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História Because of You -Fillie - 31 Losing game


Escrita por: MabelSousa

Notas do Autor


Boa leitura ♥️

Capítulo 37 - 31 Losing game



"Um coração partido é tudo o que restou.
Eu ainda estou consertando todas as rachaduras.
Eu me viciei em um jogo perdido.

Amar você é um jogo perdido. "



Millie. 



Os próximos dias se passaram arrastados, ou apenas era assim que eu me sentia. Presa no tempo. Congelada e imóvel. 

Lexi havia de fato desaparecido deixando para trás um rastro de mentiras e sujeira cheio de buracos, histórias mal contadas e sem sentido. 

E embora eu tenha feito tudo o que estava no meu alcance, não havia descoberto nada que me desse uma ligeira pista de que merda estava acontecendo com ela ou o que ela estava fazendo. 

A pior sensação do mundo não era a de ter sido enganada por ela pois sempre fui muito ciente de que Lexi era uma pessoa em quem não podia se confiar. A sensação ruim mesmo era de perceber que eu sequer conhecia minha própria irmã. Pois a cena que ela havia armado para me separar de Finn era uma coisa, mas passar anos mentindo sobre trabalhar como cardiologista em um hospital de renome, era algo completamente diferente que ultrapassava tudo o que eu poderia esperar de Lexi. 

E ao longo daqueles dias pensando e não chegando a lugar algum, eu me vi realmente cansada de tudo aquilo. Cansada de não saber e de não ter nada que eu pudesse fazer para mudar aquela situação de merda. 

Eu não estava acostumada a fazer o papel de vítima. Aquilo sequer combinava comigo. 

-Eu acho que você deveria simplesmente ir até polícia e fazer uma denuncia contra ela. Eles iriam atrás e eu garanto que a encontrariam rapidinho. -Sadie sugeriu, devolvendo para mim o cigarro de menta. 

Estávamos no final da estrada que ligava Denver a Aurora com o carro dela estacionado embaixo da placa que dividia as duas cidades. Sadie de pé encarando o por do sol e eu sentada no capô, atenta a todos os carros que passavam pela estrada. 

Vínhamos fazendo aquilo todos os dias, mas nunca sequer vi um carro que fosse pelo menos remotamente parecido com o de Lexi. Era o máximo que poderíamos fazer. 

-Não sei onde estou me metendo ainda, Sadie, não posso apenas chamar a polícia e pronto. -Expliquei para ela, tragando a fumaça e arremessando no ar pela boca. 

-Então você deveria dar um tempo. -Ela deu um pulinho curto e se sentou ao meu lado. -Sabe, se não tem nada o que possa fazer, tenta esquecer isso um pouco. 

Ri infeliz e lhe passei o cigarro novamente. 

-Esquecer é a última coisa que vou conseguir fazer. Se fosse só o plano que ela armou no passado tudo bem, já não faz diferença para mim, mas tem mais coisas Sadie e eu só vou sossegar quando descobrir o que é. 

Ela ergueu uma sobrancelha para mim e puxou a fumaça com a boca enquanto me analisava. 

-Já se convenceu disso mesmo? 

-Disso o que? 

-Que o que ela fez no passado não faz mais diferença. 

Na falta de uma resposta convincente, dei de ombros e Sadie suspirou. 

-Faz diferença sim, Millie. Você não fez nada e agora que sabe disso, pode mudar o rumo das coisas. -Vendo minha impassividade ela deu de ombros. -O Finn está tentando fazer isso. 

Meu coração apertou ao me lembrar dele. Não que em algum momento eu esquecesse, mas devido ao fato de não nos vermos a algum tempo, as vezes aquele aperto no meu peito diminuía, só que ele voltava com tudo quando acabava eventualmente com Finn na minha cabeça.

-Ele mente, Sadie. Porque você acha que ele não foi me procurar um dia sequer depois que eu fui até a WolfHall? Ele sabe que não caio mais nessa. 

-Bem, deve ser porque ele está te dando espaço. -Ela sugeriu me passando o cigarro de novo. -Mas nem se iluda que ele não está atrás de você, já te disse que ele liga um dia sim e outro não para o Caleb só para saber como você está. 

