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História Bad Romeo - Book 1 - Epifania


Escrita por: EstrabaoJwregui

Notas do Autor


ÚLTIMO CAPÍTULO dessa estória!

Espero que gostem

Capítulo 21 - Epifania


 

Hoje

Nova York

Diário de Camila Cabello

 

Querido diário,

Boas novas! Lauren quer que reatemos, então estou magicamente curada e vamos viver felizes para sempre!

Caso não tenha percebido, estou sendo irônica.

A verdade é que, por mais que eu acredite que Lauren tenha mudado, não é o suficiente.

Se ao menos pudesse voltar no tempo e implorar para mim mesma para não me apaixonar tão perdidamente por ela. Não que minha versão jovem fosse me ouvir. Sabia que ela tinha problemas, mas imaginei que o que tínhamos era forte o bastante para amenizar todas as suas feridas.

Por um tempo, foi. Mas não passou de uma ilusão, como quando a neve cobre buracos gigantes, fazendo parecer que o chão é perfeito e sólido.

Jauregui e eu nunca fomos sólidos. Apenas tínhamos diferentes camadas de merdas mal resolvidas. Estávamos sempre oscilando no limite de nossas inúmeras inseguranças.

Agora, ela está pedindo que ande por esse caminho escorregadio novamente. Mas está cuidando tão bem de mim que fico tentada a acreditar que é seguro andar por ali.

O problema é que não importa quão cuidadoso ela seja, sempre vou me lembrar das outras quedas. E não importa o quanto ela repita que está diferente, sempre saberei que foi às minhas custas.

Ela precisou partir meu coração duas vezes para ter uma epifania forte o suficiente para fazê-la mudar. Bom pra caralho para ela.

O que será preciso para eu ter a minha?

 

Permaneço no bar bebericando minha vodca. É a terceira, e finalmente estou começando a ficar menos sensível. Ou talvez mais sensível. É difícil de dizer.

Posso ouvi-los do outro lado do restaurante, rindo e conversando. Estão comemorando nossa mudança para o teatro na semana que vem. Ensaios técnicos. Pré-estreias. Deixar a peça o mais perfeita possível antes de o mundo nos julgar na grande noite.

Eu deveria estar com eles. Mas não estou no clima.

Marco levanta sua taça na minha direção e sorri. Tão feliz com o que ele criou. No palco, Lauren e eu somos impecáveis. O que o fez confiar mais em mim.

Sorrio para ele antes de olhar para minha bebida.

Ele não percebe que está confiando em alguém cujas emoções estão travando lentamente.

Risadas altas rugem pelo salão. Quando me viro, vejo Jauregui rindo enquanto Marco gesticula loucamente.

Ela parece tão feliz.

Quando termino minha bebida, peço outra. Talvez quatro seja meu número da sorte. Um homem senta-se na banqueta ao meu lado. Ele me dá um sorriso enquanto pede um uísque. Ele parece um pouco com a Lauren. Cabelo escuro, olhos verdes. Atraente. Terno caro. Gravata frouxa, camisa desabotoada.

Devo estar encarando porque ele me olha quando o barman lhe entrega sua bebida.

— Eu te ofereceria uma, mas parece que essa aí ainda é novinha.

Eu pisco e desvio o olhar.

— Hum... é. Tudo bem.

— Está sozinha aqui?

Não é isso que ele está perguntando. Mas respondo mesmo assim.

— Estou aqui com amigos. — E aponto para a mesa barulhenta no canto.

Jauregui está imitando alguém. Possivelmente Jack Nicholson. O estranho assente.

— Ah. Descansando da futilidade?

— Algo assim.

Um calor percorre minha espinha. O olhar aguçado de Jauregui queima do outro lado do salão. Ela parou a imitação no meio. Senti seus olhares sutis a noite toda, mas agora é diferente. Não estou mais sozinha.

Isso me faz lembrar dela antes da mudança de personalidade. Sempre tão ciumenta.

Eu me viro de volta para o bar e tento ignorá-la.

O estranho se aproxima, e o uísque em seu hálito o faz ter o cheiro da Lauren.

— Você é linda demais para ficar sozinha — ele diz. — Há algo que eu possa fazer sobre isso?

