1. Spirit Fanfics >
  2. Bad Romeo - Book 1 >
  3. Fingindo

História Bad Romeo - Book 1 - Fingindo


Escrita por: EstrabaoJwregui

Notas do Autor


Hello amores, no cap algumas vezes podem se referir a Lauren como "ele" pq ela está interpretando um personagem masculino.

enjoy

Capítulo 9 - Fingindo


No dia seguinte, as desculpas de Jauregui ainda estão ecoando no meu cérebro quando caminho para o ensaio. Achei que ela se desculpar me daria alguma sensação de fim, mas não deu. Em vez disso, me gerou uma estranha ansiedade efervescente.

Solto a respiração e puxo os ombros para trás.

Qual é a pior coisa que poderia acontecer? Ela dizer que não estava falando sério?

Não, minha consciência sussurra, soando irritantemente como Harry. Seria pior ela dizer que estava falando sério, porque então você teria que de fato decidir deixá-la ficar ou deixá-la ir. Na verdade, ambas as opções te matam de medo.

Ranjo os dentes. A Consciência Harry está irritantemente tão certa como o Harry Vida Real. Quem diria?

Avalio o ensaio de hoje quando chego ao teatro. Devemos marcar a cena de sexo para passá-la amanhã. Imagens de Jauregui correndo as mãos pelo corpo sequestram minha mente e eu estremeço.

Nossa.

Só de pensar nela me estimulando, de mentira ou não, já é o suficiente para me deixar excitada por antecipação.

Respiro fundo e abro a porta. Quando entro na sala, Cody, o extraordinário anjo da cafeína, me passa um café. Jauregui surge na minha frente enquanto fecho minha bolsa e guardo. Ela parece bem demais para alguém com uma ressaca monstra.

 

— Ei — ela diz baixinho.

— Oi.

Ficamos paradas lá alguns segundos num silêncio desconfortável.

— Então... — ela diz, olhando para as mãos.

— É, então... você está toda acabada hoje. — O comentário é uma pirraça.

— Valeu. Parece que não posso mais beber quase uma garrafa de Jack como eu costumava.

— Que pena. Não listou isso no seu currículo como um talento especial?

— Sim. Nunca tive de usar em um personagem, mas cheguei a fazer muita pesquisa.

— Ah, sim. Muito importante, pesquisa bêbada.

— É. — Ela sorri, o tipo de sorriso fofo de um lado, só que é irritantemente cativante. — Escuta — ela diz. — Quão babaca eu fui noite passada? Fica à vontade para mentir e dizer “nem um pouco” porque tenho a impressão de que foi feio.

 

Quase derrubo meu café.

— Você não se lembra?

Ela engole em seco e faz uma pausa antes de responder.

— Não, me lembro, só que... não sei o quanto você riu disso quando desligamos. Não te culparia se tivesse rido.

— Não ri de nada — retruco, experimentando a honestidade. — Fiquei chocada demais por suas desculpas para fazer qualquer coisa além de me convencer de que eu não estava sonhando.

Ela assentiu.

— É, percebo que tenho problemas com isso. É uma das coisas em que estou trabalhando.

— Que pena que não trabalhou nisso quando estávamos juntas.

 

Eu me sinto mal pela dor que passa pelo rosto dela, mas o que posso fazer? Não que eu pudesse parar de ser uma vaca com ela do dia para a noite.

Marco entra na sala e há uma movimentação enquanto pedaços do cenário são colocados em posição. Há uma cama no meio da sala de ensaio e está erguida num ângulo para que a plateia possa nos ver deitados.

Minha boca fica seca só de vê-la.

Dou uma olhada de esguelha para Jauregui. Ela está respirando fundo e constante, ou se aquecendo ou acalmando os nervos. Sigo sua deixa. Meu coração está batendo rápido demais.

Cinco minutos depois, Lauren está entre minhas pernas, suas mãos emoldurando meu rosto, sua boca pouco acima da minha. Ela me beija, suave e doce enquanto seu quadril se movimenta para a frente e para trás.

Ela geme baixinho e fecha os olhos.

— Olhe para mim, Sam — sussurro. Ela abre os olhos. Tão lindos. Intensos e complicados. Sempre.

— Beije-a novamente — Marco indica. — Beije a boca, então desça para o pescoço.

 

Lauren olha para mim, hesitando por um momento antes de obedecer, seus lábios suaves, porém fechados.

Não me movo, congelada demais para beijá-la de volta, mas ciente de que eu deveria.

Ela se afasta e olha para mim, confusa. Droga, preciso começar a pensar como Sarah.

Ela é Sam. Ela e Sam vivem felizes para sempre. Já li o roteiro. Ela me beija novamente. E eu correspondo, desajeitada.