-Claro, consciência pesada é foda. 

Ainda teve a coragem de dizer que me amava. Só uma louca como eu mesmo para ter acreditado por um segundo que aquilo era verdade. E se não fosse totalmente mentira foi apenas um ato de desespero. Eu já havia tido provas o suficiente de que nada que Finn falava era concreto. 

-Se ele me quisesse na vida dele como ele disse, teria me contado da doença do Eric, teria me contado que sabia que o Aidan estava de volta e ainda que ele não soubesse de nada, teria acreditado que eu não seria capaz de ficar com outra pessoa estando com ele. Mas não foi isso que ele fez, foi? 

Sadie maneou a cabeça indecisa. 

-De qualquer forma, não custa nada sentar e conversar. Porque é tão difícil para você fazer isso? 

Ah, era muito simples. 

Não existia diálogo entre Finn e eu desde que nos conhecemos. Ele ia escolher o pior momento para dizer que me ama e no momento seguinte estaríamos grudados na cama, com raiva e desesperados um pelo outro. 

-Ainda não estou pronta para conversar. -Peguei o cigarro da mão dela e o joguei no chão, logo em seguida pisei em cima. -Vamos, já está tarde e você precisa abrir a boate. 

Não esperei para ver sua expressão, apenas me enfiei no carro e ela apareceu segundos depois para nos levar de volta a cidade. 

Permanecer na boate era algo que eu não precisava mais financeiramente, mas era o único refúgio para minha cabeça e eu precisava daquelas horas de distração antes de voltar para casa e ser consumida por pensamentos inúteis que não me levavam a lugar algum. 

-Hoje é segunda-feira, porque ao invés de ficar atrás do balcão você e eu não pegamos uma mesa, bebemos um pouco e curtimos a banda que vai tocar ao vivo? -O convite inesperado me fez virar o rosto para Sadie. 

Já estávamos quase chegando na boate. 

-E os clientes? -Não achei que ela estivesse falando sério. 

Sadie deu de ombros e sorriu. 

-Alex e Caleb cuidam deles. Só hoje. Também estou precisando de um momento de diversão, nem sei quando foi a última noite que não vesti aquele uniforme e não fiquei trancada no escritório só trabalhando. 

Isso era verdade, ainda assim fiquei com um pé atrás. Não queria que Sadie ficasse com pena de mim ou algo do tipo. 

-Não sei...

-O Caleb não vai se importar. -Ela simplesmente deu a volta no caminho oposto a boate. -Vou te deixar em casa, você se arruma e as oito passo para te buscar. Vai ser como nos velhos tempos, lembra? 

Involuntariamente sorri. Fazíamos muito aquilo, só que as coisas eram muito diferentes agora. 

-Está bem, mas se o movimento apertar a gente para e vai trabalhar. 

Ela revirou os olhos, em seguida gargalhou. 

-Beleza. 

Quando cheguei em casa me senti um pouco mais animada com a premissa de uma merecida noite de folga. Anna estava na cozinha quase colocando comida para fazer quando apareci e a peguei de surpresa fazendo a velha senhora dar um pulo. 

-Não vou jantar em casa. Você está liberada. 

Passei por ela direto para a geladeira onde peguei uma maçã. Ela quase não conseguiu disfarçar o alívio de não ter que ficar a noite toda comigo, algo que eu não me importava desde que a casa estivesse limpa e eu tivesse algo para comer no dia seguinte. 

Estava quase saindo da cozinha para me arrumar no quarto, quando ela disse:

-O senhor Wolfhard ligou de novo para perguntar pela senhorita. Ele mandou um rapaz do supermercado vir deixar as compras e eu já as guardei. 

O pedaço de maçã ficou meio preso na minha garganta e eu tossi. 

-Já falei que não é para aceitar nada que ele mande deixar aqui. -Virei para ela, pedindo por paciência. -Ele não é mais seu chefe, eu sou. 

Ela retirou o avental branco do corpo e o dobrou sobre a mesa. 

