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História Beauty and the Beast (hiatus) - Don't lose your heart


Escrita por: ArumGirl

Notas do Autor


Hey, babies!!! ❤
Espero que tenham passado bem as festas de fim de ano. Que 2019 traga tudo de melhor para todos nós e consiga ser ainda melhor que 2018! (e que Fillie se assuma de vez, rsrsrs) 🎉

Sem mais enrolação, vamos ao capítulo!!!!

Capítulo 19 - Don't lose your heart


Fanfic / Fanfiction Beauty and the Beast (hiatus) - Don't lose your heart

"O tempo é muito lento para os que esperam

Muito rápido para os que têm medo

Muito longo para os que lamentam

Muito curto para os que festejam

Mas, para os que amam, o tempo é eterno."


           -Henry Van Dike


"O amor é a força mais abstrata, e também a mais potente que há no mundo." 

-Mahatma Gandhi




- Posso entrar? - uma cabeça cacheada surgiu entre o espaço da porta entreaberta e a soleira do quarto de Brown.

Millie o fitou por cima do ombro, parando momentaneamente o que fazia para sorrir de lado.

- Oi, alteza! que bons ventos o trazem aqui?

Wolfhard caminhou até ela, usando uma túnica escura que poderia ser facilmente confundida com o preto.

Rugas surgiram em sua testa ao se dar conta de que ela estava sentada no chão, mesmo que a grande cama estivesse desocupada e perfeitamente arrumada.

O irmão de Nick parou à sua frente e afastou as abas da túnica para guardar as mãos nos bolsos da calça.

-O que faz aí?

A garota olhou para si mesma e então deu de ombros.

- Gosto de trabalhar assim.

- Você é estranha.

- Não fique aí parado como um cabideiro, rapaz, sente-se aqui. - sugeriu, dando tapinhas no espaço ao seu lado.

Wolfhard não demonstrou muito interesse em se juntar a ela na cerâmica fria.

- Acho que não.

Millie estreitou os olhos, perguntando em tom de brincadeira:

- Está com medo de sujar sua túnica de tecido nobre vindo da Rússia, alteza? Ou seria incômodo em sujar sua pele real tão preciosa?

Os lábios do rapaz se separaram num sorriso que mais aparentava uma careta de sarcasmo.

- Engraçadinha.

Finn a olhou trabalhar, percebendo novamente que usava uma trança para domar os cabelos castanhos rebeldes.

Um de seus dedos deslizava habilidosamente, guiando a agulha com maestria para dentro e para fora do tecido que envolvia a espuma da almofada; o outro, segurava o ponto próximo à costura para auxiliá-la no apoio.

Ele fez barulho com a garganta para chamar-lhe a atenção.

- Então…?

Um vínculo se formou entre suas sobrancelhas enquanto a bibliotecária o encarava de volta, confusa.

- Então o quê?

Ele revirou os olhos num gesto trivial.

- Vim saber com o que você sonhou.

Ela abriu a boca para respondê-lo, mas este a interrompeu:

- E não venha me enrolar e dizer que não foi nada de mais, porque eu sei que algo estava bem errado. - acrescentou, arqueando uma sobrancelha escura.

Millie desviou os olhos dos dele, baixando a cabeça. Pela claridade que adentrava da janela, suas íris estavam vários tons mais claras, deixando seus olhos numa cor esverdeada curiosa.

- Sonhei com a minha família. – respondeu com sinceridade como lhe fora pedido.

- Eles estavam felizes, estavam rindo. Mamãe, papai, Ava, Charlie e Paige, todos se divertiam tanto no jardim. Foi tão real que eu pude sentir o calor de seus sorrisos e meu coração se aqueceu com a cena… - comprimiu os lábios, mordiscando a parte inferior em seguida como se a lembrança do sonho trouxesse uma tristeza que ela ainda não aprendera a combater.

As longas sobrancelhas do príncipe se juntaram de modo que expressasse a confusão de suas ideias.

- E isso é ruim? Digo, todos estavam felizes, certo? Isto não deveria ser bom?

