História Beautiful Stranger - Break a Leg

– Pessoal, hora do show! – Hyunwoo gritava nos bastidores, chamando a atenção de todos.

                Eu já estava pronta para a primeira parte do show, devidamente vestida e arrumada, em pé entre as outras dançarinas. Todas elas conversavam sobre algo e pareciam estar extremamente tranquilas. O que não acontecia comigo. Minhas mãos estavam inquietas, e eu dava pequenos passos de um lado ao outro. Faltavam poucos minutos para que eu finalmente pisasse naquele palco, e confesso que isso me aterrorizava um pouco. Eu tinha certeza que a platéia estaria lotada, o que aumentava meu desespero. A equipe então nos colocou em fila, em frente à entrada para o palco. Nós entraríamos primeiro, com as luzes apagadas, então as mesmas se acederiam e começaríamos a primeira coreografia e só ao final da mesma, Jessica faria sua grande entrada.

– Yuri! – Hyunwoo chamou – O que faz aí? Você tem que ser a primeira – Ele então me tirou de meu lugar e já ia me colocando em primeiro lugar na fila, mas fomos parados pelas mãos de Jessica, que seguraram meu braço.

– Espere um minutinho, oppa – Ela pediu a ele – Preciso falar com Yuri antes.

– Um minutinho, Jessica, nada a mais! – Ele ordenou e então saiu.

                Encaramos-nos por alguns segundos, antes que ela sorrisse e pegasse uma de minhas mãos.

– Lembre-se de nosso combinado. Mas sei que não será necessário, você fará um ótimo trabalho. Eu confio em você.

                Eu nada consegui responder. E nem precisava. Ela sabia que aquele apoio vindo dela significava tudo pra mim num momento como aquele. Ela então pôs uma das mãos em meu ombro e inclinou-se sobre mim, depositando um beijo um pouco demorado em minha bochecha.

– Quebre a perna – Ela disse, perto de meu ouvido.

– O que?! – Não entendi muito bem o significado daquelas palavras.

– Nada… – Ela deu uma leve risada, se afastando um pouco – Boa sorte, Yul.

                Fiquei ali parada por algum tempo, apenas assistindo enquanto ela saía. Estava linda como sempre, e o sorriso que carregava consigo a deixava mais deslumbrante ainda.

– Anda Yuri! – Hyunwoo apareceu novamente, e desta vez me colocou no lugar certo.

                Eu já podia ouvir a gritaria dos fãs, que chamavam por Jessica de maneira eufórica.  Comecei a sentir o nervosismo bater de uma forma que eu não sabia se conseguiria controlar, e Hyunwoo percebeu isso.

– Ei – Ele tocou meu braço docemente – Vai dar tudo certo. Você é Kwon Yuri, afinal! O que você se propôs a fazer e não conseguiu? Que eu saiba, nada – Hyunwoo lançou-me um sorriso tão encantador e reconfortante que eu não pude deixar de sorrir junto, mesmo que um pouco nervosa. – Você consegue, fighting!

                Mais um sorriso e então ele se afastou. Era bom saber que eu tinha pessoas realmente torcendo pra que tudo desse certo. E antes que eu pudesse respirar, foi dado o sinal. Senti as pernas tremerem assim que pisei no palco. Por sorte as luzes ainda estavam apagadas, mas os gritos vindos da platéia lotada me deixavam mais receosa ainda. E então a música começou, e eu apenas deixei que a mesma me levasse como eu sempre gostava de fazer. E dessa maneira, tudo fluiu como teria que ter fluído. Tudo aconteceu perfeitamente bem, principalmente nas vezes em que, mesmo que por frações de segundo, meu olhar se encontrava com o de Jessica quando dividíamos o palco. Mesmo sabendo da responsabilidade que era estar ali, procurei fazer daquilo um momento de diversão, e foi assim que aconteceu. A sensação de estar ali, fazendo uma das coisas que eu mais amava fazer, sendo vista e aplaudida por aquela enorme multidão, causava em mim algo muito bom. Um sentimento realmente único.

                E assim o show se seguiu até o final, onde, antes de sair do palco, Jessica sempre chamava todos, incluindo as dançarinas e as pessoas da banda, para darem as mãos e agradecerem. Fizemos então uma enorme linha, de mãos dadas, e eu fiquei ao lado dela. Assim que peguei sua mão, ela me olhou e sorriu. Um sorriso satisfeito e ao mesmo tempo orgulhoso, não só de seu trabalho bem feito, mas de mim também. Curvamos-nos em agradecimento enquanto a platéia gritava, da mesma maneira que havia feito durante todo o show.