-Mas só estou aqui porque ele me pediu. -Como sempre, sincera demais. 

Não era nenhuma novidade que eu tivessse uma lista extensa de pessoas no clube: todos odiamos a Millie. 

-Certo, e você quer sair? Não vai ser nada difícil arranjar outra pessoa para o seu lugar. -A enfrentei, deixando a maçã mordida em cima do balcão da cozinha. 

Ela não temeu a ameaça, mas franziu o cenho para mim. 

-Porque trata o senhor Wolfhard tão mal desse jeito se ele escolheu ficar com você? 

Mais uma para se meter na minha vida e me julgar, porque é claro que para alguém de fora, Finn querer ficar comigo e não com Lexi era um absurdo. Se eu pudesse gritar para o mundo quem a Lexi era de verdade...

-Porque ele não me escolheu. -Ter escolhido agora não fazia diferença. -E isso não é problema seu então apenas resolva se vai ficar aqui ou não de uma vez e pare de se meter na minha vida. 

Saí da cozinha sem esperar uma resposta. Não era minha intenção ser uma megera com Anna, mas porra, as vezes ela pedia. 

Tomei um banho sem fazer questão de ser rápida, depois vasculhei nas minhas roupas algo para vestir.

Acabei optando por um vestido de um ombro só que eu amava por mostrar as tatuagens que tinha no braço. Era azul bem escuro, meio colado demais, mas o comprimento abaixo dos joelhos fazia com que parecesse mais elegante do que vulgar. Não que eu me importasse em parecer com a última opção, aliás nunca me importei. 

Dei um jeito no cabelo que ultimamente só vivia preso em um rabo de cavalo. Deixei-o solto depois de secar , modelando apenas as pontas para ficarem um pouco mais enroladas do que o ondulado natural dos fios.

Foi até difícil me encarar no espelho toda produzida daquela forma depois que fiz uma maquiagem um pouco mais escura. Fazia tempo demais que eu não me importava em me arrumar e odiei ter passado pela minha cabeça que o motivo pelo qual eu não vinha mais fazendo aquilo era porque estava sozinha.

 Nunca fui assim. Minha aparência, mesmo quando estive na merda sempre foi algo pelo qual eu lutava para manter apresentável. Não pelos outros, mas para mim. Para me sentir bonita e desejável mesmo que minha intenção não fosse ficar com ninguém. 

Como eu havia perdido tanta autoestima em tão pouco tempo? E tudo porque? Porque não tinha Finn para me admirar? Que ridículo! 

Sacudi a cabeça e peguei na primeira gaveta da penteadeira o que faltava para completar. Um batom bem vermelho que era minha marca registrada. Ao terminar sorri para mim contente de conseguir gostar do que via. 

A buzina do carro de Sadie soou minutos depois e eu peguei a bolsa sobre a cama e desci para encontrá-la, percebendo no meio do caminho que Anna realmente havia deixado a casa. 

-Nossa... Você está maravilhosa! -Sadie praticamente berrou na rua quando apareci despois de fechar a porta. 

Achei graça pelo comentário que fez uma série de lembranças antigas passarem por minha mente. 

Ela também estava muito bonita e nunca precisou de muita coisa para chamar atenção. Seus cabelos ruivos estavam penteados em um rabo de cavalo longo e seu corpo distribuído em um vestido justo preto com botas altas na altura dos joelhos.

-Acho que acabamos esquecendo que hoje é segunda-feira. -Falei reparando que nossas roupas estavam um pouquinho exageradas. 

Ela deu de ombros e sorriu abrindo a porta do carro para mim. 

-Para quem trabalha todos os dias da semana, qualquer dia é final de semana. Tenho essa roupa a tanto tempo que nem sei como ainda cabe em mim. 

Ela estava exagerando. Seu corpo não havia mudado nada desde que tínhamos dezoito anos. O meu, nem tanto, sempre fui maior que ela em todos os sentidos. 

Com uma música pop alta tocando no carro nós duas cantamos animadas até chegarmos na boate, onde ela fez questão de fingir que não era dona do lugar, pegando a fila e pondo as pulseirinhas neon nos nossos braços. 

