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História Beautiful Stranger - Save You


Escrita por: pahrunag

Notas do Autor


Leitores lindos, espero que todos tenham lido o cap que tinha postado com as explicações sobre minha ausência, pois ele já foi apagado. Agora, vem o capítulo mais esperado da fic! weee! Aquele que eu disse onde vocês finalmente entenderiam o porquê da sinopse ;) Não me matem, ok? Ainda há algumas coisas para acontecer :D Pretendo pelo menos mais uns 6 ou 7 capítulos antes de chegarmos ao fim. Perdoe-me por algum erro, estou saindo de casa nesse exato momento e não tive tempo de revisar. Espero que gostem tanto quanto eu. Milbeijos :*

Capítulo 25 - Save You


Deixei que meu corpo pesasse sobre a cadeira que estava mais próxima de mim. Ainda estava sem reação. Considerei todas as possibilidades e maneiras do Sr. Jung descobrir, menos essa. Jamais passou pela minha mente a ideia de Jessica contando sobre nós em rede nacional.

— Por essa eu não esperava — Hyo disse em tom surpreso e Hyuna logo concordou — Mas pense pelo lado bom, agora vocês não precisam esconder mais nada.

         Lado bom? Será que isso realmente existia nessa história? Meu celular vibrou em meu bolso, mas eu me recusei a respondê-lo, mas a pessoa era insistente, pois o mesmo continuou a vibrar incessantemente, me obrigando a atender em certo momento. Ao olhar no visor, vi que era Tiffany. Ela com certeza tinha visto o que acabara de acontecer, e me ligava para ter notícias. Mas naquele momento, faltavam-me palavras para me expressar. Desliguei a ligação e novamente guardei o celular no bolso, em seguida me levantando, sem ao menos dizer um adeus para as meninas. Estava tão sem direção, tão perdida, que me recusei a esperar o elevador, descendo todos aqueles andares pelas escadas. Para ser sincera, nem me lembro do caminho até o térreo, de tão confusa que estava.

         Estava tudo perdido. Todo aquele relacionamento que eu cultivei com todo o amor que sentia por ela. Uma palavra de seu pai e tudo iria por água abaixo. O futuro nunca tinha sido tão incerto quanto era agora. Tudo poderia acontecer. E infelizmente, a mais provável das opções me levava a acreditar que perderia o grande amor da minha vida.

         Em meio a devaneios extremos e passos nada rápidos, cheguei até meu prédio. Novamente optei pelas escadas, e ao chegar a meu andar, me surpreendi ao ver uma figura recostada sobre minha porta.

— Tiffany? — Chamei e ela se virou para mim.

— Yuri-ah! Porque você não me atendeu?! — Ela veio para cima de mim, e eu apenas dei um passo para trás.

— Sem cabeça, Fany. Desculpe-me…

— Então você também não sabia que ela faria isso? — Seu tom mudou para algo bem mais triste.

— Claro que não, senão teria feito algo para impedir. Sinceramente — Passei as duas mãos pelo rosto — Não sei o que fazer.

— Quer conversar? Se não quiser, eu vou entender.

— Não, eu acho que preciso conversar mesmo. Se ficar apenas pensando, acho que vou enlouquecer. Vem, vamos entrar.

         Passei por ela, indo em direção a porta e abrindo a mesma. Logo seguimos para o sofá, nos sentando no mesmo, uma do lado da outra.

— Eu entendo porque ela vez isso. Com certeza está cansada de ter que ficar se escondendo com você pelos cantos. Isso é bom…

— Eu sei — Concordei — Fico feliz que ela queira assumir de verdade o que temos. Mas não assim, nem agora. Acabou pra mim, Fany! — Virei para ela — Com certeza seu pai descobrirá, e contará tudo pra ela. Ainda é capaz de me mandar sair da vida dela, só pra esconder essa história. Colocar tudo debaixo do tapete, assim como fez com a história da Tae. E Jessica?! Ela vai me odiar pelo resto da vida. Ela nunca vai acreditar que tudo que eu sempre disse e fiz por ela era real, que eu realmente a amo, quando souber do dinheiro.

         Desabei em lágrimas e agonia. Ter uma imaginação fértil nessas horas era uma maldição, pois a imagem de Jessica chorando ao descobrir me atormentava a cada minuto.

— Ei, não fica assim — Senti o abraço de Tiffany, aproveitando para me encolher mais contra seu corpo — Infelizmente sabíamos que isso poderia acontecer um dia. Agora é pensar positivo e tentar fazer com que Jessica entenda tudo. Ainda há também a possibilidade de seu pai não fazer nada. Se até agora ele não se pronunciou tem um por que.

— O que eu faço Fany-ah?

— Não há nada a fazer além de esperar para ver o que acontecerá. Mas se eu estivesse em seu lugar, aproveitaria cada momento com Jessica a partir de hoje como se fosse o último. Tudo agora é incerto demais, então aproveite o que tem agora… E onde está Jessica, afinal?

— Não sei… Acho que a coletiva continuou mesmo depois dessa declaração dela.

— Entendo. Eu tinha prometido a Yoona que eu e Taeyeon passaríamos o dia com ela e Seohyun, mas eu vou ligar e avisar que ficarei com você.

— Não, vá. Yoona precisa muito mais de vocês do que eu. Falando nisso, como ela está?

— Melhorando, ainda bem. Seohyun está realmente sendo um anjo em sua vida.

— Fico feliz de ouvir isso — Fui sincera — Mas vá, Fany. Eu vou ficar bem. Acho que vou tirar um cochilo pra ver se aquieto esses pensamentos um pouco.

— Está bem então — Tiffany segurou meu rosto com as duas mãos — Mas me prometa que vai me ligar se precisar ou até mesmo se nada tiver acontecido mas queira conversar. Okay?

— Sim, Fany-ah.

         Ela carinhosamente puxou meu rosto, depositando um demorado beijo em minha bochecha.

— Fica bem — Lançou-me um sorriso antes de se levantar e sair do apartamento.

