Yoongi
— Idiotas! — Namjoon murmurou enquanto andava ao meu lado, com Lisa seguindo em seu encalço.
— O quê? Só porque elogiamos o belo corpo da (S/N)? — revirei os olhos, fingindo desinteresse.
— É... Ela é bem linda mesmo. — Taehyung acrescentou.
— Tá vendo? Até o Taehyung concorda! — exclamei, cruzando os braços. — E olha que ele é seu irmão. Isso é um nível de falta de respeito ainda maior!
— Sabe que a mamãe deve estar por aqui, né? Quer que eu a chame pra te dar uma surra? — Namjoon rebateu, estreitando os olhos para Taehyung, que apenas ergueu as mãos em rendição, com aquele sorriso debochado que era quase sua marca registrada.
— Hyung, calma... Pelo menos agora ela é sua namorada. Você pode dizer com orgulho: "Caralho, essa é a minha garota"! — Jungkook tentou amenizar, dando um sorriso cúmplice.
— E outra, o que a gente falou deve ser fichinha perto do que os outros caras lá dentro pensaram. Dá até medo imaginar o que passou na cabeça deles. — Hoseok comentou casualmente, mas com um brilho travesso no olhar.
— Hoseok, você definitivamente não está ajudando. — disse, dando um tapinha no ombro dele. Namjoon já estava pilhado, e Hoseok parecia estar se divertindo com isso.
— Eu gosto de ver ele com raivinha. — Hoseok murmurou só para mim, segurando uma risada.
Balancei a cabeça negativamente, soltando um leve riso. A verdade é que eu também adorava ver Namjoon assim, todo enciumado e irritado com os nossos comentários sobre a (S/N). Era engraçado observar sua reação, mas mais do que isso, me satisfazia vê-lo tão envolvido e, acima de tudo, feliz.
Depois de tudo que ele passou, especialmente após a morte de Jisoo, era como se um pedaço essencial dele tivesse desaparecido. Ele se fechou de um jeito que fez todos, incluindo amigos, familiares e até mesmo eu, acreditar que ele acabaria sozinho.
Mas então (S/N) apareceu. Ela o trouxe de volta à vida de uma maneira que eu nunca imaginei ser possível.
E agora, vendo-o com essa raiva boba e, ao mesmo tempo, cheio de amor, eu só conseguia pensar em como ela era exatamente o que ele precisava.
Ao chegarmos à saída do teatro, o ar fresco me envolveu, proporcionando um alívio imediato após o calor da multidão. Respirei profundamente, sentindo o peso da agitação diminuir. No saguão, apenas algumas pessoas ainda permaneciam, tirando fotos ou esperando por algum parente.
Um sorriso involuntário surgiu em meus lábios ao ver Lisa acenar para algumas garotinhas da sua idade. Pelas roupas combinando, deduzi que eram suas amiguinhas da apresentação. No entanto, meu olhar se fixou ao reconhecer Marie, a irmã mais nova de Jennie, sentada em um canto do saguão. Diferente das outras crianças que conversavam animadamente, ela parecia isolada, os pés balançando lentamente enquanto encarava o chão.
Franzi o cenho, intrigado. Havia algumas mulheres que pareciam ser mães das crianças, mas não vi nenhum sinal de Jennie.
— Podem ir na frente, preciso resolver uma coisa primeiro. — falei para Hoseok, que me olhou confuso, mas assentiu antes de seguir com os outros.
Ajustei meu blazer, sentindo o peso da curiosidade me impulsionar, e caminhei em direção às crianças.
— Com licença, o que essas crianças ainda estão fazendo aqui? — perguntei para uma garota que estava distraída com o celular, mas parecia ser a responsável, já que algumas mães que passavam por ali a agradeciam rapidamente.
Ela ergueu os olhos, claramente desconfiada.
— Por que quer saber?
— Conheço uma delas. Achei estranho ela ainda estar aqui.
— Qual delas? — perguntou, lançando um olhar breve às três garotinhas que esperavam, Marie entre elas, ainda no canto afastado.
— A Marie. — apontei na direção dela, tentando manter o tom casual.
A expressão da garota suavizou um pouco, mas havia algo em sua postura que indicava hesitação.