-Hoje nós duas somos clientes, nada de me tratar como sua chefe hoje. -Ela disse para o segurança que riu e assentiu com a cabeça entrando na onda quando nos deixou passar. 

Se eu já havia achado que estávamos um tanto exageradas, ao entrar e dar de cara com um bando de universitários vestidos casualmente com roupas no estilo country, puxei Sadie pelo braço. 

-Não me diga que a banda de hoje vai cantar música country. 

-Você não leu o encarte lá fora? Porque acha que coloquei botas de couro? 

-Ah meu Deus. -Olhei diretamente para as sandálias altas que eu havia colocado. 

-Vem, ninguém se importa com isso. 

Ela me arrastou até uma mesa bem próxima ao palco onde os dois cantores estavam se posicionando junto com a banda. 

-Gatinhos não é? Cobraram a maior grana para tocar, mas vai valer a pena. Eles estão fazendo o maior sucesso aqui cantando covers de cantores famosos. 

Olhei para os dois homens vestidos com camisas xadrez e calças justas com chapéus de couro na cabeça e assenti impressionada. Um era bem loiro, com uma barba grossa estilo lenhador, o outro um moreno alto e igualmente barbudo. 

Eram bonitos mesmo, os músculos apertados nas mangas das camisas, nem se fala.

-Boa noite senhoritas.

-Alex! -Quase dei um pulo da cadeira quando ouvi a voz dele e me virei em sua direção, mas ele tratou de me por sentada de novo na cadeira. 

-Hoje vou ser apenas o seu barman, e garçom também pelo visto. O que vão beber? 

-Marguaritas e pode caprichar na dose de tequila. -Sadie disse animada.

-E você Millie? -Ele perguntou para mim depois de anotar o pedido de Sadie.

-Vou querer Piña colada, daquele jeito maravilhoso que só você sabe fazer.

Ele achou graça e assentiu. A marca em seu braço devido a facada que havia levado por minha causa, estava praticamente sumindo, mas eu nunca deixava de reparar nela. 

-Beleza. Daqui a pouco está saindo. 

Quando ele se afastou para anotar os pedidos das outras mesas, me voltei para Sadie. 

-Quero fazer alguma coisa pelo Alex, você sabe, por causa de tudo o que ele passou por mim.

Ela imediatamente franziu o cenho em contradição. 

-Não acho que ele esteja esperando por isso, Millie. Você não teve culpa de nada. 

Ainda assim eu me sentia responsável. Aquele ataque ainda era algo que também não saia da minha mente, junto com mais um monte de coisas sem explicação. 

-Eu sei, mas gostaria de fazer alguma coisa. O que você sabe sobre ele? 

Sadie me contou algumas coisas, mas tudo que eu já sabia. Que Alex estava estudando gastronomia e que trabalhava na boate para conseguir dinheiro extra para pagar a faculdade. 

-Ele certamente não vai aceitar dinheiro. -Presumi, sabendo que Alex era muito orgulhoso em relação aquilo. 

-Claro que não. -Sadie concordou. -Talvez você só deveria chamá-lo para sair um dia desses. Libero vocês dois.

-Jura? 

-Obvio Millie! 

Aquilo foi um alívio, mesmo não chegando perto do que Alex havia feito por mim, eu sabia que seria uma boa forma de retribuir. Eu havia feito a mesma coisa com Mari. Depois que contei a ela que tinha recebido minha herança, ela insistiu que eu não precisava devolver dinheiro nenhum, mas depois de muita insistência aceitou que eu pagasse sua passagem para Denver para me visitar no final do ano. Claro que ela só aceitou porque contei todo o restante da história, sobre Lexi e minha briga com Finn e Mari entendeu que eu precisava dela por perto, mesmo que fosse dali a alguns meses. 

Alguns minutos depois a banda começou a tocar e Alex voltou com nossas bebidas. Nunca gostei muito de música country, mas ela aliada as várias bebidas e as risadas que Sadie e eu damos ao flertar descaradamente com os dois cantores, me fez adorar tudo aquilo. 

