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História Beginning, Middle, Eternity - Capítulo 3; Eternity (Parte 2)


Escrita por: y_a_y

Notas do Autor


olá
hello
salut
konnichiwa
ni hao
me recuso a falar olá em coreano

e ae, como vcs estão? eu to bem, to em semana de prova e to feliz q consegui fazer a prova de história (gente eu sou mt ruim em historia e geografia, eu consigo ir melhor em matematica do que com essas materias, nao faz sentido)

enfim, eh so isso mesmo
ah, e eu tomei coca cola hoje entao é mais um motivo pra ficar feliz
vamo pro capítulo irra nao me matem pfv eu sou só um nene

Capítulo 5 - Capítulo 3; Eternity (Parte 2)


Peguei um blusão para mim e um outro para quando encontrasse Felix, e saí de casa novamente em busca dele. Dei a volta no quarteirão, olhei até mesmo em cima das árvores, e sem sinal das madeixas ruivas.

Nem mesmo me importei em respirar da forma certa, foquei toda a minha atenção em vasculhar o bairro. Exausto, parei no parquinho de sempre e sentei em um banco, tentando retomar minha respiração normal e acalmar meu coração que parecia querer sair pela minha boca.

O pressentimento de que tinha algo de ruim acontecendo era inevitável, mesmo a Austrália sendo um dos lugares mais seguros do mundo para se viver. Mas há gente louca em qualquer lugar, portanto a probabilidade de acontecer uma tragédia nunca é 0%.

Tirei meu celular do bolso para ver as horas, já era meia-noite. Tive um impulso em ligar os dados móveis, na expectativa de Felix ter mandado alguma mensagem.

4 chamadas perdidas de Dona Mamãe <3

8 mensagens de Lix <3

Abri imediatamente a notificação.

Lix <3: Vem me buscar, por favor. (23:45)

Lix <3: Eu não estou me sentindo bem. (23:45)

Lix <3: Seu imbecil, por que nem recebe as mensagens? Você e sua mania de desligar a internet pra economizar. (23:45)

Lix <3: A propósito, estou no ponto de ônibus na frente da minha casa.

Lix <3: Eu pensei muito, e tipo, vou respeitar sua decisão, independentemente de qual for.

Lix <3: E acho que estou preparado para lidar com um futuro sem você.

Lix <3: Sua mãe tem razão, afinal. Não podemos ficar presos um ao outro para sempre.

Lix <3: Mas acho que isso não me impede de querer muito um abraço agora.

Saí correndo de volta para casa, e ao chegar fui para o quintal dos fundos procurar a bicicleta vermelha do Felix que ele sempre deixava na minha casa. Estava passando pelo corredor quando minha mãe me chamou pela janela da cozinha.

—Ei Chris, para onde foi à essa hora da noite? E cadê o Felix?

—É exatamente ele quem estou indo buscar. Volto daqui alguns minutos.

—Ele ainda está magoado sobre a conversa que tivemos no almoço? — Ela pergunta enquanto se encosta na borda da janela.

—Acho que não. Ele só pediu um tempo para pensar.

—Ah, sim. Mas e você? Pensou nisso também?

—Pensei.

—E qual foi a conclusão final?

Engoli seco. Desviei meu olhar para o guidão da bicicleta e reuni toda a minha coragem.

—Eu não sei viver sem ele.

E então eu saí pedalando sem parar. Que momento ridículo de dorama coreano, pensei. Eu não sei viver sem ele, que resposta tosca. Ao menos eu fui sincero.

Os músculos da minha perna queimavam, mas eu não tinha tempo para descansar. Em 10 minutos eu já estava apontando na esquina da rua da casa dele. Era estranho estar por ali, levando em conta que nunca tive de fato uma conversa com a família dele.

Acelerei e logo pude ver Felix sentado no ponto de ônibus transparente. Sua postura era desleixada e abatida, e isso já me dizia que algo de muito errado aconteceu. Finalmente parei na frente dele, e senti meu corpo todo entrar em pânico quando olhei para seu rosto.

O olho estava inchado. Haviam hematomas no rosto e um corte no lábio inferior. Não pude me conter e comecei a chorar enquanto me aproximava com as mãos trêmulas, levando-as ao rosto dele. Sentei-me ao lado dele e passei os dedos em suas bochechas. Ele reclamou baixinho e segurou minha mão, colocando-a no joelho.

—Ainda bem que você veio, acho que não consigo voltar a pé para sua casa. — Ele disse, se remexendo no banco. — Ai, estou todo dolorido.

