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História Bad girl gone good - Temporada 2 - Father


Escrita por: FindingLauren

Notas do Autor


E então pessoal HELLO *vamos fingir que eu to postando esse capítulo na semana que eu falei que iria postar*

Boa leitura! <3 <3

Capítulo 64 - Temporada 2 - Father


Fanfic / Fanfiction Bad girl gone good - Temporada 2 - Father

Miami, Flórida - 2:30 am  

Camila's Pov 

Talvez, apenas talvez, eu deveria ter ouvido minha noiva ou então ter esperado um pouco mais para entrar em um avião e ir até a Miami. Meu voo tinha pousado á meia hora, eu tinha apenas uma bagagem de mão então logo cruzei o saguão e percebi o que eu estava fazendo quando botei meus pés na rua e senti a brisa fria colidindo com meu rosto. 

Apesar do vento fraco chacoalhando as palmeiras eu me sentia soando sob a jaqueta pesada, feita para aguentar o clima frio de Cambridge. 

-Vai entrar ou não? - Ouvi a voz ríspida perguntar e encarei a figura rechonchuda e bigoduda de um taxista mal humorado. 

-Não.  

Minha resposta curta e grosseira o fez assentir mais manso do que tinha soado e se enfiar dentro do veículo amarelo outra vez. 

Respirei fundo, ajeitei minha mochila em minhas costas, com meus olhos fechados eu me lembrei do meu objetivo ali: Eu iria acertar as contas com Alejandro apesar de estar bem menos certa sobre isso do que eu estava até o avião pousar. Eu tinha de fazer isso, esse homem precisava parar de foder com a minha vida, precisava parar de foder com a vida da minha irmã. E minha mãe... Bem, ela precisava parar de se deixar ser usada por ele. 

Recusei todos os táxis que estavam ali, por algum motivo preferi caminhar e assim o fiz até estar perto o suficiente da praia para ouvir o som distante do mar. Eu poderia ter continuado meu caminho para nenhum lugar exato, mas escolhi me enfiar dentro da construção precária do que era um pequeno mercado vinte e quatro horas. Eu não olhei em volta, nem mesmo encarei a TV velha onde um programa de anúncios passava em meio á chiados, fui direto para o balcão e paguei por um maço de cigarros. O mais barato dali, eu sabia que não deveria estar fazendo aquilo e não pegar o mais caro era um jeito ridículo de tentar diminuir a culpa que o ato me trazia. 

Mas o que porra eu poderia fazer? Lauren e nossa família eram as únicas coisas capazes de me manterem sã e eles não estavam ali. De qualquer forma até mesmo minha noiva estava me tirando a sanidade ultimamente. 

Um cigarro não me faria mal. 

-Vai levar um isqueiro? - A jovem atrás do balcão me perguntou e eu assenti, me sentindo uma idiota por quase me esquecer disso. 

Saí do pequeno mercado com uma enorme culpa sufocando meu peito e um cigarro pendurado no canto da boca, já aceso e queimando entre meus lábios. Até que eu finalmente decidisse parar de perambular sem rumo pela orla e pegar um táxi eu já tinha fumado seis cigarros e por algum motivo não me sentia mais sã ou mais calma. Eu ainda queria sentir o prazer de despejar minha raiva sobre Alejandro, ainda queria dizer á ele tudo o que jamais tive a chance de dizer. 

-Pode me esperar, por favor. - Eu disse ao homem que parecia dormir ao volante no minuto em que estacionou. 

A propriedade que o senhor Ivo deixou para minha irmã anos atrás agora estava reformada, a porteira tinha sido trocado por um portão de ferro e toda propriedade era cercada por alambrado alto e farpado nos topos. Eu entendi que minha mãe tomou essa medida por segurança, temendo que em algum momento meu passado desse as caras mas ele estava mais do que acertado pra mim. Nolan Blume estava apodrecendo na cadeia como ele merecia e eu fiz o possível para passar dez anos no presídio de forma pacífica. Mesmo que as vezes o possível não tenha sido o suficiente. 

Com minha chave reserva abri o enorme portão e quase senti choques de realidade em meu corpo quando botei os pés para dentro do gramado. Uma voz estúpida em minha cabeça me perguntava se eu estava mesmo pronta para encarar Alejandro Cabello de novo.  

A resposta era não, mas para minha sorte o que eu pretendia fazer não nos dava muito espaço para uma conversa olho no olho. 

