1. Spirit Fanfics >
  2. Backstage >
  3. Capítulo III

História Backstage - Capítulo III


Escrita por: Aiki-Shimizu

Notas do Autor


Hey meus amores!

Um pedido apenas: Não julguem o capítulo pela grande quantidade de palavras. Eu juro que tentei sintetizar, mas a chegada de novos personagens fez com que eu acabasse precisando me exceder. Mas tem bastante diálogos, eu acho que não vai ser exaustivo.

Capítulo dedicado as princesas @Lizzy-san, @Miss_Amelie e @BlackPrincessW ❤ ❤ ❤

Tenham uma ótima leitura!

Kisses❣

Capítulo 3 - Capítulo III


Fanfic / Fanfiction Backstage - Capítulo III

DOIS DIAS, apenas 48 horas foi o espaço de tempo para que Diana tentasse, inutilmente, relaxar da tensão que o telefonema e o ‘presente’ haviam lhe causado.

Embora ficasse em alerta, cheia de receios nos dois dias que se seguiram, ela não teve nenhum indício de que seu perseguidor voltaria a agir. Nenhum novo contato fora feito, nenhum outro presente fora enviado, nem tinha a sensação de alguém estar lhe seguindo ou observando quando saía de casa.

Entretanto, Diana ainda nutria um leve desconforto em seu peito, uma intuição que a incomodava que, por conveniência, ela preferiu ignorar. Preferiu reforçar sua teoria que sofrera um trote e que não havia mais com o que se preocupar, exceto as fofocas que proliferavam sobre ela nos tabloides após a entrevista com Leonardo di Caprio.

O telefone tocara o dia todo, jornalistas querendo uma entrevista, a fim de plantar mais indícios de que havia um affair entre ela e o ator. Tudo isso porque durante a entrevista com os protagonistas de Titanic, Diana e Di Caprio reencenaram, ao vivo, a icônica cena em que Jack ensina a Rose o que é a sensação de liberdade, ao conduzi-la para a proa do navio, pedindo que ela abrisse os braços contemplando a imensidão do mar e o vento em seu rosto.

‘Dirigidos’ por Kate Winslet, Diana e Leo reproduziram a cena, com direito a My heart well go on de Celine Dion tocando ao fundo. A plateia fora a loucura e os abutres da imprensa também, sugerindo que havia muita química entre o ‘casal’ e até que Kate Winslet teria saído do programa magoada com Prince, por se tornar uma rival dela ao coração de Di Caprio, embora a atriz fosse comprometida.

“Ossos do ofício, Diana. Daqui a alguns dias outra celebridade é o foco ou já inventaram outro despautério ao seu respeito”. Diana murmurou para si mesma, olhando sua foto com Di Caprio estampando vários jornais e respirando fundo quando o telefone tocou pela vigésima vez naquele dia.

Ela estava atrasada para o trabalho e disposta a não atender, mas como Donna havia saído com os amigos e se esquecera de levar o celular, reconsiderou, pensando que pudesse ser a irmã avisando que chegaria tarde ou algo do tipo. Se fossem jornalistas, ela simplesmente os dispensaria educadamente e não perderia tempo explicando algo que eles não faziam questão de entender.

― Residência Prince. – Diana atendeu com um meio sorriso, terminando de colocar o relógio no pulso, preocupada com o horário.

Não houve resposta de imediato, apenas uma risada forçada num primeiro momento.

Não era Donna. Tampouco jornalistas ou qualquer outra pessoa que ela gostaria de ter atendido. Era a mesma voz daquela madrugada. A maldita voz abafada, empenhada em aterrorizá-la, que gargalhava satisfeita ao reconhecer que a própria Diana havia atendido ao telefone.

Diana poderia ter quebrado o telefone, tamanha a força com a qual o segurou, enquanto ouvia as palavras de seu possível algoz.

― Pensou mesmo que ia ficar livre de mim, Prince?! – A voz se divertiu com o som da respiração irregular de Diana ao telefone. ― Só quando você me implorar para morrer, maldita. – A voz soou com uma irritação velada.

Diana não era uma mulher de se abalar facilmente, nem de se sentir acuada. Mas o traço de ódio naquela voz a paralisava momentaneamente, a fazia suar frio, mesmo com poucas palavras. Entretanto, ela sabia que deixar transparecer seu temor repentino só incentivaria aquela pessoa a prosseguir atormentando-a.

