História Bad Mouth - Karma

Sair da cama era a última coisa que poderia ser considerada a passar na minha cabeça. Só continuei de bruços, olhando fixamente para o nada, sem expressão alguma. Pude sentir - sem nem ao menos tocar - meu rosto inchado. Tudo porquê não consegui parar de chorar antes de dormir. Estava tudo desandando, e tudo graças a um ato precipitado vindo de mim. Notas altas, primeiro lugar na escola toda... Do que de tudo isso valia, se eu tinha tido uma ideia de jerico, que me resultou em perder meu maior bem? Encarar isso de frente estava sendo difícil para mim.

O cara que estava dividindo o quarto comigo, resolveu cruzar seu caminho comigo da pior maneira possível. Não poderia ter sido pior a forma de nos conhecermos. Tudo que podia sentir agora era medo, e ele... Talvez escape dessa, se algo à mais acontecer comigo.

Flashback on
"Ficar no chão já estava dando pra mim. Não queria esperar mais, então fui até o homem e o chacoalhei. Dessa vez não tive que fazer tanto esforço para que ele acordasse. O mesmo piscou umas vezes lentamente, e ao que pareceu, me viu e levou um susto. Coçou os olhos e se sentou. Com tudo aquilo acontecendo, eu não dei bola para o fato de ele estar pelado, assim como eu estava minutos atrás. Não foi o caso dele!

- Ai droga, quem é você? Por que eu estou pelado? - saiu correndo a procura de suas vestes

Isso me despedaçou! Se ele não sabia, então como eu iria resolver tudo aquilo?! Contudo, não desisti de tentar tirar coisas dele.
O moreno vestia sua última peça de roupa, e me percebeu parada na entrada do banheiro. Me encarou o suficiente para me fazer um buraco no rosto. Desviou o olhar, e começou a amarrar os cadarços de seu all star.

- Você vai falar ou não? - perguntou para mim

- Eu que devia te perguntar isso, não acha não? O que aconteceu comigo? O que você fez comigo?

- Eu não te fiz nada! Mas e você? HEIN? - ele coneçou a gritar se aproximando um pouco, meu pescoço e busto começaram a pinicar e não hesitei em coçar novamente

- Eu acordei nessa cama... Completamente sem roupa... Com dores... Em certas áreas... O que você tem para me dizer sobre isso? 

- O qu...? TU TA DOIDA? EU NA... - sua voz morreu, eu estava começando a sentir raiva dele, e ele se sentava na cama

Ficou alí por um bom tempo, e eu continuei no meu lugar. O moreno parecia pescar em suas memórias sobre a noite passada, então eu não iria atrapalhá-lo. 

- Você... Tentou o golpe da barriga? - falou devagar, me olhando com certo desprezo - É, só pode ser isso! Eu tava pelado no banheiro, agora o por que de eu ter acordado la, só Deus sabe ne.

- Eu... Tentei o que? - não podia acreditar em tamanha cara de pau 

- Vai me dizer que não sabia que meu pai é rico, e que me drogou para acabarmos na cama, e de quebra você engravidar de mim?!

Quando dei por mim, estava escorregando no encosto da porta, direto ao chão. Não conseguia acreditar nas acusações dele pra cima de mim, e por mais que fosse tudo mentira, eu não queria engravidar. Eu já tinha a "bela" teoria de ter me relacionado a fundo com ele na noite passada, e se ele também tinha, era por que com certeza era um fato. O tal moreno que me acusava, que ficou me encarando de onde estava. Meu sangue ferveu, não seria humilhada atoa por qualquer desconhecido. Ele tinha uma hipótese, pois bem! Eu também tinha a minha!

- Quem não me garante, que o drogado da história não fui eu, e por você, hein? - disse olhando para ele que ate àquele momento olhava para o chão 

- Como é que é? Gente mal carater inventa cada uma, não é mesmo?

- Não sei, me diz você! - respondi a sua altura me levantando

Continuamos a discussão sobre quem havia feito o que com quem. Teria tido mais trocas de "elogios" entre nós dois, se o mesmo não tivesse saído no meio de tudo. Enquanto eu ainda continuava la, deitada na cama me lamuriando. 

Procurei por uma camisinha usada em todo canto do quarto, e não achei. Em canto algum! Temi por mim, se minha mãe soubesse de uma coisa dessas ela nunca mais me deixaria sair. Coisa que ela já deveria estar considerando, por não ter chego em casa.
Desci as escadas correndo, e percebi que eu ainda estava na mesma casa da festa. Deixei isso de lado, e continuei correndo. Minha casa era meio longe, então teria que me esforçar! 