O caminho até a casa no centro da propriedade foi longo o suficiente para mais um cigarro, àquela altura minhas roupas já estavam cheirando á nicotina e se Lauren estivesse ali se recusaria a me beijar. Mas por outro lado, se Lauren estivesse ali eu nem precisaria ter comprado um maço de cigarros afinal de contas. 

Subi os degraus da varanda de dois em dois, com pressa para sair logo dali com minha raiva eliminada – assim eu esperava – minhas batidas na porta de madeira cara não foram sutis, eu fechei o punho e bati na porta como se a estivesse socando. O som estrondoso ecoou dentro e fora da casa.  

Segundos depois notei pelo canto do olho uma luz se acender no andar de cima, e depois de um minuto inteiro finalmente comecei a ouvir passos se aproximando. A porta foi aberta com rapidez, e a imagem que tive não era exatamente a que eu esperava. 

Lá estava minha mãe com sua falta de estatura, a expressão chocada lentamente dando lugar á um sorriso aliviado. Eu tinha visto minha mãe há pouco tempo mas ainda assim ela parecia diferente, mais velha eu diria. Alguns fios loiros nas laterais de sua cabeça estavam embranquecendo e suas rugas estavam acentuadas. 

-Filha! - Ela exclamou apertando meu corpo tenso em um abraço que eu não retribui. -Diz pra mim que Sofia veio com você, Camila. Sua irmã cometeu uma loucura! 

-Minha irmã? - Retirei seus braços de mim e minha mãe me encarou confusa enquanto eu entrava na casa que agora tinha cheiro de perfume masculino. E francês. -Sofia não cometeu loucura nenhuma, quem tá louca é a senhora! - Falei alto observando que sobre uma das mesinhas da sala havia um maço de cigarros importado, as escritas na embalagem estavam em francês. 

Minha mãe e minha irmã não fumavam. 

-Tenha um pouco de respeito, minha filha. 

-Você não se dá a porra do respeito por que caralhos eu vou fazer isso, mãe? Trazer esse homem de volta pra cá é uma puta falta de respeito com as suas filhas e com você mesma! - Rebati, sentindo minha garganta doer, com certeza era por causa dos cigarros e da força que eu fazia para não berrar a minha raiva. Não era com a minha mãe que eu iria levantar a voz. Era com ele. 

-Ele é seu pai, Karla Camila! 

-O caralho que é! - Gritei. 

Notei que ao pé da escada estava um par de sapatos masculinos, deixados ali casualmente. Céus! Alejandro já morava ali, seus cigarros estavam descansando sobre a mesa, seu perfume estava impregnado nas paredes e a porra dos seus sapatos estavam largados ao pé da escada, como se ele fosse dono daquela casa. 

-Cadê ele? - Perguntei bufando raivosa, respirando como uma besta enfurecida. -CADÊ ELE? - Minha mãe tremeu de susto, me olhando apavorada enquanto eu deixava a raiva me tomar outra vez. -Ein? Ele tá lá encima? No seu quarto já, na porra da sua cama? Vai tentar ter outra filhinha pra ele abandonar? 

Sinuhe me calou com um tapa na cara. Sem aviso e forte como só um tapa de mãe seria. Meu rosto ardia, talvez seus dedos estivessem impressos no lado direito, onde minha bochecha estava quente parecendo pegar fogo. 

-Você me... Você me bateu. 

-Bati! - Ela cuspiu firme, os olhos pequenos brilhando com lágrimas. -Como eu deveria ter batido na sua adolescência, talvez com alguns tapas você teria sido diferente e saberia me respeitar agora, Camila. Sofia pode estar decepcionada comigo o quanto quiser mas ela sabe que não se diz certas coisas pra uma mãe. Eu espero de verdade que seus filhos não façam isso com você. - Fiquei em silêncio pelos poucos segundo em que ela parou de falar, o tapa ardendo bem menos que suas palavras. -Agora fique no quarto de hóspedes aqui embaixo, no sofá, onde quiser, não te expulsei de casa quando era uma adolescente irresponsável não é agora que virou adulta que eu vou fazer isso. 

Ah se o arrependimento matasse... 

Se pudesse eu teria evitado dizer tudo aquilo para minha mãe, não era com ela que eu precisava falar afinal de contas. Enquanto ela me dava as costas e caminhava para a cozinha eu suspirava derrotada e me perguntava o que diabos eu fui fazer ali mesmo. 