—O que aconteceu? — Perguntei. Ele olhou para a própria casa. Segui seu olhar e pude ver a silhueta da mãe dele atrás das cortinas. Ele se virou para mim novamente e suspirou. — Mas por que você veio para cá afinal?

—Mesmo que a minha mãe não seja bem o tipo que eu gostaria de ter, ela ainda é minha mãe. Eu queria conversar com ela sobre essa questão da faculdade, mas acho que não deu muito certo.

—Como assim?

—Eu tenho sim uma coisa que gostaria de fazer. — Ele deu um sorriso fraco. — Eu nunca disse para você porque sei lá, fiquei com vergonha, mas na verdade eu gosto muito de dançar.

Fiquei boquiaberto.

—Então a sua atividade de clube não é xadrez, e sim dança? — Abri um sorriso quando ele assentiu. — E você conseguiu esconder de mim por quanto tempo?

—Uns 4 anos eu acho.

—Felix, isso é incrível! — Tentei animá-lo e fazê-lo sorrir, mas ele provavelmente estava machucado demais para se importar com palavras positivas. — Mas a sua mãe não gosta disso?

—Ela sempre viu em mim um futuro médico, principalmente dentista, porque ela queria mostrar para o meu pai que eu podia ser um profissional melhor do que ele, o que não faz muito sentido. Quando eu disse que não queria seguir na área da medicina e sim na área artística, ela disse que se eu fosse fazer isso, eu teria que caminhar sozinho porque ela definitivamente não me apoiaria.

—Nossa… mas ela te bateu por causa disso?

—Aparentemente dançar é algo que só gays fazem. Enfim, vamos para casa? Acho que preciso de um banho e alguns curativos.

—Tem certeza de que não quer que eu ligue para a polícia?

Ele negou e levantou do banco lentamente, claramente sentindo dores pelo corpo todo.

—Acha que consegue subir na bicicleta? Eu vou te empurrando até minha casa. — Perguntei.

—Ah, sim. Mas antes, me dá um abraço?

—Você sabe que eu nunca te negaria isso.

                                                              ��

Quando entramos em casa, meus pais nos esperavam sentados no sofá. Eles arregalaram os olhos assim que viram Felix, e ao vê-lo em um lugar mais iluminado, pude perceber quão ruim estava a situação do rosto dele.

—Felix! — Minha mãe levantou correndo, e meu pai veio ao encalço dela. — O que aconteceu?!

E então eu me toquei de que não tínhamos pensado em nenhuma resposta para isso durante o caminho de volta para minha casa.

—Nós podemos explicar depois que ele tomar um banho e cuidar dos ferimentos? — Perguntei.

—Mas nós precisamos chamar a polícia. — Disse meu pai, que estava tentando se manter calmo, ou pelo menos mais calmo que a minha mãe.

—Não precisa. — Felix se pronunciou, segurando na minha mão e me puxando para as escadas. — Eu prometo que explico tudo depois, só preciso de uma boa ducha agora.

Meus pais se entreolharam e assentiram. Subimos para o meu quarto lentamente, já que Felix estava com o pé machucado, e eu peguei uma toalha e uma muda de roupas, porque a camiseta dele estava com algumas manchas. Ele entrou no banheiro e eu me sentei na cama, ainda com a camiseta dele em mãos. Olhei bem para as manchas, sentindo uma intensa vontade de chorar assim que percebi que era sangue.

—Chris. — Felix me chamou, com a cabeça para fora do banheiro. — Fica comigo aqui, não quero ficar sozinho.

Se fosse em outro momento, eu negaria, mas compreendi que ele estava se sentindo mal e fragilizado. Atendi seu pedido, esperando que ele entrasse no box antes de adentrar o banheiro. Sentei no banquinho-baú de roupa suja e fiquei calado, eu não sabia se devia pedir por mais detalhes do ocorrido, ou se era melhor esperar para ele contar tudo de uma vez aos meus pais.

—Felix. Posso te fazer uma pergunta?

—O que?

—Por que você não tenta se defender?

Talvez fosse uma pergunta muito idiota de se fazer em um momento como aquele, mas era uma dúvida que eu precisava sanar.

—E como eu me defenderia? Não posso usar força bruta contra a minha mãe. Se fosse uma outra pessoa, um chute de taekwondo resolveria em dois tempos, mas eu não posso ir contra as ofensas e a cinta nas mãos da mulher que me criou.

Isso me atingiu num baque imediato. Comecei a chorar, tentando ser o mais silencioso possível, mas eu ainda tinha algo a dizer a ele.

—O que eu posso fazer para resolver tudo isso? — Perguntei, com a voz falha e chorosa.

