História Bad Liar - 16. catch me

Antes que eu me apaixone rápido demais, me beije rápido. Mas faça durar, para que eu possa ver o quanto vai doer quando você disser adeus. Estou me apaixonado por você, então, por favor, não me conquiste.

— Mas então — Sentei ao lado de Nico. — Obrigada por ter me ajudado aquele outro dia.

— Annabeth, isso faz muito tempo — Ele arqueou a sobrancelha. — Tipo, mais do dois meses.

— Eu sei, mas não agradeci de forma apropriada. Naquela época, eu estava muito mal e em um lugar muito escuro dentro da minha própria cabeça— Olhei para minhas mãos, que descansavam em cima de meu colo. — Agora que estou melhor...

— Você tem certeza de que está melhor? — Nico interrompeu, virando o corpo para mim. Pensei em como eu sempre o via sério, como se ele não tivesse muitas alegrias na vida. Seu olhar chegava a ser desconcertante. 

— O que você quer dizer? — Perguntei.

— Lembra da conversa que tivemos aquele dia? Sobre seu amigo, o Will?

— Lembro — Cerrei os olhos, tentando lembrar dos detalhes. — Você disse algo sobre não se sentir pronto para ter algo com ele.

— Exato. Estou sempre tendo recaídas por conta de coisas estúpidas, que às vezes tem haver com o comportamento do meu pai ou da minha irmã. Mas eles, de certa forma, tem obrigação comigo, entende? Eles têm que me ajudar e eu sei que posso depender deles... Mas, em relação à outras pessoas...

Então Thalia se aproximou. Sentou entre nós no sofá e colocou os braços sobre nossos ombros.

— Estou feliz de termos decidido fazer uma festa de gente normal. Tipo, não tem ninguém a ponto de ter uma overdose no banheiro e Reyna até concordou em aparecer — Ela deu um sorriso contente. Embora as duas tenham terminado há algum tempo, Thalia continua a ter esperanças que elas podem se reconciliar.

Olhei para Nico de soslaio, esperando que ele fosse continuar a conversa mesmo com a interrupção. Mas ele já tinha perdido o interesse em nós.

— Adoro como nós fazemos festas aleatórias. Tipo, nós gastamos muita grana para comemorar nada. Isso não é incrível? — Thalia perguntou, os olhos brilhando. Ela não tinha ideia de que tinha interrompido uma conversa muito interessante que, eventualmente, podia ser usada para ajudar Will.

Estávamos todos em uma daquelas festas de fraternidade que aconteciam por razão nenhuma. Tinha muito menos pessoas do que nós costumávamos chamar. Algumas bebidas alcoólicas, outras sem álcool e aperitivos ao invés de drogas. Percy e eu tínhamos vindo juntos, mas ele resolveu ir falar com Jason sobre qualquer coisa.

— Pensei que você tinha desistido da Reyna. Vocês terminaram há o quê, um mês? — Perguntei, suspirando.

— Exato. Mas nós nos amamos, entende? Eu só estava... Fazendo tudo errado, e entendi isso depois que ela me deixou. Digo, ela não tem obrigação de ficar com alguém que faz mal para ela. Ela não é minha mãe ou meu pai. Eu que tenho que ir atrás de melhoras se quero que minha vida vá para frente, certo?

— Acho que sim — Lembrei das vezes que Percy tinha me pedido para maneirar nas drogas por estar preocupado comigo. Eu não queria ser um problema para ele. Não queria que ele desistisse de mim por eu já ter desistido. — Então, você conseguiu parar com facilidade?

— Não — Ela me olhou nos olhos. — Durante todo mês que ficamos separadas, eu acordava a noite. Suando, tremendo de frio. Frank me disse que podiam ser os sintomas da abstinência e eu sempre me sentia tentada à voltar usar aquelas coisas... Mas isso só me fez perceber como Reyna realmente estava certa. Eu estava... Eu estava me fazendo mal. E não quero mais isso. Quero lutar por mim mesma.

— Uau — Exclamei, impressionada. — Ela realmente te faz bem.

— Não é só por ela, eu acabei de falar — Thalia revirou os olhos. — O chute que ela me deu com certeza foi o motivo para eu resolver parar, mas agora estou pensando mais em mim do que nela.

— Bem, isto é ótimo. Fico feliz por você, amiga.

— Também estou feliz por você, Annabeth — Ela me deu um tapinha nas costas. — Está fazendo o curso dos seus sonhos, trabalha na empresa dos seus sonhos e está namorando um cara que era o sonho de todo mundo.

Abri um sorriso de orelha à orelha na menção de Percy.

— Ele é meu living-dream também — Senti minhas bochechas esquentarem.

— Viu? Nunca te vi tão imbecil de apaixonada — Ela deu risada, e eu a acompanhei.

— Não sei se apaixonada é a palavra certa para forma que estou me sentindo agora... — Desviei o olhar, encarando minhas mãos novamente. — Ele faz meu coração acelerar muito, e sempre fico ansiosa quando marcamos de nos ver. Ele sempre me faz sentir feliz e eu dou muita risada com ele... E quando não estou com ele, fico querendo estar. E... Quando eu olho para ele... Parece que tem mariposas assassinas no meu estômago! Digo, ele é tão bonito e...