- Minha mãe está morta, Finn, e Paige continua desaparecida. Vê-las ali, juntas aos outros como se nada tivesse acontecido foi um baque para mim. Eu sinto muito a falta de ambas, assim como sinto dos outros agora também; gostaria muito que tudo aquilo fosse de verdade, que pudéssemos estar todos juntos em algum momento, mas isso é impossível. - fechou os olhos para esconder as lágrimas que ameaçavam trilhar sua face.

A confusão expressa em seu semblante se perdeu em meio às linhas desconcertadas que cruzaram o seu rosto e ele prontamente se arrependeu de ter tirado conclusões precipitadas.

- Eu sinto muito.

O canto do lábio da garota subiu em um meio sorriso.

- Obrigada. - pausou, distraindo-se com uma pluma branca que surgiu diante de seus olhos, advinda da almofada que Millie finalizava a costura. Ela levitou no ar por instantes com a tranquilidade de quem tinha toda a eternidade para decidir aonde ir.

Finn também a acompanhou, seguindo seu caminho para onde quer que fosse e não pôde deixar de invejá-la por limitados instantes; desejava ser tão livre quanto aquele pedaço de tecido, desprender-se de todas as amarras que o destino lançara-lhe e poder tomar as diretrizes da sua vida, ter uma segunda chance.

Mas ele não era esperançoso. Muito menos otimista. Tinha em mente que aquilo não mais aconteceria em sua vida, e aceitar a realidade seria mais viável do que se ligar ao maior desejo de um príncipe que havia se tornado prisioneiro em seu próprio castelo.

Que mísera forma de viver.

O baixo gemido de dor da garota ao seu lado o trouxe de volta à realidade, e seus olhos se direcionaram instantaneamente para os dedos trêmulos de Brown e a almofada de costura recém-terminada em seu colo.

Uma gota vermelha ganhou forma na ponta de seu polegar, alastrando-se pela extensão do dedo tão rápido que ela mal tinha largado a agulha quando o sangue pingou no chão, marcando a cerâmica clara.

- Ei, tudo bem? - perguntou ele, franzindo o cenho.

Ela deu uma pequena risada, suas bochechas levemente coradas durante o período em que anuiu com a cabeça.

- Isto sempre acontece quando tenho uma agulha em mãos.

- Você é tão desatenta, bela…

- Me passa o algodão?

Ele olhou para os lados.

- Onde?

A castanha apontou para um ponto atrás de seu corpo magro.

- Atrás de você.

Finn se surpreendeu ao ver uma caixinha de tamanho médio ali, repousando no canto da parede. Aquele objeto geralmente ficava na farmacinha do banheiro, junto com demais materiais de higiene, mas Millie optara por se prevenir deixando-o mais perto de seu alcance.

- Você realmente sabia que isso  iria acontecer. - afirmou assombrado, entregando-lhe a caixinha de papel colorido. - E essa caixa não era…

- Sim. Ela costumava ser uma caixa de prata horrível. - ela o cortou, completando seu pensamento.

- Horrível? - repetiu, incrédulo - você tem noção de quanto eu gastei para comprar uma daquelas? aquilo é prata pura!

Os ombros dela relaxaram.

- Não sei, mas deve ter custado bem menos do que os lustres de cristais e outros objetos de ouro e pedras preciosas que você tem por aqui. - disse, terminando de fixar um pouco de algodão no ferimento mínimo com um pedaço de fita o pressionando.

O rosto do mais alto estava carrancudo.

- Ainda assim. Você está desperdiçando meus bens, Millie, isso não é legal.

- Santo menino Jesus, como você é dramático! - exclamou - eu não a joguei fora, ok? Até limpei-a ao ponto de ficar brilhando antes de guardá-la no armário.

Ele não poderia declamar se ela tinha cuidado tão bem do caro objeto, certo?

- O que você você acha que vai acontecer no seu futuro?

Aquela pergunta súbita o pegou desprevenido, como se estivesse sido puxado bruscamente para o mundo real.

- Hum?

Millie encarou-o, reformulando a questão de modo que ficasse mais compreensível:

- Como você acha que vai estar vivendo daqui a alguns anos?