-Já pensou se fosse no passado? Nós duas já estaríamos dançando sensualmente para eles ali na frente do palco. -Falei para ela quase gritando para ser ouvida por cima das batidas fortes da música. 

Os caras eram realmente incríveis e a boate estava lotada. 

-E quem disse que não podemos fazer isso? -Sadie desafiou, rebolando os quadris em cima da cadeira. 

-Você tem namorado, louca! 

E Caleb estava no bar, só que confiava tanto em Sadie que sequer parecia minimamente preocupado. 

-Idaí? Não precisamos ficar com ninguém. -Ela sorveu com um gole só o resto da terceira dose de Margarita e me puxou. -Vem, vamos dançar.

Movida pelo álcool já se apoderando dos meus sentidos, levantei e a acompanhei até perto do palco onde algumas pessoas mais ousadas também estavam dançando. 

Achei que os caras iriam tocar apenas romances antigos, mas as batidas eram realmente muito atuais e também envolventes. 

Sob as luzes tremeluzindo pela boate, Sadie me girou fazendo meu corpo bater contra o dela. Nos encaixamos e rebolamos ao som da música até quase chegarmos ao chão. 

-A gente ainda dá um belo show sabia? -Ela berrou no meu ouvido, logo antes de me rodopiar de novo. 

Tomei cuidado para não me desequilibrar nos saltos..

-Eu sei, sempre achei que se a faculdade desse errado nós dariamos umas belas stripers. 

Ela gargalhou. 

-Vai ver seria exatamente isso que a gente seria se você não tivesse ido embora. 

Eu ia responder com alguma gracinha, mas naquele momento um dos rapazes da banda, o loiro que também tocava guitarra, chegou na frente do palco e simplesmente arrancou a parte da frente da camisa de botões mostrando não apenas o físico malhado intricado como as muitas tatuagens que ele tinha por ali. 

Praticamente todas as mulheres gritaram e a frente do palco ficou lotada. 

-Nossa que gostoso, olha só? -Sadie se abanou com a mão, mal disfarçando que estava comendo o cara com os olhos. 

Realmente ele era um gato. Eu não gostava de músculos em excesso, mas foi impossível não parar admirar especialmente as tatuagens que eram meu fraco, ainda mais quando notei que enquanto cantava com a voz rouca uma música do King Of Leon, o cara olhava para mim. 

-Aí, meu Deus! -Ri fingindo embaraço.

Sadie colou o corpo no meu e me fez mover os quadris junto com ela.

-Ele está a fim, pode ter certeza, Millie! -Murmurou achando graça no meu ouvido. 

Sacudi a cabeça e dancei ainda mais, sem me importar de estar chamando atenção dele ou de qualquer outro ali. Eu só queria me divertir e estava finalmente conseguindo. 

Voltamos para nossa mesa algumas vezes para beber novamente, mas a cada música conhecida, Sadie me puxava de volta para a frente do palco e me fazia gastar toda a energia dançando de novo. 

Ao som de um coro uníssono e feminino de "Tira! Tira!" Reparei que o loiro em cima do palco agora estava passando a camisa para fora dos ombros enquanto seu irmão tomava a posse do microfone..

-Aí não, agora isso está passando um pouco dos limites! -Sadie fingiu estar chateada, mas não tirava o sorriso do rosto. 

-Acho que você vai ter que mudar o nome da boate e deixar claro que agora vai ser uma boate de stripers masculinos. Já pensou? Isso aqui já viver lotado. 

Assim que terminei de falar, vi a camisa dele voando por cima da minha cabeça e um bando de meninhas quase se matando para ver quem pegava primeiro. 

-Que nojo, deve estar toda suada. -Franzi o nariz. 

-Ah, quem se importa? Eu lamberia ele facilmente. -Sadie gargalhou quando viu a expressão chocada em meu rosto. -Estou brincando, doida! Você já viu meu namorado? Eu gosto de melanina pura! 

Ela piscou em direção a Caleb que assistia a tudo e mandou um beijinho no ar para ele.