Minha pergunta foi perfeitamente respondida quando eu vi a figura alta e forte de Alejandro Cabello descendo as escadas. 

Eu senti nojo. 

Nojo ao vê-lo descer com os cabelos grisalhos bagunçados e cara de quem dormia tranquilo enquanto sua filha mais nova tinha voado para outro estado apenas para ficar longe dele.  

Nojo ao vê-lo descer calmo, com as mãos no bolso da calça de um pijama xadrez e sem nenhuma camisa cobrindo o peito. Ele realmente morava ali, se sentia á vontade o suficiente para andar pela casa seminu, uma casa que não era dele. 

Eu senti nojo mas acima de tudo eu senti o arrependimento se esvaindo e sendo tomado por raiva.  

Ele parou ao pé da escada quando me viu e Sinu parou seu caminho até a cozinha, olhando dele para mim com os olhos arregalados, a mão cobrindo a boca em choque.  

Eu ainda não tinha lhe dado motivos pra ficar chocada. 

-Filha. - Ele sussurrou e ouvir aquilo da boca dele fez cada músculo em meu corpo tencionar, meu estômago embrulhou e eu senti o ar falhar. 

Não, eu não estava emocionada, eu estava enfurecida. 

-Cala a boca. - Sussurrei de volta, dando um passo em sua direção. 

-Filha, nós precisamos conversar... 

-Cala a boca. 

-Camila, eu sou seu pai, você e Sofia não podem fugir disso, eu... 

-Cala a boca. 

-Eu amo vocês, Camila! 

-CALA ESSA MALDITA BOCA! - Gritei, perto o suficiente dele para empurra-lo contra a parede e prensá-lo ali, com meu antebraço em seu pescoço. 

Alejandro estava me olhando com tranquilidade apesar da pressão que eu fazia contra sua garganta e da voz desesperada de minha mãe me pedindo pra parar. 

-Se é assim que você vai conversar comigo então que assim seja. - Ele disse, a voz estrangulada com meu aperto.  

-Você não nos ama porra nenhuma! - Grunhi, meu rosto estava tão perto do dele que eu via nossas similaridades. Eu era a cara daquela filho da puta e isso me perturbou mais do que jamais admitiria. 

Acho que posso afirmar que foi esse o exato momento em que eu perdi de vez a cabeça. Eu era fisicamente parecida com ele, meu rosto era como o dele. Então eu ergui meu punho e soquei seu rosto, no nariz que começou a jorrar sangue na mesma hora. 

-Onde estava o seu amor de merda quando você deixou a gente? - Gritei em sua cara, por impulso deixando outro soco dessa vez em seu queixo. -Ein porra!? Você nos amava quando estava em Paris com a sua amante? - Minha mão acertou o lado direito de seu rosto mais uma vez e antes que eu pudesse dar outro soco eu senti um peso repentino sobre meu corpo. 

Era minha mãe, se jogando em minhas costas para me afastar dele.  

O rosto dela estava vermelho, ela chorava um dilúvio inteiro e tremia dos pés á cabeça. Enquanto ele estava abaixado, as mãos apoiadas nos joelhos, respirando devagar pela boca enquanto o sangue vazava de seu nariz e um hematoma começava a inchar na lateral de sua face. 

-Você me amava quando eu decidi foder com a minha vida pra chamar sua atenção? Amava a Sofia quando ela voltava pra casa da escola com um maldito cartão de dia dos pais pra você e você nem estava aqui?!  

Eu nem tinha notado que estava chorando, mas eu estava. Lágrimas que eu tinha guardado pra ele mas que jurei segurar se um dia voltasse a vê-lo. 

Alejandro se ergueu com dificuldade e olhou tão dentro de meus olhos que acabei notando que aqueles olhos também eram os meus.  

-Amava, mas eu era um covarde. 

-Você ainda é um covarde... 

-Mas eu quero consertar tudo o que eu fiz, filha! 

-Não! - Neguei freneticamente com a cabeça, vendo a figura dele borrar com minha visão chorosa. -Não adianta mais, eu já entrei pra gangue, Sofia já jogou os cartões fora. Enquanto você me destruiu eu encontrei alguém que me consertou e eu não vou deixar você voltar pra minha vida e me ferrar de novo, eu não vou deixar você voltar pra vida da minha irmã pra fazê-la fugir outra vez. 