O príncipe baixou a cabeça, esticando um dedo comprido para seguir traçados imaginários no piso.

- Eu não sei.

Uma sobrancelha dela subiu à medida que seus olhos acompanhavam os desenhos invisíveis que o príncipe formava em sua imaginação, sendo possível distinguir uma estrela, um círculo e intermináveis triângulos.

- Você não acredita que algo bom aconteça e te salve deste destino premeditado? - tentou descobrir.

- Isso é praticamente impossível.

- Não espera realmente que algo possa te salvar?

Ele balançou a cabeça para os lados.

- Não espero nada, Millie. De ninguém. - foi sucinto e direto.

-  Eu imaginei que sua resposta seria esta.

Ele ergueu apenas o olhar para o seu rosto.

- E como sabia?

- Você acha que não, mas essa sua maneira de trancar suas emoções te torna bem previsível. - os olhos avelã da garota baixaram para onde o dedo dele tracejava um retângulo imaginário - Você nunca diz o que realmente sente, por isso acaba sendo uma pessoa tão difícil de conviver. Portanto, é de se esperar que você nunca responda com total sinceridade o que lhe é questionado.

- Eu não imagino como as coisas serão daqui a um ano porque assim é menos doloroso para mim, Millie. Eu não vou ter uma vida como você e as outras pessoas normais. Não consigo deixar de me sentir cada vez mais impotente e culpado pelo que fiz a todas essas pessoas que você conhece. Pessoas cujas famílias serviram à minha por anos, e que com o passar do tempo se tornaram os meus amigos, mesmo eu não os merecendo. - negou com a cabeça, era perceptível o quanto se odiava pelo que causou a Sadie, Noah, Gaten, Louise, Caleb e Lizzy. - Você entende, não é? Eles todos estarão presos aqui pelo resto de suas vidas e eu pagarei o preço da imortalidade com a minha própria existência.

- Finn... - ela ergueu uma mão para tocá-lo gentilmente no ombro, mas ao ver o olhar assustado no rosto do filho mais novo do rei, recolheu-a de volta para si.

 O moreno não acostumara-se ainda a ser tocado por ela, por mais inocentes que estes contatos fossem.

Ele pigarreou.

- Ainda pareço previsível para você?

Millie não escondeu o meio sorriso de satisfação que brotou em seus lábios rosados.

- Agora, não mais. Você deveria agir assim com mais frequência.

- Prefiro não fazê-lo. - respondeu quase de imediato, parando os desenhos imaginários que continuava a fazer na cerâmica cor de creme - Os sentimentos são a fraqueza do homem, bela. Eles te expõem e são seu ponto mais fraco, é fácil para qualquer

Em contraposição ao que ele pensou, ela não se chateou com a resposta. Era impressionante como sempre conseguia surpreendê-lo sem ter tão intenção.

Interpretando o costumeiro papel de uma grande antítese humana, palavras escolhidas pelo próprio Finn para melhor descrevê-la, Millie sequer mostrou má vontade ou desgosto quando disse-lhe:

- É aí que você se engana.

Ele olhou-a de soslaio. A castanha mantinha os olhos no teto enquanto prosseguia seu pensamento:

- Você não está vivo se não sentir. O perfume das flores, os raios do sol aquecendo cada centímetro da sua pele... o amor, em especial, é a coisa mais forte do mundo, Finn, engana-se quem pensa o contrário.

- Você já amou? - perguntou-lhe sem formalidades.

- Não. Não do jeito que você está querendo saber. - falou a mais baixa - Mas o amor que estou falando é muito além do que duas pessoas podem sentir. - ela estirou o braço para agarrar algum fio de linho que subia pelo ar - Eu falo do sentimento como um todo. O amor é como uma joia rara, de preço inestimável e poder sem igual. Ele te encoraja a enfrentar o que quer que seja pelo que você deseja, te dá forças dia após dia para alcançar aquele tão sonhado objetivo e não deixar que ninguém te faça desistir. Sem ele, somos completamente ocos, fracos. Se você não ama a vida, jamais será capaz de entender toda a beleza que está diante de seus olhos, a que muitas vezes os olhos humanos não estão aptos para enxergar.