—Ficar do meu lado é o suficiente. O resto nós pensamos depois.

E o silêncio seguiu até que ele terminou o banho e eu saí para ele colocar a roupa. Separei a caixa de remédios e quando ele saiu do banheiro, eu tentava não encarar seu torso e suas costas nuas e machucadas. As marcas avermelhadas eram perturbadoras, e eu não conseguia imaginar quanta dor ele sentia sempre era agredido com uma cinta. Era ainda pior saber que não era a primeira vez que ele passava por algo do tipo. Mas, se dependesse de mim, seria a última. Eu definitivamente não deixaria aquela mulher tocar nele novamente.

Bati a mão na borda da cama, gesticulando para que ele se sentasse. Me ajoelhei na cama atrás dele e abri a caixinha de remédios, vendo o que tinha disponível para passar nos hematomas. Achei um creme de arnica - algo parecido com gelol - e coloquei nas palmas das mãos, hesitando antes de passar nas costas dele.

Aproximei minhas palmas lentamente e quando finalmente o toquei, percebi seu corpo se arrepiando.

—Está doendo muito?

—Ah, dói, mas pode continuar.

Eu passava o creme nas costas dele como se ele fosse feito da mais delicada porcelana, e que pudesse quebrar caso eu cometesse algum deslize.

Enquanto estávamos no quarto, eu pensava em como explicaria tudo aos meus pais. Explicar sobre Felix, explicar a eles que eu gosto dele mais do que apenas como um amigo e que eu demorei muito para perceber, e que ele sente o mesmo e é por isso que nós não vamos nos separar, e que vamos viver uma vida juntos igual nós sempre fizemos só que de agora em diante vamos nos beijar mais e provavelmente transar muito também.

Mas então eu me lembro que estou planejando coisas para o futuro sem nem mesmo saber se Felix de fato aceitaria. E em seguida me lembro de que estava decidido a contar para ele o que eu sinto, mas que toda minha determinação se esvaiu ao longo de toda a confusão. Não teria uma forma mais fácil? Como por exemplo escrever uma carta ou alugar um balão com uma faixa enorme escrita "ei Felix, percebi que te amo pra caralho e que minha vida não faz sentido sem você". Eu me apavorava novamente ao pensar numa forma de abordá-lo.

Terminei de passar o creme e ele colocou a camiseta. Felix se virou para ficar de frente para mim, e ficamos nos encarando, como se esperássemos por quem tomaria a decisão de descer para a sala primeiro.

—E então? Vamos ficar aqui mesmo ou…? — Ele começa.

—Não sei, não estou muito afim de explicar tudo para os meus pais.

—Mas sou eu quem deve explicações, não precisa se preocupar.

—Na verdade, eu tenho explicações para dar sim. Só que sei lá, não estou preparado para contar aos meus pais ainda.

Ele arqueou uma sobrancelha e se ajeitou na cama.

—Contar o que à eles? Andou fazendo alguma coisa de errado? — Ele pergunta.

—Bem, eu acho que o eu fiz é normal, mas tenho medo de ao olhar dos meus pais seja algo errado. Eu não conseguiria lidar muito bem com a rejeição deles.

Nesse ponto, Felix já devia ter uma noção sobre o que eu estava falando. Senti que estava seguindo um bom fluxo da conversa para chegar até o que eu realmente queria dizer.

—Você quer conversar sobre o que você fez? — Ele sugeriu. — Podemos ir contar a eles juntos.

—Não é tão fácil assim.

—Seria mais fácil se me contasse do que se trata. Pra que esse mistério todo?

Era o meu momento, mas as palavras se recusaram a sair, portanto fiz o que “deu na telha” e me inclinei em sua direção, fazendo-o se assustar e quase cair da cama, mas tive bons reflexos e o segurei pela cintura, o puxando para perto de mim. Era o clímax de uma cena romântica de filme, mas só faltava uma coisa, e Felix tomou a iniciativa - como sempre - e juntou nossos lábios.

Tão macios, calorosos e viciantes. Dizem que tudo é ainda mais intenso quando se está apaixonado, isso é um fato. Me arrepiei quando ele passou os dedos em meu pescoço, seguindo até minha bochecha e subindo para os meus cabelos.

Mesmo com o frio que fazia naquela noite, meu corpo fervia e eu quase me deixar afundar no desejo de mandar tudo para o ar e subir para níveis além dos que nós havíamos tentado. Mas eu me contentava em ter os lábios dele, afinal ele estava machucado e… bem, não seria uma boa ideia tentar algo a mais.