― Escute, eu não tenho tempo para trotes. – Diana soltou um riso fraco, se esforçando para não transparecer que ficara abalada.

― Trotes?! Acha mesmo que isso é um trote, maldita?! – A voz elevou o tom. ― Você vai pagar, Prince. Você é uma farsa, uma maldição. Eu vou me vingar pelo que você fez.

Vingança? O que poderia ter feito de tão ruim para alguém odiá-la e querer se vingar? Diana questionou-se, concluindo que estava lidando com algum lunático desocupado. Ou talvez algum fã de outra celebridade, algumas das muitas que a imprensa vivia inventando rivalidades com ela para ter pauta nos canais de fofoca e nas revistas.

― Honestamente, ainda que isso não fosse um trote, eu nunca fiz mal a ninguém. Se isso é por causa do meu trabalho... – Ela suspirou, sabendo que seria perca de tempo dialogar. ―Acha mesmo que vai me intimidar? – Diana tentou argumentar, inutilmente, logo sendo cortada pela voz do outro lado da linha, ainda mais enfurecida.

― NUNCA fez mal a ninguém? VOCÊ destruiu uma vida. Você pode enganar a sociedade, seus amigos, sua família... Mas eu sei quem de fato você é. E quero justiça. – O telefone ficou mudo, depois da última ameaça e de uma série de xingamentos que Diana sequer ouviu, por estar estática e tomada por um temor que abalou seus nervos e raciocínio.

Levou cerca de dois minutos para ela voltar a si, colocar o telefone no gancho e ir até a cozinha tomar um pouco de água, enquanto tentava se convencer que aquilo fora um novo trote. Embora o fato da nova ameaça ter sido feita pelo seu número residencial lhe deixar extremamente preocupada.

Ela agradeceu aos céus por Donna não estar em casa. Não queria que essa pessoa, que estava tentando aterroriza-la, fizesse o mesmo com sua irmã e também não queria que Donna lhe visse no estado em que estava agora, insegura, frágil, assustada.

Lembrar-se de Donna, fez com que se lembrasse da promessa que fizera à irmã, de procurar a polícia caso acontecesse qualquer novo contato ou ação suspeita que sugerisse uma ameaça. Mas, se havia algo que Diana tinha resistência era ter que lidar com policiais.

Sem querer pensar muito sobre isso no momento, Diana focou-se no que precisava fazer agora: Trabalhar. Seu programa era seu maior lazer, as horas que passava na emissora com sua equipe e superiores eram sempre agradáveis, e lá não teria nada com o que se preocupar, apenas em conduzir uma entrevista maravilhosa com as Spice Girls.

Ela apanhou o sobretudo e a bolsa Louis Vuitton deixados sobre o sofá, ergueu o queixo e saiu porta a fora, rumo a garagem. Um telefonema, por mais que fosse suspeito e horripilante, não iria paralisa-la e nem fazê-la fraquejar.

 

(...)

 

Qualquer um que conhecesse bem Diana Prince, teria notado que a apresentadora não era a mesma durante a apresentação do The Prince Show aquela madrugada.

O bate papo com as Spice Girls prometia ser uma das entrevistas mais proveitosas da semana. A girl band estava no auge do sucesso e o perfil versátil das integrantes permitia que Diana ousasse nas perguntas e na temática do roteiro pré-estabelecido para a noite.

Contudo, a conversa não se aprofundou como Diana havia planejado, sua espontaneidade estava comprometida pelo episódio que acontecera consigo antes de sair de casa. Ela estava agindo mecanicamente, como uma apresentadora competente, mas faltava o improviso, o feeling empregado em cada entrevista para fazer de cada programa único, irreverente, emocionante.

Ainda assim, Diana era inteligente e carismática, a falta de entusiasmo e de concentração para conduzir a entrevista não foi notada pelo grupo feminino, já que a apresentadora abriu um espaço maior para performances musicais das garotas. Num programa ao vivo, ela precisava se virar, devia respeito ao público e às convidadas, por isso, deu o melhor de si, mesmo estando interiormente contrariada por ater-se às perguntas clichês.

Pela primeira vez em sua carreira, fora um alívio quando as luzes do estúdio se apagaram e ela terminara o seu trabalho. Até cumprir a rotina de atender os fãs da plateia fora sofrível aquela noite e ela se perguntava o porquê. Não deveria ter se deixado abalar tanto. Ela não devia nada a ninguém, porque temer a ameaça de um ‘vingador’ via telefone? Ela se perguntava, mas sua consciência tranquila não era capaz de amenizar sua intuição aguçada, a sensação de perigo que crescia dentro de si.