-Vou pedi-lo em casamento. 

Quase não levei a sério, afinal ela estava um pouco alterada como eu, mas sorri percebendo que realmente era aquilo que ela queria. 

No fundo, bem lá no fundo, uma parte infeliz de mim que vinha crescendo ao longo dos últimos dias, sentiu um pouquinho de inveja dos dois. Eu estava com vinte e cinco anos e nunca tinha sonhado com nada daquilo, mas de repente, era assim que eu me sentia. 

-Ele vai aceitar com certeza. -Falei, tentando disfarçar o leve nó que se formou na minha garganta. 

-Sim. Ele é todo meu! -Sadie não percebeu e voltou a me puxar para dançar junto com ela.

O movimento intenso da boate só foi diminuir por volta das três da manhã quando os músicos já haviam acabado todo o repertório. Foi naquele momento que o loiro gostoso desceu do palco e sem a afobação de todas as outras garotas, foi se juntando pouco a pouco a Sadie e eu. 

-Você é a dona da boate não é? Cara, quase não a reconheci, achei que estivesse trabalhando hoje. -Ele comentou, fazendo Sadie e eu pararmos o ritmo frenético com o qual dançávamos. 

-Sim, sou eu, mas quem os contratou foi meu namorado. Qual o seu nome? 

-Steve, aquele é meu irmão Jonathan. -Ele disse apontando para o outro homem que ainda se esforçava no baixo com os outros músicos. -E a sua amiga, não vai me apresentar? 

Revirei os olhos para o papinho como se eu não estivesse presente. 

-Meu nome é Millie e eu não preciso ser apresentada. -Sorri disfarçando a grosseria com um sorriso. 

Os dois riram e ele se aproximou um pouco mais de mim. 

-Claro que não, você já chama atenção sem precisar ser apresentada. Mesmo assim, prazer. -Ele esticou aquela mão enorme e vermelha de tanto tocar para mim. 

-O prazer é meu. 

Atrás dele, vi a safada da Sadie sorrindo enquanto se afastava para nos deixar sozinhos. 

Apertei a mão dele e minhas pernas fraquejaram. 

-Pegada forte. -Comentei puxando minha mão de volta impressionada..

Steve abriu um sorriso presunçoso. 

-Você não viu nada. Ainda

Nem iria ver, mas o cara era tão bonito e atraente que continuei dançando com ele que logo se empolgou e me girou, me puxou até ter seu corpo enorme atrás do meu. 

-Você dança muito bem. -Ele elogiou ao pé do meu ouvido enquanto eu rebolava descaradamente o quadril junto ao dele. 

-Eu sei disso. 

-E também é muito modesta. -Ironizou, chegando tão perto que senti a barba roçar no meu ombro nu. 

Me afastei ficando de frente, mas sem parar de dançar. 

-Modestia não está entre as minhas inúmeras qualidades. 

-Isso é bom. -Ele pôs as mãos na minha cintura. -A melhor coisa do mundo é uma mulher com atitude. 

Não podia negar que ele sabia onde queria chegar e se eu estivesse no clima, até arriscaria dizer que estava indo bem sem fazer aqueles típicos joguinhos. 

Continuamos a dançar até finalmente a boate esvaziar quase por completo e seu irmão parar de tocar em cima do palco. 

Eu estava pulsando de cansaço, toda suada com o cabelo pregado no pescoço, mas era uma exaustão tão boa que nem mesmo sentia a dor que provavelmente estava se instalando na ponta dos meus pés naqueles saltos. 

-Isso foi bom. Quando vocês vão tocar aqui de novo? -Perguntei para Steve, fazendo um coque no alto da cabeça para ver se o calor diminuía. 

Ele também estava todo suado, aquele peito malhado e que eu já sabia ser duro subindo e descendo pela respiração ofegante. Eu apostava que dançar daquele jeito não era muito sua praia, ele só havia feito aquilo por mim.

-Quando sua amiga nos contratar de novo. -Steve chegou mais perto. -Mas estamos na cidade por mais uma noite, se quiser podemos dar uma volta de carro depois que sairmos daqui. 