 

— Você precisa fazer algum ruído, Camila — Marco pede, soando frustrado. — Nada do que está fazendo está sendo percebido daqui. Faça mais alto.

 

Descongelo e tento fazer meu trabalho.

Começo a envolver meus braços nela e grunhir alto enquanto levanto os quadris e arqueio as costas. É falso e pornô, mas a essa altura não tenho ideia do que estou fazendo.

Agarro a bunda dela e a puxo contra mim. Ela sussurra um “Puta merda, Camila” antes de soltar o ar forte contra meu ombro.

— Acredito que a frase seja: “Oh, Sarah, eu te amo”. — Então solto um gemido e beijo seu pescoço. Instintivamente, busco seu ombro e agarro sua camiseta. Eu a puxo sobre sua cabeça e a jogo no chão.

— Então estamos tirando minhas roupas agora? — ela cochicha. — Achei que estávamos apenas fazendo as marcações.

— O que posso dizer? Aparentemente nada do que faço está comovendo a plateia. Acredito que tirar sua roupa vai comover.

 

É gostoso ser agressiva. Posso desconectar.

Mais ruídos falsos saem da minha boca, e quando seus músculos ondulam sob meus dedos tudo que era Sam vai direto pela droga da janela.

Lauren seminua.

Ela é incrível. Mais incrível do que costumava ser, se isso é possível.

Seu peito seminu me distrai tanto que de repente não tenho ideia do que devo fazer. Sarah deu tchauzinho.

Passo as mãos por sua barriga antes de buscar suas costas e tocar o cós de sua calça. Ela murmura algo que soa vagamente como um “puta que pariu”.

Ela deixa a cabeça cair no meu ombro e puxa os lençóis ao meu redor quando fecha as mãos em punhos. Todos os seus músculos estão tensionados e acho que ela não está respirando.

 

— Tem algum motivo para vocês terem parado? — Marco pergunta, perdido. Ele se vira para Taylor. — Por que eles pararam?

Lauren ainda não está respirando.

— Lauren? — chamo num sussurro.

Ela não se mexe, mas há um sopro de ar quente quando ela respira contra meu pescoço.

— Quê?

— Tudo bem?

Ela suspira.

— Sim. Tudo.

— É a sua vez?

Ela endurece.

— Minha vez do quê?

— É a vez da sua fala?

Ela se ergue com os braços e olha para mim, o queixo contraído.

— Camila, não tenho a mínima ideia de qual é o meu nome agora, quanto mais da hora em que devo dar as minhas falas. Vamos só terminar essa marcação. Acertamos o diálogo depois.

Ela soa brava, mas sei que está apenas frustrada. Estou frustrada também.

— Tá, o.k. — respondo envolvendo minhas pernas na cintura dela e a puxando para mim. Perco o ar quando a sinto através do jeans.

Ela solta um grito sufocado e se afasta, envergonhada.

Ela murmura desculpas, então desliza pelo meu corpo para que eu fique embaixo da sua barriga em vez de sob seu quadril.

— Jesus, Camila, estou tentando mesmo pensar em cachorrinhos mortos aqui, mas...

— É mais duro do que você pensava?

— Está tentando ser engraçada?

— Não, porque se eu começar a rir agora acho que não vou conseguir parar.

Ela abaixa a cabeça.

— Merda.

— Menos papo, mais atuação, por favor, crianças — Marco berra. — Lauren, você parou de se mover. Eu preciso te explicar como fazer amor com uma mulher? Porque, apesar de eu nunca ter tido o prazer, estou bem certo de que envolve empurrar.

 

Lauren suspira e começa a empurrar falsamente de novo. Mesmo sabendo que ela está tentando manter seu pênis ereto longe de mim, eu o sinto roçar a parte interna da minha coxa.

— Merda. Desculpe. — Ela ajusta seu ângulo novamente. — A droga do troço tem mente própria perto de você.

— Não se preocupa com isso — murmuro, porque, sério, o que mais vou dizer? “Como ousa ficar excitada quando está simulando sexo comigo? Que audácia!” Nem vou mencionar que minha calcinha está mais molhada do que um tobogã de parque aquático. Ela não precisa saber disso.

Não que alguma de nós duas possa evitar.

Nossa atração física nunca foi algo que pudéssemos controlar.

Mais vezes do que gostaríamos desistimos de impedir o que nossos corpos queriam fazer sem resolver todo o resto da nossa merda. E, na maioria dessas vezes, acabamos arrependidas. Agora está tudo errado, porque estamos tentando filtrar nossa atração debilitante através de nossos personagens.

Estamos fingindo, não sentindo.

Depois de alguns minutos de amor sem brilho, Marco suspira, frustrado.