Ela deixou o estúdio, rumo a sala de reuniões, sem a menor disposição para debater a pauta do programa do dia seguinte. Especialmente porque o entrevistado seria o presidente Bill Clinton, num momento tenso da política americana, em que o mesmo estava sob risco de impeachment.

Política, sem dúvidas, era a temática que Diana mais detestava abordar em seu programa. Mas, vez ou outra, ela abria espaço para tais entrevistas, por compromisso com o público em levar não somente entretenimento, mas também informação de qualidade. E ela não podia negar que a oportunidade de ter conseguido uma entrevista com Clinton era única. Se ela conseguisse fazer um bom trabalho na condução do programa, seria um marco em sua carreira e uma prestação de serviço público aos cidadãos americanos ao mostrar um pouco mais do líder de seu país.

Ela também não estava disposta a ouvir as reclamações de John sobre o programa de hoje. Sabia que ele estava uma fera, não foram uma ou duas advertências em seu ponto durante o programa. Bastava sua cobrança pessoal para massacrá-la por meses pela decepção consigo mesma esta madrugada.

“Coragem, Diana! Coragem!” Ela tentou se estimular, ao abrir a porta da sala e encontrar olhares preocupados, confusos e curiosos do diretor, roteiristas e produtores voltados para si.

 

(...)

 

― Diana! – A voz de Wally fez com que Diana se detivesse na porta do camarim. O olhar cansado e pouco receptivo da princesa da comunicação, pós-reunião, o intimidou um pouco. ― Me desculpe, você está cansada, eu não queria incomodá-la.

― Tudo bem, Wally. Não foi um bom dia, mas você não tem culpa disso. – Ela esboçou um sorriso fraco, encorajando o rapaz.

― Eu só queria dizer que não achei o programa ruim. John pegou pesado com você lá dentro. – Ele se referiu à reunião. ― Você é maravilhosa. Mesmo em um dia difícil como você nos explicou. – O ruivo sorriu e coçou os cabelos, desconcertado diante de sua diva.

― Você é um amor, Wally. Não precisa minimizar as cobranças que recebi hoje, foram justas. Eu mesma não vou pegar leve comigo.

― É claro. Eu sei que você é uma mulher incrível, uma profissional diferenciada. Só não se martirize. De qualquer forma, você sempre será a melhor. – Ele falou rápido demais, se arrependendo da afobação ao notar o sorriso divertido de Diana. Ela devia estar o achando um tolo. Um tiete adolescente.

― Obrigada, Wally! – Ela alisou rapidamente o ombro do estagiário. ― Agora, se me der licença, eu ainda tenho algumas ligações de fãs para atender. ― Ela se despediu, educadamente, sentindo um frio no estômago ao pensar que aquela ligação ainda poderia se repetir naquela madrugada.

Frustrado, mais uma vez, por não conseguir convidar Diana para sair, Wally enfiou as mãos nos bolsos da jaqueta, se despedindo com um sorriso fraco e raiva de si mesmo por não ter agido como deveria.

Diana o observou sumir pelo corredor, com a mão apoiada na maçaneta da porta. Agora, até seu momento favorito da noite estava sendo afetado por causa de um trote, um maldito trote que mexera mais que deveria com suas emoções.

Respirando fundo, ela girou a maçaneta, abrindo a porta abruptamente. A figura de um homem, sentado no sofá, com o jornal aberto na altura do rosto quase a fez dar um salto para trás. Fato que só não ocorreu, porque ele baixou o jornal logo que se deu conta da presença dela e abriu seu sorriso amplo e amigável.

Diana soltou o ar preso em seus pulmões, aliviada ao reconhecer o visitante. Mas, no mesmo instante, pensou se o programa havia sido tão ruim assim para o dono da emissora se dar ao trabalho de vir pessoalmente repreendê-la.

― Você não parece feliz em me ver, Di! – Ele levantou-se, cumprimentando-a com um beijo no rosto.

― Não é todo dia que recebemos a visita do chefe de madrugada. – Ela se justificou, enquanto ele gesticulava para que ela se sentasse, fazendo o mesmo em seguida. ― Diga-me, Clark, a que devo a honra? Você não deixa o Kansas se não tiver um bom motivo.