                As luzes se apagaram e aquela foi nossa deixa para sair do palco. A saída foi um pouco confusa, pois todos corriam atrás de garrafas de água, e toalhas, e principalmente lugares para se sentar, graças ao cansaço. O número de pessoas que passavam pelo corredor dos camarins era enorme. Mas eu não iria para o meu agora. Pelo menos, não antes de encontrar Jessica. Olhei por todos os lados, mas no meio daquela confusão, não a encontrei. Até que me surpreendi, quando seu corpo rapidamente bateu contra o meu, e seus braços se envolveram em meu corpo de maneira forte.

– Sabe que estou toda suada, não é? – Brinquei enquanto a abraçava também.

– Isso é bom. Quer dizer que deu seu melhor lá.

                Jessica levantou seu rosto, que antes se apoiava em meu ombro, até que me olhasse, e então sorriu. Eu apenas sorri de volta, tirando uma mecha de cabelo que caía sobre seu rosto.

– Meninas!

                Reconheci a voz de Hyunwoo e tive certeza que Jessica também, no momento em que ela fez menção de se soltar de mim, mas fomos paradas quando ele pôs os braços em volta de nós duas e se uniu ao nosso abraço.

– Ótimo trabalho! – Ele sorriu, satisfeito.

– Você também oppa – Jessica disse a ele assim que nos soltamos – Realmente não sei o que seria de minha carreira aqui se não fosse por você. Obrigada mesmo, por tudo.

                Tanto eu quanto ele nos surpreendemos quando Jessica o abraçou forte, deixando um leve sorriso nos lábios. Ele me olhou um pouco confuso, mas eu apenas ergui os ombros, na intenção de dizer pra que ele apenas aproveitasse, e assim ele fez, devolvendo o abraço.

– Agora é melhor irmos – Ele disse, assim que os dois se afastaram – Ainda temos a festa, lembra? Confirmei a presença de vocês.

– Festa mesmo? Como a última? – Perguntei

– Claro! Acho que merecemos, não é? – Hyunwoo colocou os braços sobre nossos ombros, e nos levou até a porta de nossos camarins – A festa é realmente de comemoração ao seu sucesso, Jessica. Alugamos outra casa noturna, e o lugar estará lotado de famosos. Ou seja, aproveitem a noite, façam amizades. Sendo breve, divirtam-se!

                Ele então nos soltou e segui para fazer alguma coisa. Eu e Jessica apenas entramos em nossos respectivos camarins. Trocamos nossas roupas e pegamos nossas coisas, novamente nos encontrando na saída.

– Obrigado mais uma vez. – Jessica disse, enquanto esperávamos que nossa saída fosse liberada, já que o lugar estava lotado de fãs – O show não teria acontecido se não fosse por você.

– Ah, está exagerando, não? – Brinquei, e ela apenas riu.

– É, talvez um pouquinho – Rimos juntas, mas fomos interrompidas ao ouvir meu nome ser chamado.

                Nos viramos e logo vimos Tiffany e Yoona, vindo em nossa direção.

– Meninas, que show foi esse! – Tiffany logo disse, abraçando nós duas ao mesmo tempo – Yuri, você nasceu pra fazer isso! – Ela continuou assim que se afastou.

– Ela tem razão Yuri, você estava perfeita – Yoona disse, sorrindo angelicalmente para mim.

                Eu apenas me aproximei dela e a abracei forte, e ela fez o mesmo.

– Yoona… – Jessica a chamou, então nos afastamos – Eu lhe devo um pedido de desculpas. Sei que a primeira impressão que lhe passei não foi a melhor. Tenha certeza de que me arrependo disso. Espero poder mudar essa impressão.

– É claro, Jessica. Esqueça aquilo – Yoona sorriu, compreensiva como sempre.

– Fico feliz que tenha vindo – O tom de Jessica era sincero.

– Eu que agradeço, o show foi realmente incrível!

– Então vão gostar mais ainda da festa – Jessica continuou, animada.

– Festa?! – Tiffany logo aumentou o tom em excitação.

– É claro Fany, você acha mesmo que não teria uma festa cheia de famosos depois de um show desse, por favor né amiga, está falando com uma Jung! – As duas brincaram, e eu apenas ri da situação.

– Temos que ir em casa ainda, mas vou pedir a Hyunwoo que alguém as leve ao local, e nos encontraremos lá em menos de uma hora, está bem? – Eu disse e elas assentiram.

