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História Bad Romeo - Book 1 - Doente e Cansada


Escrita por: EstrabaoJwregui

Notas do Autor


olá amores

Capítulo 17 - Doente e Cansada


Seis anos antes
Westchester, Nova York
Grove


Suspiro e me reviro na cama. De novo.
E de novo. E de novo.
Olho para o relógio: 1h52 da manhã. Droga.
Pego meu telefone na mesinha de cabeceira e confiro a tela. Carregado. Nenhuma ligação perdida. Nenhuma mensagem.
Não sei por que estou surpresa. Realmente achei que meu discurso na chuva acabaria  com todas as minhas inseguranças? Nem eu sou tão ingênua assim.
Mas aqui estou eu às duas da manhã, surpresa por ela não ter ligado nem mandado mensagem.
Jogo o telefone de volta na mesinha de cabeceira, então me reviro e fecho os olhos.
Apenas pare de pensar nela. Se ela aparecer, apareceu. Se ela não...
Bom... se ela não...
Puxo as pernas contra o peito e tento suprimir a dor que cresce lá.
Se ela não aparecer... a vida continua. Vou ficar bem.
Vou ficar bem.
Minto para a escuridão, repetindo a mesma frase seguidas vezes. E, mesmo quando o sono finalmente se apodera de mim horas depois, eu ainda não acredito nisso.

 

— Uau, você está uma merda — Lucy comenta quando me remexo na cozinha.
— Valeu.
— Ela não te ligou, né?
— Não.
— Idiota.
— É.
Eu me jogo na mesa da cozinha quando Lucy coloca um prato de ovos mexidos na minha frente. Olho para eles com desconfiança.
— Nem comece — ela avisa. — Até eu posso fazer ovos.
— Sério?
— Não sei. Nunca fiz antes. Ainda assim, tenho certeza de que estão deliciosos.
Ponho um pouco na boca enquanto ela se vira para abrir a geladeira. Quase me engasgo. Não sei como alguém pode estragar tanto uns simples ovos, mas Lucy estragou.
— Bom? — ela pergunta por sobre o ombro.
— Incrível — respondo com a boca cheia. — Você deveria experimentar. — Por que eu devo ser a única submetida a essa tortura?
— Vai ligar para ela? — ela pergunta enquanto me serve um pouco de suco.
— Não.
— Boa menina. Você fez tudo o que pôde. Deixe que ela te procure.
Engulo em seco, mas ainda ruminando os ovos e minha paranoia.
— E se ela não? Não me procurar, quero dizer.
— Ela vai.
— Mas e se ela não ligar?
— Claro que ela vai.
— Lucy, droga, e se não ligar?
Ela para o que está fazendo e me encara.
— Camila, essa garota está tão de quatro por você que ela até poderia substituir essa mesa. Pode levar um tempinho para ela perceber que não consegue viver sem você, mas ela vai. Confie em mim.
Solto um suspiro e brinco com os ovos no prato.
— Então, o que eu faço quando a vir hoje?
— Aja tranquilamente.
— Não sei como fazer isso.
Ela se serve dos ovos e se senta ao meu lado.
— Simplesmente... seja educada. Seja amistosa, mas não demonstre intimidade. Se ela tocar no assunto relacionamento, então fale sobre isso. Se não, fique nos tópicos neutros: tempo, política, esportes, o quanto você quer sentar no pau pulsante dela. Espera — ela franze a testa e levanta um dedo —, corte este último. Ela já sabe disso.

Dou uma risada e tento não me contorcer de nojo quando como o resto dos meus ovos terríveis.
— Ela vai desabar, Camila. — Lucy pega o garfo. — Confie em mim. Ela provavelmente se matou de chorar noite passada e mal pode esperar para te ver hoje, para que então possa declarar seu amor imortal. Pode até rolar um pedido de casamento.
Reviro os olhos. Ela mete um pouco de ovo em sua boca e imediatamente engasga.
— Ai, puta merda! Isso está nojento! Por que você não me avisou?
Faço minha cara mais inocente enquanto bebo meu suco.

