História Because of you (HIATUS) - Hyung

Passei as mãos pelo rosto e me levantei, precisava respirar ar fresco porque o cheiro cítrico do perfume daquele garoto estava me irritando na mesma medida que me deixava tonto. Saí do salão com destino ao jardim. Mark que cuidasse de YuGyeom porque eu não tinha a mínima condição,  ou melhor dizendo, eu não era obrigado à nada.

Capítulo 08 - Hyung

Assim que saí do salão passei direto pela área da piscina e desci os degraus que davam acesso ao jardim.

Eu não sabia o que estava acontecendo comigo, por mais que eu quisesse e tentasse, não conseguia me livrar daquela expressão que YuGyeom fez quando nossos olhos se encontraram minutos antes. Estranhamente sentia uma onda de calor percorrer o meu corpo e a única explicação que eu achava ser válida para aquilo era que eu não estava me sentindo bem, e isso me fez acreditar que eu precisava de ar fresco.

Após dar poucos passos no vasto gramado do jardim, um som característico chegou em meus ouvidos, sabia de onde tinha vindo e o que supostamente era, mas... Quem seria o louco que… Sem muito pensar, dei meia volta e comecei a subir o mais rápido que eu conseguia os degraus que a pouco eu havia passado.

Não avistei ninguém ao chegar na área da piscina e ao constatar isso um crescente desespero me abateu. Eu estava certo de que tinha ouvido algo se chocando contra a água e num primeiro momento pensei que algum dos meus amigos, já alterados pelo álcool no organismo, tinha tido a - péssima - ideia de mergulhar na mesma. Eu estava pronto para dar uma bronca em quem quer que fosse o imbecil que quisesse mergulhar à noite - e em pleno inverno - correndo o risco de ficar doente e de ser altamente arriscado considerando o estado de lucidez da maioria, mas definitivamente não estava preparado para descobrir que alguém tinha caído acidentalmente na piscina. Após observar com maior cuidado a parte mais profunda, pude ver a água agitando-se em pequenas ondas e ao chegar mais perto visualizei um corpo distanciando-se da superfície.

Pulei no mesmo instante que vi o corpo, mesmo sem saber de quem se tratava. Assim que eu fui completamente envolvido pela água pude sentir o choque térmico; por causa do inverno a temperatura da água estava extremamente baixa, fazendo com que eu sentisse meu corpo congelar em segundos.

Aquela parte da piscina tinha três metros e meio de profundidade e por mais que eu soubesse nadar muito bem, nunca tinha me arriscado a mergulhar naquele ponto. Mas àquela altura eu tinha que vencer o meu receio, então assim que consegui chegar no corpo da pessoa que a cada vez mais se afundava e alcancei o seu braço a fim de lhe tirar dali, pude ter certeza de quem era.

YuGyeom.

Seu rosto tornou-se visível devido às luzes que haviam no fundo da piscina e que iluminavam a água, aquela não passava de uma ideia decorativa empregada para deixar a água com a cor azulada mesmo à noite, mas naquele momento, além de me revelar a face do garoto à minha frente, aquelas luzes me alertavam sobre a coloração avermelhada que o envolvia. E aquilo me desesperou mais ainda.

Puxei-o para a superfície e com dificuldade consegui retirá-lo da piscina sozinho, não adiantaria gritar por ajuda, pois seria impossível alguém dentro da mansão me ouvir e o portão de entrada onde ficavam os seguranças era muito distante de onde nos encontrávamos.

YuGyeom estava inconsciente e estávamos sozinhos ali, eu deveria reanimá-lo, mas o que eu sabia sobre primeiros socorros era apenas na teoria. Só poderia pedir que Deus me ajudasse, porque eu não poderia perder tempo e deveria ser objetivo.

Aproximei meu rosto da sua boca e nariz, mas não havia qualquer sinal de respiração. Sem demora iniciei a respiração boca a boca seguida de uma série de massagens cardíacas, repeti esse ciclo de respiração e massagens umas quatro vezes sem qualquer resultado positivo.

E se YuGyeom não voltasse?