                Pra minha sorte Hyunwoo apareceu dizendo que um carro já esperava por nós para nos levar para casa, então logo pedi que ela arrumasse carona para Tiffany e Yoona e ele me garantiu que isso não seria problema. Rapidamente nos despedimos e Jessica e eu entramos em nosso carro, que desviando daquela multidão logo alcançou a rua e em poucos minutos estávamos em casa. Logo seguimos para nossos quartos, afinal não podíamos nos atrasar. Tomei um banho e me arrumei devidamente. Assim que saí do quarto, dei de cara com Jessica no corredor, também já pronta.

– Podemos ir? – Perguntei, recebendo em troca um sorriso.

                Ela então pegou minha mão e seguimos assim até que estivéssemos dentro do carro, que nos esperava a frente do prédio. Não demorou muito e já estávamos à frente do local, e como era de se esperar, a notícia da festa já havia chegado aos ouvidos não só da imprensa, mas também dos fãs, o que explicava aquela multidão a nossa frente. Assim que o carro encostou perto da entrada, todos se aproximaram do mesmo e os flashes eram tanto que chegavam a incomodar os olhos.

– Como vamos sair? – Perguntei, já que não conseguia ver nada da janela por causa da proximidade daquelas pessoas.

                Antes que minha pergunta fosse respondida, vários seguranças apareceram e formaram duas filas, abrindo caminho para que eu e Jessica passássemos. Um deles abriu a porta e então saímos, e a gritaria só aumentou. Como eu já esperava, Jessica parou para algumas fotos, mas para minha surpresa, ela me puxou, fazendo com que eu ficasse ao seu lado.

– Sorria – Ela disse, ainda olhando na direção das câmeras como um sorriso no rosto.

                Fiquei sem opção, afinal eu já estava ali mesmo. Coloquei meu melhor sorriso no rosto, e tive a impressão que após essa minha ação, os flashes só aumentaram. Ficamos ali por alguns momentos. Jessica deu apenas mais alguns autógrafos e então entramos. Assim que pisamos dentro daquele lugar, minha boca ficou involuntariamente aberta. Aquele lugar conseguia ser ainda mais incrível que o primeiro, e ainda por cima, estava lotado. Várias pessoas sentadas ao bar, a pista de dança lotada e pessoas andando de um lado ao outro enquanto algumas conversavam, sentadas àquelas mesas altas.

– Que bom que chegaram! – Hyunwoo apareceu, com um copo de bebida em mãos – Yoona e Tiffany não param de perguntar por vocês.

– Onde elas estão? – Perguntei, dando uma olhada em volta, mas foi em vão graças a quantidade de pessoas ao meu redor.

– Deixei as duas no bar, vocês deveriam ir lá. Tiffany parece que viu um fantasma.

                Não pensei duas vezes e saí andando até o bar, logo encontrando as duas, cada uma com um copo em mãos.

– O que houve? – Perguntei, me colocando entre as duas.

– Você viu quem está aqui?! – Tiffany disse, sem nem ao menos se virar para me olhar.

                Percebendo que ela não diria, Yoona se virou e apontou para um canto, e quanto me virei para olhar também, vi Taeyeon conversando com um homem.

– Você vai deixar de curtir a festa por causa disso? – Voltei a ficar entre as duas – Achei que tivesse me dito que tentaria esquecer.

– Tentar esquecer sem vê-la é uma coisa, não é Yuri… – Ela respondeu, logo dando mais atenção ao seu copo do que a mim.

– Que saber, chega. Vem Yoona, vamos dançar – Peguei Yoona pelo braço e a levei até a pista de dança.

                Arrumamos um espaço entre todas aquelas pessoas e começamos a dançar. Não haviam se passado nem cinco minutos quando Tiffany apareceu ao nosso lado.

– Tá bom, você tem razão – Ela disse, se rendendo.

– E quando eu não tive razão? – Brinquei e ela apenas riu, começando a dançar também – Aproveite o lugar. Está cheio de famosos aqui. Conheça alguém, faça amizades.

– Concordo plenamente – Hyunwoo apareceu, já parecendo um pouco alterado, mas o suficiente apenas para deixá-lo alegre – Vamos conhecer gente, mas principalmente nos divertir.

                Um grito animado por parte dele enquanto levantava seu copo e então voltamos a dançar. Foi então que dei falta de Jessica. Eu a havia deixado sozinha logo que chegamos. Deixei que meus olhos percorressem o lugar a minha volta, até que por minha sorte eu a vi, não muito longe de mim, também dançando. Logo sorri, vendo que ela se divertia.

– Pessoal, esperem um momento. Já volto.