         Deixei que meu corpo pesasse sobre o sofá, ficando deitada ali por longos minutos. Minha mente não parava de funcionar, e criar imagens e idéias nada agradáveis, mas após um tempo, finalmente consegui cair no sono.

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         Acordei no susto, ao ouvir o toque de meu celular soar estridentemente naquele ambiente. Senti certo desconforto ao me levantar, já que tinha adormecido no sofá mesmo. Espreguicei-me antes de pegar o celular e atender a ligação, que se tratava de Hyukjun.

— Hyuk?

— Yul?! Como você está? Eu vi tudo. Jessica perdeu a noção de tudo?! Aish... Você deve estar acabada.

— Ainda não… Ela ainda não sabe de nada. Mas seu pai provavelmente já sabe. Na verdade — Olhei em volta e nenhum sinal de que Jessica havia voltado — Talvez ela já saiba, já que não encontrei com ela desde a coletiva.

         Olhei para o relógio e eram 17h. Eu tinha dormido por duas horas, e Jessica ainda não havia voltado, e isso me preocupava profundamente.

— Sabe que se precisar de alguma coisa, é só me ligar não é? Eu apareço aí o mais rápido possível! Sr. Jung é legal, mas se ele fizer algo com você, eu mesmo dou um jeito nele!

— Pare com isso, Hyuk — Mesmo diante de tudo aquilo, não contive uma leve risada graças ao jeito engraçado e protetor de meu irmão.

— Mas é verdade! Agora eu tenho que ir, Appa está me chamando. Lembre-se, ligue-me se precisar de qualquer coisa.

— Tudo bem…

— Fique bem, Yuri-ah…

         Dei um fraco sorriso antes de desligar a ligação. Fitei o aparelho entre minhas mãos. Minha vontade era discar o número de Jessica agora mesmo, sentia como se o brilho daquela tela fosse extremamente convidativo, principalmente para o contato com o nome de “Sica <3”. Mas por mais forte que fosse a vontade de saber onde ela estava, com quem estava e o que fazia, fazer essa ligação seria antecipar uma conversa que poderia não ser tão agradável assim. Resolvi então esperar mais, me distraindo com algo. Fui até a cozinha e preparei um lanche, mas o mesmo ficou intocável sobre a mesa de centro da sala, enquanto a tensão que corria meu corpo me fazia olhar o relógio de minuto em minuto. Saber que ela poderia entrar por aquela porta a qualquer momento, xingando-me de todos os nomes possíveis e me colocando para fora de casa estava me levando ao limite da impaciência. Depois de tanto contar, perdi então a conta. Bati as costas contra o sofá, me rendendo àquela tortura em forma de espera. Foi quando finalmente ouvi o barulho da chave sendo introduzida na fechadura. Meus olhos atentos fitaram a porta e logo ela entrou. Levantei-me do sofá em um único impulso, não deixando de olhá-la por um instante sequer. Antes que desse a ela uma chance pronunciar algo, senti um turbilhão de emoções identificáveis subir por minhas veias, tirando-me de mim.

— Onde você estava?! — As palavras foram ditas em tom agressivo.

— Bom ver você também — Ela respondeu, percebendo a aspereza em minhas palavras — Acabei demorando mais do que esperado…

— Você não me respondeu — Dei alguns passos até ela, encarando-a.

— Ei, o que houve?! — Ela fez um careta, parecendo começar a ficar irritada com aquilo — Depois de tudo que eu fiz hoje, é assim que você me recebe?!

— Eu fiquei aqui plantada horas esperando por você!

— Porque você quis! Achei que ia te encontrar ao sair da coletiva, mas você sumiu! — Abaxei a cabeça, porque eu realmente tinha fugido daquilo tudo — Quando eu saí, encontrei Leeteuk na produtora, e ele quis conversar, até porque ele assistiu à coletiva.

         O som de sua voz dizendo o nome dele fez crescer dentro de mim enorme fúria. Ela não só estava acompanhada, mas estava com ele. Na verdade, era melhor que estivesse com qualquer um do que estivesse com seu pai, mas sem nem ao menos saber por que, senti-me completamente raivosa ao saber daquilo.

— Eu não acredito que você estava com esse cara!

— Qual o problema, Yuri? — Ela se aproximou, não cedendo nem um pouco à maneira como eu a pressionava — Agora eu não posso mais sair com quem eu quiser?!

— Não quando essa pessoa for alguém que gosta de você, e principalmente gosta de te beijar de surpresa! — Dei um passo em sua direção, nos deixando extremamente próximas, mas ainda mantendo meu olhar involuntariamente cerrado e penetrante. Sinceramente, não sabia de onde toda aquela fúria estava vindo, mas estava aos poucos tomando conta de mim.

— Que diabos está acontecendo com você?! Achei que chegaria em casa e te veria feliz, principalmente depois do que fiz por nós hoje, mas parece que você não gostou.

— Eu não quero você com ele! — A frase saiu como que num grito, enquanto minhas mãos voaram até seus braços, segurando fortemente os mesmos.

— Pára Yuri! Você está me machucando! — Ela reclamou, fazendo força para se soltar, mas eu não a deixei.

         "Yuri, o que você está fazendo?" Era como se houvesse um alguém completamente diferente tomando conta de mim, alguém que eu não conseguia controlar.

— Eu estava com Leeteuk, afinal como eu já te disse, já fomos muito próximos. E eu estar com você não significa que você pode me proibir de ver meus amigos! O que foi? Ciúmes agora? Ou você é possessiva assim e eu que nunca soube?! — Era como se suas palavras me atacassem — E eu já te disse pra você me soltar que está me machucando! — Ela gritou, me fazendo chegar ao auge de tudo aquilo.

— Eu não posso! — Gritei.