Finn ouviu tudo em silêncio, as palavras dela pareciam surtir um efeito bastante diferente de tudo que já tinha lido e ouvido falar a respeito do maior e mais importante sentimento entre os deuses e mortais. De repente, algumas coisas fizeram sentido, apesar de ainda serem muito confusas em sua mente repleta de novas informações para processar.

Ele suspirou.

- Isso é estranho.

Brown virou a cabeça para fitá-lo, seus cabelos bagunçando-se ao redor da cabeceira da cama durante o processo

- Por que diz isso?

- Como pode ter tanta certeza sobre algo que nem sequer podemos ver?

- "O essencial é invisível aos olhos", Finn. - disse poeticamente - Fique sem qualquer coisa, mas nunca perca o seu coração.

Ele refletiu em silêncio sobre aquilo por um determinado conjunto de segundos.

- Millie?

- Sim?

O príncipe a observou pelo canto do olho encoberto pela máscara.

- Posso te fazer uma pergunta?

Os ombros estreitos dela subiram e desceram com sutileza.

- Vá em frente.

Ele inspirou por alguns segundos antes de indagá-la:

- Você se imagina dividindo a vida com alguém daqui a algum tempo?

Um esboço de sorriso sarcástico apareceu no canto de seus lábios.

- Sério que logo você está me fazendo esta pergunta?

Ele não entendeu o que ela quis dizer.

- O que tem eu?

- Você é o responsável por eu estar aqui. - fez um gesto circular com o dedo indicador, buscando abranger todo o espaço possível do castelo - Você tirou a minha liberdade e agora pergunta coisas sobre o futuro? Não acha que está sendo meio cruel?

A mandíbula dele se retesou, demarcando o queixo amplo e bem desenhado. Aquele adjetivo o perseguia desde o início e ele simplesmente o detestava.

- Não seja boba, Millie. - falou, não escondendo a indignação - Não é como se você fosse ficar pela eternidade e enfrentar conosco uma maldição que não é sua.

Um lampejo de fé na mudança de sua condição no castelo fez com que os olhos dela crescessem, e inclinou os ombros para frente, abraçando os joelhos que agora tocavam o seu peito.

- Isso quer dizer que você vai me libertar?

Ele manteve-se olhando para o teto. Costumava fugir de contatos visuais quando se sentia incomodado.

- Talvez.

- Por quanto tempo você pretende me manter aqui então?

As clavículas do rapaz se aproximaram quando ele encolheu os ombros.

- Não sei, tudo depende de você ser uma boa mocinha ou não.

- Quanto tempo? - ela repetiu, dispensando a provocação.

O lábio inferior de Finn dobrou-se para desmontar sua indiferença quanto a preocupação da bibliotecária.

- Talvez uns cinco ou dez anos, quem sabe.

- Isso é muito tempo! - Brown chiou, sentindo o coração voltar a se apertar com a possibilidade de ter que demorar tanto tempo mais para rever a família. - Você não pode fazer isso.

Ele a olhou como se o que dissera não lhe fizesse o menor dos sentidos.

- Por que não? Eu sou o príncipe.

- Justamente por ser o príncipe! você deveria lutar pelo bem estar das pessoas!

- Você é de New Westminster, bela, e eu só me meto nos assuntos de Vancouver.

Minutos de silêncio se sucederam após a resposta tão insensível dele; minutos de silêncio tensos como as nuvens carregadas de chuva que pouco a pouco se acumulavam no céu, e cortantes como uma navalha afiada.

- Finn? - ela chamou num tom diferente do anterior que atraiu-lhe a atenção.

Seu rosto exibia seriedade e zanga puras. O queixo pequeno inclinou-se levemente para cima quando disse em alto e bom som:

- Você já pode sair.

O príncipe a encarou absorto, completamente cismado com o que ouvia.

- Você está me expulsando do seu quarto?

- Existe outro significado para a palavra “sair” no contexto em que foi inserida? - ela devolveu uma pergunta, sua paciência atingindo o limite máximo do dia.