                Passei entre eles e andei em direção a Jessica, na intenção de abraçá-la de surpresa, mas parei assim que vi que ela não dançava sozinha. Realmente havia me esquecido da quantidade de famosos que havia ali, porque fiquei mais que surpresa ao ver quem dançava com ela. Ninguém menos que o líder do Super Junior: Park Jung-su. Não consegui me mover, nem ao menos reclamar. Nunca que eu daria uma de ciumenta ou alguma coisa do tipo na presença dele, principalmente porque os dois pareciam se divertir bastante juntos.

– Yuri – Fui tirada dos meus pensamentos ao sentir alguém tocar meu braço, e para minha surpresa, quando me virei vi que se tratava de Taeyeon – Será que podemos conversar?

– Quer mesmo fazer isso aqui?

– Por favor, eu não aguento mais esse clima ruim entre nós. Vamos até o bar, lá o barulho é menor, poderemos conversar.

                Olhei para trás mais uma vez e vi novamente a cena de Jessica, que dançava e ria, se divertindo com ele. Eu não tinha direito de interferir ali. Não tinha mesmo.

– Tudo bem – Respondi para ela, então seguimos até o bar.

                Sentamos-nos e ela pediu duas doses para nós duas. Assim que as mesmas foram colocadas a nossa frente, ela bebeu um gole e então se pronunciou.

– Me perdoe, por tudo que eu falei e pela maneira como te ataquei. Eu não devia ter feito nada naquilo, mas infelizmente o assunto “Jessica” ainda mexe muito comigo – Seu tom era sincero, o que não me deixava ser grossa ou nada do tipo.

                Tae e eu éramos amigas. Aquilo havia sido apenas um desentendimento. Estávamos as duas de cabeça quente, nervos a flor da pele. Não valia a pena acabar com nossa amizade por tão pouco.

– Tudo bem Tae… Eu não deveria ter me metido nesse assunto seu com a Jessica, afinal eu não tenho nada a ver com isso.

– Mas eu também não deveria ter falado dela como falei. Jessica não é uma pessoa ruim, mas eu ainda tenho alguns assuntos não resolvidos com ela.

– Fique a vontade para fazer o que quiser, Tae. Não vou me meter nisso novamente. Esqueça que tudo isso aconteceu. Somos amigas antes de tudo, não é?

– Claro – Ela sorriu, feliz por eu ter aceitado suas desculpas.

– Eu também fiz besteira, não deveria ter acusado você daquela maneira. Mas eu ainda acho que foi injusta com Tiffany.

– Eu sei – Ela abaixou a cabeça – Eu juro que não menti sobre não saber. Mas é tudo culpa minha. Prestei mais atenção nos outros do que nela, que estava sempre ao meu lado.

– E o que pretende fazer quanto a isso?

– Não sei, ela não responde minhas ligações nem minhas mensagens. Tenho medo de procurá-la e ela nem ao menos querer me ouvir.

– Porque não fala com ela agora então? – Me virei e apontei para ela, que ainda dançava com Yoona e Hyunwoo.

                Pude ver um sorriso se formar em seu rosto assim seus olhos localizaram Tiffany, que parecia se divertir.

– Eu vou falar com ela – Ela logo se levantou, mas eu a segurei pelo braço.

– Tae, acho isso uma ótima idéia. Mas me prometa que não a magoará novamente.

– Eu não sei o que irá acontecer, Yul. Mas depois que você me contou sobre o que ela sente por mim, confesso que fiquei mexida. Quero ir com calma, quero realmente que as coisas aconteçam naturalmente. Mas quero muito me acertar com ela e dar uma chance à isso tudo.

– Era só isso que eu precisava ouvir – Soltei seu braço e deixei que ela andasse até eles, enquanto observei de longe, dando alguns goles em minha bebida.

                Tiffany pareceu surpresa com a presença de Taeyeon, mas depois de algum tempo assentiu e então as duas saíram do meu campo de visão, provavelmente indo a algum lugar mais calmo para conversar. Quando olhei para aquele lugar novamente, não vi mais Yoona, apenas Hyunwoo que dançava com alguém que eu não conhecia.

– Posso saber por que está aqui sozinha – Yoona apareceu de surpresa em minha frente, me assustando um pouco.

– Oi Yoong, nem te vi chegar – Respondi, deixando o copo sobre o bar.

– Vim te fazer companhia – Ela apoiou as mãos sobre minhas coxas, inclinando o corpo para frente e me beijando calmamente.

– Eu estava conversando com a Tae – Respondi assim que quebramos o beijo – Ela veio me pedir desculpas.

– Sério?! – Ela parecia feliz com a notícia – E como foi?