-Eu só preciso de uma chance, minha filha. 

-Eu quero você fora dessa casa. - Ordenei em um tom que não abria espaço para discussão, nem mesmo minha mãe ousou dizer qualquer coisa. -Eu vou voltar aqui hoje á noite e se você ainda estiver aqui... 

-Você vai me tirar daqui na porrada? Acha sensato fazer isso? - Ele acusou e eu ri com escárnio. 

-Não. Essa casa tá no nome da Sofia, convencer ela a entrar na justiça não vai levar dois segundos, se você não sair por bem, saem os dois por mal. 

-Hija! 

-Eu não queria que fosse assim mãe, mas sua decisão de aceitar esse homem de volta já acabou com a gente uma vez, eu não vou aceitar que isso aconteça de novo. - Sinu abaixou a cabeça, o choro agora se contendo. -Quanto á você... Pai. Eu espero que eu tenha sido clara o suficiente, mas caso não tenha sido eu digo de novo: Você. Ainda. É. Um. Covarde. 

E então eu dei as costas para os dois e quando saí porta a fora eu não me senti melhor nem nada perto disso. Eu ainda odiava meu pai, ainda tinha tanta mágoa dele que nem todos os socos do mundo fariam passar. 

*** 

Acordei em um bom quarto de hóspedes na casa de Clara e Michael Jauregui. A janela á minha esquerda mostrava um dia estupidamente perfeito, com um céu azulado e sem nuvens e um sol forte como todo nativo de Miami adorava.  

Apesar daquele ser um típico dia que berrava disposição, praia e alegria exacerbante eu não me sentia exatamente assim. No momento em que abri meus olhos notei primeiro que os nós de meus dedos doíam, a mão que tinha enchido meu pai de socos agora estava levemente dolorida, os cortes feitos no dia anterior também contribuíam pra isso, minha cabeça doía e o peso de tudo o que havia acontecido ainda apertava meu peito. Junto á tudo isso existia a saudades de minha família. 

Eu quase não soube o que fazer quando acordei e me dei conta de que o cheiro suave e adocicado de minha noiva não estava me entorpecendo, sua cabeça não estava deitada sobre meu peito ditando o ritmo de meu coração, eu não estava abraçando a mulher que eu amava como eu fazia todas as noites e manhãs desde que minha vida tinha entrado nos eixos. 

E me dar conta disso me deixou estática sobre o colchão por longos minutos, talvez uma hora inteira. Eu apenas fiquei lá encarando o teto e sentindo meu peito doer, minha cabeça doer e a porra da minha mão doer. 

Do quarto onde eu estava eu não ouvia nenhum barulho, de qualquer forma eu não podia esperar ouvir nenhum já que Clara e Mike deveriam ter saído para trabalhar como qualquer outra pessoa. Eles me receberam com caras de sono e preocupação quando apareci em sua porta quase quatro horas da manhã, fedendo á cigarro e carregando apenas uma mochila. No entanto não me fizeram perguntas, apenas me acomodaram com mais carinho do que eu merecia e me disseram para eu me sentir em casa. 

Bem, eu tinha acabado de descobrir que sem Lauren eu não me sentiria em casa em lugar nenhum. Ela e nossos filhos eram minha casa. 

Meu celular vibrando no chão ao lado da cama foi o que me tirou do meu estado estático na cama. Ver o número de casa brilhando na tela me fez atender o aparelho com pressa, quando a voz ansiosa de Patrick soou do outro lado eu caí de volta na cama com um sorriso, o aperto em meu peito diminuindo significativamente. 

Meu filho estava dividido entre tristonho por eu estar longe e super feliz porque a "mamãe Lo vai me levar á escola hoje" segundo suas palavras. Eu sorri o tempo todo em que estive com ele no telefone, gargalhei quando ele me contou que esqueceu de tirar o condicionador do cabelo e Lauren não ficou muito contente com isso. 

Ansiosa perguntei sobre minha noiva e ele, com as palavras atropelando uma as outras como sempre, me contou que ela parecia triste por eu não estar ali – esse fato me deixou secretamente alegre – me contou também que enquanto ele estava ali no telefone comigo Lauren estava na cozinha, fazendo alguma coisa no celular. 

Prendi a respiração quando Patrick contou essa parte, minha mente logo me enchendo de paranoias. 