Mesmo bêbada e sentindo-me livre, recusei com a cabeça dando um tapa camarada em seu ombro úmido. 

-Não vai rolar, daqui só vou para minha casa rezar para conseguir levantar daqui a algumas horas. 

Ele riu e foi educado o bastante para entender que o que eu queria dizer era que não estava a fim como ele estava. 

-Tudo bem, de qualquer forma foi um prazer dançar com você, pimentinha. -Ele piscou o olho e deu um beijo educado no dorso da minha mão. 

O apelido que só Caleb usava comigo me fez perceber que Steve sabia muito bem quem eu era antes mesmo de ter se apresentado. 

Rindo, me virei em busca de Caleb para voar no pescoço do desgraçado, mas ao fazer isso olhei para o bar e só tinha restado um único cliente nos bancos próximos ao balcão. Um cliente que claramente estava ali a bastante tempo sem que eu percebesse, mas que obviamente assistiu a tudo. 

E sem fazer nada, que foi o motivo pelo qual achei que estivesse imaginando coisas. 

O sorriso foi diminuindo do meu rosto quando o encarei me olhando tão sério que parecia ver através de mim. Um olhar duro, seco, mas tão elétrico que fez o pouquinho do ar que eu havia recuperado, ser chupado para fora dos meus pulmões e a palpitação do meu coração acelerar em um nível maior do que se eu ainda estivesse dançando. 


Não era possível. 

Quando ele desceu aquele olhar meticuloso e áspero pelo meu corpo, senti o arrepio da carícia bruta e distante e isso me fez sair do transe maluco que havia entrado e caminhei lentamente na sua direção. 

Finn estava todo de preto. Com uma camisa social, calça e sapatos formais, como se tivesse acabado de sair do trabalho, com o cabelo um pouco bagunçado, as mangas da camisa arregaçadas até os cotovelos e segurando um copo de uísque em uma das mãos. 

Não queria me sentir atraída. Não queria sentir saudade. Mas foi tudo o que senti quando me aproximei. 

-Se divertiu muito? -Ele perguntou quando parei a poucos metros de onde estava. 

Não havia julgamento em sua voz, mas ela ainda era distante e fria, como se ele não quisesse realmente saber a resposta, a final, ele não tinha visto? 


-Eu teria me divertido mais se você não atrapalhasse. -Devolvi com igual indiferença, mesmo sua presença me desmanchando por dentro. 

Ele fez cara de desentendido e olhou ao redor do bar quase inteiramente vazio. 

Onde estava todo mundo? 

-Mas eu não fiz nada. Ou fiz? -Perguntou ele com uma sobrancelha arqueada.

E aquilo era o mais estranho. Como ele havia visto tudo aquilo com Steve e não fez nada? 

Decidi não perguntar. Apenas me aproximei mais e sentei no banco ao seu lado. 

-O que está fazendo aqui? 

-Ainda sou livre para ir aonde quero. -Ele deu de ombros e virou o uísque me olhando o tempo todo por cima da borda do copo. -E também estava morrendo de saudade de você. 

Aquilo me pegou tão de surpresa que minhas coxas suadas deslizaram pelo banco envernizado no qual estava sentada. Finn olhou para minhas pernas e seu maxilar trancou. 

Disfarcei com uma risada infeliz e ele voltou a me encarar. 

-Sim. Tanta saudade que está a vários dias sem aparecer e decidiu fazer isso justo hoje na minha folga. 

-Não foi você que pediu um tempo e espaço? Estou apenas obedecendo. 

-Vir até aqui me espionar não é me dar espaço. 

Ele sorriu, voltando a me olhar dos pés a cabeça. 

-Olhar não tira pedaço...-O sorriso deu espaço para uma carranca repentina. -Se bem que aquele cara quase tirou. 

Não queria admitir, mas foi bom identificar a nota de ciúmes em seu tom de voz. 

-Quase mesmo. -Sorri de volta, dando um tchauzinho com a mão para Steve que estava deixando a boate. 

Escutei Finn bufar e o encarei. 