 

— Tudo bem, vamos parar aqui. — Ele acena quando caminha até nós. — Isso não está funcionando. Vocês duas estão mais desconfortáveis do que um vegetariano numa fábrica de salsichas. O que foi?

Lauren rola para o lado e nos levantamos. Nenhuma das duas responde.

— É íntimo demais? — Marco pergunta, olhando de uma para a outra. — Estão envergonhadas? Porque, francamente, já vi vocês fazendo cenas muito mais controversas do que essas. Mas vocês ainda estão aí, se remexendo como duas virgenzinhas. Cadê a paixão? O fogo? O desejo louco um pelo outro? Vocês tinham isso ontem. O que aconteceu para ter apagado?

 

O que aconteceu é que Lauren se desculpou comigo sem avisar, e agora estamos numa espécie esquisita de limbo do relacionamento, porque não somos amigas e definitivamente não somos namoradas. Por mais estranho que seja, não somos nem inimigas... então, pois é.

Marco suspira e balança a cabeça.

— Tá, então. Vamos pular a cena de sexo e ir direto para a manhã seguinte.

O alívio nos nossos rostos deve ser extremo, porque Marco ri.

— Parece que acabei de doar medula óssea para salvar a vida de vocês duas. Não vou mentir. Parece um pouco isso.

Marco nos guia pela cena e nos diz para seguirmos nossos instintos. Quando tomamos nossas posições em lados opostos da cama, Jauregui diz:

— Isso vai ser mais fácil, certo?

— Claro — respondo com uma confiança falsa. — Não era eu que costumava surtar depois de fazermos amor, lembra?

Ela bufa.

— Tá, tudo bem, foi naquela época. Já superei os surtos.

 

Nós nos deitamos uma do lado da outra. Ela coloca o braço ao meu redor e me puxa para seu peito seminu. Posso sentir seu coração batendo sob meu braço, forte e irregular.

Superou os surtos uma ova.

Apesar do que disse, também estou surtando.

Agora que estou aqui, percebo que essa posição — minha mão sobre seu coração, seus lábios no meu cabelo, nossos corpos pressionados um contra o outro — é mais íntima do que qualquer cena de sexo que eu já fiz.

Sexo se baseia em hormônios e partes do corpo. Isso se baseia em proximidade. Amor. Confiança. Todas as coisas que me matam de medo.

Na primeira vez em que Lauren e eu fizemos amor, nós nos abraçamos assim depois. Eu estava tão feliz. Tão apaixonada por ela.

Então, foi tudo para o inferno.

Nessa posição, com a cabeça contra seu peito, posso ouvir o coração de Lauren batendo, rápido e errático. Como naquela época.

Uma sensação familiar começa no meu peito e segue até a garganta. Aperto bem a boca para sufocar um grunhido, mas acho que não funciona, porque Jauregui aperta o braço ao redor de mim.

— Ei... o que foi? — ela cochicha.

Sua mão vai para minha bochecha. Fecho os olhos e tento afastar o pânico. Isso é ridículo.

— Camila, ei... — Sua voz é toda conforto e afeição contidos.

Uma bagunça completa de emoções antigas surge e inunda meu corpo com adrenalina demais.

Eu me sento enquanto minha cabeça começa a girar. Em segundos, o braço de Jauregui está ao meu redor.

— Parece que você vai vomitar. Faz um tempo desde que eu fiz você adoecer. Bom saber que eu não perdi o jeito.

Ela espera minha resposta, mas permaneço em silêncio. Estou num ataque de pânico completo agora, e parece que meu estômago está tentando subir pela minha traqueia e me sufocar.

— Camila? — Ela franze a testa. — Sério, você está bem?

— Não. — Estou arfando e a expressão dela está preocupada demais. — Para de olhar para mim assim. Você não pode.

— Desculpe. — Ela fala como se fosse perfeitamente normal essa palavra sair da sua boca. Como se ela dissesse isso todo dia e eu estivesse acostumada a ouvir.

— Srta. Cabello? — Marco me chama quando se aproxima de nós. — Está tudo bem?

Eu solto o ar e disfarço de novo minha ansiedade.

— Desculpe, Marco. Foi uma semana longa. Acha que podemos deixar essa cena para segunda?

É, porque na segunda vou ser capaz de fazer todas essas coisas altamente íntimas com a Lauren sem pirar, não vou?

Idiota.

— Tá, certo — Marco concorda. — Vocês duas estão cansadas. Vamos encerrar por hoje.

Ele volta para a mesa de produção e Taylor nos encara por um segundo antes de dizer ao resto da companhia que estamos encerrando pela semana.

 

Percebo movimentos e me viro para ver Lauren pegando sua camiseta. Ela a veste e joga as pernas para fora da cama antes de descansar os cotovelos nos joelhos.