— Oh, é meio complicado... Normalmente colocamos as crianças que se perdem dos pais aqui, mas a Marie... Bem, ninguém veio procurá-la até agora.
Um desconforto me atravessou. Jennie nunca deixaria algo assim acontecer.
— Entendi… Será que eu…
— Não. — ela me interrompeu antes que eu terminasse. — Não posso deixar você levá-la. Não te conheço, e são regras.
Respirei fundo, entendendo sua preocupação, mas frustrado pela situação.
— Eu só ia perguntar se posso ficar aqui esperando. Conheço quem deveria buscá-la… ou, pelo menos, quem deveria ter vindo. — acrescentei, abaixando o tom.
A garota suspirou, cruzando os braços, antes de dar de ombros.
— Tudo bem. Mas só isso.
Assenti, lançando mais um olhar na direção de Marie, que agora brincava distraidamente com as pontas do vestido. Algo estava errado, e eu precisava descobrir o que era.
Aproximei-me do local onde Marie estava sentada. A garotinha estava tão encolhida no assento que só notou minha presença quando me sentei ao seu lado.
— Oi, pequena. — sorri suavemente, tentando transmitir calma.
Ela levantou o olhar e retribuiu com um sorriso tímido, mas seus olhos carregavam um traço de tristeza.
— Oi, Yoongi. — murmurou baixinho. — Você sabe onde a Jen foi?
A inocência em sua pergunta fez meu peito apertar.
— É… — hesitei por um momento. — Acho que nem adianta perguntar para você, não é?
Marie balançou a cabeça, confirmando.
— Ela trouxe você?
— Sim.
— E o que ela disse?
— Que precisava resolver uma coisa.
Franzi o cenho, sentindo um desconforto crescente. O que Jennie poderia ter de tão urgente para não assistir à apresentação da própria irmã? Minha mente começou a considerar cenários ruins, mas me forcei a manter a calma.
— Você estava muito bonita na apresentação. — elogiei, tentando mudar o foco.
O rosto de Marie se iluminou com um sorriso enorme.
— Você me viu?
— Claro que sim.
— Queria que a Jen tivesse visto também… — disse, e sua voz diminuiu no final da frase.
— Marie, não fique triste, tá? Tenho certeza de que algo importante aconteceu, e ela não teve escolha.
— É… — ela deu de ombros, ainda cabisbaixa.
Conforme o saguão do teatro ficava cada vez mais vazio, minha preocupação só aumentava. As outras bailarinas que esperavam já tinham sido levadas por seus parentes. Até mesmo (S/N) saíra mais tarde, acompanhada dos amigos e dos pais.
Marie, por sua vez, já começava a lutar contra o sono, encolhida na cadeira desconfortável. Meu olhar alternava entre ela e a porta do teatro.
— Onde essa garota se meteu?! — murmurei para mim mesmo, retirando o celular do bolso.
Precisava localizar Jennie de qualquer maneira. Isso era inaceitável, independentemente do motivo. Liguei para ela.
Uma vez.
Duas.
Três vezes.
Todas as chamadas foram encaminhadas diretamente para a caixa postal.
Olhei para Marie, que agora estava quase cochilando, e suspirei profundamente. O desconforto no meu estômago só aumentava.
Foi quando a porta do teatro se abriu de repente, revelando Jennie entrando às pressas. Seus cabelos balançavam suavemente enquanto ela corria em busca da irmã. Vestia um vestido branco de mangas longas, não tão ajustado como a maioria das roupas que costumava usar… Ela estava linda.
— Marie! — a voz de Jennie soou aliviada, e a garotinha na cadeira se levantou imediatamente, correndo em direção à irmã.
— Jen! Onde você foi? — perguntou Marie, com a voz chorosa.
— Eu… Eu… — Jennie gaguejou, claramente desconfortável.
— Você não me viu dançando. — Marie disse, e sua decepção era evidente.
— Eu sei… Me desculpa, eu…
— Onde estava? — interrompi, aproximando-me. Minha paciência já estava no limite com a forma que Jennie vinha me ignorando.
— Não é da sua conta. — respondeu em um tom hostil, sem sequer me encarar.