 Minha visão já estava embaçada àquela altura e os meus braços começavam a ficar doloridos pelo esforço, mas eu definitivamente não iria parar. Continuei pressionando o seu peito mais uma, duas, três e foi justamente na quarta vez que ele retornou. Coloquei-o de lado para que expelisse toda a água que ele havia ingerido.

— Graças a Deus... — O peguei em meus braços e comecei a analisá-lo; suas pupilas estavam dilatadas, os lábios mantinham uma coloração roxa e a pele que naturalmente era clara estava absurdamente pálida. Lembrei-me do sangue misturado à água na piscina e comecei a verificar todo o seu corpo acabando por encontrar um corte que parecia profundo em uma de suas mãos.

YuGyeom estava tremendo intensamente em meus braços e eu estava a ponto de surtar pois eu não sabia mais o que fazer naquela situação. Não conseguiria levá-lo pra dentro sozinho, não havia possibilidade de deixá-lo só e ir buscar ajuda dentro da casa e muito menos conseguiria chamar a atenção de alguém de onde nós estávamos.

Olhei desesperadamente para o saguão, e em resposta a essa minha súplica, vi Mark passar correndo pela porta e vir em nossa direção.

— OH MY GOD! — Exclama ao ajoelhar-se ao nosso lado ao mesmo tempo em que examinava o mais novo de nós que estava em meus braços. — O que aconteceu? Você não estava com ele, JinYoung?

— E-eu... — Senti minha garganta apertar.

— Ele está com hipotermia! — Mark retirou o casaco que vestia e colocou no garoto trêmulo em meus braços. — Temos que levá-lo pra dentro. — Assim como eu, ele mostrava-se desesperado com a situação na qual YuGyeom se encontrava — Vamos, ajude-me a levantá-lo.

Com muito custo conseguimos levar o garoto, que era maior e mais pesado que nós dois, pra dentro da mansão. Já na sala, o colocamos deitado no sofá e o Tuan mais do que depressa começou a massagear braços e pernas do mais novo.

Assim que JaeBum apareceu no topo da escada e pôs os olhos na cena que se desenrolava na sala, ele desceu rapidamente para vir ao nosso encontro.

— O que aconteceu? — Disse, aproximando-se do sofá.

— Depois falamos disso. JinYoung, vá trocar de roupa antes que fique no mesmo estado que o YuGyeom e traga algumas roupas para ele — Mark falava tudo muito rápido enquanto tentava estancar o sangramento na mão do loiro com a própria blusa de frio que antes usava — JaeBum, traga algo quente pra ele beber.

Cada um foi fazer o que nos foi ordenado, JB foi direto pra cozinha e eu subi as escadas correndo rumo ao meu quarto em busca do que Mark pedira.

Troquei-me depressa, peguei algumas roupas que pudessem servir em YuGyeom, um dos meus casacos e desci sem demora.

Assim que entreguei o que me foi pedido a Mark, ele começou a livrar o garoto deitado no sofá das roupas encharcadas, substituindo-as pelas que eu trouxera. YuGyeom estava acordado, mas estranhamente não mostrava qualquer reação.

Minutos depois JaeBum apareceu com uma caneca em mãos e entregou ao Mark.

— Vamos Gyeomie, você precisa tomar. Irá lhe aquecer — O Tuan, que cuidadosamente abraçava o loiro, levou a caneca até os lábios arroxeados de YuGyeom. Ele parecia mais relaxado após tomar o líquido que lhe era oferecido, mas uma careta sutil lhe adornava a face. — Não faça essa cara, não é tão ruim assim... É chá de quê JaeBum?

— Gengibre, por quê?

— Por nada... — Mark fez uma careta. — Vamos nos apressar para levar YuGyeom a um hospital. — Disse, procurando alguém em específico com o olhar — Cadê o YoungJae?

— Ele apagou enquanto tomava um pouco de suco, então o coloquei em um dos quartos. — JaeBum o respondera e em seguida suspirou. — O que aconteceu aqui, afinal?