Quando cheguei, ela fez questão de perguntar tudo, para saber de tudo, e tudo que fiz foi mentir, e me coçar. Fiquei aliviada por ela não ter brigado com a hora de chegada. A conclusão foi de eu ter simplesmente ter corrido atoa.

Fui ao meu quarto, peguei uma toalha, e entrei no banheiro. Ao tirar minha roupa, pude ver marcas em meu corpo, justamente onde doía. Não sabia o que sentir. Se me sentia aliviada por não lembrar de nada, ou perturbada por não lembrar, e saber o que havia acontecido comigo de verdade, que me fez ir para cama com ele. 

Continuei olhando para as marcas. Meus peitos não doiam por causa dos chupões ali espalhados, mas pelos possíveis apertões, o mesmo sobre meus quadris. O cretino deve mesmo ter me estuprado para eu estar tão cheia de marcas.

Assim que terminei o banho, peguei meus documentos, e disse à minha mãe que sairia. Fui ao hospital de emergência, e depois de um certo tempo de espera fui atendida. Após esperar mais um pouco eu obtive os resultados. A médica disse que não havia nada de errado comigo, e que não precisava me preocupar.

Quis ligar para ChanYeol e conversar com ele, mas se o fizesse, o maior se desesperaria e viria atrás de mim. A última coisa que eu queria era isso! 

Então lhe mandei uma mensagem dizendo que tinha que falar com ele no dia seguinte.

Seria um dia de aula, em uma escola nova... Ao menos eu teria ele!

Fiz meu caminho de volta pra casa, e me tranquei no quarto. Não queria comer, e nem ver ninguém. Devia ser karma, para isso ter acontecido comigo! 

Eu não quis, e não podia falar com minha mãe sobre isso. Falar com a polícia... Bem, como se ele não fez nada contra minha vontade?! Se eu ao menos me lembrasse, as coisas seriam diferentes." 

Flashback off

Tomei banho, após uma noite de apenas três horas de sono, logo, pondo o uniforme. Por sorte minha mãe ainda dormia - como sempre naquele horário -, então não seria cercada por mais perguntas, de como dormi ou o motivo do inchaço de meu rosto. Comi minhas torradas, e fui para escola.

Dei play nas músicas, e andei até o novo colégio, olhando para baixo, mexendo os lábios enquanto cantava quase inaudível. Mal esperava para que pudesse enfim falar com ChanYeol sobre tudo. Ele poderia ao menos tentar me relaxar.

[...] 

Assim que cheguei no colégio, pude ver um poste branco de cabelo preto, bem orelhudo segurando as alças da mochila, me esperando. Senti as velhas borboletas voando dentro de mim, e meu coração batendo forte por ele. Dois dias sem ver o mesmo não mudaria nada, nem ao menos sei por que esperei que mudasse.

Me aproximei dele querendo de cara lhe dar um abraço, mas não éramos de fazer isso. 

- Oi! - sorri tímida 

- Oi... - ele ainda estava sem graça, e isso me deixava sem graça junto com ele - Ahn... tudo bem para você esperarmos meu amigo?

- JongIn? 

- Exatamente! 

Ficamos os dois esperando pelo famoso Kim JongIn, o grande amigo de ChanYeol. Por mais que minha amizade com ChanYeol fizesse aniversário no mesmo tempo que os dois faziam, ainda sim, eu não conhecia ele. Nem ao menos por foto! Nunca entendi o porquê, mas não era como se eu ligasse de verdade. O caso dele não era o mesmo que o meu, por ter uma foto minha com ChanYeol em um álbum, ele ja me viu. Entretando, o orelhudo guardou tudo onde ninguém pudesse encontrar.

Demorei para perceber que por causa da presença do JongIn eu não poderia falar com ChanYeol tão cedo. Os dois eram da mesma sala - ChanYeol O repetente -, e como eu era nova na escola, não tinha eu como já saber se era ou não da mesma sala deles. Teria que ir para diretoria, e isso eu também estava contando com meu amigo mega alto, mas sentia que o outro acabaria atrapalhando.

- Como vai meu amigão Kim JongIn? - ouvi ChanYeol dizer enquanto olhava para o outro lado admirando o colégio 

- Oi, hyung!

Quando me virei para poder olhá-lo, desejei que não o tivesse feito. Era o cara de ontem, e pelo jeito ele também me reconheceu. Estávamos os dois parados feito espantalhos se encarando de olhos arregalados. 

- Eita gente, o que houve? - ChanYeol se pronunciou colocando a mão em nossos ombros

- É e-ela a Moo-Moon An? - ele sabia até mesmo meu nome

- É cara, você já viu foto dela! O que foi?