– Bem. Estamos bem… Não há motivos pra ficarmos mal.

– Porque não vamos dançar, não sei… Não quero ficar aqui parada.

– Não fica chateada Yoong, mas nem estou tão a fim de dançar assim.

– Então, porque não vamos para outro lugar? – Ela se inclinou sobre mim, jogando charme – Já percebi que não está muito a fim de ficar aqui mesmo. Podíamos ir para meu apartamento. Que tal?

                Aquela proposta de Yoona me matava por dentro. Eu não podia ir. Ou melhor, não queria ir. E ela nem sonhava que ontem mesmo eu estava com Jessica. Mas ao mesmo tempo em que não queria, aquela cara que ela fazia enquanto me pedia me deixava sem forças para negar.

– Tudo bem – Cedi – Deixe-me apenas ver com Jessica se posso mesmo ir embora ou se ela precisará de mim para alguma coisa.

– Yuri, pare de se preocupar tanto com ela. Ela é uma adulta, oras. E está muito bem, até porque eu a vi dançando há alguns minutos, e sabe com quem? Leeteuk! É, ele mesmo. Park Jung-su. Ela está em ótimas mãos.

                Juro que se fosse outra pessoa senão Yoona fazendo aquele comentário, eu teria feito algo bastante ruim. Mas contive meus nervos com todas as forças que tinha e apenas me levantei.

– Eu preciso ir, Yoona. Não posso ir embora sem avisá-la.

– Tudo bem então. Irei ao banheiro enquanto isso e te encontro aqui novamente.

– Está ótimo – Respondi, recebendo um selinho dela antes que ela saísse.

                A grande questão agora era encontrar Jessica, e acima de tudo, falar com ela. Que cara eu teria para me meter entre ela e alguém tão importante quanto Leeteuk. E querendo ou não, ele é famoso. Confesso ter certa repulsa por esse tipo de pessoa. A grande maioria delas era prepotente e com um ego maior que a própria Seul. Achavam que por serem Kpop idols tinham o mundo inteiro aos seus pés. Também tive essa impressão com Taeyeon a primeira vez, mas ela logo mudou essa impressão mostrando ser alguém de ótimo coração. Fora isso, essa impressão sempre me batia quando se tratava de famosos. Foi assim com Jessica no início, e digamos que pelo menos nos primeiros dias, ela correspondeu às minhas expectativas.

                Resolvi andar por ali até encontrá-la, e só então decidir o que fazer. Comecei a andar ao redor daqueles que dançavam. Meus olhos finalmente a encontraram, mas eu desejei que não a tivessem visto. Agora ela estava de pé em um canto. Leeteuk estava mais próximo dela do que o normal. Talvez eu devesse ter ido embora, mas resolvi me torturar e ficar ali, assistindo. Ele acarinhou seu rosto e então a beijou. Aquilo foi o suficiente pra que minha mente rodasse milhares de vezes e minha visão ficasse turva. Nada do que eu ouvia ou via fazia mais sentindo.

                Não sei ainda como, mas consegui andar entre as pessoas até encontrar a saída dos fundos, que dava num beco deserto, porém iluminado, atrás do lugar. Senti tantas coisas ao mesmo tempo, que não soube identificar nem ao menos uma delas. Pensei que me sentiria traída, mas eu não podia me dar ao direito de sentir isso, afinal não tínhamos nada. Ou melhor, não tínhamos nada oficial, por que pelo menos pra mim, o sentimento que eu tinha já era suficiente. Ou será que nem isso era suficiente, porque nem ao menos dizer a verdade a Yoona eu conseguia. Talvez fosse por isso que eu não conseguia culpar Jessica. Querendo ou não, eu me encontrava na mesma posição que ela. A amava em uma noite, e beijava Yoona na noite seguinte. Como eu poderia exigir que ela fosse fiel a mim quando eu não era fiel nem ao que eu sentia dentro de mim?

                Recostei-me na parede logo ao lado da porta por onde tinha saído, e me assustei ao vê-la se abrindo novamente, porém de maneira brusca. Alguém passou por ela, cambaleante, até que se encontrasse com a parede do outro lado. Tratava-se de um homem, aparentemente um pouco mais alto que eu. Vestia calças escuras, e um paletó preto. Minha primeira reação seria me aproximar, mas eu nem ao menos sabia quem era aquela pessoa.

                Ele então se abaixou ainda apoiado na parede. Levou a outra mão até a cabeça, e assim ficou por alguns instantes, até que se levantou e se virou. Eu o conhecia de algum lugar, eu sabia disso. Mas não consegui reconhecê-lo. Seu cabelo estava completamente bagunçado, e as roupas ligeiramente desalinhadas.