Ele se afastou com brusquidão, se pondo de pé.

- Não sei porque ainda me sinto tão responsável por você, sinceramente. – falou, seu tom acompanhando a falta de delicadeza de seus gestos.

- Você não faz mais do que sua obrigação, alteza. - acusou ela indignada, apontado um dedo para seu peito. - Se teve a brilhante ideia de me aprisionar aqui, tem que no mínimo se importar se estou bem ou não. Aonde está a benevolência que diz tanto ter?

- Acho que o limite dela com você chegou ao fim.

- Tanto faz. Vai embora, Finn, eu quero ficar sozinha. – o espaço abaixo de suas escleras se encheram de lágrimas.

O cacheado olhou-a por cima de sua cabeça, já que ela continuava sentada no mesmo local de antes, esperando qualquer indício de que ela não estava falando sério.

Ao ver que seu semblante não mudara, fincou um pé no chão.

- Vai mesmo ficar fazendo todo esse drama por causa de uma bobagem como essa?

Como esperado, ele foi ignorado em sua pergunta. Isso fez com que seus olhos revirassem com a característica impaciência

- Você está agindo incoerentemente, Millie.

Ela não se deu o trabalho de olhá-lo, seus olhos estavam vidrados demais nos flocos de neve que caíam do lado de fora da construção.

- Ah é, esqueci que só você pode ficar mal quando se dá conta que está vivendo preso em um pesadelo. – falou, seca. – Especialmente quando a tal Iris aparece nele - isso ganhou a atenção total do monarca, que agora a fitava com espanto mal disfarçado.

Finn parara de andar abruptamente, já bem próximo à soleira da porta, e virou-se totalmente para a garota.

- O que você disse?

Brown não o olhou mais uma vez, preferia assim.

- Você ouviu.

Ele de fato ouvira e bem. De alguma forma, ela estava a par de seus momentos de fraqueza, e isso o deixou desnorteado.

Millie voltou a olhar para ele, seus olhos avelã agora estavam manchados de uma cor vermelho sangue que era acompanhada de lágrimas ainda contidas.

- É este é o nome da garota que atormenta os seus pensamentos dia após dia, não é? Iris.

Percebendo que o olhar de Brown ainda captava as emoções que deixava transparecer nos traços faciais e. Não precisava ser uma pessoa observadora para entender o que se passava com ele no momento e isto o aturdiu ainda mais do que julgou ser possível.

Engolindo em seco, voltou a endurecer o semblante, dando as costas para se retirar de vez dali e acabar com aquele assunto.

- Isso não é da sua conta. Não quero mais você falando disso por aqui, entendeu? – avisou, fitando-a com sua postura autoritária que dava as caras quando ele se sentia acuado.

Millie não baixou o queixo um milímetro sequer ao responder, olhando-o diretamente nos olhos de volta:

- Não me importa se você pode estalar os dedos e me jogar numa cela para definhar até morrer. Eu queria ser sua amiga, Finn, mas vejo que isto é tão impossível quanto fazê-lo enxergar que o mundo não gira ao seu redor. - o peito dela inflou ao respirar fundo para finalizar, em momento algum seus olhos deixaram as íris enegrecidas do rapaz - Mas quer saber? não importa o que você faça ou diga, eu não tenho medo de você.

Finn sustentou aquele olhar sem a mínima intenção de baixar a guarda a prior. Pretendia destruir de uma vez o ímpeto de ousadia da garota com um olhar de aviso, ou quem sabe tentar intimidá-la com palavras que usava há tempos atrás com os outros prisioneiros que passaram pelas mãos do rei.

Mas, aparentemente o príncipe ainda não aprendera que nem tudo estava sob seu controle, em especial os sentimentos humanos; aqueles de quem tanto fugia e nunca conseguira aprender a lidar.

Com o decorrer dos segundos, sentiu-se cada vez mais vulnerável. Seu cérebro não ordenava mais e então percebeu que jamais conseguiria tratá-la como um meliante qualquer. Ela era uma garota, e admitindo para si mesmo ou não, no fundo sabia que era inocente. E isso tudo não se tratava apenas de uma designação influenciada pelas características biológicas, afinal algumas vezes recebera figuras femininas em sua casa também.