— Por que está sendo má com ele? — Marie perguntou, alternando o olhar entre nós dois.
— Marie, isso não vem ao caso agora. Precisamos ir… — Jennie tentou cortar a conversa, mas sua voz tremia levemente. — Temos que passar no hospital.
Ela segurou a mão da irmã e começou a se afastar, mas parou no meio do caminho.
— Yoongi… Eu… — Jennie finalmente me olhou, sua expressão suavizada pela culpa. — Olha, desculpa. Obrigada por ter ficado esperando com Marie.
— Tudo bem. Como vai para casa? — perguntei, tentando manter a calma.
— Vamos pegar um táxi.
— Posso dar uma carona. — sugeri, observando sua hesitação.
— Não é caminho para sua casa. Não precisa se incomodar. — Jennie balançou a cabeça, já fechando a conversa. — Você já está fazendo muito por mim, e, se continuar assim, não sei como vou pagar por tudo.
— Jennie, por que sempre acha que vou cobrar por qualquer coisa que faço? — retruquei, cruzando os braços. — Estou só oferecendo uma carona. Já está tarde, é mais seguro do que ficar esperando um táxi. E Marie está com sono.
Jennie respirou fundo e abaixou o olhar.
— Tudo bem. — murmurou quase inaudivelmente.
Passei por elas e segui em direção ao carro. Destranquei as portas e abri a traseira para que Marie entrasse. Ajeitei seu cinto de segurança, e a garotinha me deu um sorriso tímido.
— Obrigada, Yoongi. — Marie sussurrou antes de encostar a cabeça no banco, já lutando contra o sono.
Jennie entrou no banco do passageiro e permaneceu em silêncio, seus olhos fixos na janela, evitando qualquer contato visual comigo.
Liguei o carro e não precisei perguntar a direção, já que o caminho tinha se tornado um tanto familiar para mim. O silêncio inicial foi quebrado apenas pelo som baixo da respiração de Marie, que já pegava no sono no banco traseiro.
— Por que não foi à apresentação dela? — perguntei, meu tom mais sério do que pretendia.
— Estava resolvendo uns problemas. — Jennie respondeu após alguns minutos em silêncio. Sua voz soou hesitante, como se não quisesse se aprofundar. — Você a viu? — perguntou, lançando um olhar rápido para Marie, que dormia profundamente.
— Vi. Eu fui assistir à apresentação da Lisa, e como elas são da mesma classe... — deixei a frase no ar.
— Lisa? A filha do Namjoon? — ela perguntou, o tom casual, mas com um interesse que não passou despercebido.
— É.
— Como Namjoon estava? — Jennie perguntou, tentando parecer desinteressada, mas o brilho em seus olhos a denunciava.
Me mexi desconfortavelmente no banco, sentindo um leve desconforto se instalar. Odiava quando ela começava a falar de Namjoon.
— Muito bem. Bastante feliz, aliás. — respondi, minha voz carregada de uma pontada de irritação.
— Ah, é? E posso saber por quê? — Ela questionou, um traço de curiosidade genuína cruzando seu rosto.
— Ele e (S/N) estão namorando. Namjoon a pediu em namoro durante o espetáculo. — fui direto, sem rodeios, querendo encerrar aquele assunto o mais rápido possível.
— Oh. — Jennie arregalou os olhos, claramente surpresa. — Não pensei que eles fossem voltar, o Ta... Er... Depois de tudo que aconteceu, né? — Sua voz saiu trêmula, e suas palavras ficaram pelo meio do caminho.
Franzi o cenho, notando seu nervosismo repentino.
— Apesar da sua tentativa idiota de fazer alguma coisa, eles estão bem agora. — soltei, olhando brevemente para ela antes de voltar a atenção à estrada. — Você gosta mesmo do Namjoon?
O silêncio que se seguiu era quase palpável, denso o suficiente para fazer o ar parecer pesado dentro do carro. Nem mesmo o som distante da cidade lá fora conseguia atenuar a tensão que a pergunta trouxe.
Jennie desviou o olhar, mordendo levemente o canto do lábio inferior. Esse gesto, que antes eu achava irresistível, agora só me irritava.