– Você… – Ele disse, assim que me viu à sua frente – Eu… Não conheço você – Sua voz estava completamente embriagada – Você me conhece?!

– Eu, eu não…

– Porque não?! – Ele explodiu, gritando e gesticulando com os braços – Eu sou tão importante naquele grupo quanto ele, ok?!  Eu estou cansado daquele idiota me tratando como nada!

– Eu… Acho melhor eu ir embora – Percebi que seu estado não era dos melhores então não cabia a mim ajudá-lo. Dei alguns passos para me afastar, mas fui impedida ao senti-lo se jogar sobre mim.

– Aigoo! – Foi tudo que consegui gritar enquanto o empurrava, mas minha tentativa foi em vão já que se tratava de alguém mais pesado que eu – Qual o seu problema? – Tentava me desvencilhar de seus braços, mas era em vão.

                Ele prendeu-me entre a parede e seus braços. Aquela ação me assustou, e obviamente me fez pensar em como sair daquela situação.

– Você… Você precisa – Eu mal entendia o que ele dizia – Me ajudar.

                Pensei em chutá-lo entre suas pernas. Isso me daria tempo para ir embora, mas nem ao menos tive tempo de fazer isso. Ele simplesmente apagou, recostado em mim. Sua cabeça caiu em meu ombro, e vi-me obrigado a segurá-lo o mais forte que pude ou seu corpo cairia ao chão.

– Omo! O que eu faço agora?! – Reclamei alto.

                O que eu poderia fazer? Deixá-lo ali e pedir ajuda? Eu não poderia deixá-lo sozinho, não naquele estado. E querendo ou não, ele havia pedido minha ajuda. Eu sabia que me arrependeria daquilo, mas era a única opção que me restava. O arrastei da maneira que consegui e o coloquei deitado em um dos bancos da rua. Para minha sorte, um táxi passou, porém havia uma pessoa nela. Mas vendo o estado do rapaz que estava comigo, a senhora que estava no mesmo concordou em dividir o táxi comigo.

– Ei, eu conheço ele! – A senhora que estava sentada no banco da frente se virou para trás, onde eu o tinha caído sobre meu ombro – Ele não é aquele menino bonitinho, daquele grupo com os outros meninos? Minha neta adora todos eles… – A informação não me ajudou muito a reconhecê-lo, mas confirmou minha impressão de conhecê-lo. – O que aconteceu com ele? – Ela logo perguntou, vendo que ele estava apagado.

– Na verdade… Eu não sei. Acha que eu deveria levá-lo para um hospital?

– Bom, desmaiado ele não está. Parece estar apenas dormindo. Um sono bem profundo. E pelo cheiro, isso parece ressaca.

– E daquelas bem ruins – O taxista comentou.

                Nada mais foi dito até que o táxi parasse em frente a meu prédio. Peguei todo o dinheiro que eu tinha e dei ao taxista. Seria suficiente para pagar tanto a minha viagem quanto a daquela senhora. Foi a maneira encontrei de agradecê-la. Desci do carro e pedi para que alguém da recepção me ajudasse, e um dos homens que ali trabalhava prontamente se ofereceu para me ajudar a carregá-lo. Subimos pelo elevador e quando entramos em casa, pedi que o colocasse em minha cama. Agradeci pela ajuda e então ele foi embora. Fiquei de frente para minha cama, analisando aquele homem deitado em minha cama.

– Ótimo Yuri, você trouxe um estranho para sua casa, e ele ainda está deitado em sua cama. Ótimo.

                Reclamei sozinha. Mas mesmo toda essa situação soando extremamente estranha, eu tinha o pressentimento de que fiz a coisa certa em ajudá-lo. E eu ainda tinha certeza de que o conhecia de algum lugar, só ainda não me lembrava de onde. Bom, ele já estava ali de qualquer maneira. O mínimo que eu poderia fazer era cuidar dele. Foi então que me lembrei de Yoona, que deveria estar esperando por mim até agora. Parabéns Yuri, mais uma vez furando com Yoona.

                Peguei meu celular correndo e liguei para ela.

– Yuri, cadê você?! – Ela logo atendeu

– Me perdoa Yoong, surgiu um imprevisto e eu tive que… Tive que ajudar um amigo.

– Algo sério? – Ela soou preocupada

– Não exatamente. Mas ele precisa de mim. Desculpe-me por não ter avisado.

– Sem problemas, amigo é amigo afinal – E nem meu amigo ele era.