- Lembra que eu te disse que tinha uma coisa pra te contar, e que não podia ser de outra forma se não pessoalmente? - ele falava tudo me encarando, e eu à ele

- Lembro... - ChanYeol alternou seu olhar sobre nós 

- Então, ontem eu acordei no meio de um banheiro, completamente nu - ele parecia com raiva, assim como ontem, e seu tom de voz estava começando a ficar mais alto e eu já estava me coçando -, e sabe o que mais, ChanYeol? Ela estava la, olhando para mim. 

- Onde... Você quer chegar com isso? Ei, EI, olha pra mim JongIn!

- Onde eu quero chegar? - fez o que o amigo pediu - Quero chegar em uma festa de sábado à noite, onde ela deve ter me achado e feito alguma coisa comigo para que eu acordasse daquele jeito. Merda ChanYeol, a gente transou pelo o que tudo indica.

Nesse ponto de tudo, eu já estava tendo uma crise de ansiedade na frente do colégio. Me senti quente por todo o corpo, e comecei a transpirar, minha respiração acelerou, o mesmo aconteceu com meu coração, e junto, minha pele pinicou no mesmo canto ao habitual. ChanYeol começou a me acudir, me dando sua garrafa para que bebesse água. Inspirei pelo nariz e expirei pela boca. Minhas mãos tremiam, e quem passava envolta olhava estranho pra mim. JongIn parecia não saber o que fazer, e/ou como reagir. 

ChanYeol me levou para dentro na escola, e nos sentamos, ele ficou ao meu lado esperando que eu me acalmasse. JongIn seguiu a gente, e seu rosto ainda demonstrava confusão. 

- Achei que você não tivesse mais essas crises! - falou ao meu lado preocupado

- Pois é...

- JongIn, que porcaria foi essa que você acabou de falar? Hein?

Chanyeol se levantou, batendo de peito com JongIn, justamente quem agora parecia mais perdido, possivelmente mais que eu.

- Chanyeol eu não mentiria sobre uma coisa dessas. Você me conhece!

- Não disse que você está mentindo. Só perguntei que porcaria foi essa!

- Ontem eu estava em um quarto, e eu acordei no banheiro desse quarto. Pelado! E ela era a única la, o que mais você achava que eu pensaria? Pra mim, sim ela tentou um golpe do baú! Droga cara a gente... - parou para falar ainda mais baixo - Transou!

- Primeiro... - ChanYeol deu um soco no rosto de JongIn, eu levei um susto, e quem estava por perto também - Segundo: ela nunca faria isso, entendeu? Ta, agora o seu lado da história Moon An!

- E-eu... Eu acordei nua na cama, e achei ele no banheiro. De quebra... De quebra eu pensei que ele me estuprou, mas eu ja comprovei que não. Mas o fato é que a gente fez aquilo, e eu não faço a menor ideia de como cheguei naquele quarto com ele.

O silêncio ficou entre nós três. JongIn tinha a área à baixo do olho esquerdo vermelha, um pouco inchada. O mais velho entre nós ficou andando de um lado para o outro, parecia que estava tentando achar uma resposta pra tudo aquilo. Como sempre fez!

- Ok! Você acha que foi um golpe do baú, e você achou que foi estupro mas já viu que não... Nenhum dos dois se lembra de como chegaram lá, certo? - concordamos entre mexidas de nossas cabeças - Isso só quer dizer, que em uma festa open bar, cheia de menina e menino de qualquer canto, que alguém obviamente drogou os dois. Vamos combinar não é?! Isso acontece muito! Agora, o porquê de ter sido com justamente os dois, não me perguntem. Só se desculpem pelas hipóteses inescrupulosas um do outro, e esqueçam isso, ou ao menos tentem. Vocês não vão achar o culpado disso, não mesmo!

Como o imaginado, Chanyeol contornou tudo, perfeitamente! Eu já não sentia nenhum dos sintomas da minha recente crise, e eu finalmente pude ver o ponto de JongIn. O qual ficou me encarando, e gesticulou com os lábios um "Me desculpe".

Com toda aquela confusão, acabamos os três perdendo o começo da aula. A vida é uma comédia mesmo. Eu estava na sala dos dois, de três turmas do terceiro ano, eu cai justamente na deles. Não me importo com a presença de Chanyeol - óbvio que não -, só que ainda não gostava da companhia de JongIn.

Nos sentamos eu, ChanYeol, e o moreno, um atrás do outro. Estávamos em silêncio, e tinha eu a certeza de que nao era por causa da explicação da professora, mas sim pela nossa "discussão". Sem contar que assim que entrei na sala, alguns dos alunos começaram a sussurrar uns pros outros sobre minha crise, e continuaram depois que me apresentei na frente deles. Depois de mim, houveram uns quatro novos alunos que fizeram o mesmo que eu, aos quais não lembrava os nomes, já que não prestei atenção no que diziam.