Essa pergunta estava sempre à espreita em minha mente. Jennie não parecia realmente gostar de Namjoon; às vezes, parecia ser apenas um desejo mesquinho, algo que ela insistia em alimentar sem motivo aparente, como se fosse um jogo. E isso me consumia ainda mais porque, depois daquela noite, as coisas mudaram apenas para mim.
Lembrei da cena como um flash, como se fosse ontem: nós dois bêbados, a tensão crescente, e a maneira como a noite terminou com ela nua na minha cama na manhã seguinte. Para ela, parecia ter sido algo que deveria ser esquecido; para mim, era uma ferida que ela insistia em ignorar.
Jennie finalmente quebrou o silêncio:
— Não é tão simples assim, Yoongi. — Sua voz soou baixa, quase um sussurro.
— Ah, não? — retruquei, sem conter o sarcasmo. — Então me explica.
Ela não respondeu, apenas olhou pela janela, como se o mundo lá fora tivesse todas as respostas que ela não tinha coragem de me dar.
E assim seguimos, presos em um silêncio que falava mais do que qualquer palavra poderia.
Jennie não era uma garota ruim. Certos acontecimentos haviam a tornado um tanto fria, e por mais que eu me esforçasse para quebrar as barreiras que ela insistia em construir entre nós, parecia que ela só as tornava mais altas e intransponíveis.
— Por que está perguntando isso? — ela questionou, finalmente me encarando, mas com um olhar defensivo.
— Porque não quero que faça algo para prejudicar a (S/N) e o Namjoon novamente, Jennie. — Suspirei, mantendo o tom firme. — Namjoon é meu melhor amigo, praticamente um irmão. Você viu o quanto ele sofreu com a morte da Jisoo. Todos nós vimos. Ele finalmente está superando isso, e a (S/N)... Ela faz bem a ele.
— O que eu poderia fazer?! — Ela arqueou as sobrancelhas, o tom impaciente.
— Eu não sei. Mas estou te pedindo, Jennie. Não atrapalhe. — Meu olhar era sério, deixando claro o quanto aquilo importava. — Você viu como Namjoon ficou na sua última gracinha. Se algo acontecer de novo, eu não vou conseguir te ajudar. Se dependesse dele, você já teria sido demitida há tempos.
Jennie soltou uma risada irônica, cruzando os braços.
— Acha que tenho medo do Namjoon? A empresa de vocês não é a única no mundo para trabalhar.
— Não é, mas com esse seu comportamento mesquinho de tentar separar os dois, Namjoon não vai só te demitir. Ele vai garantir que você não consiga trabalho em lugar nenhum. Você realmente acha que ele escreveria uma boa carta de recomendação sobre você?
Ela desviou o olhar, mordendo o lábio inferior. O silêncio no carro voltou. Não sabia se minhas palavras haviam surtido efeito ou se ela estava apenas considerando a melhor forma de rebater.
Estacionei o carro em frente ao hospital, mas Jennie não se mexeu. Permanecia sentada, o olhar perdido em algum ponto fora da janela.
— O TaeYang era muito ruim para ela? — Sua pergunta surgiu do nada, baixa, quase um sussurro.
— O quê?
— A (S/N). O TaeYang era muito ruim para ela?
Franzi o cenho, confuso e um tanto desconfiado. Era um assunto delicado e poucas pessoas sabiam da história.
— Como sabe que ele é o ex-marido da (S/N)?
Jennie hesitou por um momento, mexendo nos dedos como se tentasse disfarçar o desconforto.
— Ah... Er... Notícias correm, e... — Ela fez uma pausa, como se buscasse as palavras certas. — Não foi difícil ligar os pontos depois daquela festa. Ele e o Namjoon brigaram por causa dela, lembra?
— Lembro. — Suspirei, mantendo o olhar fixo nela. — Mas poucas pessoas sabem disso.
Jennie desviou o olhar, claramente desconfortável, e eu decidi ignorar por ora o motivo de ela ter essas informações.
— Não sei muitos detalhes. Não é um assunto que o Namjoon fale abertamente, e eu não converso tanto com a (S/N). Mas sei que ele era um marido abusivo e que a agrediu algumas vezes.