— Me lembro da primeira vez em que tivemos de fazer uma cena assim — ela comenta quando se vira para me encarar. — Você meio que perdoou minha... empolgação.

— Você se mostrou menos pesarosa com isso. Na verdade, se me lembro bem, você se aproveitou de seu poder sobre mim.

— Meu poder sobre você? — ela repete me lançando um olhar inocente. — Você não tem ideia do que fez comigo naquele dia, tem? Jesus, eu estava sofrendo fisicamente de verdade.

— Você merecia.

Ela assente e brinca com a ponta do lençol mais próxima dela.

— Escuta — ela diz puxando a costura. — Entendi que você pode nunca me perdoar, mas eu queria pelo menos tentar fazer as coisas mais fáceis para você. Me diz o que fazer que eu faço. Manda eu me foder que eu me fodo. Só me diz, tá? O que você quer que eu faça?

Eu inspiro e expiro lentamente.

— Bem, para começar, vamos fingir que eu não surtei na frente de todo mundo porque você me abraçou. Isso é humilhante.

Ela sorri.

— Não vou mentir: pelo menos uma vez é bom não ser eu a surtada.

Balanço a cabeça.

— É, não vou mentir, a inversão dos nossos papéis é um pé no saco dos grandes.

Ela fica de pé e me oferece a mão.

— Ainda a fim de sair de noite?

Eu quase tinha me esquecido de nosso encontro da conversa.

— Precisamos?

— Sim, precisamos mesmo.

— Pelo menos podemos incluir muito álcool?

— Claro — ela me puxa para ficar de pé. — Eu pago.

— Legal. Então vou pedir as bebidas mais caras.

 

Seis anos antes

Westchester, Nova York

Grove

 

Chego ao ensaio e faço alguns exercícios de aquecimento, pretendendo desestressar e ter um dia bom.

Estou fazendo alguns alongamentos de ioga quando Jauregui chega. Ela joga sua mochila num banco da segunda fileira e desaba ao lado dela antes de colocar os pés na cadeira em frente e fechar os olhos. Posso ver seus lábios se movendo, provavelmente passando suas falas.

A tensão entre nós chegou a níveis desconfortáveis desde o beijo. Nós nos apresentamos aos ensaios, dizemos nossas falas, agimos como se nos amássemos, nos beijamos apaixonadamente. Então, quando o ensaio termina e temos a oportunidade de falar: nada. Nós nos estranhamos demais para conversar. Isso está me enlouquecendo.

Não ajuda que quando ela me beija eu fique tão excitada que mal consiga respirar. Passei os últimos três dias num estado de tesão totalmente debilitante, e hoje temos de passar a cena de sexo de Romeu e Julieta.

Merda.

Eu me recuso a ser uma dessas menininhas que faz papel de palhaça por alguém. Se Jauregui está determinada a ignorar o que quer que esteja acontecendo entre nós, vou ignorar também. Não preciso dela.

Hum, meio que preciso que ela me dê um orgasmo. Mas, tirando isso, ela é só uma mulher.

Uma mulher com quem vou ter de simular fazer sexo pelas próximas sete horas. Minha vida é uma piada.

Dinah aparece no palco e me chama para perto dela. Para efeito do ensaio, nossa “cama” é simplesmente uma caixa preta coberta por um lençol.

Tão romântico.

 

— Bom — Dinah começa —, a noite de casamento é historicamente controversa por causa de seu conteúdo sexual. Então, vamos buscar algo realista, mas de bom gosto, tá?

 

Jauregui e eu assentimos, mas não tenho certeza do que ela quer dizer. Não estou familiarizada com sexo real, quanto mais do tipo falso.

— Agora, como estamos na escola de teatro, precisamos assumir certos riscos. Por esse motivo, eu gostaria de criar a ilusão de nudez.

Estou bem certa de que o olhar de terror no rosto da Jauregui é igual ao meu.

— Não fiquem em pânico. — Dinah ri. — Vocês não vão ficar peladas. Só vão parecer estar.

Ela tira da bolsa o que parece ser roupa íntima.

— Srta. Cabello, você vai usar isso debaixo do figurino. — Ela me passa um collant cor da pele. — E sra. Jauregui, você vai usar esta. — Eu faço uma careta quando ela mostra uma cueca boxer cor da pele. — Agora, entendo que vocês podem estar um pouco hesitantes quanto a isso, mas, acreditem em mim, são bem recatados. Vocês revelam mais de seus corpos indo para a praia.

 

— Geralmente eu uso bermuda de surfista — Jauregui murmura.

— Eu uso jeans e moletom de capuz.

Dinah e Jauregui se viram para mim.

— Sou do estado de Washington e lá as praias são congelantes.

Dinah entrega uma camiseta branca e uma calça de amarrar para Jauregui e um robe marfim para mim.