Clark Kent era um homem de 35 anos, herdeiro da Planet TV, bonito de fazer qualquer mulher suspirar e perder o foco ao se distrair com o rosto perfeito, os olhos azuis claros e calmos, e o corpo robusto e tentador. Entretanto, para a decepção de quem se interessasse, o jovem empresário era muito bem casado.

Ainda que tivesse herdado a emissora do pai, já falecido, Kent preferia cuidar dos negócios à distância. Vinha poucas vezes à Gotham, preferindo a vida campestre no Kansas.

― Você é um ótimo motivo, Diana. – Ele a encarou profundamente. E se não fossem tão bons amigos, Diana diria que aquilo tinha sido um flerte. ― Precisamos conversar.

O estômago de Diana gelou. A gentileza no olhar de seu chefe assumira uma preocupação perceptível e ela sabia que não fazia o menor sentido que a pauta desta conversa fosse o programa morno de hoje. Ela era líder de audiência desde a estreia, o programa era recordista de merchandising e tinha um dos intervalos mais caros da emissora.

― Alguma insatisfação com meu trabalho, Clark? – Ela se ajeitou no sofá, assumindo uma postura tensa.

― Não, Di! – Ele balançou a cabeça. ― Você é a prata da casa. Uma das contratações mais bem sucedidas da emissora. – Ele sorriu, mas Diana não exibiu a satisfação ao ouvir isso, ela ainda não estava aliviada quanto ao rumo do assunto. ― E justamente por isso, quero zelar pelo seu bem estar e sua segurança. Precisamos dar atenção à ameaça que você recebeu, Diana.

O fato de Clark já estar ciente da ameaça deixou Diana visivelmente surpresa, mais do que o fato dele ter se despencado pessoalmente para vir tratar do assunto com ela. Percebendo a confusão no olhar da morena, o empresário antecipou as explicações.

― John me contou o que houve, Diana. – Uma nova confusão permeou a mente de Diana. Ela não havia contado a John sobre o incidente. Mas logo ela se lembrou de Shayera, a atendente da central de atendimento ao telespectador. Ela sabia que a ruiva tinha um envolvimento com o seu diretor. Se ela havia contado para Donna, é claro que iria contraria contar para John também. ― Você não deveria ter omitido o que aconteceu. – Clark a censurou.

― Clark, seria ridículo eu partilhar um trote com os meus superiores. Eu não tenho inimigos. O que aconteceu foi uma triste eventualidade.  ― Ela levantou-se, caminhando até o frigobar. Estava com uma sede repentina ou apenas desconfortável com a conversa.

― Aquilo não foi um trote, Diana. E posso perceber em sua postura que você também não acredita que tenha sido. – Ele também se levantou, para olha-la nos olhos. ― Eu assisti ao programa de hoje dos bastidores. Você estava diferente. Aconteceu de novo, não foi?

Diana não queria comentar com ninguém sobre o novo telefonema. Mas sabia que não dormiria esta noite, nem nas próximas, se não desabafasse com alguém. Falar lhe ajudaria a lidar melhor com a situação, talvez Clark, ouvindo de sua própria boca, achasse tudo isso um absurdo. Certamente John exagerara no que contara ao dono da emissora, para tê-lo feito vir até Gotham. Dar a sua versão da história para alguém centrado e sensato como ele, era uma boa alternativa.

― Ele ligou para minha casa. – O semblante sereno de Clark foi alterado pela testa franzida. ― Me preocupou o fato dele ter o telefone de lá, mas foi o mesmo trote. Ofensas gratuitas, ameaças de morte, disse que vai fazer justiça. – Ela forçou um sorriso. ― Disse que eu destruí uma vida. Eu não mato uma barata voadora, Clark.

Clark não falou nada. Ele puxou Diana pelo braço e a fez sentar-se novamente. Ele alisou o queixo antes de prosseguir, deixando-a ansiosa. Ela esperava uma palavra de conforto agora, não suspense vindo da parte dele.

― Diana, eu não posso ficar de braços cruzados quando um de meus contratados sofre ameaças desse tipo. Eu comuniquei o acontecido à polícia.

― Você o que? – Diana esbravejou, após passar o susto da revelação. ― Clark, eu não quero a polícia nisso. Tenho os meus motivos. E, além disso, já pensou no escândalo se isso se tornar público? Aí sim essa pessoa nunca vai me deixar em paz. Vai continuar se divertindo as minhas custas.