Ladras e até mesmo assassinas já tinham passado algumas noites na torre do castelo antes de serem encaminhadas às suas sentenças; o motivo estava mais interligado ao fato de ela ser quem era: a garota mais corajosa que já conhecera até então. A garota que mesmo sob o risco de se perder na densa floresta ou ser devorada por um monstro, arriscou-se e foi valente o bastante para salvar o irmão. Uma garota que pusera sua vida em risco pelo príncipe para fazer o que julgava ser o correto, não o deixando sozinho, entregue aos lobos, mesmo após ter sido expulsa do castelo e ter possuído a chance de escapar e voltar para sua tão querida família.

Finn poderia ser muitas coisas, ter inúmeros defeitos, todavia não fechava os olhos para o que era claro como os raios do sol.

A força espiritual que aquela garota tinha era admirável e também inquietante.

Se os olhos eram de fato as janelas da alma, naquele instante, Millie estava deixando-o despido de toda e quaisquer armadura que criara para se proteger do mundo exterior.

Temeroso quanto a esta suposição, agarrou-se ao último fio de orgulho que se mantivera invicto dentro de si como método para conseguir se livrar da situação que lhe era tão aterrorizante.

- Pois deveria ter. Aqui não é a sua casa para agir do jeito que bem quiser. Eu não estava brincando quando disse que tinha sido uma péssima escolha sua ter ficado. - rosnou por fim, pisando fora do aposento quase no mesmo instante em que as palavras deixaram a sua boca.  Não se encontrava em condições de encarar Millie por mais tempo depois de descobrir que ela estava a par de seu medo à simples menção do nome da garota que o submetera aquele tipo de vida.

Esbarrou com alguém no rodapé da escada principal, derrubando o que quer que a pessoa tinha em mãos.

Ele franziu o cenho para sua nova companhia, conseguindo distinguir a moça envolta por um vestido vermelho simples depois de alguns segundos se passarem.

Lizzy sorriu desconcertada com o encontro casual, recolhendo uma mecha do cabelo escuro para detrás da orelha enquanto se agachava para pegar os tecidos agora espalhados pelo piso.

- Deixa que eu pego!

- Tenha mais cuidado da próxima vez que estiver andando por aí - murmurou sem dar muita importância, passando direto pela garota para ir em direção à cozinha.

Yu terminou de apanhar os objetos depressa e se pôs de pé para o seguir, segurando três tecidos diferentes em suas cores junto ao corpo.

- Finn, espere! Preciso de sua opinião em algo. - ela apressou-se em informar, desviando do balcão da pia  ao passar por este, assim como o mais alto também fizera.

Ele sequer parou de andar ao responder sem real vontade de ouvi-la:

- Diga.

- Você prefere qual destes? - perguntou, adentrando com ele já cozinha - temos amarelo, laranja e coral para este ano.

- Tanto faz. - resmungou, abrindo a porta da adega à procura de álcool.

A quase namorada de Gaten deu um passo à frente, alheia a toda ira que circundava o rapaz.

- Mas o aniversário de sua mãe está se aproximando e nós pensamos que gostaria de escolher a cor das cortinas para que possamos mudá-las, como sempre faz.

- Tá. 

- Jack disse que seria interessante usar amarelo, visto que a cor está atrelada com a luz e boas energias. - sorriu de modo simpático - Ele disse que isso atrairia coisas boas para nossa convivência.

- Ok.

Lizzy riu com seus próprios pensamentos, balançando a cabeça de forma divertida.

- Ele e Sofia quase brigaram feio sobre o significado das cores que os mostrei. Aqueles dois sempre foram assim, discutiam sobre tudo e todos e discordavam da maioria das coisas. Quem diria que duas pessoas tão diferentes acabariam num relacionamento bonito como o deles?

O cacheado se abaixou para procurar o que desejava na última fileira de bebidas dispostas em posição horizontal.

- É.