Ouvi variações disso incontáveis vezes ao longo desses anos, e em incontáveis vezes deixei esses homens cuidarem do assunto. E eu trepava com eles desesperadamente. Usando-os e odiando-os depois por não serem Lauren.

Odiando a mim mesma por ainda querê-la tanto.

Odiando Lauren, principalmente.

O estranho ainda está esperando uma resposta, com esperanças de que minha vulnerabilidade lhe garanta uma trepada. No passado, provavelmente teria garantido.

— Só quero ficar bebendo um pouco — respondo e sorrio, ciente de que Jauregui está vigiando cada movimento meu. — Obrigada mesmo assim.

Toco o braço dele. Começo no tríceps e desço ao cotovelo. Minhas palavras dizem “não”, mas meu toque diz “talvez”. Não falo sério no “talvez”, mas Jauregui não sabe disso, e talvez eu fique tentada. Talvez eu seja mesquinha o suficiente para testar sua nova serenidade e ver se ela realmente mudou tanto quanto diz.

Converso com o estranho. Dou a ele um sorriso tímido.

O olhar de Lauren me queimando mais a cada segundo. Experimento uma sensação doentia de conforto com isso.

Eu me pergunto até onde preciso ir para ela ceder.

Outra bebida. Mais conversa. Posso sentir a frustração de Lauren como uma onda no ar, vibrando contra mim, dizendo que o que estou fazendo é errado.

É ofensivo.

Vingativo.

Depois de cinco bebidas, não me importo mais. O estranho está com o braço ao redor de mim enquanto cochicha na minha orelha. Ele me diz como sou bonita. O quanto me deseja.

Solto uma risada, porque não me sinto bonita. Me sinto um lixo.

O homem finca um beijo suave no meu pescoço. Digo a ele para parar. Quando ele beija de novo, Jauregui aparece ao meu lado, carrancuda e com os músculos contraídos.

— Tá, Camila. Hora de ir.

— Espere aí, amiga. — O estranho aperta o braço na minha cintura. — A moça e eu estamos conversando.

Lauren praticamente rosna para ele.

— Sua conversa acabou, amigo. Tira a porra da mão de cima dela.

Ah, o homem das cavernas. É meio que um alívio que ela não seja tão perfeita afinal. Diminui o tamanho das minhas imperfeições.

O estranho franze o cenho e abaixa a bebida.

— Quem é você para me dizer o que fazer?

Lauren se inclina sobre o rosto dele.

— Sou a pessoa que vai arremessar a merda da sua cabeça pelo bar se ficar com as mãos nela por mais um segundo. Alguma outra coisa que queira saber?

Com uma pontada de medo, o estranho me solta e Jauregui me coloca de pé. Eu me sinto culpada por levar o estranho a isso, mas não tão culpada quanto me sinto por ferrar com a Lauren. Não consigo nem olhar para ela quando ela me leva para fora.

Estamos na calçada, ela me deixa de pé. Cambaleio pela sarjeta e me apoio num carro estacionado enquanto tento chamar um táxi. Tudo está girando e ruim e eu sei que só ela pode melhorar as coisas. Isso me deixa puta de raiva.

— Camila, que porra está havendo com você hoje?

Outro táxi passa e eu aceno desajeitada, quase caindo antes que braços fortes me envolvam e me segurem.

— Jesus, pode parar? Vai acabar sendo atropelada.

Agarro a camisa dela quando minhas pernas cedem, e eu sinto seu calor, seus braços, os lábios na minha testa enquanto respiro o cheiro tão bom dela.

— Volte para dentro.

— Preciso ir.

— Então vou com você.

— Não. Não aguento isso.

— O quê?

— Isso! — O rosto dela está próximo demais. A boca, provocativa demais. — Isso! — Eu empurro o peito dela, mão sobre o coração. — Você!

Estou agitada. Amarga com coisas que não posso mudar e assustada demais para pensar nas coisas que posso.

Ela me olha feio, com uma raiva mal reprimida.

— Seria mais fácil para você se eu fosse um imbecil num terninho que só quer uma foda? Você me aguentaria então?

Minhas pernas cedem novamente. Ela me puxa contra ela, me levanta do chão, e estamos face a face. Essa proximidade está me matando.

— Chega. Vou te levar para casa.