― Diana, vai ser tudo mantido sob sigilo, não se preocupe. Ainda que seja um trote, o que essa pessoa está fazendo é contra lei. Não vou permitir que isso se estenda e você não pode me contestar.

— Foram apenas duas ligações e um presente macabro.

— Não foram apenas duas ligações, Di. – O homem revelou e Diana o encarou, perplexa. — Ele tentou falar com você aqui nas duas últimas madrugadas, mas você já havia atendido a cota de fãs da noite. Não satisfeito, ele deixou recado, se é que me atende.

Diana afundou no sofá, em choque. Ela não esperava por esse novo fato.

— Tudo bem, Clark, são quatro trotes então. Ainda assim, não precisamos ficar tão alarmados. – Diana tentou argumentar, mas ver Clark se levantar e apanhar dois embrulhos ao lado da penteadeira do camarim a fez congelar.

O empresário perguntou-lhe se ela gostaria de ver o que havia dentro e embora não quisesse, ela disse que sim. Sempre fora corajosa, podia lidar com o que estivesse ali dentro.

A primeira caixa tinha uma boneca, dela, esquartejada, somente com o rosto intacto, com uma mensagem de seu carrasco dizendo que talvez guardasse sua cabeça de lembrança.

A outra caixa continha mechas de cabelo preto, cabelo que Diana não queria pensar de onde havia saído. Havia outra mensagem, desta vez, dizendo que ele mandaria uma recordação para a irmã de Diana, depois que executasse sua sentença.

A vontade de Diana era se encolher num canto e abraçar os joelhos, permanecendo muito tempo nesta posição. Mas ela apenas respirou fundo diante de Clark, tentando se conter, lutando para mascarar o pânico e o horror em seu olhar.

― Ele vai se cansar! – Ela bufou, não soando muito convincente.

Clark meneou a cabeça. Sabia como Diana era teimosa e orgulhosa, mesmo diante de uma situação como aquela.

― Mas enquanto ele não se cansa, você surta. – Ele massageou os ombros de Diana. ― Renda-se, Diana! Eu já fiz o que precisava ser feito. É melhor lidarmos com isso o quanto antes.

Deixando os ombros caírem e engolindo o orgulho, Diana o encarou.

― Duvido que você aja assim com Lois. – Ela o provocou, sabendo o quanto a esposa dominava o marido.

― Eu aprendi a agir assim com ela. – Ele deu um beijo na testa de Diana, ao ouvir batidas na porta. ― Nos entendemos muito bem.

Clark abriu a porta e Diana fez uma nota mental de que nunca ficara tão surpresa numa mesma madrugada. Lá estavam os olhos azuis, surpresos de novo, ao notarem um casal parado diante da porta de seu camarim, fitando-a com um olhar frio e sutilmente escrutinador, quando Clark abriu-lhes passagem para entrarem.

A mulher parecia um anjo com seu 1,65 de altura, dona de um potencial de beleza capaz de levar um homem ao céu ou ao inferno, com seu corpo petit, moldado por curvas perfeitas, os olhos azuis brilhantes e o cabelo loiro sedoso caindo em leves ondulações até o meio das costas. A pele era alva e delicada, e ela usava um blazer preto, com um corte moderno e caimento acinturado, dando-lhe uma sensualidade velada ao combinar com a calça de couro e as botas de cano curto, também nas cores preta.

O homem ao seu lado parecia ter o dobro de seu tamanho, devido ao porte físico e o que Diana julgou ser cerca de 1,90 de altura. Os cabelos negros e lisos estavam ligeiramente bagunçados, conferindo-lhe um charme à parte, assim como alguns fios grisalhos nas laterais. Entretanto, Diana sabia que o homem não passava dos 35 anos, assim como seu chefe. Os olhos acinzentados, o maxilar quadrado, o rosto másculo e enrijecido, rendiam ao moreno uma atratividade inexplicável. Isso sem contar no peitoral definido, marcado sob a camisa de alfaiataria assinada por Tom Ford, as pernas fortes sob um jeans esporte fino e os ombros largos cobertos por uma jaqueta de couro preta.

O olhar do homem para si era gélido, mas Diana podia jurar que vira um meio sorriso se formar em seus lábios, quando se deu conta que havia passado tempo demais o observando e os olhares se encontraram, causando um certo rubor em suas bochechas.