Ela está falando com a Rose? 

É claro que ela está falando com a Rose. 

Não! Ela não está falando com a Rose. 

Ou ela está? 

Admito que mal consegui prestar atenção no que Patrick me dizia depois disso, apenas voltei a lhe dar toda minha atenção quando ele anunciou que iria desligar pois ainda tinha que terminar de se preparar para a escola. Não querendo que ele desligasse eu desejei um bom dia e deixei claro que o amava. 

Conversar com meu filho me deixou um tanto mais disposta, não tanto quanto aquele dia perfeito sugeria mas ainda assim foi o suficiente para que eu saísse da cama, tomasse um banho e jogasse fora os cigarros restantes no maço. 

Lauren não precisava saber deles e eu não tinha a intenção de coloca-los na boca outra vez. 

Quando desci para o café eu me dei conta de que eu estava mesmo sozinha na casa. Clara e Mike tinham deixado a mesa servida para mim e só então me dei conta do quanto eu estava faminta. Uma vez que eu tinha comido quase todos os pães e bolo eu me vi perambulando pela casa sem muito o que fazer. 

Uma grande parte de mim queria falar com minha noiva mas eu sabia que não era uma boa ideia, ela deveria estar no trânsito com Patrick e eu detestava o frio na barriga que eu tinha toda vez que eu via Lauren falando ao telefone enquanto dirigia. 

Decidi que eu ligaria pra ela mais tarde e que se o dia em Miami estava tão perfeito então que eu fosse de uma vez para a praia. 

Uma hora depois eu estava dentro de um táxi, trajando roupas que em nada diriam que eu estava indo á praia. Mas de qualquer forma eu não estava indo á praia, por algum motivo eu pedi ao homem que dirigia que me levasse até a parte mais afastada. Bem, na verdade não era "por algum motivo" e sim porque eu precisava pensar. 

Pensar no que diabos tinha acontecido com meu pai e eu e acima de tudo pensar no que estava acontecendo com Lauren e eu. 

Então lá eu estava, dentro de um táxi em uma freeway, o mar acompanhando meu percurso de perto. 

Honestamente quando tive essa ideia não tão genial de ir em direção ás serras eu já sabia que iria me arrepender assim que passasse por aquela  parte do caminho. O presídio para mulheres onde passei dez anos da minha vida estava logo á frente, do outro lado da estrada mas me encarando como um monstro de mil cabeças. 

Me agitei no banco de trás, sentindo minhas mãos tremerem e meus pulmões diminuírem de tamanho. 

Eu sabia que seria impossível passar por ali e não me lembrar de nada.  

Eu nunca desejei com tanta força que Lauren estivesse comigo, segurando minha mão e me lembrando de quem eu era. 

27/06/2019 - Penitenciária Feminina de Miami-Dade 

Era aquele dia de novo. 

 Aniversário da minha garota. Lauren estava fazendo vinte e dois anos e esse foi o único motivo pelo qual acordei sorrindo aquele dia, quando me levantei da estrutura de metal coberta por um fino cobertor eu não lamentei a dor em minhas costas, eu apenas olhei para o calendário colado no pedaço de parede que me pertencia e sorri. 

Botei meu dedo sobre o quadrado onde o número vinte e sete estava envolto por um coração vermelho mal desenhado, depois levei meu dedo á boca, o beijei e então o coloquei outra vez sobre a data marcada. 

-Feliz aniversário, babe. - Sussurrei. 

Desde que me vi trancafiada ali haviam dias que me deixavam ansiosa por sua chegada: Quando eu recebia os telefonemas da Lauren – mas ela parou com eles ano passado – quando eu recebia as cartas dela – mas eu tinha deixado de receber qualquer uma esse ano, em março, a última me desejava um feliz aniversário - e os dias vinte e sete de junho de todo ano. 

Seu aniversário era tudo o que me restava, era a única data a qual eu podia ansiar agora.  

Em dias normais eu acordava no dormitório latino, ia até o terrível e imundo banheiro latino – ainda assim era melhor que o das brancas que tinham de lidar com um vazamento no teto em dias chuvosos – então eu esperava na enorme fila barulhenta apenas para poder jogar um fio de água no rosto e escovar os dentes antes de ir para o refeitório e comer uma comida cada dia mais pastosa e nojenta.  