Balanço a cabeça, desejando que ela pudesse entender que se eu ficar mais tempo na sua presença minhas feridas vão se abrir, e realmente não posso desmontar agora. Amargura é a única coisa que me mantém inteira. Sem isso, fico em pedaços.

Perdida.

Minha respiração fraqueja e ela solta o abraço. Coloca sua mão no meu rosto.

— Merda. — Ela me puxa para ela. Cochicha na minha orelha. — Não chore. Por favor. Me desculpe. O que quer que esteja rolando esta noite, você vai ficar bem.

Não acredito nela.

Ela passa um dos braços pelas minhas costas enquanto chama um táxi com o outro. O táxi para e ela me coloca no banco traseiro e dá ao motorista dinheiro com instruções para me ajudar até minha porta, se necessário. Então, o rosto dela está diante do meu, preocupada e triste.

— Me liga quando chegar em casa, tá? — Eu estudo o banco traseiro.

— Camila, estou falando sério. Olha para mim.

Minha cabeça está tão pesada.

É tudo difícil demais.

Ela pega meu queixo para levantar meu rosto. Olhos sóbrios me observam.

— Promete que vai me ligar quando chegar em casa, senão vou com você.

Ela me encara até eu fazer que sim.

Um nó se aperta na minha garganta quando ela beija minha testa.

Por que ela insiste em fazer tudo parecer fácil quando isso é claramente impossível?

Ela desaparece e a porta bate. O carro entra em movimento, e sei que ela não está mais olhando. Eu desabo.

Quando cambaleio para o apartamento, Harry está lá. Já me viu assim antes e sabe o que fazer. Ele me ajuda a ir até o banheiro e pede que eu tome uma ducha. Deixa a água gelada. Daí me ajuda a ir para a cama, tira meu cabelo do rosto, cochicha que tudo vai ficar bem.

Devo ter apagado em algum ponto, porque quando abro os olhos de novo ele já se foi, mas no criado-mudo há dois Tylenol e um pouco d’água. Pego os comprimidos e engulo com a água.

Me sinto seca por dentro. Emocionalmente desolada.

Pego o laptop e abro os e-mails de Lauren, necessitada de alguma parte dela.

Me sentindo repleta e inconsolavelmente vazia ao mesmo tempo.

Eu me derramo sobre cada palavra. Estão tomadas por vagos devaneios de arrependimento, mas as que ela nunca disse ainda não estão entre as que releio agora. As palavras que eu precisava tanto ouvir naquela época para ter certeza de que o que senti por ela não foi totalmente unilateral.

Estou quase dormindo quando meu telefone toca e, sem olhar para a tela, sei que é ela.

— Oi. — Minha garganta está seca.

— Você disse que ia ligar. — A voz dela é dura. Preocupada.

— Desculpe.

— Droga, Camila, o taxista podia ter te largado no Central Park. Que porra está rolando?

— Não sei. Desculpa. — E me desculpo por muitas coisas.

Ela suspira.

— Você... você não pode fazer isso comigo. Não tem ideia de quanto eu... quero dizer, eu quero…

Ela fica em silêncio por um segundo.

— Desculpe pela briga. — Ela parece tão cansada quanto eu. — Só estou preocupada com você. Tentei te dar espaço nas últimas semanas. Distância para você enxergar melhor as coisas, ou sei lá, mas você deixou aquele cara te tocar hoje e… Droga, você devia saber como eu ia reagir.

— Eu sei.

— Não me sinto assim há muito tempo. Eu queria acabar com ele.

— Mas não acabou.

— Queria quebrar a porra dos dedos dele. Era isso que você queria? Me deixar louca? Me magoar?

— Acho que sim.

— É, bom, missão cumprida.

Saber disso não me dá sossego. Na verdade, faz eu me sentir uma merda. Estou tão cansada de me sentir assim, mas não sei como ser de outro jeito.

Há muito tempo, eu achava que duas pessoas que se importassem uma com a outra resolviam seus problemas conversando, mas agora sei que não é tão simples. Conversar na verdade requer que as pessoas tenham coragem de dizer o que estão sentindo. E eu não tenho coragem.

— Você teria ido para casa com aquele cara se eu não estivesse lá?

Reflito sobre isso.

— Não.

— Por que não?