 

Tenho de admitir, levo um tempinho a mais para me preparar para a aula. Coloco mais maquiagem que o normal. Escovo melhor o cabelo. Uso um top que levanta meus peitos e uma saia que levanta a bunda.
Achei que eu nunca seria uma dessas meninas que se empenham em fazer um cara perceber o quanto ela é gostosa, mas aparentemente sou uma delas. Mesmo que uma das razões pelas quais brigamos seja justamente eu precisar que ela queira mais do que apenas meu corpo.
Hipocrisia, teu nome é Camila.
Quando pego meu lugar na aula de história do teatro, estou uma pilha de nervos.
Acontece que minha ansiedade não se justifica. Jauregui não aparece. No começo, acho que ela apenas está atrasada, mas na hora do almoço tenho de aceitar que ela matou aula aquele dia.
Não consigo acreditar.
Achei que a essa altura ela já pudesse ter refletido sobre nossa situação e fosse querer conversar. Mas, de novo, Jauregui escolheu simplesmente evitar a questão.
Não sei por que estou tão surpresa.
Ou tão magoada.

 

Ela não liga pelo restante da quinta, e não aparece na aula na sexta. No sábado, Lucy já está cansada de me ver conferir compulsivamente o telefone e murmurar obscenidades para mim mesma quando percebo que não há nada de errado com o aparelho.
— Mila, puta merda, pode relaxar um pouco? Dá um tempo pra ela. Ela tem mais drama do que a revista People. Não dá para esperar que ela mude magicamente só porque você quer que ela mude.
— Eu sei disso, Lucy. Não estou sendo nem realista nem racional, mas por que ela não liga?! — Eu me jogo no sofá e coloco a cabeça entre as mãos. — Sério, estou ficando  louca sem falar com ela. Como ela pode simplesmente cortar todo o contato? Não entendo.
— Os humanos são bizarros.
— Parece que eu não significo nada para ela.
— Vou ter de ser do contra e dizer que não é verdade.
Pego meu telefone.
— Vou ligar para ela.
Lucy agarra o telefone da minha mão.
— Não, não vai não. Vai para o spa comigo, para parar um pouco de ficar pensando nela obsessivamente. Não vou confiar em você para te deixar sozinha com seu telefone.
— Estou com saudade.
— Eu sei.
— Quero saber se ela está com saudade também.
Ela se senta ao meu lado e coloca os braços ao redor dos meus ombros.
— Camila, eu sei. Ela está com saudade de você. Tenho certeza.
Estou ficando cada vez mais certa de que ela está errada.

 

No domingo, me sinto anestesiada.
Bem, a maior parte de mim se sente anestesiada. Minha periquita está doendo horrores porque ontem Lucy me convenceu que fazer depilação tiraria Jauregui da minha cabeça.
Ela não estava errada.
Pela meia hora que levou para arrancar meus pelos pubianos pela raiz eu me esqueci completamente da Jauregui e me concentrei em quantas formas eu poderia torturar Lucy  sem ser presa. Finalmente cheguei a vinte e três.
Agora ela está fazendo minhas unhas do pé para compensar, mas ainda está na minha lista negra.
Meu telefone toca, trocamos olhares e as duas se levantam ao mesmo tempo para pegar o aparelho. Ele dá cambalhotas no ar e nós duas nos debatemos com ele como gato e rato até que ela o pega e passa para mim. Vejo quem é na tela e rapidamente perco a empolgação.

— Oi, Taylor.
— Camila! Graças a Deus você está aí! A Lauren está com você?
Eu olho para Lucy.
— Hum... não. Por quê?
Lucy franze a testa e se aproxima para poder ouvir também.
— Não consigo encontrá-la, e quando falei com ela na quinta ela parecia terrível. Agora ela não atende o telefone. Estou com medo de ela estar muito doente e não conseguir chegar ao médico.
— Você não ficou em casa este final de semana? —  pergunto.
— Não, estou com meus pais em Nova York até terça. Então, você não a viu o fim de semana todo?
Passo a mão no cabelo.
— Não. Nós meio que... bem, tivemos uma briga na quarta. Não vi nem falei com ela desde então. Achei que ela estava apenas me evitando.
Taylor faz uma pausa.
— É possível. É algo que ela faria. Mas ela geralmente atende quando eu ligo, e não está atendendo. Posso pedir um grande favor?
Meu estômago se embrulha.
— Quer que eu vá dar uma olhada nela?
— Sim, por favor, Camila.
Lucy balança a cabeça veementemente e balbucia: “de jeito nenhum”, enquanto acena feito uma louca. Eu grunho e apoio a cabeça na mão.
— Taylor, não sei. Do jeito que as coisas ficaram depois da nossa briga... Não acho que ela queira me ver agora.
— Camila, eu não pediria se tivesse mais alguém para fazer isso. Você é mesmo a única amiga dela.
— Que tal o Jack ou o Lucas?
— Está brincando? São nove da manhã de um domingo. Eles devem estar desmaiados num canteiro qualquer, tortos de álcool. Além do mais, se a Lauren estiver doente, acha que Jack ou Lucas iam poder ajudá-la?