— Meu Deus! — Jennie levou a mão à boca, genuinamente chocada.
— É... O cara é louco. — O silêncio voltou a nos envolver por alguns segundos antes de eu apontar para o hospital. — Quer que eu entre com você?
Ela balançou a cabeça, respirando fundo.
— Não, o médico só quer conversar comigo. Acho que vai ser rápido.
— Tudo bem. Eu espero aqui com a Marie.
Jennie hesitou, como se quisesse dizer algo, mas apenas murmurou:
— Ah... Obrigada.
Ela abriu um sorriso tímido antes de sair do carro. Meu olhar a seguiu por um instante enquanto ela atravessava as portas automáticas do hospital, e eu só conseguia pensar no quanto Jennie era uma confusão ambulante — e no porquê de eu não conseguir me afastar dela.
Há quase um ano, a mãe de Jennie havia sofrido um acidente enquanto voltava do trabalho para casa. A imprudência de um motorista bêbado a deixou em coma, e desde então, a vida de Jennie virou de cabeça para baixo. Alguns meses atrás, um novo tratamento havia começado, trazendo uma leve esperança, mas também novos custos.
Eu só soube disso há três meses, quando Jennie, completamente bêbada, desabafou sobre tudo. Contou como era difícil lidar com a ausência da mãe enquanto cuidava de Marie sozinha. Naquele momento, percebi o peso que ela carregava, escondendo suas lutas por trás de uma fachada indiferente e hostil.
Desde aquela noite, eu estava pagando pelo tratamento da mãe dela. Não queria que Jennie ou Marie enfrentassem aquilo sozinhas.
Essa decisão, no entanto, não foi recebida da melhor maneira. Só de lembrar da discussão que tivemos, minha cabeça latejava. Jennie não havia entendido minhas intenções no começo, especialmente porque fiz a oferta logo depois da noite que passamos juntos.
“— Eu não preciso do seu dinheiro, Min Yoongi! — Jennie gritou, os olhos brilhando de raiva e, talvez, de alguma emoção que ela não queria mostrar.
— Jennie, eu só quero te ajudar... — respondi, tentando manter a calma. — Você disse que estava com problemas, que estava difícil manter a casa e pagar o tratamento dela. Então, eu pensei que...
— Que eu vou ficar transando com você para pagar por isso? — A acusação me pegou como um soco no estômago.
— Eu não disse isso... — soltei, frustrado. — Não tem nada a ver com o que aconteceu na noite passada.
— Ah, é? Então por que quer me ajudar? — A voz dela saiu carregada de sarcasmo, mas por trás do tom, havia algo quebrado, quase vulnerável.
— Porque eu gosto de você. — As palavras saíram antes que eu pudesse pensar. Vi Jennie recuar, como se não esperasse por isso. — Eu sei que a noite passada não significou nada para você, mas... Eu gosto de você, Jennie.
Ela abriu a boca para retrucar, mas eu continuei antes que ela pudesse falar.
— E se isso te incomoda tanto, pode me pagar quando puder. Mas não pense que estou fazendo isso esperando algo em troca, porque eu não estou. Eu só... Não quero que você enfrente isso sozinha.”
A lembrança daquele dia ainda me atingia de forma estranha. Jennie nunca havia respondido ao que eu disse, e desde então, nosso relacionamento se tornou uma corda bamba entre discussões e momentos em que ela parecia quase baixar a guarda. Eu sabia que ela não confiava em mim completamente, mas, de alguma forma, eu não conseguia me afastar.
Era difícil gostar de Jennie, mas era ainda mais difícil não gostar.
Soltei um suspiro de frustração e voltei minha atenção para Jennie, que acabara de sair do hospital. Ela estava com os braços cruzados, tentando se esquentar, e entrou no carro. O cheiro familiar do seu perfume se espalhou instantaneamente, impregnando cada canto do veículo.
– Então? Aconteceu alguma coisa? – perguntei, ansioso para saber o que tinha acontecido.