— Esses são seus figurinos para esta cena. Preciso que ensaiem neles, já que removê-los é parte da cena.

 

Ai, diabos, eu tenho de ensaiar tirar a roupa da Lauren? No meu estado atual, isso não vai acabar bem.

Jauregui e eu pegamos os figurinos e trajes íntimos e saímos para camarins separados. Quando voltamos, juro que estamos no mesmo tom de vermelho. Ela está bem no figurino. Alta e esguia. A alvura do branco faz seus olhos parecerem mais verdes que o normal. Ela enfia as mãos nos bolsos, mas a calça não tem bolsos. Ela suspira frustrada. Eu paro na frente dela e ela encara o decote profundo na frente do meu robe antes de baixar a cabeça e murmurar “merda”.

 

— Tá, vamos lá. — Dinah bate palmas. — Vamos começar falando da sequência de eventos. Srta. Cabello, você vai começar se sentando na cama, cheia de entusiasmo e desejo. Sra. Jauregui, com a ajuda da ama você conseguiu se enfiltrar no quarto de Julieta. Vocês têm algumas horas curtas para consumar seu amor antes que Romeu seja banido da cidade. Vocês dois querem saborear cada centímetro de pele, memorizar cada parte do corpo do outro. Alguma pergunta?

 

Eu balanço a cabeça e torço a boca enquanto o elástico do meu collant sobe pela banda esquerda da minha bunda. Jauregui balança a cabeça e estala os dedos.

— Comecem lentamente. Levem tempo explorando um ao outro. Romeu, essa é sua primeira vez fazendo sexo com alguém que você realmente ama. É uma experiência profundamente diferente para você. E, Julieta, sua apreensão sobre se entregar a alguém pela primeira vez é completamente tomada pelo desejo que sente por seu novo marido. Conforme a paixão aumenta, seus movimentos podem se tornar mais ritmados. Mas, quando gozam juntos, é uma revelação para os dois. Não estou querendo pornô aqui. Apenas amor simples e honesto. Está claro?

 

— Claro — respondemos em uníssono.

 

Minhas palmas transpiram, e Jauregui está mordendo o interior da bochecha. O teatro parece muito pequeno.

— Certo. Conversem um pouco sobre o que vão fazer, então tomem suas posições.

Dinah desce para a plateia enquanto Jauregui e eu nos viramos uma para a outra, vacilantes e nervosas.

— Então... — Olho para ela.

Ela assente e solta o ar.

— É. Então...

— Vamos fazer sexo falso.

— É.

— Você e eu.

— É o que dizem.

— Tenho de tirar suas roupas e... bem... tocar você e tal.

Ela torna a buscar seus bolsos inexistentes antes de colocar as mãos na cintura.

— Que se foda essa porra de peça.

— É só uma cena — afirmo. — Cena mecânica, sem emoção. Tenho certeza de que depois de alguns minutos vamos estar morrendo de tédio.

Ela me lança o olhar mais cético do mundo.

— Vocês duas estão prontas? — Dinah chama.

 

Olhamos uma para a outra por um segundo antes de Jauregui sair para a lateral do palco.

Tá, então vamos mesmo fazer isso. Uma cena de sexo. Entre uma virgem e uma pessoa que odeia desejá-la. Deve ser divertido.

Eu me sento no canto da cama cênica e balanço as pernas.

— Quando estiverem prontos — Dinah diz, abrindo seu caderno.

 

Inspiro e expiro algumas vezes, então Jauregui entra em cena, descalça e com uma expressão bonita. Olhos cheios de medo, necessidade e desejo.

Eu fico de pé e a encaro enquanto ela se aproxima. Um leve arrepio toma meu estômago. E desce quando ela corre o olhar de cima a baixo pelo meu corpo.

Tá, Camila, concentre-se. Encontre seu personagem. Julieta. Isso é para a Julieta.

Minha nossa, Jauregui fica bem naquele figurino.

Romeu, Romeu, onde estás tu, Romeu.

Ela para na minha frente. Parece que correu um quilômetro em vez de ter caminhado alguns passos pelo palco. Sua respiração está acelerada e seu peito sobe e desce enquanto ela fixa seus olhos em mim.

Deus. Seus olhos.

Ela está totalmente comprometida com a cena. Sem medo e sem se esconder. Apenas paixão nua e crua. Profunda e sem pudor.

Ela foca em mim e eu derreto. Aquele olhar vai ser a minha morte.

Sua expressão grita que ela andaria sobre carvões em brasa para me tocar, e meu corpo todo reage. Uma chama profunda começa devagar e cresce mais intensamente a cada segundo que se passa.

Ela toma meu rosto na mão em concha e roça gentilmente um polegar sobre minha bochecha. Cada porção de pele sob seu toque arde ferozmente. Meu coração acelera, batendo forte e rápido, me deixando tonta.