Bom argumento. Faço uma careta e respiro fundo.

— Tá, tudo bem. Vou lá dar uma olhada nela. Mas se eu tiver uma overdose de vergonha e morrer você que paga o velório.
— Ai, valeu! Você é incrível. Me liga quando chegar lá e me diga como ela está.
— Espera, Taylor! Preciso do endereço.
— Você não tem?
Eu suspiro.
— Não. Nunca fui ao apartamento dela.
Posso praticamente ver a incredulidade dela.
— Sério? Nesse tempo todo que vocês andam saindo, ela nunca te levou lá?
— Não.
— Deixa eu adivinhar, esse foi um dos motivos da briga?
— Basicamente.
— Minha irmã é uma babaca.
É, mas quero a babaquice dela para mim.
— Bom — Taylor continua —, a Lucy sabe onde a gente mora. Acha que ela te leva?
Lucy revira os olhos dramaticamente e joga os braços no ar em derrota.
— É. Acho que consigo convencê-la.
— Tá. Valeu, Camila, te devo essa de verdade.
— Deve mesmo.

 

Vinte minutos depois, Lucy para na frente de um prédio bem arrumadinho. No caminho todo eu rezei para que Jauregui estivesse à beira da morte, porque seria a única explicação para ela não ter ligado que não faria meu peito doer.

— O apartamento delas é o número 4 — Lucy explica e aponta para o segundo andar. Eu espero aqui caso ela não esteja doente e você a mate. Não posso ser presa como cúmplice. Sou bonita demais.

Saio do carro e sigo para o apartamento dela. O prédio não é supermoderno, mas é limpo e estiloso. Meio o extremo oposto do meu.
Chego ao topo da escada e encontro o número 4, então respiro fundo antes de bater firmemente três vezes.
Silêncio.
Bato novamente, mais alto e com mais insistência. Mais uma vez, nada. E o pequeno grão de dor que carreguei dentro de mim desde nossa briga desabrocha numa dor completa.
Ela não está lá.
Provavelmente está com outra garota.
Provavelmente tendo os orgasmos  desmedidos que ela costumava  ter comigo.
Afasto minha decepção.
Estou prestes a sair quando escuto um ruído do outro lado da porta. Há um farfalhar abafado, então uma batida, seguido por um “porra” sussurrado. Enquanto me viro, a porta abre numa fenda e uma Lauren desgrenhada e de olhos turvos aparece, forçando a vista para mim, confusa.

 

— Cabello? — Sua voz está rouca e tão grave que parece o Barry White anabolizado. — O que você está fazendo  aqui?
Uma onda enorme de alívio se apodera de mim.
— Ai, Deus, Jauregui, você está mesmo doente! De verdade, doente de dar nojo!
Ela franze a testa e treme quando se apoia na porta.
— Veio até aqui para pisar em mim? Porque, sério, isso é pura sacanagem.
— Não, desculpa. — Eu me recomponho reparando no cabelo engordurado e no seu rosto suado. — Taylor pediu que eu viesse dar uma olhada. Você não atendia o telefone, e ela ficou preocupada.
Ela tosse alto, fazendo um chocalho terrível ecoar em seu peito.
— É só gripe. — Ela grasna enquanto se apoia pesadamente na parede. — Vou ficar bem.
Coloco a mão em sua testa. Está queimando e as olheiras sob seus olhos fazem parecer que ela não dorme há dias.
— Você não está bem. Está com febre. Tomou alguma coisa?
— Acabou meu Tylenol — ela responde e tosse novamente. — Acho que só preciso dormir.

Ela fecha os olhos e cambaleia um pouco, e eu corro para apoiá-la. Está usando apenas uma camiseta fina e cueca boxer de algodão. Mesmo suada e quente, ela está tremendo.
— Vem. — Eu a guio para dentro, para se sentar no sofá. — Senta por um minuto.
Há um cobertor atrás do sofá, então eu o pego e coloco sobre os ombros dela. Ela o puxa ao redor de si enquanto se deita e fecha os olhos. Seus dentes batem.
— Lauren?
— Hmmm?
Ela mal está acordada.
— Volto num minuto, tá? Precisamos de suprimentos.