Eu comia quieta na mesa das latinas, me esforçando para não mandar nenhuma delas calar a porra da boca, me esforçando para permanecer invisível naquele lugar. Depois de engolir a gororoba nojenta o mais rápido possível eu voltava para o banheiro - até arriscava um sorriso por encontrá-lo vazio dessa vez – e tomava um banho na água que variava entre congelante ou quente como lava. 

De banho tomado e me sentindo horrível como eu me sentia todos os dias entre aquelas paredes cinzas eu caminhava para fora e me sentava sob o sol por uma hora, apenas contemplando uma vida depois que eu saísse dali. Uma vida com a garota que eu amava. 

Meus momentos de contemplação passavam rápido, uma hora depois vinham os guardas com suas contagens estúpidas e em seguida eu marchava para a lavanderia onde eu exercia algo próximo de um trabalho, separando roupas sujas e operando máquinas de lavar. 

No entanto nos dias vinte e sete não era assim. Eu não contemplava, nem mesmo ia ao refeitório. 

Eu acordava, traçava meus dedos pela data no calendário em minha parede, passava pelo sacrilégio do banheiro latino mas com um sorriso no rosto e então eu ia até o que chamávamos de ponto de troca. Era na verdade um pequeno mercado legal dentro do presídio onde podíamos comprar algumas coisas com dinheiro real. O grande problema era que todo e qualquer "emprego" dado á nós pagava ridiculamente pouco. Eu ganhava quinze centavos por hora. Nove dólares por dia de trabalho e uma barra de sabonete pequeno e sem fragrância alguma poderia custar até cinquenta dólares. 

De qualquer forma eu tinha sorte por minha mãe me enviar algum dinheiro todos os meses e por isso eu conseguia comprar um pequeno muffin todo os dias vinte e sete de todos os anos. Tinha que ser o de chocolate porque era desse que Lauren gostava mais, não importava se eu preferia o de baunilha. 

Com o muffin de chocolate em minhas mãos como se fosse um tesouro eu corria até a biblioteca – o lugar mais quieto e limpo de todo aquele presídio – e eu separava alguns itens. Uma vela, um isqueiro, o muffin e um volume surrado de "As vantagens de ser invisível". 

O isqueiro era de uma detenta que o escondia entre os livros da seção B e o pacote de velas eu consegui com muito custo, implorando que Benny – o único ser humano com quem eu conversava ali e um dos guardas mais tapados do mundo – conseguisse pra mim. 

Contrabando de velas eu sei, mas o que diabos iriam fazer comigo? Acrescentar mais um ano á minha pena por querer comemorar o aniversário de alguém que eu amava? Pff que se foda, eu jamais deixaria o aniversário dela passar em branco, era uma data especial pra mim e já me doía o suficiente não estar com ela para comemorar. 

Depois de me enfiar no canto mais escuro dali eu acendia a vela sobre o muffin, cantava parabéns discretamente e fazia um pedido por ela. 

"Eu quero que você consiga o apartamento que mencionou na última carta, meu amor. E claro, que continue sorrindo para sempre e não se esqueça de mim. Por favor."  

Foi o que eu pedia naquele ano. Em sua última carta Lauren havia mencionado que as coisas estavam começando a ficar difíceis, mais do que talvez ela pudesse suportar. Ela mencionou que estava tendo problemas com o dinheiro, tinha sido demitida, o aluguel de seu loft estava se tornando pesado demais e ela ainda tinha de comprar alguns medicamentos para Penélope - agora com seis anos – tinha de comprar livros para a M.I.T, pagar as contas, sustentar á si mesma e a filha e... Bem, ela me disse que as coisas estavam complicadas demais, que se não conseguisse o pequeno apartamento perto da M.I.T ela não saberia para onde ir com a garotinha. Tinha de deixar o loft e não poderia ir para os dormitórios do instituto, não com uma criança á tiracolo.  

Aquela foi a carta mais preocupante que Lauren já havia me mandado, e por ser a última me deixava agoniada sempre que eu pensava nela. Eu ficava me perguntando se ela tinha conseguido o apartamento ou não, se ainda estava tendo problemas com o dinheiro ou não, se Penélope ainda precisava dos medicamentos ou não. 

Depois de ter feito meu pedido eu assoprava a vela, comia o muffin e abria o exemplar de "As vantagens de ser invisível" para ler o máximo possível até a hora da contagem. 

