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História BACK TO BACK: About A Girl - FIVE


Escrita por: FinnSkada

Notas do Autor


Oi galera
Tá aqui o capítulo adiantado

Boa leitura!

Capítulo 6 - FIVE


Me senti estranha pelo resto do caminho de volta. Permaneci abraçada a ele, mas não trocamos uma palavra sequer. Eu queria falar algo, puxar um assunto, mas não sabia exatamente como fazer isso. Eu devia ter falado que sim, que sentia a mesma coisa, mas talvez se eu falasse agora, ele achasse que eu estivesse com pena dele, ou algo assim. O arrependimento começou a me incomodar como uma vareta me cutucando, e eu decidi apenas abraçá-lo enquanto podia.

Fechei os olhos, mas não por medo. Só queria de alguma forma, eternizar aquele pequeno momento, mesmo sem entender. Eu achei que precisaria guardá-lo. Que fosse especial pra nós dois.

Não demorou muito pra moto desacelerar e o baque de freio se repetir. Novamente os pés de Mike tocaram o chão de uma forma quase permanente. Eu ainda o abraçava quando ele parou e não queria soltá-lo. Mas soltei. Era minha casa.

-Chegamos, Jane...

-Que esquisito você não me chamar de magrela... – Eu me apoiei em seus ombros para descer.

Mike estava com os olhos tão vermelhos que parecia que tinha sido exposto a algo que tinha alergia. Os cabelos bagunçados debaixo do capacete, soltando fios pelo rosto vermelho e ofegante.

-Acho que isso é uma coisa mais do Lucas...

-Você quer entrar? Sei lá, beber água...

Eu não sei por que perguntei isso. No fundo eu sabia, mas não queria acreditar que queria ficar sozinha com ele. Minhas mãos quentes apertavam uma a outra, caídas na altura do zíper da minha calça jeans. Ele ergueu um olhar triste, meio perdido. Quando o sol refletiu em seu rosto, vi marcas de lágrimas secas e silenciosas.

-Quem tá aí?

-Ninguém. – Balbuciei.

Mike desligou a moto e eu fique estática, sem saber bem o que fazer. O nervosismo me fez reparar nos mínimos detalhes. As mãos brancas e ossudas no guidão da moto, ossos cobertos por pele fina, branca e brilhante. O cabelo preto saindo pra fora do capacete de forma desleixada, o maxilar magro e destacado, as bochechas rosadas debaixo do sol salpicadas de sardas vibrantes.

-Porque tá me olhando assim? – Ele saltou da moto, e se colocou a minha frente, enquanto desafivelava o capacete.

-Nada...

-Não vai abrir a porta?

-Vou, eu vou... – Tirei uma alça da mochila e a virei pra frente. Abri o zíper tão rápido que não sei como ele não quebrou. Peguei o molho de poucas chaves com a mão suada e trêmula.

-Quer que eu abra?

Fiz que não com a cabeça e fui andando até a porta em passos tortos. A chave parecia querer fugir da minha mão. Subi os degraus com a mochila presa em apenas um ombro, a outra alça caída e pendurada batia na minha perna em movimentos frequentes. Peguei a chave certa e encaixei na fechadura. Eu a girei, duas voltas completas e silenciosas seguidas de um leve estalar. Girei a maçaneta.

A luz da rua iluminou bruscamente a casa escura. Senti a respiração dele atrás de mim, quase na minha nuca. Meu estômago revirou tanto que quase vomitei. Permaneceria paralisada por um bom tempo se ele não tivesse me empurrado, devagar e silenciosamente, para dentro. Fiquei muda, minha garganta secou por completo e se fechou ao fim do processo.  Fui andando devagar, como se não conhecesse minha própria casa, passos lentos e bem medidos, como se eu pudesse cair dentro de um abismo a qualquer momento. Larguei a mochila no sofá, e reparei que Michael havia trancado a porta. Ele deixou a mochila caída no chão, junta a um canto de parede de veio pisando devagar até mim. Acho que foi de propósito. Todo aquele silêncio entre nós dois, eu podia jurar que ele estava escutando as batidas do meu coração em estéreo.