Dou um passo à frente e me aproximo dela. Agora nossos corpos estão se tocando. Imito sua mão e toco seu rosto. Deslizo os dedos sobre a textura macia. Seus lábios se abrem e eu passo o polegar sobre eles, fascinada pela maciez.

Que belos lábios. Preciso prová-los.

Estou na ponta dos pés e minha mão está na sua nuca enquanto eu a puxo. Interrompo sua respiração quando pressiono meus lábios contra os dela. Então ela puxa o ar bruscamente. Ela agarra a parte de trás da minha cabeça com uma mão e aperta a outra ao redor da minha cintura.

Eu me derreto toda contra ela. A forma como reagimos uma a outra é primitiva como fogo. Cera de vela e chama. Onde quer que ela me toque, um calor abrasador queima minha pele.

Seus lábios se movem lentamente enquanto ela me experimenta, tomado por uma paixão contida que a deixa sem fôlego.

 

— Isso é bom — Dinah elogia.

Abro os olhos e recuo, surpresa.

— Não — ela cochicha. — Ignore-a.

Ela me beija novamente enquanto puxa meu corpo contra o dela. E Dinah não existe mais.

Quando inspiro, é como se pedaços dela passassem a ser meus. Seu gosto.

Seu cheiro. Tão debilitante quanto o resto dela.

Passo as mãos por seu peito, e, quando chego à sua barriga, ela se afasta e olha para mim.

Agarro a barra de sua camiseta. Ela precisa sair. Preciso vê-la. Ela me ajuda puxando-a sobre a cabeça e jogando-a no chão.

E lá está ela. Jauregui sem camisa.

Eu respiro fundo e confiro seu corpo. Os ombros largos, macios e firmes. O peito amplo levemente salpicado com pelos pálidos. A barriga chapada, a cintura estreita. Musculosa, mas não demais.

Esguio. Rígido. Sexy.

Ela observa minha avaliação e sua respiração acelera.

 

— Coloca suas mãos em mim — ela ordena baixinho.

Passo a ponta dos meus dedos nas costas da mão dela e arrasto minhas palmas em seus antebraços, seu tríceps, ombros. Ela estremece e fecha os olhos enquanto eu sigo sobre a clavícula, o peito, as costelas e o abdômen.

Respiro entre cada emoção que estou sentindo, tentando entender por que ela me afeta tão poderosamente.

Sempre a achei atraente, mas isso vai além. Uma sensação intensa de familiaridade passa por mim. Um sussurro de “sim” mesmo quando minha mente grita “não”.

Ela abre os olhos e foca meu colo, então desce o olhar, até chegar à faixa ao redor da minha cintura. Ela franze o cenho quando puxa o tecido sedoso para soltá-lo. O robe cai aberto e fico incrivelmente consciente de que a única coisa impedindo Jauregui de me ver nua é um leve collant que não está camuflando em nada meus mamilos.

Ela puxa o ar num alto respiro e olha nos meus olhos antes de dar um passo à frente. Então se inclina para dar beijos quentes no meu pescoço, no meu colo, então mais abaixo, entre os meus seios. O tecido leve do collant não me isola do efeito de seus lábios no meu corpo. Ela continua me beijando, agora fazendo o caminho de volta até sua boca estar contra minha orelha.

 

— Já está entediada? — ela cochicha.

Passo minhas mãos por seu peito e raspo minhas unhas no seu abdômen, parando no cós da sua calça. Enfio meus dedos sob o elástico e ela me aperta mais firme enquanto beijo seu tórax.

— Praticamente em coma — cochicho em sua pele.

Jauregui dá um gemido, e é quando a máscara cai. Ela agarra meu rosto e me beija ferozmente. Todo o fingimento de ser gentil e paciente vem abaixo enquanto nossa respiração rápida e nossos gemidos baixos tomam o silêncio.

 

— Ah, bom — Dinah diz. — Boa noção de urgência. Continuem assim.

— Como se eu fosse parar essa porra — ela diz contra minha boca.

 

Ela me levanta, e eu passo as pernas ao redor da sua cintura. Grunhe e continua a me beijar enquanto me carrega para nossa cama improvisada. Me deita e sobe em mim. Perco o ar quando ela se ajeita entre minhas pernas.

Ela está lá. Bem onde toda a tensão tem se acumulado nos últimos dias. Está duro e quente contra mim, e nada do que ela faz é o suficiente. Quero devorá-la. Quero ela dentro de mim até eu não aguentar mais.

Agarro sua bunda para puxá-la mais firmemente contra mim. Ela geme e movimenta o quadril, fazendo meus dedos se cravarem em sua pele conforme a tensão cresce dentro de mim. Perco o ar quando sinto uma mão quente no meu seio direito.