         Gritei como se aquele fosse meu último grito. Gritei como se aquilo fosse minha chance de nos salvar do que poderia ser o nosso fim. Finalmente entendi o porquê de toda aquela minha raiva. Era raiva de mim mesma, e acabei descontando na primeira coisa que me apareceu, no caso, sua saída com Leeteuk. Eu tinha medo. Meu corpo tremia em angústia e temor. Meu olhar se encontrou com o seu, e ela estava assustada. Eu não podia fazer aquilo com ela. Não podia. Senti meus olhos se encherem com lágrimas de arrependimento pela minha perda de controle, mas principalmente lágrimas de aflição. Soltei seus braços, dando alguns passos para trás em seguida. O olhar amedrontado em seu rosto ainda existia, assim como o silêncio entre nós. Abaixei a cabeça, antes de deixar que meu corpo pessasse, fazendo com que meus joelhos tocassem o chão e que meu tronco pendesse para frente.

— Eu não posso… — Nem minha voz tinha mais força, fazendo com que minhas palavras saíssem quase que como um sussurro — Eu não posso perder você. Eu não posso te perder pra ninguém, nem por motivo algum. Não posso…

         Fitei o chão, vendo no mesmo algumas pequenas gotas de minhas lágrimas que já haviam caído por minhas bochechas. Levei as mãos ao rosto enquanto meus soluços de misturavam com minhas lágrimas. Acho que finalmente a ficha tinha caído. Finalmente tinha entendido a dor que todos aqueles acontecimentos me causariam. E tudo começou com uma simples mentira. Ou melhor, uma omissão. Agora eu estava ali, jogada naquele chão, chorando pela dor forte em meu coração, por ter encontrado o amor da minha vida, e agora, por minha culpa, perdê-lo. Perder Jessica seria perder metade de mim, e meu propósito de vida por inteiro, e isso era algo que eu não agüentaria. Apenas a idéia de viver sem ela ao meu lado, tinha me levado ao limite, ao verdadeiro colapso emocional.

            Surpreendi-me ao sentir seu toque em minhas mãos, que foram tiradas de meu rosto. Jessica estava na mesma posição que eu. Ajoelhada ao chão, à minha frente, e agora, suas mãos sobre as minhas. Uma das mesmas se soltou da minha, colocando uma mecha de meus cabelos caídos sobre minha face para trás de minha orelha, e em seguida desceu por minha bochecha, fazendo um leve carinho ali. Apenas com aquele toque, senti meu coração se aquecer por completo. Jessica ergueu o tronco, apenas para deixar seu rosto milímetros do meu, fazendo-me sentir sua respiração contra a minha. Seus lábios roçaram sobre os meus, antes que ela falasse algo.

— Você não vai me perder.

         Seu tom confiante e decidido, mas ao mesmo tempo afável e doce, por aquele momento, me fez esquecer todas as incertezas e medos que me atormentavam, e eu mesma me deixei esquecê-las, mesmo sabendo que elas voltariam alguma hora. Mas foi quando as palavras de Tiffany percorreram minha mente. “Se eu estivesse em seu lugar, aproveitaria cada momento com Jessica a partir de hoje como se fosse o último. Tudo agora é incerto demais, então aproveite o que tem agora”.

— Você acha mesmo que depois de tudo que eu falei hoje, eu deixaria você? Você não me perderá nunca mais, Kwon Yuri — Um sorriso encantador se formou em seu rosto.

Antes que eu pudesse fazer algum movimento, os lábios de Jessica tomaram os meus em um beijo intenso, porém carinhoso. Suas mãos alcançaram a gola de minha camisa, e enquanto ela se levantava, sem parar nosso beijo, fez com que eu me levantasse também. Senti uma de suas mãos descer pela extensão de meu braço até parar sobre minha própria mão. Foi quando ela afastou-se mim por alguns segundos, apenas para puxar-me lentamente em direção ao nosso quarto. Assim que entramos no mesmo, seus lábios se colocaram sobre os meus novamente, o mais apaixonadamente possível. Como em todas as vezes que nos beijávamos. Era uma estranha euforia, um incrível misto de sensações, que mesmo depois de todo esse tempo juntas, ainda era indecifrável para mim. Eu só sabia que era algo sublime, algo que me fazia sentir como se o corpo levitasse.

         Senti o toque de suas mãos na barra da minha camisa, e obviamente sabia onde aquilo terminaria. Não que não quisesse. Ter o corpo de Jessica sobre o meu era com certeza uma das melhores experiências já vividas por mim, mas naquele momento, não era por isso que eu anseava.

— Sica-aah… — Sussurrei, ainda mantendo nossos lábios próximos enquanto momentaneamente me distraia em seu olhar — Queria ficar aqui com você.

         Ela sorriu levemente para mim, novamente tentando levantar minha camisa, mas com o auxílio de minhas duas mãos, impedi que ela continuasse.

— Não… — Continuei — Eu digo, quero ficar aqui com você. Só isso. Deitar-me e sentir sua presença ao meu lado.

         Pude perceber que de início, ela estava confusa, mas isso logo passou e ela deixou que um majestoso sorriso arrancasse de mim a mesma coisa, porém um bobo e apaixonado sorriso. Jessica se afastou de mim, sentando-se na beirada da cama, tirando os sapatos, e logo em seguida, a blusa de mangas longas que vestia, deixando apenas a regata branca que usava por baixo. Enquanto eu estava apenas ali de pé, imóvel, lhe observando, ela se moveu até o centro da cama, deitando-se e em seguida me fitando.

— Vai me deixar aqui sozinha? — Ela disse, em tom não tão sério.

         Com apenas o uso dos meus próprios pés, retirei meus sapatos, mas deixando minhas meias. Apoiei-me sobre a cama, em seguida colocando-me ao seu lado, mas com o corpo de lado, de frente para ela. Seu rosto estava a milímetros do meu, e eu podia sentir sua respiração contra a minha, mas isso não chamava mais a minha atenção do que o fato de Jessica ser extremamente linda. A meu ver, ela era perfeita, e por isso seu rosto não seria diferente, muito menos seu corpo. Suavemente pus uma de minhas mãos sobre seu braço, deixando que meus dedos carinhosamente traçassem um caminho sobre sua pele alva. Mas mesmo com esse carinho, não deixava que meu olhar desviasse nem por um segundo sequer do seu.

— Porque me olha assim?

— Assim como?

— Como se fosse a última vez que fosse me ver.