— Pedi para que JinYoung olhasse YuGyeom por alguns minutos enquanto eu ia ao banheiro — Mark me olhou repreensivo por um momento, mas voltou sua atenção para JaeBum — Mas quando voltei não vi ninguém no salão. Somente avistei cacos de vidro e sangue no chão, e foi seguindo o rastro deixado pelas gotas de sangue que encontrei JinYoung e YuGyeom na beira da piscina. — Mark olhou mais uma vez para mim — E então?

— Eu saí e fui até ao jardim, achava que o garoto estava dormindo... — Passei a mão pelo rosto — Quando escutei o ruído característico de alguém caindo na água, corri até a piscina e... — Parei de falar e olhei para o mais novo que parecia dormir nos braços de Mark.

— Resumindo, ele cortou-se com os cacos de vidro, provavelmente tentando levantar-se e seguiu você. Ele só não morreu porque você o salvou. — Mark suspirou e passou a mão pelos cabelos loiros do garoto em seus braços.

— Eu sinto muito... — Falo pesaroso.

— Pelo quê? Você o salvou Jinyoung.

— Mas…

— Mas nada — Mark impediu-me de continuar — foi um acidente, okay? Agora é melhor tratarmos de levá-lo a um hospital, esse corte está feio e um médico precisa examiná-lo.

Levamos YuGyeom até o carro e eu já estava me dirigindo ao banco do passageiro na frente, ao lado de JaeBum — que seria o nosso motorista já que ele fora o único que não tinha bebido — Quando sinto alguém me puxar pelo casaco.

— Hyung... — Me viro e vejo YuGyeom me olhando, lutando para manter os olhos abertos, enquanto agarrava o meu casaco.

— JinYoung, você vai com ele atrás. — E Assim que Mark acomodou o loiro na parte traseira do carro ele me empurrou logo em seguida, sem me dar tempo para contestar, e foi se sentar no banco do passageiro na frente, ao lado do motorista — E se o Youngjae acordar e não ver nenhum de nós na mansão? — Arregalou os olhos ao virar-se para JaeBum. — Não quero que aconteça outro acidente…

— Não precisa se preocupar, aquele ali não vai acordar nem se uma banda de rock começasse a tocar ao lado da cama. — JB sorriu de leve. — Ele só vai acordar mal humorado amanhã e provavelmente vai surtar quando souber o que aconteceu com o amigo. — Dito isso, deu a partida e dirigiu-se para o hospital que levaríamos o garoto.

Estávamos a caminho do hospital quando olhei para o lado e vi YuGyeom encarando a mão ferida, o tecido branco da camisa que  Mark tinha usado para estancar o sangue já tingia-se de vermelho.

— Hyung? — Disse, me olhando de repente. YuGyeom surpreendeu-me mais uma vez ao usar aquela forma de tratamento, pelo simples fato de não ser o seu habitual ao dirigir-se a minha pessoa. — Hyung, estou com frio...

Ele falava tão baixo que só o ouvi por estar ao seu lado e mesmo estando bem agasalhado, pude perceber que YuGyeom ainda tremia. Retirei o meu casaco e o coloquei sobre o loiro, ao mesmo tempo em que me aproximei de si passando o meu braço pelos seus ombros, o puxando para que sua cabeça repousasse sob o meu peito. Aos poucos, o tremor foi diminuindo.

Eu não estava me sentido incomodado por tê-lo tão perto de mim e sim culpado pelo que havia acontecido, mas estava aliviado por ele estar ao meu lado, respirando tranquilamente.

— Hyung? — Me chamou mais uma vez.

— Hum?

— Posso... Te chamar de Hyung? — Seu timbre, não sei como e nem o porque, me lembrou o de uma criança quando questiona a um adulto se pode ou não fazer algo.

— Você já está fazendo isso — Sorri.

— Ah! Então... — Suspirou. Parecia lutar contra o cansaço — Você é meu Hyung... Eu gosto de você Hyung... Você me odeia não é? — Provavelmente quando o efeito do álcool passasse por completo nem se lembraria de que tinha me chamado assim e do que havia acontecido naquela noite.

— Não, eu não te odeio. — Apertei de leve o ombro dele. — Me desculpe... — Sussurrei.

E mais uma vez me veio aquele sentimento de querer protegê-lo.