— Porque... — Luto para encontrar as palavras. — Se eu o tivesse levado para casa, eu... — suspiro, irritada e na defensiva. — Eu simplesmente teria fingido que ele era você, enfim... Então, pra quê?

Há uma longa pausa. Meu coração batendo descompassadamente esperando que ela responda.

— Você já fez isso antes?

— Sim.

— Com que frequência?

— Toda vez. Todas as vezes.

Ela inspira.

— O que isso quer dizer?

Ela está me pressionando, mas apesar do desconforto algumas partes minhas querem ser pressionadas. Não sou capaz de fazer isso sem ela.

— Camila?

— Depois que você se foi... — engulo em seco —, senti tanto sua falta. Queria que eles fossem você, então eu fechava os olhos e tentava fazê-los ser você. Todos eles. Até o Louis. Especialmente o Louis. Não funcionou. Nenhum deles nem chegou perto.

Minha respiração parece obscenamente ruidosa no meu quarto silencioso, e o tique-taque do relógio preenche os segundos.

— Jesus... Camila…

Então agora ela sabe. Para melhor ou pior, ela sabe.

— Achei... — Ela faz uma pausa para organizar os pensamentos. — Quando descobri sobre os homens com quem você esteve depois que fui embora, imaginei que tinha feito isso para me esquecer. Ou me punir.

— Era parte do plano. Mas não a parte principal.

— E hoje?

— Queria te provocar. Ver você voltar a ser a antiga Lauren. E, como você disse, te magoar.

Verbalizar me faz perceber que foi um golpe baixo. Como me tornei baixa.

Venenosa.

— Entendo isso. Sei que você acha que mereço uma certa dose de dor, considerando o que eu fiz, mas você não entende. — Ela respira. — Sei que você sofreu quando fui embora, mas eu sofri também. Aquela turnê europeia foi a época mais miserável da minha vida.

Meu ressentimento se aciona.

— Ah, sim. Tenho certeza de que desfilar por todos aqueles lugares exóticos com belas garotas te idolatrando foi bem duro. Decidir qual levar para casa a cada noite. Deve ter sido como um puta banquete.

— Sério que é isso que você acha que aconteceu? Que eu conseguiria fazer isso? Jesus, Camila, quando estávamos juntas, eu nunca nem olhei para outra garota. Acha que eu ia conseguir te esquecer tão facilmente?

— Depois que você desistiu da gente, achei que você seria capaz de qualquer coisa.

Ela ri.

— É, bem, a realidade foi um pouquinho diferente.

— Quão diferente?

Queria ver o rosto dela. Mas só tenho sua voz, baixa e ressoante.

— Na Europa, mesmo cercado de gente, o tempo que passei longe de você foi o mais solitário que já tive. No começo, eu não aguentava. Eu bebia horrores, às vezes, durante os espetáculos. Ia para bares. Arrumava briga. Daí, eu ia para casa e pensava em você. Dava um Google. Sonhava com você. Sentia tanta saudade que caí doente. Às vezes pensei em levar alguém para casa comigo, para que pudesse acordar ao lado de outro corpo. Sem sexo. Só... companhia.

 

Eu sentia a dor dela. Tão similar à minha própria. Pelo menos encontrei o Harry.

— Então, pois é... eu não estava exatamente dando uma festa enquanto estava lá. Estava completamente miserável. E sozinha.

— Mas com certeza você teve outros... relacionamentos... depois…

— Não.

A resposta dela me confunde.

— Mas você... transava. Quer dizer, não sei por que estou perguntando, porque imaginar você com outra mulher é... — Estremeço. — Você transava, né?

Fecho os olhos e espero a resposta, tensa de ansiedade. Diga “muito”. Alimente meu fogo. Me deixe ser dura. Por favor.

Ela fala com calma e baixinho, e cada palavra é tomada de uma sinceridade pesada.

— Camila, você não tem ideia de quantas vezes eu quis transar por transar, só para te tirar da cabeça. Mas eu não conseguia. Toda vez que tentava era como se eu estivesse trapaceando. Até que eu parei de procurar outras mulheres. Era uma puta perda de tempo. Nenhuma delas podia chegar perto de substituir você, mesmo que eu quisesse. O que eu não queria.

Não acredito no que estou ouvindo.