         Talvez realmente fosse.

— Eu apenas quero ter certeza de ter cada detalhe seu gravado em minha memória. O jeito como você sorri de canto algumas vezes, como seu olhar parece brilhar cada vez mais a cada momento que me perco dentro dele, seu doce perfume tão viciante que mesmo que esteja longe eu o sinto em todo o lugar, a maneira como você sempre estende a última vogal quando me chama de Seobang… — Ela soltou uma leve risada, provavelmente ao perceber que aquilo era verdade — como sua respiração fica levemente descompassada quando estamos perto demais, como agora por exemplo.

— Não precisa ter isso em memória, se pode vivenciá-las todos os dias.

         Talvez não pudesse.

— Mas mesmo assim… Observar você ainda é algo que eu faria por horas e horas. Ficaria em seus braços pelo resto de meus dias.

— Então fique — Foi a última coisa que ela disse antes de quebrar a pequena distância entre nossos corpos, aconchegando-se em mim.

         Fiz o mesmo, tornando nosso contato maior ainda. O perfume dos seus cabelos exalava contra meu rosto, deixando-me completamente inebriada. Continuei o carinho em seu braço, que agora envolvia minha cintura, e poucos minutos depois ela já tinha adormecido, vencida pelo cansaço do dia. Não sei exatamente em questão de números, mas muitas foram as horas que fiquei ali, apenas aproveitando o fato de tê-la em meus braços antes que tudo que eu tinha de mais sólido, desabasse diante de meus olhos. Quando finalmente caí no sono, com certeza já passavam das três da manhã.

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— Acordem! Acordem! O dia está lindo!

         Reconheceria aquela voz em qualquer lugar, afinal Tiffany era a única que conseguia manter sua imutável animação até mesma durante a manhã. Esfreguei os olhos rapidamente antes de abri-los e ver Taeyeon de pé à frente da cama enquanto Tiffany abria as cortinas.

— Só pra deixar claro, isso foi idéia dela — Tae disse como se eu já não soubesse.

         Olhei para o lado e Jessica parecia nem ao menos ter se mexido, mas isso logo mudou assim que Tiffany se jogou entre nós duas, praticamente me empurrando para o lado.

— Acorda Jess! — Ela começou a balançar Jessica, que as poucos abriu os olhos, encarando Tiffany seriamente.

— Bom trabalho Tiffany — Toquei seu ombro, implicando com ela antes de me levantar e seguir para o banheiro.

         Rapidamente fiz minha higiene e quando saí, Jessica estava sozinha, sentada na beirada da cama, mexendo no celular.

— Bom dia, princess — Disse enquanto me sentava ao seu lado, depositando um leve beijo em suas bochechas.

— Seobang — Ela murmurou ao sentir meus lábios.

— O que houve? — Percebi sua expressão preocupada enquanto olhava para o celular.

— Meu pai… — Gelei ao ouvir essa frase — Assim que acordei vi que havia mais de 15 ligações dele, mas como estava no modo silencioso eu nem vi nada. Agora eu ligo pra ele e só dá caixa postal. Será que aconteceu algo?

         Era óbvio que algo tinha acontecido, e esse algo só podia ser o que eu mais temia.

— Será que todas essas ligações têm a ver com a coletiva, Sica? — Esforcei-me para que meu nervosismo não transparecesse pela minha voz.

— Talvez… — Ela deixou de olhar para o celular para então me fitar — Mas mesmo que tenha, isso não me assusta.

         Mas me assusta.

— Ele não pode estragar o que temos — Jessica tocou carinhosamente meu rosto — Ninguém pode.

         Tudo que eu mais queria era que aquilo fosse verdade. Fosse real. Mas não era, e ela nem fazia ideia disso. Antes de se levantar, depositou um leve beijo em meus lábios e andou até o banheiro.

— Ah, as meninas foram comprar coisas para o nosso café da manhã. Porque não prepara a mesa enquanto isso?

         Eu apenas assenti antes de receber um sorriso dela. A porta do banheiro foi fechada então eu andei até a sala enquanto minha mente se enchia de pensamentos nada agradáveis. Não existia motivo para seu pai estar tão desesperado atrás dela além daquele. Quando passava pelo meio da sala, vi meu celular piscando sobre o sofá. O mesmo tinha ficado ali desde a noite anterior. Andei até ele, e vi que se tratava de uma ligação. Ou melhor, treze ligações de Tiffany. Tratei logo de ligar de volta, percebendo seu tom apressado do outro lado da linha.

— Yuri-ah! Jung! O… Jung… Na portaria — Cada palavra era cortada por uma respiração ofegante.

— Me dá isso Tiffany! — Ouvi a voz de Taeyeon e em seguida um som como se o telefone tivesse sido tomado de Fany — Yuri, preste atenção. Nós encontramos o pai da Jessica, e ele está indo para aí! Se você ainda quer manter as coisas como estão é melhor sair daí e falar com ele antes que Jessica o veja!

         Palavras me faltaram, assim como o ar em meus pulmões. Senti uma angústia de tamanho imensurável tomar meu ser por inteiro, e isso só piorou assim que eu ouvi o toque apressado da campainha. Fiquei imóvel, completamente estática. O momento mais temido por mim estava a segundos de acontecer, mas eu ainda estava ali parada, enquanto a campainha continuava a tocar, e também algumas batidas na porta.

— Yuri-ah! — Ouvi o grito de Jessica vindo do quarto, o que me tirou de meu transe — Atende a porta!

         Levantei e a passos extremamente inseguros, andei até a porta. Engoli a seco, respirando fundo e pedindo mentalmente pra que tudo acontecesse da melhor maneira possível, e que obviamente eu saísse pelo menos viva dali. Quando abri a porta, vi a face furiosa do Sr. Jung a minha frente, e atrás dela, a mãe de Jessica, com uma expressão mais de preocupação do que de raiva.

— Sr. Jung… — Murmurei pouco antes de ser praticamente atacada por suas palavras.

— Como você ousa acabar com a vida da minha filha?!

