História Beep Beep Richie - Reddie - Certezas?

Com toda certeza, a conversa que os dois tiveram não foi o que Eddie estava esperando. O rapaz estava com expectativas de poder resolver tudo, e tornar seus últimos momentos na velha cidade de Derry os melhores de todos. Mas o que ele conseguiu indo atrás de Richie foi um coração totalmente desolado.

Mas Eddie estava surpreso, surpreso em não ter tido nenhuma reação além do vazio que o cercou. Ele não chorou, não entrou em desespero e nem sentiu seu coração se rasgar no meio como esperava sentir a cada palavras emitida pelo rapaz de óculos. Eddie estava em um completo vazio, seu pulmão nunca parecia ter respirado de forma tão serena como naquele momento. Ele tinha aceitado que aquilo tinha acabado.

Ou era o que tinha pensado...

Ele seguiu para a aula, entrou um pouco atrasado, mas nada fora do comum. Eddie não parou para analisar a sala como sempre fazia, entrou como uma bala e se sentou na primeira carteira vazia que achou. Ao fundo da sala, Richie olhava pensativo para as janelas laterais, enquanto Connor tentava desesperadamente descobrir o que os dois conversaram. O loiro de cabelos cacheados não demonstrou qualquer interesse na presença de Eddie na sala, mesmo que Eddie desejasse naquele momento ter apenas um amigo para conversar, e Connor parecia ser o único que o restou.

Professora: Bom alunos, estamos chegando no final do trimestre e precisamos fechar um boa parcial de notas ainda. Para facilitar todo o processo, e como temos pouco tempo, preparei um trabalho para vocês... Será em dupla! - A sala vibrou em aprovação, mesmo que a ideia de um trabalho tão repentino tenha assustado Eddie.

Em fração de segundos, a sala tinha mergulhado em uma onda de murmúrios infernais, alunos tentavam se comunicar com outros aos berros, papeizinhos eram passados de carteira em carteira até finalmente chegar ao destinatário. A professora, não aguentando tanta bagunça, bateu seu apagador no quadro e tem a atenção dos alunos de volta para si.

Professora: Poupem voz meus caros, as duplas já foram pré-montadas por mim. Vocês precisam aprender a se comunicarem mais com os outros, além de seus grupinhos costumeiros! - Como se aquilo não estivesse incomodando Eddie, a mulher se dirigiu para o mural da sala com uma folha em mãos, e prendeu a mesma com uma tachinha no mural. 

Sem esperar qualquer consentimentos da mulher, todas as crianças se dirigiram para a folha, tentando descobrir quem era sua dupla. Muitos gemidos de desapontamentos e alguns de desgosto soavam por todo lado, entre aquelas expressões de felicidade e animação. Eddie foi um dos únicos a não se levantar para ir até a maldita folha, e ele não precisou de esforços para saber quem era sua dupla.

- NÃO!

A voz de Connor saiu alta e estridente, todos se perderam em um silêncio olhando o loiro que agora estava colado na folha, de olhos arregalados como se não acreditasse no que seus olhos lhe mostravam.

Connor: Eddie não pode ficar com o Richie! - Eddie olhou para trás, tão surpreso com a notícia quanto Connor. Richie estava sentado em seu lugar, apenas observando o campo lá fora.

Professora: E por que não Senhor Bowers? - A professora cruzou os braços.

Connor: Porque... Porque... Ele...

Professora: Foi um sorteio Senhor Bowers, contudo, o Senhor Kaspbrak fará o trabalho com o Senhor Tozier!

Naquele momento, Eddie acompanhou a postura e expressão de Connor mudar drasticamente da água para o vinho. Ele estava irado. O sinal bateu enquanto Connor parecia querer queimar Eddie com o olhar. Eddie se levantou, sem se preocupar em guardar o material, afinal, ele nem mesmo os tinha tirado de sua mochila. A sala foi se esvaziando, e Eddie viu uma silhueta grande se aproximando dele, o feixe de luz das grossas lentes denunciaram quem era.

Richie: ... O trabalho... Podemos nos encontrar para fazer no Barre-

Eddie: Não se preocupa... Eu faço. Preciso me ocupar até eu...- Eddie não queria de jeito nenhum que Richie o perdoasse por que ele estava indo embora da cidade. - Qualquer coisa, eu sei o número da sua casa... - Mesmo que Eddie quisesse muito se resolver com Richie, ele estava cansado naquele momento, precisava de um tempo para pensar. E também não queria que a situação fosse forçada a se resolver, como o universo parecia querer fazer com aquele trabalho... Eddie esperava que as desculpas e a reaproximação viessem de coração da parte do de óculos...

Naquele momento, Richie sentiu uma culpa o rondar, mas ele era orgulhoso demais para ir atrás dele.