Eu nem tinha noção de quantos minutos haviam se passado quando eu ouvi a maçaneta sendo girada. A voz do meu pai adentrou o cômodo, e infelizmente dessa vez eu não tive os reflexos necessários para evitar que ele visse tal cena.

—Vocês não vão des…

Ele parou no meio da frase, olhando para nós dois, surpreso. Na verdade estava mais para perplexo, e era muito compreensível, afinal ele estava vendo o filho beijando outro garoto, que é o amigo de infância e que frequenta a casa dele há anos.

Talvez eu tivesse a mesma reação se eu estivesse no lugar dele.

—Eu… Vocês… Eu vou esperar lá na sala. Acho que agora nós temos mais um assunto para conversar.

Ele saiu do quarto e desceu as escadas. Felix e eu olhamos um para o outro, completamente tensos. Meus braços ao redor da cintura dele já não estavam mais firmes como antes, e as mãos dele que antes se encontravam em meu cabelo, agora estavam repousadas na própria coxa, os dedos tamborilavam a pele, inquietos.

—É, acho que agora fudeu de vez mesmo.

Eu quis rir de nervoso, mas meu nervosismo estava em um patamar nada engraçado. Eu escutava alguns burburinhos no andar de baixo, e na minha mente vinham as possibilidades sobre qual era o "posicionamento" deles quanto a isso.

—Ah, essa sensação. — Felix murmurou. — Não pensei que passaria por isso de novo.

—Como assim?

—Eu sinto que estou me assumindo para a minha mãe novamente. Não faz muito sentido, afinal eu não tenho nenhum parentesco com os seus pais mas ainda assim não consigo deixar de sentir medo da reação deles.

—Eles não podem te fazer mal algum.  

—Mas e quanto a você? Eu já passei por isso uma vez e venho aguentando uma louca religiosa membro de carteirinha do clube dos homofóbicos há anos, mas você não sabe o que seus pais pensam disso.  

—Você também não sabia sobre a sua mãe quando se assumiu.

—Ela nunca escondeu que odiava os LGBTs.

A cada dia eu conhecia mais sobre a vida dele, e me perguntava como ele conseguia permanecer sorrindo para mim sempre que nos encontrávamos. E também, como ele suportou guardar tudo para si por tanto tempo?

—Enfim, acho que precisamos descer.

Ele ia andando até a porta quando eu segurei seu braço, fazendo-o parar. Eu precisava fazer isso, deixar bem claro o que sentia para que, se acontecesse algo como meus pais nos impedirem de ficarmos juntos, ele sairia da minha casa sabendo da importância que ele tem para mim.

—Não sei o que vai rolar lá embaixo, então eu só preciso de dizer que…

—Que…? — Ele me incentivava a completar a frase.

—Que eu te amo muito e que se for preciso eu fujo com você, tá ok?

Instantaneamente ele abriu um sorriso e se aproximou.

—Eu também te amo muito, muito mas muito mesmo. Ai caralho eu te amo tanto — Ele segurou os meus ombros e me chacoalhou. — Vê se entende isso, imbecil!

—Ok! Eu entendo!

Nós rimos e ele segurou o meu rosto, fazendo carinho na minha bochecha com o polegar.

Entrelaçamos nossas mãos e descemos a escada, e meus pais, que esperavam no sofá, olharam em nossa direção assim que ouviram nossos passos na madeira. Os olhos deles automaticamente encararam nossas mãos. Eu tentava ler a expressão deles, mas estavam apenas sérios demais, esperando por nós.

Andamos até o sofá - que era daqueles de 90° graus e ficamos na outra ponta. O silêncio se estendeu por alguns segundos até que minha mãe limpou a garganta, e eu senti meu estômago se revirar.

—Felix, como estão os hematomas? — Ela o questiona.

—Ah, estão melhores, o banho e o creme que Chris passou em mim aliviaram um pouco da dor.

Ela balançou a cabeça em compreensão.

—E você gostaria de contar para nós sobre como ocorreu? E quem fez isso com você?

Ele hesitou, e muito. Ele estava imóvel, apenas piscava e alternava o olhar entre mim e meus pais, como se buscasse uma forma de começar a dizer sobre aquilo. Mas ele não diria, poderíamos ficar o dia inteiro ali esperando.

Eu só não compreendia o porquê. Eu entendia que não era fácil conversar sobre isso, mas naquele momento parecia que ele queria proteger a mãe, mesmo depois de tudo que ela fez.

—A mãe dele que fez isso.

E então eu soltei a bomba. Minha mãe me encarou, confusa. Meu pai estava quase que boquiaberto, ele sabia que eu não estava brincando.