Voltei meu olhar para Thalia para vê-la dar um dos sorrisos mais doces que eu já a vi dar em toda nossa amizade.

— O que foi? — Perguntei.

— Vou deixar você descobrir qual é o termo correto para os seus sentimentos sozinha — Ela deu uma risadinha baixa, virando para puxar assunto com Nico também. — Quando é que você vai dar uns pegas no meu amigo, hein?

— Deuses, Thalia — Revirei os olhos com sua indiscrição.

— Espero que em breve — Para nossa surpresa, Nico respondeu. Ele tinha um sorriso mínimo no rosto. Thalia e eu nos olhamos em um misto de excitação e surpresa e tive que resistir muito ao impulso de simplesmente levantar e contar para Will.

— Piper já chegou? — Jason apareceu de repente na nossa frente. Percy estava ao seu lado, e me peguei pensando em quão gostosos eles pareciam. Tipo uma dupla de modelos da Calvin Klein.

— Meu deus, Jay, você ainda não superou? — Thalia perguntou, um pouco mais alto do que deveria.

— Quem é você para reclamar do que eu supero ou não, irmãzinha? — Ele disparou, cruzando os braços abaixo do peito. Percy sentou ao meu lado e abraçou minha cintura, dando um beijinho estalado na minha bochecha. Sorri e me aconcheguei contra ele enquanto nós assistíamos o showzinho Thalia-Jason.

— Reyna e eu brigamos por uma coisa relevante. Você e a Piper brigaram porque você não conseguiu manter seu pênis dentro das calças — Thalia sorriu, maldosa. — Se eu fosse Piper, não te aceitava de volta nunca.

— E-Eu não... — O rosto de Jason corou tanto que eu fiquei com pena. — Não traí ela desse jeito. Eu nem traí ela!... Nós...

— Minha orelha está queimando, amigos — Piper colocou ambas mãos nos ombros de Jason, o assustando. Seu rosto, se possível, ficou ainda mais vermelho quando ela o avaliou. — Thalia fez alguma referência sexual para você ter ficado com tanta vergonha?

— Só disse os fatos que ele não quer aceitar — Thalia deu de ombros ao meu lado. — Por falar nisso, Piper, convidou Ethan para nossa festa?

Até eu fiquei surpresa com a malícia dela. Piper olhou para Thalia com uma expressão nada amigável no rosto, então me menti antes que a situação ficasse pior:

— Ethan e Piper não se falam mais, Thals. Esqueceu? — Dei uma cotovelada em suas costelas.

Eu entendia o posicionamento de Thalia, como uma das pessoas mais próximas de Piper. Depois de um tempo do que aconteceu entre eles, ela resolveu se abrir conosco. Piper não era uma pessoa muito orgulhosa, mas sentia como se tivesse dado muito para Jason e como se ele não fizesse tanto por ela. Então, o mínimo que ela esperava era que ele a pedisse em namoro de forma formal. Mas ele simplesmente resolveu ficar com outras pessoas ao invés de perguntar qual era a situação deles, o que obviamente a machucou.

Mas eu havia visto Jason mais de uma vez na merda pelo que havia feito. Ele com certeza estava arrependido, e se Piper achasse cabível lhe dar uma segunda chance... Bem, era complicado. 

— Ela disse isso antes ou depois do relatório completo que ela fez sobre a noite que ela teve com o E-... — Thals fulminou os dois com o olhar.

— Aquela não é a Reyna? — Senti o peito de Percy vibrar contra minhas costas quando ele falou, a interrompendo. — Indo para a cozinha?

Thalia não esperou uma confirmação antes de simplesmente levantar e caminhar até lá.

— Não era a Reyna — Jason parecia confuso. — Era apenas uma garota bem parecida.

Então sua expressão se iluminou, como se ele tivesse entendido. Percy só tinha dito aquilo para Thalia não falar mais nada que ela não devesse falar. Dei risada, virando para ele o suficiente para lhe dar um selinho.

— Vocês dois são tão fáceis juntos... — Piper nos encarou, um olhar ligeiramente triste no rosto. — Por que nós não podemos ser como eles? — Ela virou para Jason, apontando para nós.

— Eu não sabia que você queria algo tão sério assim... — Jason tentou se defender enquanto ela se afastava.

— Gosto da nossa dinâmica, Percy — Comentei, virando para enxergá-lo. — Todo mundo tem inveja dela e eu adoro ter algo que todo mundo queria ter.

Ele deu risada, dando um beijo na minha testa.

— Tenho uma coisa para te perguntar... — Ele parecia um pouco inseguro, e desviou o olhar para baixo, mordendo o lábio inferior. Pensei em como ele ficava bonitinho antes de pedir para ele continuar. — Eu sei que pode parecer cedo, mas...

— Percy, Hazel e Frank não querem me deixar ficar com eles — Leo nos interrompeu, sentando no lugar que Thalia antes ocupava. Hazel e Frank o seguiram até estar em frente ao sofá.