– Só queriam me dizer que os novos remédios estão começando a fazer efeito... E que, se ela continuar reagindo bem ao tratamento, vai acordar logo. Acredito nisso... Ela vai ficar bem, Yoongi! – Jennie respondeu, com a voz embargada pela emoção. Vi as lágrimas começando a cair e, para minha surpresa, ela me abraçou.
Fiquei alguns segundos estático, sem saber como reagir. Foi estranho, mas ao mesmo tempo reconfortante. Acabei colocando meus braços ao redor de sua cintura, aproveitando a sensação do corpo dela contra o meu, sentindo a respiração dela no meu pescoço, o que me provocou arrepios involuntários.
– Acho que pode me soltar agora. – ela murmurou, sua voz suave, mas com um toque de vulnerabilidade.
– Não sei se quero. – respondi.
– Yoongi… – ela suspirou, e, lentamente, retirei minhas mãos de seu corpo. Ela se afastou, mas apenas alguns centímetros, o suficiente para me deixar com uma sensação estranha.
– Por que me odeia tanto? – perguntei, sem conseguir segurar. Levantei minha mão direita e acariciei sua bochecha. Jennie fechou os olhos e, surpreendentemente, inclinou o rosto em direção à minha mão, como se quisesse continuar aquele toque.
– Eu não odeio você, Yoongi. – ela sussurrou, os olhos se abrindo suavemente, como se estivesse finalmente permitindo alguma abertura.
– Então por que não me deixa me aproximar de você? – insisti, a frustração em minha voz mais clara do que eu gostaria.
– Estamos próximos agora. – ela disse, desviando o olhar.
– Você sabe o que eu quero dizer. – respondi, minha voz firme. Ela afastou minha mão e se ajeitou no banco, parecendo tentar se esconder em algum canto do carro.
– Eu só não posso fazer isso... Não agora. Você não entenderia. – sua voz estava carregada de algo que eu não conseguia identificar direito.
– O que eu não entendo? Na verdade, eu entendo as coisas muito bem, Jennie. – disse, tentando manter a calma, mas a frustração estava começando a tomar conta de mim.
– Eu só não quero machucar você, Yoongi. – ela olhou para mim, os olhos cheios de uma vulnerabilidade que ela raramente mostrava.
– Jen… – comecei, meu coração apertando. – Eu gosto de você, muito... Mais do que pensei que poderia gostar de alguém algum dia. Mas eu não vou ficar esperando para sempre, só quero que saiba disso. – disse, a voz baixa, enquanto eu encarava o volante, tentando não olhar para ela.
– Yoongi, eu… Eu… – ela começou, mas parou no meio da frase. Ficou em silêncio por um momento, antes de finalmente completar: – Só pode nos levar para casa?
Não disse uma palavra. Apenas liguei o carro e segui em direção ao apartamento dela.
O caminho foi feito em silêncio, com apenas alguns suspiros vindo de Jennie. Cada suspiro parecia ecoar mais forte dentro de mim, me lembrando de tudo o que não podia dizer e de tudo o que ainda estava por dizer.
Quando chegamos, estacionei em frente ao prédio dela, destranquei a porta.
– Yoongi?
– O que foi? – perguntei, virando o olhar para Jennie, que ainda estava dentro do carro. O que senti em seguida foi a suavidade e a frieza dos lábios dela no canto da minha boca. O toque foi breve, mas forte o suficiente para me fazer perder o fôlego. Ela se afastou após alguns segundos, mas a sensação ficou, como se ela ainda estivesse me beijando, pairando no ar entre nós dois.
– Eu também gosto de você. Me desculpa. – Jennie murmurou, a voz baixa, como se fosse difícil para ela dizer aquelas palavras.
– Por que está pedindo desculpas? – questionei, confuso, o coração batendo mais rápido, ainda processando o que acabara de acontecer.
– Você vai saber. – ela respondeu, com um sorriso triste que me cortou de uma forma que eu não sabia como lidar. Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, Jennie se afastou do carro, pegou Marie pela mão e entrou no prédio sem olhar para trás.
Fiquei ali, imóvel, com os dedos ainda tocando o canto da minha boca, onde os lábios dela haviam estado. O silêncio dentro do carro parecia mais pesado agora, e a ausência dela era como um peso constante sobre meu peito.
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