-Mike... – Balbuciei com dificuldade. Ele estava tão perto de mim que eu podia sentir seu hálito de cereja devido aos pirulitos que ele havia chupado de manhã – O que você quer?

-Água – Ele deu um sorriso lento.

-T-Tá...

Me afastei dele o mais rápido que pude e corri em direção a cozinha. Ele vinha em passos calmos, um leão que sabe pra onde a presa está indo, e que sabe que tem total controle da situação. Abri a porta da geladeira e a luz amarelada iluminou o chão. Ele estava atrás de mim.

-O que você tem? – A voz soou rouca e despretensiosa.

-Nada, Mike... Para de ficar me seguindo, você me assusta.

-Você tem medo de... – Ele colocou as duas mãos na minha cintura e se abaixou um pouco, até com que sua boca roçasse no lóbulo da minha orelha e sussurrou – Fantasmas?

-Para com isso! – Bati a porta da geladeira e andei um passo a frente, fazendo com que ele me soltasse – Eu vou lá em cima pegar dinheiro, aí a gente sai pra comer alguma coisa, não é melhor?

-É sim... Mas eu posso ir com você?

-Quê? Por quê?

-Sei lá, sua casa é meio estranha... Tudo escuro...

-Acende a luz, o interruptor é ali – Apontei e fui em direção a escada.

Ele não foi até o interruptor, ele me seguiu. Passei a mão no corrimão enquanto subia os degraus ele fazia o mesmo movimento, passando a mão no mesmo percurso que minha mão tinha deslizado. O respirar suave dele era o oposto do meu, nervoso, ofegante e desesperador.

-Meu Deus, Mike, você é minha sombra? – Resmunguei nervosa.

-Você é uma péssima anfitriã – Ele riu, logo atrás de mim.

Já estava na porta do meu quarto. Estava escuro e frio do jeito que eu gostava. Achei que fosse propício demais para alguma coisa e andei rápido até a janela. Afastei as cortinas uma para cada lado e puxei a abertura de madeira. O sol forte entrou faiscante e forte como brasa pelo chão do quarto, olhei de relance e Mike estava parado junto a porta me observando.

-Que foi?

-Nada – Ele respondeu se aproximando lentamente. O sol bateu em suas bochechas e suas sardas ficaram nitidamente mais bonitas de uma forma irreal. Ele sentou na ponta da minha cama – Vem cá...

Estávamos a um metro de distância um do outro. Eu procurava dez dólares perdidos no bolso de uma calça jeans. Soltei a calça em cima de uma das muitas caixas espalhadas pelo chão e fui andando em direção a ele, um tanto insegura. Sentei ao seu lado, nossas pernas encostaram uma na outra, separadas por camadas finas de jeans surrados.

-Você ficou chateada por hoje?

-Por você ter me levado pra um matagal sem me avisar e ter feito perguntas esquisitas? Não... – Tentei descontrair.

-Não foi exatamente o que eu quis passar – Ele coçava o maxilar lentamente, quase como um carinho em si mesmo.

-Tá, tudo bem... – Quando eu tentei me levantar, ele segurou meu braço com firmeza. Os quatro dedos fechados em torno do meu pulso. Eu sentei novamente e voltei meu olhar pra ele.

-Você não sente uma coisa estranha quando fica perto de mim?

-Hã? Do que você tá falando? – Tentei desconversar, a mão soltou meu pulso aos poucos, mas permaneci sentada. Ele estava parado, ainda olhando pra mim. Senti como se pudesse mergulhar me perder naquele espaço-tempo que era aquele olhar curioso, quase invasor.

A mão que segurava meu pulso foi de encontro ao meu rosto, mas precisamente ao meu maxilar, bem aberta, com os dedos abrangendo parte do meu pescoço e da minha bochecha. Por um segundo pensei em recuar, mas senti ele se aproximando e fechei os olhos involuntariamente. Primeiro o aroma de bala artificial de cereja voltou as minhas narinas suavemente, depois o hálito quente se espalhou entre meus lábios e eu senti um toque leve, um roçar de lábios quase inexistente, de tão delicado e lento. A outra mão dele segurou meu braço, me puxando pra perto e eu cedi. Soltei meu corpo em direção a ele e ele rapidamente soltou meu braço para envolver minha cintura. Meu primeiro beijo estava acontecendo.