 

Ela murmura algo ininteligível enquanto dou um giro no apartamento para fazer um rápido inventário da cozinha e do banheiro antes de correr para o piso térreo e falar com Lucy, que ainda está esperando no carro. Dou a ela uma lista de coisas de farmácia e peço para ela se apressar. Quando volto, Lauren está onde eu a deixei, murmurando e grunhindo.
Sua febre está feia. Até Lucy voltar com Tylenol, preciso tentar abaixar sua temperatura. Uma vez tive de cuidar do meu pai quando ele teve pneumonia enquanto minha mãe estava fora da cidade num retiro de ioga. Conheço os procedimentos muito bem.

— Lauren, pode se sentar um pouquinho?
Ela tosse antes de lutar para se sentar. Seu pulmão não parece bom.
— Acho que você tem uma infecção no pulmão. Você precisa ver um médico.
— Não. — Ela retruca numa voz áspera. — O troço na minha garganta está verde. Bactéria. O médico vai só receitar antibiótico e tenho um pouco no banheiro, no gabinete atrás do espelho.
— Você tem antibióticos à toa em casa?
— Meu pai é farmacêutico.
— Ah.
Vou ao banheiro e pego a eritromicina. Leio o rótulo e volto para a Lauren.
— Aqui diz que você deve ingerir durante a refeição. Comeu alguma coisa hoje?
Ela puxa o cobertor ao redor de si mesmo e balança a cabeça.
— O estômago não está bom.
— Bem, Lucy saiu para comprar uma sopa, então talvez seja melhor a gente esperar até ela voltar para você tomar isso.
Ela concorda, tremendo. Aperto a palma da mão na testa dela. Ela fecha os olhos e se apoia na minha mão.
Pressiono as costas dos meus dedos em sua bochecha corada.
— Você se sente forte o suficiente para tomar um banho? Vai te ajudar a esfriar.
Ela abre os olhos para mim, e fica me encarando por um momento antes de sussurrar.
— Camila, você não precisa fazer isso. — Sua voz soa tão áspera que faz meus olhos lacrimejarem.
— Eu sei, mas eu quero.

Eu a ajudo a ficar de pé. Ela cambaleia por alguns segundos e depois para o braço pelos meus ombros. Ela treme apoiada em mim quando andamos lentamente para o banheiro do seu quarto. Coloco-a sentada na privada fechada antes de ligar o chuveiro e ajustar a  temperatura.
Quando me viro de volta, meu coração dói de ver quão miserável ela está. Está curvada sobre os joelhos, respirando pesadamente  e agarrando o cobertor ao redor dos ombros.

— Venha. Isso vai te ajudar a se sentir melhor.

Tiro o cobertor de cima dela e puxo sua camiseta sobre a cabeça. Seu peito e seus ombros estão corados, e quando aperto minha mão contra sua pele sinto a quentura excessiva. Ela envolve os braços em si mesmo, e se arrepia toda quando eu a faço ficar de pé.
— Precisa que eu te ajude com a cueca? — pergunto, esfregando seus antebraços para mantê-la quente.
Ela balança a cabeça. Fico meio assustada que mesmo doente desse jeito a visão dela sem camisa ainda provoque loucuras em mim.
— Tá, vou te deixar assim, então. Estarei lá fora. Se ficar tonta, apenas se sente e me chame. Chego aqui num segundo, tá?
Ela assente e eu dou a ela um pequeno sorriso antes de fechar a porta atrás de mim.

 