 

— Tá, agora vocês atingiram uma linha tênue — Dinah chama. — Cuidado com onde põem as mãos.

— Tudo bem eu tocar meu novo marido? — pergunto a ela. — Quer dizer, nunca senti essa parte antes. — No palco e nem fora dele.

— Bem — ela diz —, isso é verdade, mas não pode ser gratuito demais. Toque a coxa dela e eu vejo o que vai parecer daqui.

 

Eu me estico entre nós e toco sua coxa, mas também posso sentir seu pênis duro com as costas do pulso no processo. Ela fica tensa.

— Você não está jogando limpo.

— Eu não sabia que precisava.

— Tá, ficou bom daqui — Dinah avisa. — Consegue-se ver o toque sem ser óbvio demais. Bela reação realista, sra. Jauregui.

— Valeu — ela responde numa voz entrecortada quando viro minha mão para tocá-la gentilmente.

Deus, ela é incrível. Se ela é tão boa assim vestida, imagine pelada nas minhas mãos.

Passo minha palma por todo seu comprimento.

— Cabello, pare — ela pede baixinho.

— Por quê?

— Jesus, porra — ela grunhe. — Por favor...

Ela tenta se afastar.

Beijo seu peito enquanto a aperto mais firme. Ela solta um longo suspiro.

— Tá, srta. Cabello, já é o suficiente — Dinah comenta. — Está ficando repetitivo agora.

— Graças a Deus — Jauregui diz quando removo minha mão.

 

Agarro sua nuca e a puxo para baixo. Nós nos emaranhamos de novo num longo e profundo beijo que faz a fome dentro de mim se intensificar.

Quero tanto ela dentro de mim que até dói.

— Em algum ponto você vai ter de tirar a calça dele, srta. Cabello — Dinah lembra. — Do contrário, consumar seu casamento vai ser muito difícil.

Jauregui olha para mim, pânico escrito em seu rosto.

— Ela não pode ver você — aviso quando puxo sua calça para baixo do seu quadril, revelando a cueca cor da pele. Jauregui levanta a perna para que eu possa abaixar a calça pelos joelhos antes que ela a chute para longe.

— Essa é a coisa mais embaraçosa que já fiz na vida — ela murmura enquanto se arruma de volta contra mim.

— Idem.

— Agora precisamos ver o momento da consumação de fato. — É a Dinah de novo. — Sei que isso provavelmente é árduo, e sinto muito. Não precisa ser exagerado, mas tem de acontecer de alguma forma.

 

Jauregui pressiona sua pélvis contra a minha, e seu rosto se suaviza.

— Está pronta para perder a virgindade? — ela pergunta.

Mesmo sabendo que ela está brincando, há algo em seu tom de voz que faz meu estômago se agitar.

— Completamente.

— Se isso fosse real, ia doer.

— Eu sei.

Ela repuxa os lábios e coloca as mãos entre nós, como se se alinhasse comigo. Seus dedos me tocam de leve, e eu inspiro com força, surpresa.

— Aí vamos nós — ela anuncia.

Ela se esfrega contra mim e eu fico sem ar quando um olhar de surpresa perpassa o rosto dela.

Era assim que ela ficaria se estivesse dentro de mim? Nossa senhora. Faço meu papel, me retorcendo de dor enquanto ela se movimenta.

— Tudo bem com você? — ela pergunta de mansinho e não sei quem quer saber, ela ou Romeu. Dou um sorriso a ambos.

— Estou bem.

Ela sorri de volta.

— Que bom.

Ela se mexe, lenta e cuidadosamente. Não preciso interpretar para mostrar prazer e dor quando ela desliza sobre mim, porque meu corpo está alternando entre gritar por mais e gemer que já é demais. Ela observa meu rosto e tenho certeza de que ela pode sentir meu desespero.

— Ainda não teve um orgasmo, Cabello? — ela pergunta quando beija meu pescoço na marca leve que deixou no começo da semana. Passa a língua sobre ela antes de cravar os lábios no lugar e sugar firme.

— Não... — começo a dizer enlaçando meus dedos em seu cabelo e puxando.

Ela levanta e baixa o olhar de novo, movendo os quadris em círculos... pressionando... esfregando.

— Não marcar você? Ou não fazer você gozar?

Ela está respirando tão pesado quanto eu.

Eu não respondo. Não consigo.

Consigo sentir. É indescritível. Me percorre em espirais, me envolvendo cada vez mais forte. Odeio que ela consiga fazer eu me sentir dessa maneira. E, ao mesmo tempo, não consigo odiar. É muito poder sobre mim, e ela sabe disso.