[...]

O intervalo veio, e não saber para onde ir também. Chanyeol me ajudou, e fomos ao refeitório. JongIn se sentou com a gente, já que era amigo dele. Não foi o único, uma menina de cabelos tingidos de  laranja se sentou ao lado do moreno. Ela era linda, magra, e tinha a pele bem pálida, a qual deu um beijo na bochecha do Kim. Os dois trocaram sorrisinhos - mas pareciam fingidos -, e ela começou a contar um história para ele, apontou ao olho, que estava com muita maquiagem. Alguém tinha a agredido, isso me deixou mal por ela. No final de tudo ela apontou o dedo para mim.

- Foi ela! - exclamou novamente

Até aquele ponto, eu não tinha percebido que haviam três meninas atrás dela.

- Foi essa aqui? - perguntou uma que ja puxava meu cabelo

- Ai sua maluca, o que você está fazendo?

- Isso que acontece com quem mexe com quem não se deve mexer. - ela puxou meu cabelo com mais força, e eu gritei 

Todos estavam olhando, só podia ser karma.

Chanyeol levantou e me ajudou, JongIn também levantou, mas não fez nada. Ele me colocou por trás dele, e eu o abracei olhando confusa para tudo aquilo.

- Oppa, foi ela quem deu um soco na Lee Jin, na festa de sábado. Não devia proteger ela!

- Não me chame de oppa! 

- Você nem sabe quem é ela, e vai ficar a defendendo? E a Lee Jin? Que é nossa colega à anos? Ela disse que foi ela, então foi ela!

- Moon An socou o rosto de Lee Jin na festa do Jung Joon  no sábado?

- Isso! - eu podia ver a menina se fazendo de vítima forçando um choro atrás de JongIn, e ele me olhava como se sentisse muito por tudo, e gesticulou outra vez com os lábios um "Me desculpe"

Pelo visto ele sabia de minha inocência, já que estavamos dividindo um quarto a noite toda.

Saí de trás de Chanyeol, não antes de respirar fundo.

- Fui eu mesma! Quer levar um também? - todos no refeitório ficaram chocados com a minha confissão 

- Eu vou te entregar pra direção, aluna nova! - a mesma menina continuou a me desafiar

- Vai é? Tá esperando o que então? - nesse ponto eu já estava quente outra vez, meu único medo era de gaguejar, o que eu fazia o favor de fazer comigo mesma ao escolher minhas próprias batalhas - Ah! Claro! Está esperando seus neurônios funcionarem. Sim, porquê se funcionassem, você iria perceber que quando bati nela, não foi no colégio e as aulas não haviam começado. 
"E que o que aconteceu, foi em uma festa, onde tinha bebida alcoólica, que ainda é proibida para menores de idade. Tenho certeza que sua amiga logo alí é uma. Assim como qualquer um aqui que deve ter ido na festa. Isso não afetaria só à mim, mas à todos eles também. Iria não só  fazer que ligassem para minha casa e a dela, como a de todos aqui juntos. Entendeu o perigo e desnecessidade do seu depoimento, ou terei que desenhar?"

Terminei de falar, e essa menina nem ao menos se mexia. Ninguém, na verdade! Estavam todos boquiabertos com minhas palavras. Nem mesmo a tal Lee Jin fingia seu choro mais. Chanyeol até mesmo sorria orgulhoso para mim, mostrava seus polegares e dizia "jjang jjang" para mim.

Saí do refeitório, e quando o fiz, corri ate minha sala. Peguei tudo o que era meu, e fui ate a enfermaria. O que demorou bastante tempo, já que eu não conhecia nada. Pedi para enfermeira me liberar, pois estava com caganeira, ela me deu um passe. Falei que minha mãe já me esperava do lado de fora da escola, pois já havia ligado para ela. Quando saí, me senti aliviada!

[...]

Assim que cheguei em casa, vi minha mãe na cozinha separando feijão. Acabei não saindo despercebida!

- Já chegou?

- Eles revolveram liberar mais cedo, já que um dos professores passou mal e não teve como ir.

- Manda melhoras para ele amanhã, então. Mas e o Channie? Te ajudou com tudo?

- Sim!

- Então seu dia foi bom?

- Perfeito!

Minha mãe me conhecia, e sabia que eu estava mentindo. O único problema era que ela era preguiçosa demais para fingir ou ao menos ter um interesse sobre o que acontece comigo de verdade. Ela pergunta de mais, pergunta de menos, mas é tudo teatro, pois na verdade mesmo, ela não ouvia, ou ligava. Talvez fosse karma!