Eu não sabia muito o que fazer, então só acompanhava o que ele fazia. Eu estava nervosa, sentia minhas pernas tremerem tanto, que se eu estivesse de pé, provavelmente desabaria. Ele me apertou mais forte, e eu tive certeza de que aquele beijo ia se intensificar um pouco mais. Abri os lábios lentamente, mas senti uma presença intrusa nos observando.

Meus olhos despertaram olhando ao redor com cautela, mas a primeira coisa que vi foi Mike, de olhos fechados, os lábios nos meus. As sardas tão próximas que dava vontade de tocá-las, ele me apertou ainda mais e eu estava quase fechando os olhos novamente quando vi Lucas olhando pela janela. Me afastei de Mike e ele se assustou, e olhou em volta tentando entender e relaxou quando percebeu o que estava acontecendo. Ele simplesmente sorriu, mordendo o lábio, enquanto encarava Lucas. Seu rosto estava tão vermelho que ele parecia ter passado um dia inteiro debaixo do sol. Seu braço ainda sustentava minha cintura, me mantendo junto dele.

-Mike e Magrela, quem diria... – Ele se debruçou na superfície de madeira – Minha mãe ia vir no meu quarto limpar as coisas agora, imagina se ela vê isso aí? – Ele riu.

-Vê o quê? – Respondi de imediato. Eu sabia que tinha que me soltar do abraço de Mike, mas eu não queria. Fiquei meio que congelada para que ele não tirasse o braço.

-Nada... – Lucas fechava a janela – Ei, não vão dar amassos de novo. Tô indo aí.

Quando a janela se fechou, Mike imediatamente apertou o abraço de novo, acho que pensou que eu iria correr, e pensando bem, eu ia mesmo. Eu queria beijá-lo, mas senti um nervosismo enorme. As bochechas dele estavam novamente em um tom vermelho rosado, e ele parecia estar com vergonha, o que era divertido, vindo de um cara como ele. Ele se aproximou devagar e eu voltei a fechar os olhos, nossos lábios se tocaram outra vez. Eu já me sentia mais a vontade do que da primeira vez, tomei a liberdade de enlaçar o pescoço dele com os braços. A campainha tocou e nos afastamos devagar.

Ilusão minha achar que estava á vontade com aquilo. Meu rosto queimava tanto que eu achei que fosse explodir. Mike não olhava no meu rosto, apesar de manter o braço apertado em volta da minha cintura. As bochechas dele e as minhas pareciam ter contaminado uma a outra por aquele rubor forte e quente. Ele olhava pro próprio colo, e eu também comecei a olhar pro meu. Ficamos assim uns dez segundos.

-Acho que é o Lucas... – Balbuciei.

-Hippie insuportável... – Mike sussurrou.

Soltei-me do abraço dele e me coloquei de pé. Ele permaneceu sentado de cabeça baixa.

-Você não sente nada de estranho mesmo?

-Sim, a campainha – Me esquivei da pergunta enquanto corri até escada.

Saltei os degraus com o coração entorpecido de adrenalina. Meu corpo todo se repuxava e vibrava de uma maneira enérgica e explosiva. Cheguei a porta em um pulo. Minha mão nervosa girou a maçaneta em um movimento simples, mas frenético de certa forma.

-Miss calcinhas... – Will abriu um sorriso largo.

-Você aqui? – Reparei que ele tinha sacolas aparentemente pesadas em mãos – O que foi?

-Minha aula acabou mais tarde, e a Hayes disse que você estava com Mike – Ele desviou de mim e entrou tranquilamente em casa, como se eu o tivesse convidado – Então achei que podíamos fazer alguma coisa.

Will estava sentado no sofá e tinha colocado as sacolas e os tênis sujos de terra na mesinha de centro. O cabelo caía sobre uma camisa preta do Joy Division.