         Ele andou furiosamente em minha direção, me fazendo dar vários passos para trás. Para minha sorte, sua esposa o segurou antes que ele se aproximasse mais.

— Eu não… Eu — As palavras não saíam de minha boca, até porque não fazia idéia do que falar.

— Cale-se! — Ele disse asperamente, fazendo-me calar — Eu pensei que você fazer bem a minha filha! Pensei que seria uma boa influência pra ela, e olha o que você fez! Acabou com a vida e com a carreira dela! Eu nem a reconheço mais! Confessa que foi você quem a mandou dizer aquelas coisas na entrevista!

         Deixei de sentir medo e passei a sentir a mesma fúria que ele. Ele estava me acusando de coisas que eu não havia feito. Poderia me chamar de mentirosa, porque eu tinha omitido fatos, mas jamais podia dizer que eu tinha manipulado Jessica.

— Eu jamais faria isso com a sua filha! — Igualei meu tom de voz ao seu, levantando minha postura a sua frente — Eu a amo! Eu sei que isso pode ser muito difícil pro senhor aceitar, mas é a verdade.

— A verdade é que você me traiu! Traiu o nosso acordo! — Ele gritava contra mim — Pensei que você era diferente! Que pudesse ajudar minha filha, mas eu estava errado! Se pensa que vai ver a cor daquele dinheiro, está muito enganada!

— Que dinheiro?

         Meu coração parou de bater, mesmo que por alguns segundos, ao reconhecer aquela voz. Juntei o resto da força e da coragem que ainda tinha em mim para virar meu rosto e ver Jessica de pé, atrás de seu pai. Tanto eu quanto ele, estavávamos sem ter o que dizer, apenas olhando para ela.

— Filha, nós temos que conversar, mas se acalme, está bem? — Sua mão tentou lhe abraçar, mas Jessica rapidamente se desvencilhou.

— Estou calma! — Seu tom foi sério — O que está acontecendo? O que vocês dois fazem aqui, afinal?

— Você ainda pergunta?! O que foi aquele escândalo ontem?! — Seu pai saiu de perto de mim e foi até ela — Pode me falar, Jessica! Foi ela que lhe mandou dizer aquelas coisas, não foi?! — Ele apontou para mim, ainda olhando para ela.

         Para minha surpresa, Jessica andou até mim, entrelaçando seu braço com o meu. Senti-me culpada, pois ela ainda estava ao meu lado, mas não sabia nem da metade da história.

— Não pai, tudo que eu disse foi verdade, quer o senhor goste ou não. Estou com Yuri, e é com ela que quero ficar.

— Jessica! Olha o que você está dizendo! Você está fora de si!

— Não, pai. Não estou — Ela foi firme — Mas agora eu quero saber, que história de dinheiro é essa?

— Você quer saber? Então ta. Porque você mesma não conta a ela, Yuri?

         Eu senti o deboche em seu tom de voz. Ele queria que eu me sentisse pior do que já estava. Eu não conseguiria. Jamais teria coragem de contar a Jessica a verdade. Não conseguia partir o coração de quem eu tanto amava, não agüentaria vê-la chorando por minha causa, e muito menos vê-la partir. Fiquei alguns segundos em silêncio enquanto Jessica me olhava confusa, e eu provavelmente com um olhar amedrontado, a fitava.

— Se você não vai contar, eu conto!

— Não faz isso — A mãe de Jessica o tocou no ombro, mas ele parecia estar extramamente disposto a acabar com a minha vida.

— Não faz isso?! — Ele repetiu as palavras dela — Olha o que ela fez com a nossa filha! Todos esses anos que levamos, tudo que fizemos pra que Jessica fosse hoje a pessoa que ela é! Tudo jogado fora em menos de dois meses!

— Pai, eu não mudei! — Jessica me soltou, se impondo diante de seu pai — Eu ainda sou sua filha! Porque tudo isso? Só porque eu amo uma mulher?!

— Também! — Ele já gritava — Mas quer saber? A culpa é minha. Fui que deixei que ela se aproximasse de você — Ele apontou para mim.

         Jessica deu um passo para o lado, de maneira que pudesse fitar nós dois mais facilmente.

— Ela só está aqui por minha causa Jessica! Fui eu quem a colocou aqui! Quer saber? Chega! Eu vou te falar a verdade, mesmo que você me odeie por isso. Eu sou amigo do pai dela há anos! Somos grandes amigos, mas eu nunca contei para ele que minha filha era você, a grande cantora internacional Jessica Jung. Ele apenas sabia que eu tinha duas filhas. Quando comecei a ver que você estava se perdendo, que a fama estava transformando você ou que algo que eu não sabia estava acontecendo, resolvi que você deveria vir para a Coréia. Mas tive medo que nem isso funcionasse. Por isso, liguei para a casa dos Kwon. Eu sabia o quão feliz aquela família era, e sabia que Yuri era uma ótima pessoa. E principalmente, sabia que ela tinha interesse em fazer um curso de fotografia na Inglaterra, mas não queria dinheiro de seus pais, como seu pai já havia me contado. E foi por isso que lhe fiz uma oferta. Pagaria seu curso se ela aceitasse se aproximar de você.

         Gelei. De dentro para fora. Meu coração pulou algumas batidas, como se quase parasse por vários segundos e depois voltasse a bater descompassadamente e repetidas vezes. Já podia sentir uma ardência em meus olhos, o que significava que as lágrimas já se formavam. Mesmo com toda a vergonha do mundo, fitei Jessica, que não tirava os olhos de seu pai enquanto ele falava. Sua expressão era indecifrável. Não sabia se sentia raiva, fúria, confusão, surpresa. Mas sabia que jamais se trataria de algum sentimento bom, e nem queria que isso acontecesse, afinal eu não merecia.