– Obrigada Yoong. Prometo ir te ver amanhã, está bem? Agora preciso desligar.

– Tudo bem, Yul. Fica bem.

                Deixei o celular em qualquer lugar do quarto e fui dar toda minha atenção à ele. Confesso que fiquei meio sem jeito de fazer isso de início, eu não podia deixá-lo dormir daquele jeito, pelo menos não em minha cama. Com cuidado, tirei seus sapatos e os coloquei ao lado da cama. Da maneira que consegui, o virei até que conseguisse tirar seu paletó. Pensei que daquela maneira ele ficaria mais confortável. Porém, se ele estava em minha cama, onde eu dormiria? Apesar de não estar completamente bem com Jessica, ela não se importaria se eu dormisse em sua cama. Até porque ela não sabia que eu havia visto aquela cena que eu preferia não ter visto. Troquei minha roupa e fui até seu quarto, me deitando em sua cama e esperando acordar com ela ao meu lado.

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                Acordei pela manhã com certo desconforto. Dormi de mau jeito graças aquele travesseiro baixo demais, e por isso uma dor no pescoço me incomodou, me fazendo acordar. Virei-me para o lado na intenção de ver Jessica, mas não encontrei. Na verdade, a cama nem havia sido mexida daquele lado. O que só poderia significar que ela não havia dormido em casa. Levantei-me e logo entrei em meu quarto. Para minha surpresa, aquele indivíduo em minha cama ainda dormia como pedra. Peguei meu celular e saí novamente do quarto, seguindo para a cozinha. Chequei o aparelho e vi que havia duas ligações perdidas de Jessica e uma de Tiffany.

                Tiffany provavelmente ligou para saber onde eu estava e falar de Taeyeon. Já Jessica, preferi acreditar que ela havia ligado para avisar que dormiria com Krystal ou em qualquer outro lugar mais seguro. Só a idéia de ela ter passado a noite com Leeteuk me embrulhava o estômago. Resolvi tirar aquela idéia da cabeça, pelo menos até saber o que realmente podia ter acontecido. Preparei uma tigela de cereais com leite e me sentei no sofá da sala, ligando a televisão em algum canal qualquer. Comi todo meu cereal e deixei a tigela sobre a mesa de centro, ajeitando-me mais confortavelmente ao sofá, mas parei ao me assustar com um barulho.

                Quando me virei, o vi de pé, recostado sobre a parede da sala, com a cabeça baixa. Automaticamente me levantei, e foi então que ele levantou o rosto e me fitou. Seus olhos antes ligeiramente fechados se arregalaram em surpresa.

– Bwo?! Quem é você?! E onde eu estou? – Ele deu um passo para trás.

– Calma – Gesticulei com as mãos – Eu apenas ajudei você ontem. Você não se lembra?

– Não exatamente – Ele levou uma das mãos à cabeça, fazendo uma expressão de dor – Lembro-me de ter ido com o grupo para a festa pós-show da Jessica Jung, e de estar lá com eles bebendo e me divertindo. Depois disso, alguns flashes onde eu estou discutindo com um deles por algum motivo qual não me lembro – Ele então me fitou e deu alguns passos em minha direção – Agora, forçando a memória, lembro-me sim de você. Bem, lembro-me do seu rosto, mas não de nada que tenha acontecido. Pode me ajudar? – Ele pediu, e eu não pude negar.

– Porque não se senta? – Apontei para o sofá – Eu vou pegar um copo de café pra você e então te conto o que aconteceu. Pelo menos a parte que eu sei.

                Fui até a cozinha, e fiz rapidamente um café. Voltei a sala com o copo, e ele estava sentado, de cabeça baixa.

– Aqui – Ofereci o copo e ele logo o pegou tomando alguns goles.

                Aproveitei que a mesa de centro era forte e me sentei ali, para que pudesse ficar de frente para ele.

– Como se sente? – Perguntei

– Como dor de cabeça, mas bem melhor do que eu me lembro de ter me sentindo ontem. Com certeza alguém colocou algo em minha bebida. Apenas o álcool não teria me deixado naquele estado ruim pelo o que me lembro.

– É bem provável que isso tenha acontecido...

– Eu não sei nem como te agradecer – Ele disse, olhando-me nos olhos – Na verdade, eu não sei nem o nome da minha salvadora.

– Menos – Eu ri – Eu não te salvei, apenas te ajudei. Mas me chamo Yuri.

– Obrigado, Yuri. De verdade. Mas o que aconteceu?

– Eu saí pela porta dos fundos e de repente você também saiu, cambaleando até a parede. Ficou um tempo assim até me ver e começar a reclamar sobre ser importante ou algo do tipo, até que se jogou em cima de mim e apagou.