― Senhor Kent. – A loira foi a primeira falar e não disfarçou um sorriso de divertimento por ter percebido o escrutínio de Diana sobre seu parceiro. ― Imagino que tenhamos lhe dado tempo suficiente para convencê-la.

Diana lançou um olhar mortal para Clark. Ele havia dito que tinha comunicado à polícia, não que já estava com a polícia ali. Clark ignorou a repreensão silenciosa de sua estrela e abriu espaço para a dupla se apresentar.

― Sou a detetive Lance e este é o meu parceiro, detetive Wayne. – A loira apertou a mão de Diana, que estava visivelmente desconfortável com a situação.

― Imagino que já tenho ouvido falar de Bruce Wayne, Diana. – Clark deu um tapinha no ombro do detetive. ― Nós estudamos juntos em Harvard. Nessa época ele era apenas o Príncipe de Gotham, um dos homens mais ricos do mundo e um solteirão cobiçado. Mas hoje ele é também o melhor detetive da América. Eu a estou colocando em boas mãos. – Clark sorriu para o velho amigo, mas Bruce apenas se dignou a estudar as feições intrigadas de Diana.

É claro que Diana conhecia Bruce Wayne. Fosse pelo seu caso com famosas ou por sua posição confortável no ranking da Forbes. A hight society sempre falava do herdeiro Wayne, da sua juventude inconsequente, do absurdo dele ter aberto mão de gerir as empresas da família para trabalhar como detetive – numa instituição pública, podendo montar uma agência particular de primeiro mundo. E ainda por ser considerado o melhor partido da América, embora seus relacionamentos não tenham durado muito.

Ela se lembrava de ter cruzado com ele em eventos beneficentes, umas duas ou três vezes, se não estivesse enganada. Numa das ocasiões ele ainda namorava a cantora Jennifer Lopez e na outra estava de caso com a atriz Charlize Theron.

― Como vai, detetive Wayne? – Diana estendeu a mão para cumprimenta-lo, mas surpreendeu-se quando ele a levou aos lábios, beijando-a, sem deixar de encara-la. Um olhar que fez Diana estremecer interiormente.

― Pode nos contar o que tem acontecido, senhorita Prince?– A detetive Lance salvou Diana de um leve desconcerto ante o olhar do seu parceiro.

Diana voltou sua atenção para a loira, sentindo um estranho calor com o olhar de Bruce ainda sobre si. Embora ele fosse perigosamente sedutor, algo em sua postura impassível lhe passava insolência, deixando-a ligeiramente incomodada.

Com certa má vontade, ela relatou os telefonemas, os presentes e frisou sua insatisfação em ter a polícia envolvida no assunto, reiterando que aquilo, para ela, não passava de uma reprimenda, trote ou qualquer outra coisa sem importância, de alguém querendo se divertir as suas custas.

Os detetives ouviram tudo, sem contra-argumentar, apenas trocaram um olhar de cumplicidade entre si, que fez Diana pensar que fossem bastante íntimos.

— As ligações foram gravadas? – O detetive Wayne virou-se para Clark, que assentiu, explicando que apenas não tinham o arquivo da última ligação que Diana recebera em casa. — Mostre os arquivos para a detetive Lance, Kent. Eu vou fazer algumas perguntas para a senhorita Prince enquanto isso.

Clark recolheu os embrulhos com os ‘presentes’ enviados à Diana e saiu acompanhado da loira, desejando sorte, mentalmente, ao velho amigo, para lidar com sua estrela.

Bruce apoiou os quadris na borda de uma mesa que havia na sala, cruzou os braços e examinou a princesa da comunicação de cima a baixo. Uma mulher espetacular, ele reconheceu, antes de qualquer coisa.

Diana cruzou os braços e arqueou uma sobrancelha ante a avaliação nada discreta do homem, que a irritou sobremaneira. Se ele estava considerando-a como sua próxima conquista famosa, era melhor não se iludir. Definitivamente, ele não era o tipo de homem com o qual se envolvia – embora não se envolvesse com nenhum tipo há quase dois anos.

— Algum problema com o meu figurino, detetive? – Diana foi sarcástica, captando o olhar de Bruce sobre suas coxas expostas pelo vestido rosa, justo, e nem tão curto.

— Apenas comparando a imagem que tenho de você na TV e nas revistas, com a imagem real ante meus olhos. Não era exatamente como eu imaginava. – Ele disparou, naturalmente, despertando um misto de curiosidade e raiva em Diana pelo comentário.