— Não é nada pessoal, Leo — Hazel, com aquele jeitinho fofo e meigo de falar, tentou acalmá-lo. — Nós só precisamos de nosso tempo de casal...

— Você interrompeu todos os nossos encontros desse mês — Frank não parecia tão disposto a ter paciência quanto Hazel. — Nós não estamos sendo malvados com você. Você que está sendo completamente sem noção e...

— Ow, calma — Percy os interrompeu, tentando segurar a risada. — Leo, tenho certeza que a Rachel iria apreciar sua companhia se você fosse até ela.

— Ela está de enrolação com uma garota — Leo mantinha a expressão fechada. — Não tenho com quem ficar, ok?

— Por que eu e você não saímos um pouco? — Nico interrompeu, de repente me lembrando de que ele ainda estava ali. — Tem muita gente em casal aqui e o ar vai começar a ficar poluído com tanta respiração pesada...

Dei risada, observando-os se afastarem de nós.

Frank deu um beijo na minha bochecha e murmurou que estava orgulhoso da minha sobriedade antes de pegar a mão de Hazel. 

— Desculpem ter interrompido — Ela acenou com a mão, e os dois foram para o sofá do lado. 

— Então, o que você queria dizer? — Perguntei para Percy. 

Percy parecia ter esquecido da nossa situação. Quando voltou o olhar para mim, suas bochechas coraram gradativamente, o que eu achei uma graça. Ele limpou a garganta e desviou o olhar para baixo, para nossos colos. Sua mão agarrou a minha e ele entrelaçou nossos dedos.

— Como eu estava dizendo, sei que pode ser cedo — Percy respirou fundo, como se o que fosse falar requeresse muito de sua energia. — E que ainda somos muito jovens, mas estou prestes a me formar na universidade. Vou ter que sair do dormitório e não quero voltar a morar com a minha mãe, e muito menos com meu pai. Então pensei... Pensei que nós podíamos achar um lugar bacana para... Você sabe... — Ele voltou o olhar para mim e, desta vez, senti meus próprios olhos se arregalarem lentamente. Como se meu cérebro estivesse demorando a absorver a informação.

Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, no entanto, ele continuou a falar.

— Pode parecer uma coisa estúpida de se pedir, assim tão cedo, mas eu nunca me senti assim. Naquela noite, quando disse que não conseguia controlar o que sentia por você, estava falando sério. Eu estava absurdamente apaixonado e este sentimento só cresceu e eu... Não sei. Parece que tudo é melhor quando eu estou com você... Então...

Lágrimas escaparam dos meus olhos quando processei seu pedido. Quando entendi que ele estava me convidando para dividir uma casa com ele. Como se estivéssemos, de fato, começando uma vida juntos. Coloquei a mão sobre a boca, completamente chocada.

— O que foi? — Ele franziu as sobrancelhas, tirando alguns fios loiros da minha testa. — Você não gostou? Foi rápido demais? Não precisa chorar, eu...

Foi como se houvesse um clique no meu cérebro. Como se todas as peças finalmente tivessem se encaixado e eu tivesse entendido. Afinal, eu estava prestes a aceitar morar com alguém na tenra idade dos vinte anos. Era preciso existirem sentimentos muito fortes para que fosse capaz de me convencer...

Então coloquei as mãos ao redor de seu pescoço, puxando-o para um abraço.

Senti Percy respirar aliviado enquanto colocava as mãos ao meu redor, me aproximando ainda mais. Acariciando minhas costas para acalmar minha euforia, dando beijinhos na minha bochecha e pescoço.

Era absolutamente fora da minha realidade alguém gostar de mim no nível de me fazer um convite destes. Quando nem mesmo meus pais aguentavam minha presença embaixo de seus tetos. E pensei em como eu tinha tomado a decisão certa quando decidi me arriscar por ele, ao colocar meus medos de lado e aceitar namorá-lo.

Então nos afastei apenas o suficiente para enxergar seu rosto e beijei sua boca. Abri seus lábios com a língua e iniciamos um dos beijos mais doces e contentes que já compartilhamos.

Quando o ar faltou, ele encostou a testa na minha, encarando meus olhos.

— Eu te amo — Eu disse, finalmente. — E definitivamente aceito ir morar com você.

E ele abriu o sorriso mais lindo que eu tinha visto na vida inteira.

— Eu também te amo. 

— Quem caralhos chamou aquela menina? — Desviamos o olhar simultaneamente quando escutamos a voz de Piper ao nosso lado. Ela encarava a entrada do salão, onde estava Calypso.

Quando voltei o olhar para Percy, para perguntar se ele havia chamado ela, senti como se alguém me desse uma facada no coração. Os olhos dele brilharam como se ele tivesse visto a primeira estrela a cair do céu. Seu pomo de Adão subiu e desceu conforme ele a avaliava, e de repente ele estava em pé. Pronto para recebê-la e me deixar para trás.

Se isso é amor, por favor, não me machuque. Eu estou desistindo, então apenas me conquiste.