– Me desculpa por isso – Ele riu

– Então eu te coloquei num táxi e te trouxe pra cá. Achei que seria a melhor coisa a se fazer. Se eu soubesse seu nome poderia até ter pensando em voltar para a festa e chamar por alguém que te conhecesse…

– Espera, você não me conhece?

– Na verdade, sei que já te vi em algum lugar, mas realmente não me lembro – Torci a face, com medo que ele ficasse chateado com o comentário.

– Tudo bem – Ele sorriu timidamente – Isso só torna o que você fez mais nobre ainda. Senão poderia ter feito apenas por eu ser famoso. Bem, deixe-me me apresentar então. Chamo-me Choi Minho. Faço parte do grupo SHINee, por isso estava na festa.

– Mas é claro! É daí que te conheço. Nossa, como eu não me lembrei… – Em nenhum momento essa hipótese tinha passado por minha cabeça.

– Tudo bem, isso é o de menos. Você me ajudou. Eu não sei nem como agradecer por isso.

– Não precisa. Fiz o que achava que deveria ser feito.

                Ele então colocou seu copo na mesa, ao lado da onde eu estava e então pegou minhas mãos. O gesto me surpreendeu, mas pareceu sincero.

– Obrigado Yuri, de verdade – Ele deu um leve sorriso e eu não me contive em retribuir.

– Atrapalho?

                Logo reconheci a voz e quando me virei, vi Jessica à porta, ainda com a mesma roupa do dia anterior.

– Jessica Jung? – Minho se levantou e eu fiz o mesmo.

– Choi Minho… – Ela fechou a porta e andou até nós, logo o cumprimentando.

– É um prazer revê-la – Ele disse, simpático.

– Verdade, faz muito tempo desde a última vez que nos vimos.

– Eu estava em sua festa ontem, mas não tive a oportunidade de falar com você. A propósito, ótimo show e ótima festa. Fico muito feliz que esteja aproveitando bem esse tempo na Coréia – Ele sorriu.

– Eu também… Não quero parecer grosseira, mas o que faz aqui?

 – Longa história, mas digamos que Yuri me ajudou bastante – Ele sorriu para mim, e eu repeti o gesto, mas um pouco sem jeito – Mas confesso que também estou surpreso de te encontrar aqui.

– Eu moro aqui, oras.

– Vocês moram juntas? – Ele me olhou, surpreso – Ah, então você é a tal Kwon Yuri, não é? Já ouvi falar de você…

– Espero que coisas boas – Brinquei, procurando melhorar o clima.

– Mas é claro – Ele sorriu.

– Não quero atrapalhar vocês… – Senti o olhar de Jessica sobre mim – Então vou tomar um banho e descansar um pouco. Mas foi um prazer vê-lo novamente Minho – Ela se despediu dele e então foi para seu quarto.

– Também acho que é melhor eu ir…

– Claro, deixe-me pegar suas coisas – Fui até o quarto e rapidamente voltei, entregando-o suas coisas.

                Ele se sentou e calçou os sapatos, em seguida vestindo o paletó. Levei-o até a frente do elevador, onde ele então mais uma vez agradeceu.

– Sei que já disso isso várias vezes, mas obrigado Yuri. Nem todo mundo teria feito o que você fez. Agradeço de verdade.

– Não há de que. Fico feliz em ter ajudado – Sorri levemente e então o elevador chegou.

– Bom, então isso é um adeus – Ele disse, entrando no elevador.

                Eu apenas sorri, observando enquanto a porta se fechava, mas a mesma não chegou a se fechar completamente, pois ele colocou seu pé, impedindo que isso acontecesse então a porta se abriu novamente.

– Será que eu poderia te ver de novo? – Ele sorriu, meio tímido.

                Talvez eu não devesse, mas ele realmente tinha algo diferente. Algo que de alguma maneira me chamava atenção.

– Porque não? – Respondi, dando um leve sorriso.

                Ele então se apoio na porta para que a mesma não se fechasse. Colocou as mãos nos bolsos da calça e nos do paletó, em busca de algo.

– Não encontro meu celular.

– Não se preocupe – Peguei o meu e entreguei em sua mão.

                Ele salvou seu número e me devolveu, entrando no elevador novamente.

– Até breve então, Yuri – Ele sorriu e a porta se fechou.

                Choi Minho tinha algo. Algo que eu ainda não sabia. Algo que o tornava doce e simpático. Mas principalmente, ele era mais alguém que havia derrotado minha teoria.