- Fico feliz que eles tenham gostado para nos visitar. O castelo não é o mesmo sem aquelas figuras. - sorriu com animação, não havia alguém naquele lugar que não gostasse da dupla louca  de visitantes.

 - Uhum. - resmungou o mais velho.

 A menina soltou um suspiro corriqueiro, olhando-o.

- Então você vai querer o amarelo?

- Pode ser.

A menor assentiu, dobrando os tecidos cujas cores haviam sido dispensadas.

- Você por um acaso viu a garrafa de Vodca? Não estou conseguindo encontrá-la. - perguntou, de costas para ela.

- Ah, Jack pegou-a há alguns minutos. Ele até disse que iria te procurar para se reunir com os outros e fazerem uma "festa de garotos" - ela riu, lembrando-se da maneira divertida que Grazer tinha-lhe dito aquilo.

Finn fechou uma mão em punho, maldito fosse Jack Dylan Grazer por pegar a última garrafa de Vodca do estoque.

- Você prefere amarelo canário ou amarelo bebê? - perguntou Lizzy, a par das exigências que o monarca geralmente apresentava com relação às tonalidades dos tecidos que adornavam o castelo.

- Qualquer um.

- Você não acha que...

A batida forte da porta da adega a interrompeu e arregalou os olhos escuros ao finalmente notar o quão transtornado o príncipe aparentava estar.

- Não. Eu não acho nada! - ele elevou o tom da voz, fazendo-a pular de susto. - Eu já disse que tanto faz, não me importo com meu aniversário ou com o que quer que seja, por que está insistindo tanto nisso? Não é capaz de ver que não estou interessado?

Lizzy piscou rapidamente os olhos marejados, paralisando em seu lugar.

- Pensei que gostaria de escolher as cores como de costume, afinal foi você mesmo que começou com essa tradição das cortinas. - respondeu imersa em incompreensão.

Ele ergueu os braços e levou os dedos a ambos os lados de sua testa, massageando as têmporas que pareciam prestes a explodir a qualquer momento de tão latejantes que estavam.

- Você me deixou ainda mais irritado, garota, e isso não é bom. Pare de ser tão irritante com essas malditas perguntas!

- Desculpe, Finn, eu não quis...

Ele abriu os olhos de supetão para fitá-la, encarando a morena como se outra cabeça tivesse nascido na parte superior de seu pescoço.

A silhueta de Yu tremeu rente à sua visão, deixando-o ainda mais confuso. Não estava se sentindo bem outra vez e já sabia exatamente o que viria a seguir se não se apressasse em ir embora.

- E por que diabos você está me chamando pelo meu nome? Não acha que é muita intimidade para uma reles empregada tratar seu soberano?

- M-mas foi você mesmo que pediu assim. - gaguejou a moça de descendência oriental.

Ele rosnou, mais lembrando um animal do que um homem. Precisava se recolher ao seu 

- Esquece.

Wolfhard passou por ela outra vez para seguir seu trajeto pelas escadas, fazendo com que esta se encolhesse com a brutalidade em suas ações.




Chegou ao aposento apoiado pelas paredes, que pareciam dançar  junto com todo o corredor, confundindo as cores em sua visão que parecia tingir o mundo nas variações do roxo ao lilás.

Sua mente girava com as mais diversos pensamentos e a estabilidade de seus nervos estava claramente alterada, impedindo-o de pensar melhor antes que qualquer palavra fossem despejadas.

Talvez tivesse pegado pesado demais com a garota por uma bobagem, mas não estava conseguindo mais se controlar.

Parecendo aproveitar-se de toda sua agitação, a transformação anunciava sua chegada desde que saíra do quarto de Millie e por pouco Lizzy não presenciara seu estado mais deplorável.

Girou a maçaneta com a mão trêmula a um nível que não o permitia  segurar sequer uma pena. Mordeu o lábio inferior para impedir o grito que por pouco não reverberou pelo castelo, sendo contido ao ponto de um arquejo audível apenas a quem estivesse por perto.

As pernas que o sustentavam pareceram incapazes de realizar sua principal tarefa e fraquejaram, deixando-o escorregar com as costas rente à porta de madeira e pousar no chão com um baque surdo.