Alguns minutos depois, há uma batida na porta da frente. Quando eu a abro, Lucy está lá com duas sacolas de suprimentos. Ela vai direto para a cozinha e começa a desempacotar tudo.
— Trouxe vários tipos de sopa, e um pouco de pão, porque, quando a febre diminuir, ela  vai estar morrendo de fome. Tem um suco de abacaxi para ajudar a diminuir o catarro, e também Gatorade para a desidratação.
— Bem pensado.
Ela termina de desembrulhar a comida e vai para a sacola da farmácia.
— Tem dois tipos de remédio para dor, além de um descongestionante que vai apagá-la completamente e ajudar a dormir.
Uma crise enorme de tosse ecoa pelo corredor e Lucy aperta o rosto com nojo.
— Tá, não me leve a mal, mas preciso ir embora. Catarro de qualquer tipo me faz botar os bofes pra fora. Melhor você voltar a sua paciente nojenta antes de ela tossir um pulmão inteiro.
Dou uma risada e a levo para a porta.
— Vai ficar aqui esta noite? — ela pergunta saindo para o corredor.
— Acho que sim, a não ser que ela se recupere milagrosamente nas próximas oito horas. Pode ser?
— Claro, desde que você não abuse dela dormindo.
— Lucy, você fala como se eu tivesse zero autocontrole perto dela. — Ela me encara e faz um biquinho. Eu olho feio. — Cale a boca.
— Eu não disse nada.
— Você me julgou com seus olhos. Estou dizendo para eles se calarem.
— Vai conseguir ficar sozinha com ela durante a noite? Ou tenho de fazer um cinto de castidade para você com papel-alumínio?
— Lucy, há duas razões pelas quais nada vai acontecer entre nós. Uma é que ela está bem doente... e, sim, nojento. — Deixo de mencionar que daria uns amassos nela assim mesmo. — E outra, eu pus um limite no nosso relacionamento. E até ela estar disposta a fazer jus a seus sentimentos por mim, não pretendo passar do ponto em que estamos. Ainda tenho algum orgulho, sabe?
— É, mas não muito.
— De novo, cale a boca.
Ela me abraça e eu posso sentir seu sorriso contra meu ombro.
— Pode ligar para a Taylor? — peço. — Contar a ela o que está rolando?
— Claro. Falo com você amanhã.
Depois que ela sai, eu volto para o quarto da Jauregui, batendo na porta do banheiro antes de abrir uma fresta.
— Ei, tudo bem aí?
Há uma pausa, então uma tosse úmida.
— Sim. O que estou tossindo parece algo saído de um filme de terror, mas o vapor está soltando um pouco a coisa do meu peito.
Ela está perdendo a voz, mas acho que é de esperar depois do quanto ela tossiu.
— Vai sair daí?
— Daqui a pouco. Me dê um minuto
Não tinha a intenção, mas dou uma espiada pela porta e perco o fôlego quando vejo suas costas peladas.
Seus ombros estão tensos quando ela apoia os antebraços na parede. Ai, Deus. A Jauregui pelada.
Pelada e molhada.
Eu olho a bela bunda dela. Deus me ajude.
Ah, é, Lucy,  vou  ficar  bem  passando a noite com ela. Posso me controlar.
Claro.
Não consigo parar de apreciar a cena da água escorrendo sobre os músculos dela.
— Idiota.
Ela vira a cabeça.
— Falou comigo?
— Não. Só estou falando comigo mesma — respondo enquanto admiro sua bunda.

 

Rapidamente, afasto o olhar e direciono o foco para a cama dela. Os lençóis estão revirados e amarrotados e parecem meio úmidos.
Fecho a porta e me dedico a arrumar os lençóis. Conforme refaço a cama, tento realmente não pensar na delícia  das costas dela, das pernas e da bunda e em como podem ficar esparramadas em lençóis frescos.
Enquanto cuido da cama, olho o quarto dela. É bagunçado, mas não de uma forma nojenta. Há pilhas desarrumadas de livros e dvds na mesa, assim como há uma confusão de papéis e seu laptop. Jogos de videogame estão espalhados no chão perto do X-box modelo mais recente. Tirando isso, é bem limpo e sem poeira. Não é o pior quarto de uma solteirona que já vi.
Pego uma camiseta limpa do armário e estou quase passando tempo demais na gaveta de cuecas dela quando o chuveiro é desligado. Não me sinto muito culpada pelo meu quase delito, mas pego logo a cueca mais próxima e fecho a gaveta.
Quando escuto a porta do banheiro se abrir, eu me viro e Jauregui está parada só de toalha, uma aura de vapor emergindo detrás dela.
Então uma música da Beyoncé começa a tocar na minha cabeça e tudo fica em câmera lenta. Fico horrorizada com isso. Gotas de água reluzem nos músculos dela e sinto minha boca abrir involuntariamente enquanto vejo uma gotinha viajar de sua clavícula até o  umbigo.
Droga, essa garota é boa.