Ela não ousou a questioná-lo sobre o que ele esperava, tampouco ele daria explicações. Mas a verdade é que ela era muito melhor que Bruce se lembrava. Mesmo recordando-se de vê-la em alguns eventos, ele nunca tivera oportunidade de se aproximar da badalada Princesa da Comunicação. Ambos estavam em círculos de atenção diferentes, embora o Príncipe de Gotham nutrisse uma admiração secreta por Prince.

— Não me importo com suas expectativas. Apenas agradeceria se fizesse logo o seu trabalho. – A irritação em sua voz só deixou o detetive ainda mais satisfeito.

Ele sentou-se muito à vontade no sofá do camarim, fazendo com que Diana o achasse folgado demais para um detetive. Decerto ele deveria achar a profissão um passatempo, Diana intuiu, equivocadamente.

― Certo, princesa! – O tom pelo qual ele a chamou de ‘princesa’ pareceu um tanto desdenhoso e implicante. Diana estava começando a detestar aquele detetive e disposta a fazer Clark compensá-la por passar por isso. ― Há quanto tempo está em Gotham? – Ele começou a tomar nota, enquanto ela respondia com muita má vontade.

― Um ano e alguns dias.

― Fez algum inimigo?

― Um vendedor de enciclopédias. Bati com a porta na cara dele depois de repetir exaustivamente que não queria comprar nada.

Bruce observou Diana enrolando uma mecha de cabelo com os dedos, tentando transparecer que não estava interiormente aflita. Mas ele era experiente o suficiente para interpretar o sinal como um esforço de concentração.

― Terminou algum relacionamento recentemente?

― Não! – Ela rolou os olhos.

― Está namorando?

Os olhos azuis flamejaram. Aquilo já estava ficando ridículo.

― Tem certeza que é um detetive? Ou seria um jornalista da People* disfarçado?

Bruce se ajeitou no sofá como um tigre que avalia sua presa. A intensidade de seu olhar, e sua postura, intimidou e fez Diana transpirar a palma das mãos. “Que homem!” Ela disse para si mesma, se repreendendo em seguida.

― Senhorita Prince, isso não é pessoal. É o meu trabalho. Ciúmes e rejeição são poderosos motivadores para este tipo de situação.

Se ele soubesse da sua abstinência afetiva-sexual nos últimos tempos, não começaria a trabalhar com esta hipótese, Diana pensou. Entretanto, não iria revelar a ele seu fracasso na vida amorosa.

― Não estou envolvida com ninguém no momento. – Ela deu de ombros.

― Não é o que dizem as revistas. – Ele rebateu, só para vê-la enfurecer-se. Ele próprio era vítima da imprensa, sabia a quantidades de inverdades publicadas diariamente sobre celebridades e destaques da high society. ― Mas fico feliz em saber que tenho lido boatos. – Ele deu-lhe um meio sorriso, típico de um playboy sedutor.

― É melhor se colocar em seu lugar, detetive.

― O que lhe faz pensar que estou saindo dele? – Ele franziu a testa e usou sua melhor expressão de indiferença para frustrar a dedução repentina que Diana tivera. ― Isso não foi uma cantada. Apenas uma observação pessoal. – A voz soou indiferente, embora a revelação tivesse o agradado de fato. ― Vou precisar de uma lista com nomes dos homens com os quais se envolveu no último ano, não necessariamente um namoro. Qualquer tipo de relacionamento em um nível pessoal.

― Não me envolvi com ninguém no período. – Diana revelou, imediatamente, e viu um misto de espanto e incredulidade no olhar de Bruce. ― Corrigindo, não quis me envolver com ninguém no último ano. – Ela tentou sair por cima.

― Talvez alguém não tenha pensado assim. Nem sempre a outra pessoa precisa de reciprocidade para desejar, para fantasiar uma relação.

― Se esse for o caso, vai ter que intimar milhares de expectadores não só de Gotham, mas de toda a América. – Ela o encarou, cansada. Depor sobre aquilo era pior do que ela poderia imaginar. ― Apenas entenda que eu não fiz mal a ninguém, absolutamente ninguém, para ser vítima deste tipo de trote. – Pela primeira vez, Bruce viu temor no olhar dela.

― Eu tenho certeza que não. – Ele deu-lhe um olhar compreensivo e isso foi o suficiente para desmontá-la da postura defensiva, fazendo-a relaxar os ombros.