— Está me dizendo que… a última vez que fez sexo foi…

— Com você.

A resposta sai abafada, como se ela estivesse confessando.

Não.

Não é possível.

— Mas isso foi... — Naquela noite. A noite. — Na noite antes de você ir embora?

— Sim.

Leva um momento para meu cérebro reagir.

— Mas... é... droga, Lauren, três anos?!

Ela ri.

— Acredite em mim, eu sei. Não digo isso para fazer você se sentir mal, mas entre minha autoimposta estiagem e esse espetáculo com você, minhas bolas estão mais azuis do que todo o elenco de Avatar.

Ainda não consigo compreender.

— Inacreditável.

— Você está fazendo eu me sentir como uma aberração.

— Sinto muito, é que não consigo entender.

— Olha, é simples. Eu não tinha você, e não queria mais ninguém. Fim da história.

— Então, se não voltarmos você vai continuar sendo celibatário? Há um silêncio mortal por um segundo, então ela diz:

— Primeiro de tudo, nós não voltarmos não é nem uma possibilidade na minha cabeça. E segundo, eu nunca fui celibatário.

— Mas você disse…

— Eu disse que não transei com ninguém, mas ser celibatário significa se abster de todo prazer sexual. Tive muito prazer sexual, geralmente enquanto tinha pensamentos eróticos com você.

A ideia de Lauren se masturbando ao pensar em mim me excita instantaneamente.

— Na verdade, estou tendo alguns pensamentos eróticos sobre você agorinha mesmo.

Ela solta um gemido silencioso, e tenho de puxar os joelhos contra o peito para aguentar a queimação no meu corpo.

— Podemos, por favor, falar sobre outra coisa?

— Com certeza. — Sua voz baixa diz que ela está excitada. — Fale sobre algo que me distraia do quanto eu preciso fazer amor com você. Por favor.

— Lauren…

— Porra, isso, diz meu nome.

— Só vou continuar falando com você se eu souber que suas duas mãos estão bem à vista.

— Posso ver minha mão perfeitamente bem. Está segurando meu latejante…

— Lauren!

Escuto tecido farfalhando seguido de um suspiro resignado.

— Ótimo. Minhas mãos estão sobre as cobertas. Sua empata foda.

Seu tom é tão petulante que me faz rir.

— Então — ela diz antes de bocejar —, você está na cama também?

— Estou.

— Fazendo algo de interessante?

Percebo o que ela está insinuando, mas não mordo a isca.

— Na verdade, eu estava lendo seus e-mails antigos.

Há uma pausa.

— Por quê?

— Não sei. Acho que estou tentando descobrir como eu me sinto.

— Em relação a mim?

— Sim.

Outra pausa.

— Ajudou?

— Na verdade, não. Continuo procurando algo que não está lá.

Ela fica em silêncio por alguns segundos antes de dizer.

— Sabia que tenho uma pasta inteira de rascunhos de e-mails? Coisas que nunca tive coragem de mandar?

— Que tipo de coisa?

Escuto um farfalhar e dedos digitando um teclado.

— Peraí. Vou te mandar alguns dos menos vergonhosos.

Quase imediatamente minha caixa de entrada notifica que há duas novas mensagens.

 

De: LaurenJauregui‹[email protected]

Para: CamilaCabello‹[email protected]

Assunto: Veadinho demais para mandar isso pra você

Data: Quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011 à 1:08

Camila,

Estamos na França. Parei de beber e estou tendo ajuda há seis meses agora. Estou aprendendo a me responsabilizar por meus erros.

Eu me responsabilizo por te magoar. Se você nunca tivesse me conhecido, não sofreria agora. Odeio o que eu fiz.

De todas as pessoas na minha vida que magoei, você é a que mais fez eu me arrepender.

Penso muito em você. Sonho com você.

Queria ter colhão para mandar isso para você, mas provavelmente não vou mandar. Ainda assim, escrever me acalma. Estou me esforçando para me entregar e ser honesto com você, mas acho que ainda não estou preparada. Quando estiver, pode ficar tranquila, você será a primeira a saber.

A França é linda. Fiquei embaixo da Torre Eiffel hoje e olhei para cima. Poucas vezes na minha vida me senti tão pequena. O dia em que te deixei foi uma delas.