— E também foi por isso que ela se tornou sua assistente pessoal. Foi a melhor maneira que encontrei de fazer com que ficassem próximas o máximo de tempo possível. Inclusive Hyunwoo, seu manager, também foi pago para isso. Foi a própria Yuri que o indicou. Pensei que talvez, tendo uma pessoa para ser uma boa influência, você perceberia que estava agindo errado. Que aquela Jessica não era você. E você percebeu. O próprio Hyunwoo me contou o quanto você tinha melhorado, e o quão feliz estava. Sua popularidade só aumentou, junto com sua repercussão pelo mundo todo. Mas isso não estava nos planos! — Ele apontou para mim, e depois para Jessica — Ela foi paga para te ajudar! Não para te seduzir. Confesse! — Ele olhou para mim — Isso foi um plano seu! Só pode! Qual seu objetivo, acabar com a carreira dela?! Porque você conseguiu depois daquele escândalo de ontem!

— Eu jamais faria isso! — Pela primeira vez depois de minutos me pronunciei — Não me acuse de algo que não sabe! — Já podia sentir as lágrimas percorrem minhas bochechas enquanto meu coração se apertava cada vez mais dentro de meu peito — Minha intenção jamais foi acabar com a carreira dela! Eu sei o quanto isso é importante para ela! Eu fiz tudo que o senhor pediu, consegui mostrar a ela que a verdadeira Jessica estava escondida, mas existia. Não tenho culpa se descobri que a “verdadeira Jessica” é a mulher da minha vida! — Minha última frase saiu como um grito.

— Mulher da sua vida?! — Sr. Jung deu alguns passos em minha direção, e agora gritávamos um contra o outro.

— Sim! Eu a amo!

— Como pode amá-la! Você é uma mulher, assim como ela!

— Isso não me define! Muito menos o que eu sinto! Se tenho certeza de alguma coisa é que Jessica é a pessoa com quem eu quero passar o resto de minha vida! E tenho certeza que posso fazer muito mais bem a ela do que o senhor jamais fez!

— Não ouse dizer isso! — Seu indicador estava quase tocando meu rosto — Ela é minha filha, eu sei o que é melhor para ela!

— Calem a boca!

         O grito de Jessica foi ouvido, interrompendo aquela discussão. Tanto eu quanto ele viramos o rosto, e foi então que realmente me senti fraca. Jessica tinha os olhos vermelhos, muitas lágrimas já havia escorrido por seu rosto e nem eu nem ele havíamos percebido isso, ocupados demais discutindo e gritando.

— Como… Como vocês puderam fazer isso comigo? — Sua voz era embargada pelo choro.

— Filha, eu queria o melhor pra você e ainda quero! — Ele tentou se aproximar, mas ela se afastou.

— O melhor?! Isso não te dá direito de se meter em minha assim! — Quanto mais ela gritava contra ele, mais as lágrimas desciam — Você foi baixo! Me traiu. Mentiu pra mim. Usou do seu dinheiro pra se meter na minha vida!

         Deixando que a raiva tomasse conta de seu ser, percebi que ela avançaria nele, e por isso me coloquei no meio, segurando seus pulsos enquanto sussurrei seu nome, mas ela foi mais rápida e logo se soltou, dando um passo para trás.

— Não me encosta! — Ela me olhava com desprezo, com repulsa. Com certeza aquele olhar doía mais do que todos os socos e chutes que ela poderia me dar — Você foi pior que ele… Eu não acredito que você fez isso comigo. Não acredito.

         Ela levou as mãos à cabeça, enquanto a balançava negativamente. Respirei fundo, tentando impedir que mais lágrimas descessem.

— Jessica, por favor, me ouve…

— Te ouvir?! — Ela gritou, voltando a me olhar — Eu já te ouvi demais. E você me disse tantas coisas lindas. Aquilo fazia parte do contrato também?! Foi paga para dizer aquelas coisas?!

— Não! Claro que não! — Tentei me aproximar, e como eu já esperava, ela me empurrou.

— O jogo acabou, Yuri! Pode parar com essa farsa. Você quer o seu dinheiro, eu te dou o seu dinheiro, mas pare com esse jogo ridículo!

— Jessica, eu te amo! — Foi minha última tentativa de convencê-la, mas foi em vão.

         Sem que eu esperasse, senti um forte estalo em minha bochecha. A palma de sua mão tinha me acertado em cheio. Apenas virei o rosto com o impacto e assim fiquei. Eu era culpada, mereci aquilo, e talvez merecia até muito mais.

— Nunca mais diga isso — Seu tom foi sério e decidido.

— Jessica, eu sei que errei — Virei-me, decidida a contar minha versão da história — No início, minha intenção era realmente fazer o que tinha que ser feito, pegar o dinheiro e ir embora. Mas… Eu me apaixonei, Jessica. Me apaixonei por você. Pelo seu jeito, pela sua voz, pelo seu sorriso, seu carinho. Por favor… Eu não posso agüentar viver sem você.

— Você fez tudo que eu mais implorei pra que você não fizesse. Você sabe que eu tenho problemas para confiar nos outros e principalmente me entregar à alguém. E eu fiz isso com você. E você fez tudo que me prometeu que jamais faria — A dor em meu peito me desconcertava, quase tirando minha concentração em ouvir o que ela dizia — Vai embora, Yuri! Vai embora e não volta nunca mais!

         Foram suas últimas palavras gritadas contra mim antes que ela corresse e se jogasse nos braços de sua mãe chorando, mas não mais que eu. Ela havia me mandado embora. O amor da minha vida havia me deixado, e provavelmente sem volta. Quando finalmente me dei conta disso, foi como se todas as minhas forças se esvaíssem de meu corpo de uma vez só. Senti meus joelhos baterem forte contra o chão, mas dor física nenhuma seria mais forte que a que eu sentia naquele momento.

— Não Jessica, nós vamos embora — Ouvi a voz de seu pai, mas não me virei para olhá-lo — Você vai ficar no hotel conosco. Yuri, você tem até a noite para juntar suas coisas e deixar esse apartamento. E se você realmente se importa com Jessica tanto quanto diz, nunca mais a procure.

         Ouvi os passos ficando cada vez menos barulhentos, e em poucos segundos e eu estava sozinha ali. Ou melhor, estava acompanhada de um coração partido e de uma culpa que eu carregaria para sempre. Pus minhas mãos no chão, apoiando a cabeça sobre as mesmas. Estava literamente jogada ao chão, enquanto minhas lágrimas pingavam sobre o tapete. Meu choro se tornava cada vez mais alto, já que meu sentimento de culpa se tornava maior a cada vez que a imagem de Jessica me mandando embora passava pela minha mente.