-Se veio aqui tentar conversar, perdeu seu tempo. Claramente não estou em condições para fazer isso. -Fui clara. 

Ele não demonstrou nada. Apenas assentiu com a cabeça e levantou deixando uma nota de cem dólares em cima do balcão e em baixo do copo vazio de uísque. 

-Não vim tentar conversar, só queria ver se você estava bem. Agora que vi, posso ir embora. 

Ele chegou mais perto e sem que eu esperasse tirou uma mecha do meu cabelo que estava presa no pescoço. A aproximação de seu cheiro e seu calor me fez trancar o ar, completamente imóvel enquanto meu corpo parecia esperar por algo mais que não veio. 

-Se cuida. 

Finn se afastou e sem mais nem menos rumou em direção a saída da boate. 

Quando ele estava passando pelos seguranças, Sadie simplesmente veio correndo de alguma direção atrás de mim e surgiu na minha frente. 

-O que está fazendo, porra? Vai deixar ele ir embora assim? 

Levantei do banco, confusa e assustada. 

-O que? -Parecia que meu cérebro sequer havia processado os últimos segundos. 

Sadie revirou os olhos e me puxou pelo braço. 

-Vai atrás dele e dessa vez não estraga tudo! 

-Mas Sadie! -Tentei para-la, mas ela praticamente me escorraçou. 

-Mas, nada. -Ela me parou segurando meus ombros na porta da boate. -Vai agora! Pare de besteira e esqueça todo o resto, porra! Só hoje! 

Olhei para fora e vi Finn puxando as chaves do carro do bolso no estacionamento, depois olhei para ela completamente em conflito. 

-Você ama esse cara, Millie e finalmente vocês tem a chance de ficar juntos. Mas se ele for embora agora...

-Isso nunca vai acontecer. -Completei, quase sem perceber. 

-Isso mesmo. -Sadie sorriu. 

Meus pés sem controle me empurraram para fora e eu corri sem saber que merda estava fazendo, apenas ciente de que precisava fazer alguma coisa. 

-Finn! -Gritei bem a tempo de impedir que ele entrasse no carro. 

Sua cabeça girou no mesmo segundo e ele me encarou surpreso. 

Ofegante, diminui a corrida, dando passos curtos, mas ansiosos em sua direção. 

-O que você disse naquele dia era verdade? 


Parei ainda distante. Meu coração acelerado precisando de uma certeza que eu não sabia se teria. 

Ele saiu de trás do carro lentamente, mas não se aproximou muito. Ficamos a uma distância grande, mas segura para mim. 

-Sobre eu te amar? -Perguntou e eu engoli em seco. -É verdade e você sabe disso. 

Eu esperava que mudasse tudo, mas só me senti mais ansiosa, meu peito mais apertado do que nunca. Não me importava se estávamos tendo que gritar e que provavelmente quem passava por perto escutava. Eu queria ouvir de novo. 

-Eu sei o que? 

Ele abriu os braços parecendo meio confuso com minha pergunta e então repetiu. 

-Eu amo você. 

Ali sim. Tudo mudou. O que era uma contradição violenta com o que tinha acontecido a sete anos atrás quando escutei aquelas mesmas palavras e fugi. Dessa vez eu só queria ficar. Com ele. 

Fui me aproximando devagar até chegar perto dele e Finn claramente não sabia o que fazer tanto quanto eu. 

-O que está fazendo, baby? -Ele perguntou baixinho e de cenho franzido, mas estava sorrindo novamente tirando a mecha insistente grudada no meu pescoço. 

-Aceitando uma carona de volta para casa. 





E para sua vida. 






Continua...



Notas Finais


Aí amores! Nem sei como descrever a sensação de estar terminando essa primeira temporada, mas com certeza estou feliz por tudo o que vocês vem demonstrando com essa história toda confusa e com personagens as vezes tão difíceis de gostar.

Só peço que esperem ansiosamente pelo que está por vir, porque tem muita coisa como vocês mesmos ja perceberam.


Obrigada por tudo. Amo
Vocês!


Até breve ♥️


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