 

— Oi. — Ela está quase completamente sem voz.
— Oi. — Saio do meu devaneio e aceno com as roupas limpas para ela, um pouco entusiasmada  demais.  — Essas são  para você. Como estava o banho? Ainda está molhada. Devia se secar. Não com a toalha na sua cintura, claro, porque daí você ficaria pelada e... bem, pode usar aquela toalha se quiser. Mas é o seu quarto e se quiser ficar pelada você pode. Eu posso olhar... quer dizer, sair. Se quiser ficar sozinha e pelada eu posso esperar na sala. Ou dar uma volta. O que você quiser.

Ela ri ou pelo menos parece que é uma risada, porque é um som tão chiado que lembra até um personagem de desenho animado.

— Cabello, pare de falar.
— Claro.
— Me dá as roupas.


Passo-lhe as peças. Ela vai para o banheiro e fecha a porta.
Eu me jogo na cama, coloco a cabeça entre as mãos e suspiro. Minha esmagadora atração por ela, mesmo quando ela é literalmente uma composição de catarro produzido por bactéria, é mais do que apavorante.
A porta do banheiro se abre e ela caminha até mim. Seu cabelo está bem mais seco e seu corpo, bem menos pelado.
Toco sua testa.


— Você parece um pouco mais fria.
—  É? Bom.
Ela me encara por um segundo e sou lembrada de que, se quero ficar longe dela, ela não deveria me olhar assim.
— Vá para a cama. — Minha voz sai mais ofegante do que eu pretendia.
Ela franze a testa.
— Cabello, fico lisonjeada, mas estou doente. Talvez depois?
— Que hilário você é. Sério, vá para baixo das cobertas. Você está tremendo.
— É porque está frio.
— Está bem quente.
— Que seja.
Ela rasteja para a cama e puxa as cobertas até o queixo.
— Vou só fechar os olhos por um minutinho. Ficar todo aquele tempo de pé no chuveiro meio que acabou comigo.
— Claro que acabou. Você é atriz. Não está acostumada a pegar no pesado.
Ela olha feio para mim.
— Eeee essa é minha deixa para ir pegar comida e remédio.

Alguns minutos depois, volto com uma bandeja carregada de sopa instantânea de frango, um copo de suco de abacaxi, o frasco de remédio para tosse, antibiótico e Tylenol. Jauregui dorme profundamente.
— Ei, acorde.
Ela grunhe e se revira.
Coloco a bandeja sobre sua mesinha de cabeceira e sacudo suavemente seu ombro.
— Vamos, Jauregui. Sua traficante chegou. Precisa acordar. A cabeça dela gira para o lado, mas ela não se mexe.
— Ai, não — eu digo numa voz sem ar. — Derrubei a sopa toda em mim na cozinha e tive de tirar a camisa e o sutiã. Preciso que você cubra meus seios nus com suas mãos gigantes.

Ela acorda num salto, me vê totalmente vestida e fica confusa por alguns segundos antes de se jogar de volta no travesseiro e suspirar.

— Isso foi maldoso e desnecessário. Não se promete peitões para alguém morrendo e depois se volta atrás.
— Você não está morrendo.
— Se eu estivesse, poderia ver seus peitos?
— Não. Esse direito é reservado ao meu namorado, e como você não é...
Merda, Camila, não a chantageie com seus peitos. Golpe baixo.
— Desculpa, isso foi...
— Tudo bem. — Ela pigarreia e esfrega os olhos. — Você está certa. — Ela olha para as mãos.
Estou ciente de que precisamos conversar, mas agora não é a hora.
— Você precisa se sentar. — Pego dois comprimidos de remédio e o suco. — Tome isso. Depois tome a sopa.

Ela faz o que eu mando.
Quinze minutos depois, ela terminou a maior parte da sopa, tomou o antibiótico e o remédio para a tosse, e bebeu todo o suco de abacaxi.
Eu limpo a  bandeja na cozinha  e, quando volto, suas pálpebras estão caindo.
Eu puxo as cobertas.

— Como você está se sentindo agora?