— Yuri!

         Reconheci a voz de Tiffany, mas novamente não me mexi. Senti meu corpo ser envolvido por ela, e levemente virei meu rosto, vendo que ela me estava ajoelhada ao meu lado me abraçando, enquanto Taeyeon também estava abaixada ao lado dela.

— Encontramos com eles na porta — Tae disse — Mas seu pai nem nos deixou chegar perto de Jessica.

— Yuri, o que aconteceu? — Tiffany perguntava em tom preocupado.

— Ela… Ela me deixou, Fany-ah…

         Foi tudo que consegui dizer antes de voltar a chorar e perder a fala.

— Tae, vá até o quarto dela e coloque algumas roupas em uma mochila. Vamos tirá-la daqui — Tiffany ordenou e Taeyeon logo se levantou — Vai ficar tudo bem, ela vai voltar…

         Fany me aconchegava cada vez mais e tentava me reconfortar, mas eu sabia que suas promessas eram vazias, pois Jessica não voltaria. Mas eu precisava dela, sabia que minha necessidade de tê-la por perto era algo fora do comum, e que minha vida jamais seria a mesma sem ela.

         Em poucos minutos Taeyeon voltou, carregando uma mochila minha. Tiffany me ajudou a levantar, e sem deixar de me abraçar, saímos do apartamento, indo direto para o carro de Taeyeon quando deixamos o prédio. Sentada no branco de trás junto com Tiffany, tentava ao máximo me sentir confortável ali, mas algo faltava. E faltaria enquanto não tivesse Jessica de volta. Pensava estar indo para o apartamento de Tiffany, mas na verdade, estávamos indo para a casa de Taeyeon. Assim que chegamos, Fany me levou até o quarto da Tae, deixando que eu me deitasse em sua cama, o que me fez desabar mais uma vez, lembrando da vez que estive ali junto com Jessica.

— Yuri, tenta se acalmar.

— Como, Fany?! Ela não vai voltar pra mim! Nunca mais — Minha voz chorosa deixava Tiffany sem reação. Sentia como se ela quisesse muito fazer algo, mas não sabia o quê — Eu preciso falar com ela.

         Não adiantaria ficar ali, me lamentando e deixando que a culpa me consumisse. Precisava falar com ela, tentar explicar, mesmo que mil vezes, o que aconteceu, e que o que eu sentia era independente de qualquer contrato ou dinheiro. Tentei me levantar da cama, mas fui impedida por Tiffany.

— Você não vai a lugar nenhum!

— Mas fany! Eu preciso falar com ela!

— Agora não adianta Yuri. Ela está de cabeça quente, e pior ainda, está com seu pai e você sabe que não poderá falar com ela enquanto ele estiver por perto.

— Ela tem razão, Yuri. — Taeyeon entrou no quarto, trazendo um copo de água em mãos — O melhor que você pode fazer agora é descansar e por a cabeça no lugar. Ir atrás dela nesse momento só vai pior as coisas. Agora tome isso, vai te ajudar a se acalmar — Ela me entregou o copo e em seguida um pequeno comprimido.

— O que é isso, Tae? — Fany perguntou o que eu mesma ia perguntar.

— É um calmante. É só pra ajudar a dormir um pouco.

— Eu não quero dormir. Acordei faz pouco tempo, não estou com sono! — Tentei me impor, mas foi em vão.

— Mas você vai dormir sim. É o melhor que você tem a fazer agora. Ande logo, tome esse comprimido.

         Vendo que não teria outra escolha, tomei rapidamente o tal calmante.

— Vamos deixar você descansar — Tiffany disse, e afagou meu rosto antes de sair do quarto com Taeyeon.

         Aos poucos, comecei a sentir o efeito do remédio. Lutava para deixar meus olhos abertos, sentia o corpo mais fraco e mole do que antes. Tive a impressão de que ao invés de um calmante, Taeyeon tinha me dado um “mata-leão” ou um “boa noite cinderella”. Ela ia se ver comigo, mas não naquele momento. Praticamente desmaiei logo em seguida.

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            Não sei ao certo dizer quanto tempo fiquei desacordada, mas quando despertei, pude ver que já começava a anoitecer ao olhar pela janela, mas ao contrário de antes, agora chovia. Bastante até. O tal calmante de Taeyeon tinha me colocado para dormir o dia inteiro, contra a minha vontade. Queria cochilar, não perder praticamente um dia inteiro. Levantei da cama um pouco mais disposta, mas isso não significava que meu corpo ainda não sentia as dores de horas atrás. Saí do quarto descendo as escadas e logo encontrando as duas deitadas juntas ao sofá, tirando o que parecia um confortável cochilo. Preferi não interromper, e na verdade, usar isso como uma oportunidade. Precisava falar com Jessica, e não desistiria até que conseguisse.

            Vi que a mochila trazida por Taeyeon com minhas roupas estava recostada no sofá perto delas. Em silêncio, peguei a mochila e me afastei um pouco. Troquei meus chinelos por um par de tênis e vesti um casaco. Por sorte, Tae também tinha pegado minha carteira. Peguei a mesma e sem hesitação, saí de sua casa. Peguei o primeiro táxi vago que vi, e o direcionei até os arredores da produtora. Peguei meu celular no bolso da calça, e disquei o número de Hyunwoo.

— Oppa…

— Yuri! Como você está? Porque não me atendeu antes? O Sr. Jung está de volta!

— Eu sei, oppa… Eu já sei de tudo, inclusive Jessica também.

— Oh, eu não queria que isso acontecesse Yuri, me desculpe. Eu podia ter tentado te avisar de outras maneiras…

— Não se culpe. Pelo contrário, eu só tenho que te agradecer por tudo que fez. Mas agora, preciso de sua ajuda novamente.

— Claro, tudo que eu puder fazer!