Bruce a encarou, ficando longos segundos em silêncio novamente, estudando-a. A forma que ele parecia desnuda-la deixou Diana nervosa e excitada. “Inferno de homem tentador”. Sua mente estalou, enquanto ela também o encarava com a mesma intensidade.

Bruce não precisou de muito tempo para perceber que Diana era uma mulher valente. Ainda que impactada pelo ocorrido, ela se mantinha firme, sem histeria, sem desespero. Qualquer outra celebridade sebosa – e ele conhecia muitas – estaria tentando colocar o FBI no caso. Mas ela estava ali, lidando com aquilo tudo sozinha, desconfortável até mesmo por ter detetives cuidando do ocorrido.

Involuntariamente, ele sentiu vontade de tocar aquele queixo delicado e acariciar levemente aquela pele sedosa, enquanto lhe garantia que tudo aquilo terminaria bem, se deleitando naqueles olhos azuis vibrantes. Mas ela provavelmente morderia sua mão, ou o arranharia na melhor das hipóteses. Diana podia ser simpática, carismática, educada, mas aquele rosto angelical escondia também uma mulher feroz, arisca, ele podia sentir em seu olhar.

― Não vou tomar mais o seu tempo por hoje, princesa. – Ele se levantou, quando se deu conta que seus pensamentos haviam perdido o foco. ― Apenas quero que pense, qualquer algo estranho que tenha ocorrido no último ano pode ser relevante para chegarmos ao nosso vingador psicótico. – A voz dele agora só tinha profissionalismo e Diana sentiu falta daquela gentileza demonstrada minutos atrás. ― Não é muito por agora, mas é assim que trabalhamos. Pelo que sabemos, a pessoa usa um modificador de voz, portanto, não podemos nem ter total certeza que seja mesmo um homem.

― Eu sei como funciona o trabalho da polícia. – Ela concordou e uma certa amargura em sua voz deixou Bruce curioso. Mas não era hora para focar naquilo.

― Certo, está dispensada por hoje, senhorita. Amanhã a detetive Lance e eu a procuraremos para dar um parecer da análise das gravações.

― Ah ótimo! Vou ter que conviver com policiais agora. – Ela fez uma cara birrenta, que quase fez Bruce sorrir. ― E, além disso, o detetive acha que é meu chefe. Ou será que acha que meu camarim é uma extensão da delegacia?

Ela o desafiou com o olhar e a mente de Bruce soltou um “Uau”. Linda, doce e fera. Uma personalidade especialmente atraente.

― Só acho que uma noite de sono lhe faria bem. Você parece cansada, embora isso não tenha afetado sua beleza. – Agora ele estava teatralizando, em parte, mas isso foi o suficiente para Diana decidir que ir para casa era uma ótima ideia. Mais um minuto ao lado do Wayne e ela não teria a menor noção do que poderia acontecer.

Ela apanhou a bolsa e o casaco, e deixou o camarim quando ele gentilmente abriu a porta para que ela passasse.

“Um detetive playboy, eu mereço”. Diana refletiu, enquanto caminhavam lado a lado, em silêncio, pelos corredores do estúdio, até encontrarem com Clark e a detetive Lance.

Eles trocaram poucas palavras sobre o início das investigações e seguiram juntos para o estacionamento, onde Diana e Clark foram os primeiros a se retirar. Quando ficaram a sós, Dinah Lance pode enfim conversar abertamente com o parceiro.

― E então, Bruce! O que acha do caso?

― Ela é teimosa, arisca e cheia de personalidade. Atraente e perigosa, como uma rosa espinhosa. – Ele encarou a parceira, já sentada no banco do carona. ― Um caso desafiador. – Ele concluiu, dando partida no carro.

― Eu não perguntei sobre a vítima, Bruce. – Dinah sorriu, percebendo que aquilo poderia não terminar bem.

― A voz é só mais um louco com os quais estamos acostumados a lidar. Seja honesta, tem algo mais interessante do que Diana Prince nesse caso?

Ele acelerou o carro de volta à delegacia, apenas recebendo um olhar de reprovação da parceira como resposta.


Notas Finais


*People: Uma das revistas americanas de fofoca mais vendida.
** Usei referências de relacionamentos de Ben Affleck para Bruce (Charlize Theron e JLo).
***Eu vou me conter quanto ao tamanho dos próximos capítulos.

Continua!


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...