Seu corpo esguio projetou-se para baixo enquanto ele se encolhia com a dor lancinante em seu abdômen, reação do preparado de ervas que tinha tomado há algumas horas antes. Ele segurou a região com as mãos, sentindo o rosto quente como se estivesse ao lado de uma fogueira, a respiração ofegante e entrecortada.

Após várias tentativas fracassadas, ele e Gaten descobriram uma maneira da mudança não ser tão frequente quanto no início. Foi a partir dessa combinação de ervas que Finn conseguira ter mais controle sobre suas emoções e impedir que a fera tomasse o seu lugar a todo instante, já que se irritava com tamanha facilidade.

Porém a mistura era como uma faca de dois gumes, o beneficiava com o adiamento das transformações, mas afetava o seu organismo como um veneno, drenando sua saúde aos poucos.

O seu reflexo o olhou de volta  quando se deu conta do grande espelho à sua frente. Seu comprimento e largura eram extensos de tal forma que ocupava metade da parede frontal.

Rastejou até o objeto, gemendo de dor durante todo o período até  que parasse de se mover.

Apoiou a mão esquerda sobre o vidro, encarando seus olhos. Com a máscara fora de seu rosto e este tomado por uma cor próximo do violeta, a cicatriz brilhava, misturada ao suor e às veias saltitantes espalhadas por cada centímetro da sua pele. Os cabelos estavam relativamente grandes, alcançando quase a metade do ombro em cachos desalinhados e de tonalidade próxima a dos seus olhos castanho-escuros.

Suas pupilas diminuíram, assumindo um formato vertical como os de uma cobra, se misturando às íris agora já avermelhadas. Era assustador de se ver.

Nessas horas, ele odiava-se. Odiava quem fora, o príncipe rude que nada fez pelo seu povo, odiado por quase todos e pela sua própria família; tinha raiva também do reflexo que o encarava de volta naquele momento, então rangeu os dentes que agora ganhavam presas pontiagudas no lugar dos caninos.

O líquido vermelho o chamou a atenção para sua mão, e virou a palma, percebendo que um corte formara-se desde o polegar até próximo do dedo médio.

Apanhou um tecido gasto que fora uma cortina há muito tempo, e rasgou-lhe um pedaço, envolvendo o ferimento para estancar o fluxo agitado de sangue. Não percebera que tinha segurado os cacos de vidro com tanta força, até ver o fluido viscoso destacar-se em meio à palidez de sua pele.

A cor vibrante o fez recordar de Millie e seu pequeno incidente com a agulha de costura. E também de Lizzy, que coincidentemente usava um vestido vermelho vivo como o próprio sangue naquele início de tarde.

Tinha agido com tanta imbecilidade durante todo o dia, não sabia mais como tentar mudar aquilo sem admitir que seus amigos sempre estiveram certos: ele precisava se modificar em prol dos outros e de si mesmo.

Estava cada vez mais convencido de que o verdadeiro monstro se escondia debaixo de sua pele, longe do sangue que fluía em suas veias e do DNA surrealmente modificado.

Rangeu os dentes, sentindo o espaço ao redor dos olhos queimar com a chegada das lágrimas que insistiam em se acumular ali.

Não, o verdadeiro monstro não se alimentava de animais na floresta ou destruía as coisas que via pelo caminho. Sua principal fonte de nutrição era algo pior, algo que não poderia ser visto ou compreendido por qualquer pessoa. Ele se fortificava de suas emoções, porque ele residia num lugar onde magia nenhuma poderia alcançar: em sua alma.

Talvez Iris realmente tivesse razão. O monstro que o fitava de volta refletido no espelho não era nada menos do que o seu próprio eu interior exposto de uma forma alcançável ao seus olhos.

Se eram apenas meses que lhe restavam até que perdesse a sua sanidade total, o amaldiçoado príncipe de Vancouver começava a se perguntar se iria querer continuar a viver assim ou realmente precisava aprender a ser humano.


Notas Finais


Não deixem BATB morrer. XD


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