— Você sabe em que hotel os pais de Jessica estão hospedados?

— Sim, eles estão no Jogin Hotel.

— Claro, como não imaginei — Esse era o único hotel cinco estrelas daquela parte de Seul.

— Yuri, tome cuidado, okay?

— Pode deixar, oppa. E mais uma vez, obrigada.

         Desliguei a ligação e pedi que o motorista fosse até o hotel. Fui olhando pela janela, mesmo que os pingo que por ela escorriam me atrapalhassem, olhando para as ruas e pessoas que por elas passavam. Senti meu peito bater mais acelerado ao reconhecer Jessica e sua mãe debaixo de um guarda-chuvas, andando pela calçada do outro lado da rua do hotel.

— Pare aqui! — Pedi ao motorista.

         Dei-lhe uma quantia mais alta do que o que era necessário, mas estava sem tempo para esperar pelo troco. Saí do carro sem me importar com a chuva que já umidecia meus cabelos.

— Jessica! — Gritei por seu nome.

         Um grito que expressava todo meu desespero, todo meu medo de viver sem ela, toda a minha necessidade de tê-la de volta. Sua mãe logo se virou de costas, mas ela hesitou, demorando um pouco para fazer o mesmo. Olhando em meus olhos por alguns segundos, ela se virou novamente e puxou sua mãe junto, mas eu corri até elas, me colocando na frente de Jessica.

— Me ouve, por favor — Supliquei, sentindo as gotas da chuva escorrerem por meu rosto já completamente molhado.

         Ela tentou sair novamente, mas desta vez, foi sua mãe quem a segurou, para minha surpresa.

— Jessica, fique. Eu vou entrar e manter seu pai ocupado. Não adianta tentar adiar essa conversa.

         Sua mãe assentiu em minha direção antes de sair debaixo do guarda-chuva, atravessar a rua e entrar debaixo de uma marquise, seguindo seu caminho para o hotel.

— Eu não tenho mais nada pra falar com você — Ela disse com sua feição fria e séria, que eu não via há muito tempo.

— Mas eu tenho — Fui firme, andando em sua direção e entrando debaixo de seu guarda-chuva, ficando próxima dela.

         Estava claro que aquela proximadade mexia com ela, assim como mexia comigo.

— Eu sei que errei, e te dou todo direito de estar chateada por isso, mas jamais duvide do que eu sinto — Sabia que minhas palavras saíam um pouco tremidas, mas não por medo ou indecisão, mas pelo vento frio que batia contra minhas roupas molhadas — O que eu sinto por você, é o sentimento mais puro e mais verdadeiro que já senti e sei que jamais vou sentir nada nem perto disso por ninguém. Por favor, Jessica, me dá mais uma chance. Eu não quero seu dinheiro, muito menos o do seu pai. Foi uma besteira enorme aceitar esse contrato, mas não me arrependo porque senão jamais teria encontrado você e isso teria sido o maior erro da minha vida. Por favor, me dá uma chance.

            Ela tinha permanecido de cabeça baixa enquanto eu falava, e quando levantou o rosto, pude ver as lágrimas que caíam de seus olhos.

— Você fez comigo a coisa que mais me dói, Yuri. Me traiu. Mentiu para mim. E isso, eu não posso perdoar!

— Mas Jessica, eu te amo! — Segurei seus braços para que ela não se afastasse, mas ela logo se desvencilhou de mim, deixando que seu guarda-chuva caísse ao chão. Sem nem mesmo se importar em estar na chuva, ela tentou sair dali, mas eu novamente a segurei — Eu sei que errei, mas o que mais quero é te proteger, pra que algo assim jamais aconteça. Sou seu anjo, se lembra?

         Ela me olhou com extremo desprezo ao ouvir essas palavras. Foi como se ouvir isso tivesse acendido em sua mente as lembranças de todas as promessas que fiz e não cumpri.

— Tá aí mais uma coisa em que você mentiu pra mim. Mais uma das suas promessas sem fundamento. Eu não quero nunca mais te ver!

         Novamente, ela tentou sair, mas não deixei de segurar seu braço, o que a irritou profundamente.

— Me solta! — Ela gritou, chamando a atenção de alguns ao nosso redor e me assustando — Eu não quero mais te ver! — Ela gritava tanto, que mantia seus olhos fechados — Some da minha vida! Eu odeio você!

         “Eu odeio você”. Assim como “eu te amo”, são três palavras que te mudam para sempre. E naquele momento, aquelas três palavras fizeram com que eu desistisse de viver, pois minha vida depois daquilo não teria mais sentido algum. Lentamente, senti minha mão perder a força, deixando que ela se soltasse. Por um instante, pensei que ela tivesse se arrependido do que havia dito, mas estava errada, pois ela saiu correndo em direção à rua. Então, tudo aconteceu em questão de segundos. Foi como se meu cérebro processasse toda a cena tão rápido quanto meu coração me mandou agir. Vi Jessica atravessar a rua correndo, sem nem ao menos olhar para os lados. Em meio ao barulho alto da chuva batendo contra o asfalto, uma buzina soou. Mas ao contrário do que qualquer um faria, Jessica se assustou e parou ali mesmo, no meio da rua.

            Naquela fração de segundos, entendi o meu sentido ali. O motivo de eu estar em sua vida, de estar ali, naquele exato momento. O motivo pelo qual eu existia. Salvar Jessica. Salvá-la de todas as maneiras possíveis. Salvá-la de si mesma e daqueles que poderiam fazer algo contra ela. Nem eu mesma sei explicar como consegui alcançá-la tão rápido, mas fui capaz de empurrá-la o mais forte que pude, tirando-a da frente do carro, mas permanecendo ali. O impacto daquele carro contra meu corpo não foi nada comparado a dor que sentiria se ali em meu lugar fosse Jessica. Senti o corpo ser jogado longe, e em seguida bater contra o chão molhado. Era como se meu corpo não existisse, pois não o sentia mais. Meus olhos se fecharam lentamente e tudo que fui capaz de ouvir antes de apagar completamente, foi a voz de Jessica chamar por meu nome. 



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