— Molenga — ela responde e boceja. — E meio chapada. Que diabos tem nesse remédio de tosse?
— Vodu mágico de sono.
— Ah. Achei que podia ser apenas algum tipo de sedativo.
— É. Isso também.
— É forte.
— Bom. Você precisa dormir.
Ela boceja e levanta o olhar para mim. É impossível que ela seja tão linda.
Quando me levanto para sair, ela pega minha mão com seus dedos quentes demais.
— Fica — ela pede, roçando o dedão nas costas da minha mão.
— Você precisa descansar.
— Vou descansar. Só fica comigo. Por favor.
No seu estado atual, sei que não posso negar nada a ela. Tiro os sapatos e vou para o outro lado da cama. Ela se vira para mim quando deito sobre as cobertas.
— Depois da nossa briga na quarta — ela começa —, o último lugar que achei que você ia estar neste fim de semana era na minha cama.
Eu concordo.
— Preciso admitir que, quando pensei sobre finalmente ver seu quarto, imaginei que seria sob condições bem mais sensuais e bem menos catarrentas.
— O quê, minha pleurisia e laringite não excitam você? Qual é seu problema, garota?
Ai, Jauregui, se você ao menos soubesse quanto você ainda me excita, ficaria envergonhada por mim.
Ela apoia a cabeça sobre o braço e levanta o olhar para mim.
— É errado que te ver na minha cama me faça querer fazer coisas com você, mesmo eu estando doente assim? — Suas palavras são enroladas e eu me pergunto se ela diria tais coisas sem drogas no sangue.
— Lauren, nós concordamos...
— Não, não concordamos. — Ela toca minha coxa. — Você me disse que tínhamos de parar de nos tocar se não éramos namoradas. Eu não concordei com isso. Você saiu antes de eu poder te dizer que isso era uma merda de ideia.
— Não teria mudado nada se você tivesse dito.
Ela baixa o olhar.
— Eu sei. Fiquei do lado de fora do seu apartamento na chuva por quase uma hora, tentando descobrir como resolver isso. Quando percebi que não tinha colhão para bater na sua porta e te dizer que eu fui uma idiota, eu estava tão puta comigo mesma que vim para casa e fiquei bêbada. Desmaiei no sofá, ainda encharcada. Acordei no meio da noite morrendo de frio.
— Deus, Lauren...
Ela passa a mão no cós do meu jeans e pisca longamente antes de enfiar um dedo por baixo da minha camisa.
— Sua pele é tão macia — ela sussurra alisando minha barriga. Seus dedos avançam até tocar a parte de baixo do meu sutiã. Penso em esquecer todos os germes e enfiar sua mão ou mais para cima ou mais para baixo.
Em vez disso, eu respiro para me recompor e coloco minha mão sobre a dela, interrompendo seu movimento.
Ela está doente e cheio de medicamentos. Tudo bem que ela tenha um lapso no julgamento. Já eu não tenho desculpa. Estou apenas com tesão.

— Lauren, não podemos...
— Eu sei — ela diz, cansada e enrolando as palavras. — Maseuquero. Tanto. Porque... não tocar é... — ela faz uma pausa fechando os olhos. — É... odeio.
Sua cabeça desaba e sua mão se afasta e eu agradeço a Deus que ela tenha dormido antes de ouvir meu grunhido de frustração sexual.

Jauregui tem um sono agitado conforme a febre e as drogas agem no seu corpo. Ela alterna entre me empurrar para longe dela enquanto se esparrama toda na cama e se agarrar em mim com intensidade desesperada.
Depois de uma hora ela começa a murmurar e grunhir.
— Camila... — Seus olhos estão fechados, mas ela está me procurando.
— Estou aqui. — E toco seu rosto. Sua testa está quente e molhada de suor. — Vou só pegar um pano para sua cabeça, tá?
Os olhos dela se abrem, cheios de pânico.
— Está indo embora?
— Eu já volto.
— Não... por favor. — Ela puxa minha mão para o peito e pressiona a testa contra meu braço. — Não me deixe. Por favor, você não.

Ela me agarra tão desesperadamente, como se sua vida dependesse disso, que não tenho tanta certeza se está acordada. Fica murmurando “por favor, Camila”, e é só quando a puxo para meu peito e passo meus dedos pelo seu cabelo que ela relaxa.
— Está tudo bem. Não vou embora. Vou ficar com você.
Ela suspira e o ar ainda pesa e chia em seus pulmões.
— Obrigada.
Ela empurra a cabeça no meu pescoço, e fico meio chocada quando sinto seus lábios na minha garganta.
— Lauren?
Ela geme e me beija novamente enquanto seus braços me apertam.
— Eu te amo — ela murmura, descansando a cabeça no meu ombro. — Eu te amo tanto. Não me abandone.

Ela afunda de volta no sono e eu fico ruminando o que acabei de ouvir.
Só depois de sentir os pulmões queimarem é que percebo que me esqueci de respirar.



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