigo? Era o sonho da vida dele, era a sua paixão pela música e eu tinha que deixá-lo ir. Foi com esse pensamento que eu me despedi do segundo mês sem Ashton.

Foram semanas sem qualquer contato dele depois do telefonema de madrugada. As saudades apertavam de madrugada de uma maneira infantil e eu esquecia toda a decisão de deixá-lo seguir o sonho dele. Eu ligaria para ele e pediria para voltar. Ou pediria para ir vê-lo onde ele estivesse. Mas, eu nunca poderia me dar ao luxo de ser infantil dessa maneira.

Dois meses e uma semana. Era o meu limite. Eu sentia isso ao ouvir ao álbum Sounds Good Feels Good pela milésima vez. Já eram três horas da madrugada e eu já tinha chorado até as lágrimas secarem. Eu continuava me culpando e me achando terrivelmente idiota de fazer todo aquele drama por um garoto com quem eu fiquei por só três dias. Qualquer pessoa me falaria “você está exagerando” ou “se ele não fosse famoso, você não estaria assim”. Mas, eu sabia que não tinha nada a ver com aquilo. Eu sabia que era pelo Ashton, pelos olhos verdes, pelo sorriso de covinhas, pela empolgação com a vida e a sensibilidade exagerada em contraste com o seu tamanho. Ele era sensível, ele gostava da família e a priorizava, ele era sonhador e era carinhoso.

Então, eu cedi. Pela primeira vez, eu cedi. Peguei o telefone e disquei o número, sem saber em qual parte do mundo ele estava agora e nem que horas seriam.

- Alô? – Uma garota atendeu do outro lado da linha e eu prendi a respiração, me recompondo do choro. – Emma? – A garota perguntou do outro lado da linha. Droga, celulares eram irritantes por identificarem quem estava ligando. Se não, eu teria desligado naquele momento.

- Oi? Quem está falando? – Eu perguntei, em dúvida.

- É a Crystal. – Ela disse, animada. Eu não tinha recuperado a respiração ainda. Mas, era um alívio ser Crystal e não outra garota.

- Ah, o Ashton...

- Está no show, querida. – Ela me interrompeu. Por que eu sentia que esse “querida” não era um elogio? – Eles estão no meio de um show agora. Estamos assistindo do camarote, ouça! – Ela falou e eu conseguia ouvir no fundo gritos e a música deles ao fundo. Eu mordi o lábio, porque a animação parecia enorme no lugar. – Oh, espere, aí vem o solo dele! – Ela gritou no celular e eu ouvi o solo de Ashton em She’s Kinda Hot, o que fez meu estomago revirar.

- Quero ver vocês cantando, Lisboa! – Ele gritou ao final e vários gritos seguiram sua voz.

- Ouviu, Emma? – A garota voltou à linha.

- Ouvi, Crystal. Obrigada. – Eu disse, sem saber o que falar. – Eu ligo outra hora.

- Eu aviso que você ligou. Beijos, querida. – Ela desligou logo depois e eu joguei o celular longe, me afundando no travesseiro. Que loucura eu ia fazer?

“She sleeps alone

My heart wants to come home

I wish I was, I wish I was

Beside you

She lies awake

Trying to find the words to say

I wish I was, I wish I was

Beside you”.

(Ela dorme sozinha

Meu coração queria voltar para casa

Eu queria estar, eu queria estar

Ao seu lado

Ela fica acordada

Tentando achar as palavras certas para dizer

Eu queria estar, eu queria estar

Ao seu lado).

---*---

Eram oito horas da manhã e eu já estava a caminho do trabalho quando meu celular tocou. Ashton. Meu estomago deu um giro completo pela falta de café.

- Alô? – Eu atendi, nervosa.

- Emma? Você me ligou? – Ele perguntou com a voz cansada.

- Ah, não era nada demais.

- Tem certeza? – Ele perguntou, confuso. – Desculpe, eu estava num show.

- É, Crystal deixou eu ouvir seu solo. – Eu disse, rindo baixinho.

- Ah! Ela atendeu? – Ele perguntou, surpreso.

- Sim? Ela não te avisou? – Foi a minha vez de ficar confusa.

- Não... – Ele disse, hesitante. – Eu vi a chamada listada no celular. Até estranhei que não estava nas chamadas perdidas.

- É, ela atendeu e me avisou que você estava no show. – Eu disse, simplesmente e ele continuava confuso. Acho que ele não tinha gostado de Crystal atender o telefone dele.

- Tudo bem. Tem certeza que está tudo bem?

- Tenho. – Eu disse, um pouco aguda demais. – Só queria falar com você um pouco. Já passou.

- Legal. – Ele disse, hesitante. – Bom, então tudo bem. – Ele disse e se fez um silêncio constrangedor novamente. Qual era o problema com esses celulares e silêncios constrangedores? – Eu vou dormir agora, Emma. Ficamos acordados até muito tarde pelo show.

- Tudo bem, Ash! Bom sono. – Eu disse, sem jeito.

- Ah... Que horas são aí?

- Oito da manhã.

- Então, bom trabalho, Ems. – Ele disse, e eu sabia que ele estava sorrindo do outro lado da linha.

- Tchau, Ash. – Eu ia desligar quando ele me chamou de novo:

- Emma?

- Sim?

- É bom ouvir sua voz. – Ele disse com a mesma voz embargada. Eu respirei fundo e mordi o lábio. Aquilo era uma tortura.

- Eu estou com saudades. – Eu admiti.

- Eu também. – A voz grave do outro lado da linha me deixou mais nervosa ainda. O silêncio se fez na ligação, mas não era constrangedor dessa vez. – Preciso ir, Emma. Tchau. – Ele disse, de repente, e desligou.

Eu parei e olhei para o celular, surpresa. Ele desligou muito rápido logo depois de falar que estava com saudades. O que tinha acontecido?

“Another Day, and I’m somewhere new

I made a promise that I’ll come home soon

Bring me back, bring me back to you”.

(Outro dia, e eu estou em um lugar novo

Eu fiz uma promessa que eu voltaria logo para casa

Traga-me de volta, traga-me de volta para você).

Beside You – 5 Seconds Of Summer.