— Se não quer, é só dizer que eu paro. — Sua voz está mais grave e áspera. Não digo nada. Não consigo falar. Me agarro a ela enquanto ela empurra.

Prendo a respiração enquanto aperto bem os olhos e me concentro na pulsação intensa e pesada que ameça me dominar.

— Me diz o que você quer — ela exige e implora ao mesmo tempo.

Está se movendo mais rápido, empurrando em longas investidas, firme.

— Eu quero.

Ah...

— Diz “por favor”.

— Por favor. Deus.

Ah... ah...

— Não, “por favor, Lauren”.

Ai, Deus, sim. Não para agora. Não para.

— Por favor, Lauren.

Por favor, por favor, Lauren. Estou perto. Tão, tão perto.

— Por favor — gemo. — Por favor, Lauren.

Ela pressiona, fazendo movimentos circulares e empurrando e sussurando meu nome. Não consigo nem pensar, porque estou entorpecida demais para evitar o inevitável.

— Deixa rolar, Camila. Deixa vir.

Ela me beija e, quando empurra mais uma vez, acontece.

Ai, meu Deus!

O ar some e arqueio as costas quando atinjo meu orgasmo, porque nenhuma das descrições de ondas ou pulsos ou pontadas de prazer pôde me preparar para essa completa perda de sentidos. Minha respiração falha e meus músculos desistem de resistir. Estou certa de que meus olhos estão arregalados enquanto experimento o que me escapou a vida toda.

 

— Porra, Cabello — ela sussurra num tom respeitoso. — Olha para você.

Eu me agarro a ela quando sua cabeça se enterra no meu pescoço e ela respira suavemente. Então, ela está gemendo enquanto todos os músculos em suas costas se tensionam, e ela empurra seu corpo contra o meu uma última vez.

— Porra.

Ela solta um longo ruído triste que é o acompanhamento perfeito para meus próprios sons. O prazer é denso em minhas veias enquanto ela respira contra mim, ofegando, fraca, e ainda gemendo.

Ah. Ahhhh. Isso foi... Uau.

A realidade se infiltra de volta quando os últimos tremores somem dentro de mim. Jauregui e eu estamos ofegantes, suadas e esgotadas.

 

— Tá. — Dinah está com a voz levemente irritada. — Tá, isso foi sem dúvida uma apresentação... comprometida. Mas acho que ou precisamos trabalhar os orgasmos ou não deixar que aconteçam. Foi um pouco clichê.

 

A cama sacode quando nós duas prendemos o riso.

 

 

Duas horas depois, Jauregui e eu saímos do teatro e estou rindo como uma idiota enquanto ela diz suas falas de Romeu no estilo de Marlon Brando em O poderoso chefão. Pela primeira vez não há implicância. Ensaios orgásticos obviamente nos caem bem.

Perto do final do corredor, um grupo de alunos do terceiro ano está amontoado, praticando com máscaras de estilo commedia dell’arte e gargalhando. Quando passamos, ouvimos.

 

— Ora, ora, ora, Lauren Jauregui.

O grupo silencia enquanto Jauregui e eu paramos. Quando uma bela morena tira a máscara e emerge do grupo, eu percebo o quão tensa Jauregui ficou.

Ela a encara com um olhar agressivo.

— Você parece bem, Lauren.

Os lábios dela se travam.

— Você também.

— Ouvi que você finalmente entrou. Dinah fez uma avaliação psicológica para você entrar? Ou ela apenas se cansou de te testar ano após ano?

Ela balança a cabeça e dá um sorriso irônico.

— Você teria de perguntar a ela para saber.

— Talvez eu pergunte. Ouvi que ela te escalou como Romeu. Que piada. É como se ela não conhecesse mesmo você.

Ela coloca as mãos nos bolsos.

— Eu não queria esse papel. Acredite em mim.

— O primeiro Romeu que já foi feito por uma canalha sem coração.

Alguém murmura: “Oooh, chupa!”. Apesar de eu esperar que Jauregui se inflame e lute de volta, ela apenas abaixa a cabeça e suspira.

— Legal ver você também, Olivia. — E se vira para mim: — Cabello, preciso ir. Te vejo amanhã.

Ela se afasta rapidamente e a garota ao lado está falando comigo.

— Então você é a nova Julieta dela, hein? Ela já acabou com você...?

— Eu... Ah...

Ela se inclina.

— Fuja enquanto pode. Confie em mim. Você não quer estar por perto quando aquela garota se autodestruir. Ela vai te levar com ela e o estrago que ela vai fazer vai te foder para sempre. Pode perguntar para minha terapeuta. E para o meu patrocinador.

 

A convicção do tom de voz dela me dá arrepios.

Ela e seus amigos se afastam e eu fico me perguntando que diabos Lauren fez com ela que a deixou tão amarga.



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...