Eddie caminhou para casa com calma, tentando ocupar sua mente com aquele trabalho, era de sociologia, e particularmente, Eddie era péssimo em sociologia... Ele teria que estudar bastante, e talvez aquilo desviasse a atenção do rapaz das coisas encaixotadas em sua casa, das pessoas da corretora de imóveis entrando e saindo, das reformas sendo feitas... Talvez Eddie quisesse apenas ser distraído dessa nova etapa de sua vida.

Mas naquela noite, não era apenas Eddie que queria se livrar de seus pensamentos. Richard Tozier também queria a todo custo ter uma escapatória da péssima mentira que o cercava dentro de sua própria casa. Ele não conseguia mais sentar na mesa de jantar e ver seus pais comendando e conversando como se nada tivesse errado. Ele não conseguia apagar a visão que tinha de sua mãe bêbada e completamente apagada ano corredor, deitada em sua própria poça de vômito, enquanto ajudava sua mãe, sabia que seu pai estava com outra mulher em algum canto da cidade... Richie estava cansado de toda aquela mentira, cansado de viver aquilo. Então naquela noite ele saiu de casa e foi em direção ao Barrens.

O lugar que cheirava a esgoto era o lugar mais estranho para se buscar conforto, mas parecia o único lugar real naquela cidade. Richie gostava de lá, foi lá que conheceu Eddie, que teve os melhores momentos de sua vida... Ele queria um tempo sozinho com as suas melhores memórias, mas o que o universo reservava para ele era algo totalmente diferente.

- Richie?

Richie: Ah!! Porra Connor, não me assusta desse jeito! - Richie percebeu a tempo quem era, tempo o suficiente para conseguir parar o seu impulso de socar o lugar de onde vinha aquela voz. - Você me seguiu?

Connor: Talvez... - A voz do rapaz era doce, ao mesmo tempo que parecia incomodada com algo. - Por que está aqui?

Richie: Esse lugar me pertence... E foi você que me seguiu, então é você que deve se explicar! - O de óculos cruzou os braços enquanto encarava Connor sobre a fraca luz da lua. os barulhos do mato ao redor eram a única coisa tranquila naquele momento.

Connor: O que você e o Eddie conversaram?

Richie não ficou muito surpreso com aquela atitude, Connor já deixou bem claro o que queria desde o primeiro dia que esteve na cidade.

Richie: Você me seguiu por isso? - O tom de deboche na voz de Richie era percebível, mas a cara de Connor não era de alguém que estava para brincadeiras. - Fala sério Connor, já não conseguiu o que queria? Eu estou com você... isso não basta?

Connor: Não... - Finalmente, algum resquício de um sorriso apareceu em seu rosto, um sorriso perverso que fez Richie levantar a guarda. - Você não está comigo... Porque aquele asmático ainda ocupa sua mente mais do que o meu nome! - Ele estava surtando, sua voz aumentava a cada palavra que ele dava.

Richie: Não achou que eu iria te esperar para sempre, não é? - Uma coisa que Connor sempre se esquecia era que Richie não era uma pessoa para se brincar, ele tinha cansado de deixar tudo passar.

Connor: Não foi o que deixou a entender quando veio me procurar... - O tom provocatio de Connor fez Richie dar as costas à ele, pronto para deixar o único lugar que o trazia paz, novamente...

Richie: Não aconteceu nada, está bem?

Connor: Então por que você ficou tão pensativo depois de falar com ele? - A pergunta fez Richie parar de andar, ele sentiu seu coração disparar como daquela vez em que Eddie o puxou em direção ao Barrens.

Richie não tinha entendido muito bem a conversa que teve com Eddie, o menor parecia querer se redimir, mas no final de tudo, aquela frase pareceu apenas confundir ainda mais Richie. Mas o de óculos confessava querer acreditar no que seu coração mandava.

Richie: Não aconteceu nada Connor! - Ele se virou para o rapaz, que surpreendentemente estava perto demais. - Somos... Somos apenas amigos!
Um sorriso perverso se abriu no rosto de Connor, que subiu suas mãos pelo peito de Richie, pousando-as em seus ombros.

Connor: Tem certeza que ainda são isso? - Sua voz nunca esteve tão suave como dessa vez. Ele sorriu mais com a pergunta. Ficou nas pontas do pé e beijou a bochecha de Richie, se afastando dele por fim. - Te vejo amanhã na escola, Boca de Lixo...

Os barulhos do mato entorpeciam os sentidos de Richie, junto com o latejar forte de seu coração. de repente, todas as suas certezas tinham sidos jogadas por terra, ele não sabia mais no que acreditar, no que lutar... Não sabia se Eddie ainda o considerava um amigo, ou se ele mesmo queria ser algo a mais com o rapaz... Richie não tinha mais certeza de seus sentimentos...