Saudade.

Lauren

 

Abro o segundo e-mail.

 

De: LaurenJauregui‹[email protected]

Para: CamilaCabello‹[email protected]

Assunto: Preciso de você

Data: Domingo, 19 de junho de 2011 à 0:38

Camila,

É meu aniversário. Não espero ter notícias suas, mas, porra, eu realmente precisava.

Quero você aqui, no meu apartamento. Na minha cama. Me beijando e fazendo amor comigo e dizendo que me perdoa.

Preciso disso como preciso de ar. Estou me afogando sem você.

Por favor.

Por favor.

Mais cedo, eu estava sentado num banco às margens do Tibre, e havia toda essa gente, segurando as mãos e se beijando. Felizes e apaixonados.

Eles fazem parecer tão fácil. Como se dar o coração a alguém não fosse a coisa mais assustadora do mundo.

Ainda não entendo isso.

Eles não entendem o poder que estão dando à outra pessoa? A futura dominação absoluta se formando?

Não entendem o quanto vai doer quando tudo der errado? E, sejamos realistas, noventa por cento dos casais não estarão juntos daqui a um ano. Nem daqui a seis meses.

E ainda assim estão se abraçando, beijando, completamente alheios à dor que está chegando.

Estão despreocupados e confiantes. Sempre lutei para ser assim.

Foi quase impossível desligar a bomba-relógio que gritava dentro de mim diariamente sobre todas as formas com que você poderia me magoar. Porque a história já tinha provado que todo mundo me deixa um dia. Por que você seria diferente?

Agora que sei que você era. É.

A coisa é que, por baixo de toda a merda que me fez afastar você, havia partes minhas que se prenderam a você quando fui embora. E agora, sem você, luto para continuar vivendo.

Passo as noites acordada, pensando que eu tive minha chance de me entregar e ser bom, e estraguei tudo.

Por favor, me diga que vou ter outra chance. Não me diga que vou ter de viver assim agora.

Não consigo. Viver sem você é difícil demais. Sinto tanta saudade que dói.

Lauren

 

 

Parece um soco no peito.

Era exatamente isso que eu precisava ouvir, muitas vezes.

Me dou conta de que minha mão está tão agarrada no telefone que chega a doer.

— Eles... Deus, Lauren... são lindos. Por que não os enviou?

Ela suspira.

— Não sei. Achei que você me odiava.

— Odiava, mas... se tivesse lido esses e-mails, talvez tivesse te odiado menos.

— Eu queria ter tido colhão para ter mandado tudo lá naquela época, mas eu não estava preparada.

— E agora está?

— Pergunte qualquer coisa que você quiser, e vou te dar uma resposta direta.

— Qualquer coisa?

— Qualquer coisa.

Tomo fôlego e faço a ela a pergunta que me assombra há anos.

— Em todos os seus e-mails, por que você nunca me disse que me amava?

Quase posso ouvir o choque dele.

— O quê?

— Você nunca disse. Em nenhum deles.

Camila, eu disse. O tempo todo.

— Acabei de ler todos eles pela centésima vez e você não disse uma única vez. Disse que tinha saudade. Que queria ser minha amiga, mas não há nada sobre amor.

— Não tem como essa porra ser verdade. Eu... eu... — Ela respira, trêmula.

— Pensei nisso o tempo todo. Era para estar em cada palavra que escrevi a você, mas… Eu... Merda, Camila.

Ela geme, frustrada.

— Lauren, tá tudo bem.

— Não tá, porra. De todas as coisas que eu deveria ter te dito, essa é o topo da maldita lista. Mas, estando nos e-mails ou não, você precisa saber que é realmente verdade.

— Lauren, pare.

— Camila…

— Não, não quero que você diga só porque toquei no assunto.

— Não é por isso.

— Mesmo assim… não, tá? Não esta noite.

Ela inspira e felizmente ela não insiste.

Falamos um pouco sobre o espetáculo, e, quando abafo um bocejo, ela me diz para ir dormir. Eu não discuto.

De manhã, me sinto uma merda. Minha ressaca não está tão mal, mas tive sonhos terríveis nos quais Jauregui sempre me deixava. E, quando voltávamos, a irritação por aceitá-la de novo ficava cada vez maior.