-Cadê o Mike?- Ele procurou em volta, apenas virando a cabeça para os lados.

Minhas bochechas continuavam queimando, eu não lembro delas terem parado um momento sequer naquele dia após ter encontrado Mike. Eu tentei pensar numa boa resposta que não soasse duvidosa, mas era difícil. Apertei a maçaneta gélida com força enquanto as palavras serpenteavam em minha mente. Ergui o olhar ao ver Mike no alto da escada, a calça jeans clara contrastando com o jeans escuro da jaqueta. Seus olhos sustentaram os meus por um breve período de tempo no qual ele estava lá, lindamente parado, imóvel como uma estátua congelada pelo tempo. Quando ele deu seu primeiro passo e os cabelos desceram e subiram com os movimentos, senti meu coração bater, lá dentro, intenso e assustador, um soco interno. “Não como um amigo”, uma voz sussurrou em minha cabeça enquanto eu o via descer. Essa voz ecoou em meio ao silêncio e me fez arrepiar.

-Cadê o Mike? – Byers repetiu.

-Estou aqui, querida – Mike mudou de repente, ao ver que Will estava na sala – Como soube que eu viria pra casa da magrela?

-Magrela? – Will soltou uma risadinha, mas a abafou com a mão – Jenn me disse...

-Jenn... –  Ele revirou os olhos e se aproximou de Will, sentou no sofá, ao seu lado e se inclinou para mexer nas sacolas – O que você trouxe aí?

-Refrigerante, salgadinhos, rosquinhas...

Eu estava quase fechando a porta quando Dustin chegou. Ele estava parado, há alguns metros de distância da porta e eu não tinha reparado. Abri a porta por completo para que ele me visse. Ele apontou pra Harley e deu um sorriso largo como se me perguntasse alguma coisa, e prontamente assenti com a cabeça. Se aproximou com passos lentos até ficar bem perto de mim e olhou sobre o meu ombro, Mike e Will conversando asneiras no sofá.

Lucas apareceu logo atrás dele. Achei que ele viria me chamando de magrela, mas ele só tinha um sorriso sereno no rosto. Coloquei-me de costas coladas na porta pra que eles entrassem e foi o que eles fizeram. Houve um silêncio calmo, quase terno sustentando olhares. Todos eles sorriam entre si enquanto eu fechava a porta.

Lucas e Dustin se sentaram com Will e Mike no sofá, e eu fui a cozinha pegar copos e duas bandejas pra por os salgadinhos e os donuts. Foi rápido, mas não deixei de ouvir nenhuma parte daquela conversa amistosa. Eu podia jurar que eles nunca tinham se separado. Abriam os refrigerantes, o gás soava como fogos, o líquido batendo no fundo do copo e subindo em forma de bolhas, os salgadinhos caindo na bandeja e sendo cobertos por seus próprios farelos, Dustin melando os dedos de açúcar confeiteiro ao derramar as rosquinhas na superfície metálica, Mike ao meu lado, jeans contra jeans...

-Posso pedir uma coisa a vocês? - Interrompi uma conversa sobre um acampamento que eles fizeram aos doze.

Eles se entreolharam ritmados e os olhares voltaram para mim, em forma de concordância.

-Parem de me chamar de magrela...

Eles começaram a rir devassadamente. E em meio aquelas gargalhadas eu me senti em paz. Me senti muito bem, como há muito tempo eu não me sentia.

Nós cinco. Uma paz se instalou dentro de mim. Um furacão foi finalizado, uma guerra vencida. Aquilo era a resposta. Aquelas risadas, sorrisos e cabelos. Aqueles garotos e eu, nós cinco. Eu não poderia explicar como era reconfortante estar em família, sim, família. Era exatamente assim que eu me sentia. Me sentia capaz de fazer qualquer coisa por aqueles garotos. Sim, eu faria. Finalmente, depois de dezesseis anos, eu havia achado o meu lugar. Onde eu não me sentia excluída, nem evitada. Eu não era a esquisitona, eu não era a estranha. Eu era só eu. E nós éramos cinco.


Notas Finais


Próximo capítulo sexta.

Loboduro.


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