Eu só me deixava ler aquele livro nos aniversários da Lauren, ler em outras datas me machucava demais, era como se eu pudesse ouvir a voz rouca lendo as palavras para mim, com sua cabeça em meu peito, no píer como costumava ser. Mas então eu fechava as páginas e me via presa naquele lugar, bem longe da morena e tudo o que eu conseguia fazer era me encolher e chorar, sentindo meu coração ser comprimido por uma mão gélida e invisível. 

-Você vem aqui á essa hora todo ano desde que chegou. 

Me assustei com a voz me tirando da leitura, depois minha reação foi bufar e apertar as páginas em minhas mãos, tentando conter a irritação que chegou junto a presença de seja lá quem tinha me interrompido. 

Justo quando Charlie come o brownie! 

Á contra gosto e com meu rosto mostrando o quão irritada eu tinha ficado, ergui meu olhar e vi uma mulher bem mais alta do que eu, com muito mais tatuagens do que eu, os cabelos eram castanhos claros e tinham um corte masculino que era uma espécie de "nova moda" entre algumas presas, com laterais raspadas e a franja jogada para o lado deixando á mostra uma risca perfeita no outro lado da cabeça. 

A mulher branquela de feições curiosas usava o mesmo uniforme marrom desbotado que eu. Não era uma novata então. 

Assim que terminei de analisar a mulher voltei meu olhar para o livro, na página onde estava escrito meu segundo momento favorito da obra: quando Charlie ficava chapado. O primeiro era e sempre seria o que Lauren leu para mim no píer pela primeira vez. Sobre se sentir infinito. 

-Hm, não é muito de conversar. - A outra comentou tomando a maldita liberdade de se sentar ao meu lado. 

A encarei de canto de olho, enraivecida, esperando que a maldita entendesse a porra do recado e me deixasse sozinha. Ela estava fodendo com a minha tradição e isso me perturbava. 

-Eu tenho que admitir você é bem intimidante, esse olhar de cão do inferno quase me faz querer sair daqui mas eu tenho uma proposta á fazer. 

Minha respiração travou na garganta com suas palavras.  

Na cadeia quando eu alguém tinha uma proposta ou você poderia acabar morto ou passando mais tempo trancafiado. 

-Eu recuso. 

-Nem me ouviu ainda. 

-Eu recuso. - Reforcei, agora sem tentar soar pacífica, meu tom de voz deixava claro que eu a queria longe. 

-Escuta, meu nome é Ruby Rose e sem querer soar como uma stalker nem nada, mas eu ando de olho em você... 

-Então é melhor tirar a porra dos seus olhos de mim. 

-Eu não posso. - Ela respondeu sussurrando tão perto de meu ouvido que senti minha nuca arrepiada. -Você é perfeita para o que eu preciso. Amiguinha do idiota do Benny, toda na sua, passa despercebida e tem bom comportamento, entende? Ninguém aqui dentro iria suspeitar de você. 

-Que merda você tá falando? - Grunhi encarando a mais alta sentada ao meu lado e ela sorriu de canto sem mostrar os dentes.  

-Eu to falando de cair fora daqui, latina. 

-É Camila pra você. Não te dei porra de intimidade nenhuma. 

-Então comece a me dar, nós vamos nos aproximar bastante. 

Me levantei em um sobressalto, farta daquela mulher. Me abaixei até estar com meu rosto próximo ao dela e com meu dedo apontando para sua cara eu disse: 

-Escuta aqui você agora, eu não quero saber dos seus esquemas de merda, se você chegar perto de mim outra vez eu arrebento com essa sua carinha cínica, entendeu? 

Sem dar tempo para que ela me respondesse eu saí dali, sentindo muito por interromper minha tradição mas acima de tudo com ódio. Daquele lugar e daquela mulher. 

Enquanto eu caia fora dali eu podia ouvir o riso debochado da mais alta e em seguida ela gritou para que ouvisse: 

-Eu ainda não desisti de você, latina.


Notas Finais


E acabamos por aqui!

Nos vemos semana que vem *tomara* e espero que tenham gostado <3 xoxo

PS: MUITO OBRIGADA PELOS FAVORITOS E COMENTÁRIO, EU AMO CADA UM COM TODO MEU SER, ALMA, CORAÇÃO ETC ETC ETC MUITO OBRIGADA DE VERDADE <3 < 3 <3


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