Mal saio do banho e meu telefone bipa com um texto dela.

E-mail novo.

Intrigada, abro o laptop e vejo um único e-mail. Quando clico sobre ele, minha tela explode:

 

TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO,TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO, TE AMO.

 

Rolo as páginas para baixo, chocada, e finalmente chego até a continuação da mensagem.

Caso você não tenha entendido, escrevi “TE AMO” 1.162 vezes, uma para cada dia em que fiquei longe. E, por favor, não pense que essa foi uma rápida declaração copiar-e-colar. Digitei cada palavra, uma por uma, como penitência por ser otária demais para deixar bem claro o que sinto por você.

Sei que você acha que fui embora porque eu não te amava, mas você está errada. Eu sempre te amei, desde o momento em que coloquei os olhos em você. Critiquei e falei mal de amor à primeira vista porque a ideia é ridícula pra caralho para mim. Mas aconteceu comigo no instante em que te vi nos testes para a Grove. E você me nocauteou sem dizer uma única palavra. Eu te vi lá, tentando desesperadamente ser algo que você não era para que gostassem de você, e queria te pegar nos braços e dizer que ia ficar tudo bem.

Naquele momento, eu soube que você era a mulher da minha vida, mas fui cabeça-dura demais para aceitar.

Não faço ideia de como ou por que você foi capaz de me amar. Eu fui uma cuzona, tão ocupada tentando fugir dos meus sentimentos que não percebi que você era um presente. A preciosa recompensa a que eu de certa forma tinha direito por todo meu sofrimento. Passei tanto tempo acreditando que tinha recebido o que merecia quando as pessoas me deixavam que não parei para pensar que recebi o que merecia quando te encontrei. Não consegui ver que, se eu parasse de ser uma grande idiota insegura por cinco minutos, daí talvez... só talvez… eu conseguisse ficar com você.

Quero ficar com você, Camila.

Por isso voltei. Porque, por mais que eu achasse que você ficaria melhor sem mim, você não ficou. Você precisa de mim tanto quanto preciso de você. Estamos ambas vazias uma sem a outra. E levei muito tempo para perceber isso.

Não seja idiota como eu fui deixando as inseguranças vencerem. Deixe a gente vencer. Porque sei que você pensa que me amar de novo é um tiro no escuro e que suas chances são sombrias, mas me deixa dizer uma coisa: eu sou a coisa real. Não consigo parar de te amar, mesmo que eu tente.

Ainda estou morrendo de medo de você me magoar? Claro. Provavelmente da mesma forma que você morre de medo de que eu te magoe.

Mas tenho coragem suficiente para acreditar que o risco vale a pena.

Me deixe ajudá-la a acreditar.

Eu te amo, e juro por Deus que não vou te magoar de novo. Permita-se me amar de novo.

Por favor.

Lauren

 

Eu me sento lá e olho para a tela por um longo tempo, alternando entre rir e chorar.

Em algum ponto ali, o fogo da minha amargura soltou sua última faísca e morreu. A sensação é estranha, porque isso era o que me fazia seguir em frente quando nada mais fazia, e sem isso me sinto nua da pior forma. Suave e vulnerável, e mais frágil que vidro.

Ontem, me perguntei o que era preciso para eu ter minha epifania e mudar.

Acho que era um e-mail de Lauren desnudando sua alma.

Ela quer que eu acredite que é possível amá-la de novo, mas, mesmo que eu tenha alguma coragem para isso, ela está enferrujada e fora de uso. Não tenho certeza de que vou conseguir isso em vez de me fechar, mas está claro que ela não vai deixar que isso aconteça.

Mais importante, sei que ela mesmo não vai se permitir fracassar.

Uma das frases favoritas do Harry é: “Seja a mudança que você quer ver”.

Acho que foi o que Lauren fez. Ela se tornou forte o suficiente para nós duas.

Minhas mãos tremem quando mando um texto a ela.

Preciso te ver.

 

Mal clico em “enviar” e ouço uma batida na porta.

 


Notas Finais


Estou tremendo com o final do BOOK 1 minha gente!
lembrando que é uma adaptação e teremos sim o Book 2! Se quiserem é claro, me digam se gostaram e nos vemos nas novas aventuras do casal no book 2.


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