—Como assim? — Ela perguntou.

—A mãe dele que bateu nele desse jeito, e não é a primeira vez.

Eu sentia Felix beliscar minha mão enquanto eu falava. Segurei seus dedos e continuei.

—E acho que você já deve imaginar o porquê, papai deve… ele deve ter contado pra você sobre aquilo.

—Ah sim, ele contou. Mas então você está me dizendo que a mãe do Felix bateu nele por ele ser gay? —Eu assenti e ela se virou para Felix. —É isso mesmo?

—Sim. Na verdade, também. —Ele finalmente se pronunciou. — Eu fui para casa conversar com ela sobre o que quero fazer no futuro, e nós já tínhamos desavenças sobre isso, e a minha escolha, na visão dela, é algo que apenas homossexuais fazem.

—E qual é a sua escolha?

—Eu quero ser dançarino.

Surpreendentemente meus pais tiveram praticamente a mesma reação que eu ao saber disso.

—Isso sim é inesperado. — Meu pai fala. — Você nunca demonstrou interesse em dança para nós.

—Fiquei surpreso também, fiquei sabendo disso hoje também. — Comentei.

—Mas o que tem a ver você gostar de dançar e ser gay? Por quem você se atrai não tem relação alguma com a sua aptidão profissional.

Eu sentia que o monte de neve em que eu estava atolado estava derretendo, e que eu finalmente podia respirar bem e me movimentar. Pelo rumo que a conversa seguia, nós não seríamos expulsos de casa, nem espancados.

—Sim Sra.Bang, mas minha mãe não entende isso. Ela quer que eu seja dentista igual meu pai, só para jogar na cara dele que eu sou um profissional melhor do que ele.

—Isso não faz o menor sentido. — Meu pai disse.

—Pois é. Mas, e quanto à nós… — Felix apontou para mim e depois para ele. —… dois? A propósito, desculpa por estar beijando seu filho embaixo do seu teto. — O ruivinho diz ao meu pai, que dá uma risada diante da sinceridade dele.

—Tudo bem Felix, acho que em algum lugar de mim eu já esperava que isso acontecesse.

—O que? — O indaguei.

—A gente sempre viu a forma como são carinhosos um com o outro. Sempre desconfiamos, mas nunca tínhamos certeza absoluta. Bom, pelo menos não pelo lado do Chris, Felix deixava bem evidente que gostava de você.

Olhei para ele, que estava com as bochechas coradas.

—Olha, nós já conversamos muito a respeito de vocês dois. — Meu pai se pronunciou. — Principalmente depois daquela vez em que Chris apanhou na escola. Nós imaginávamos o motivo, e também fomos contatados pela diretora na semana que aquilo ocorreu.

Me senti um pouco traído, mas não era como se ela fosse ficar calada de qualquer forma.

—Nós só tínhamos a esperança de que talvez você não fosse gay, mesmo que isso significasse que Felix sairia de coração partido. É injusto da nossa parte, mas temíamos pelo o que você teria de passar sendo homossexual. —Ele terminou de falar e se virou para minha mãe, esperando que ela concordasse. Ela balançou a cabeça.

—Mas nós queremos que vocês saibam que não temos objeção alguma, afinal, quem somos nós para opinar em cima do que vocês gostam ou deixam de gostar?

Minha mãe terminou de falar, e quando olhei para Felix, lá estava ele chorando pela segunda vez no dia (ou pelo menos as vezes que eu vi). Muita coisa aconteceu num dia só: conversa sobre o futuro, Felix chorando, discussão, Felix sendo vítima da própria mãe novamente, meus pais confirmando o que desconfiavam ao nos pegar no flagra beijando no quarto, uma conversa com meus pais e finalizando com Felix chorando de novo.

Eu ia passar a mão nas costas dele para consolá-lo mas me lembrei dos ferimentos e me limitei a um carinho no cabelo um pouco úmido.

—É estranho pra mim ver pais tão compreensivos e que me aceitam e apoiam do jeito que eu sou. — Felix disse enquanto limpava as lágrimas.

Os momentos se seguiram como cenas de uma família feliz se resolvendo ou se reencontrando. Abraços, pedidos de desculpas e minha mãe pedindo para Felix e eu darmos um selinho porque ela achava injusto só meu pai ter visto isso - na verdade ele viu um legítimo beijo de língua, mas ela não precisava saber disso.

Olhamos para o relógio e vimos que já eram quase 2 da manhã. Meus pais foram dormir e nós dois fomos para o quintal dos fundos tomar um ar fresco e conversar mais um pouco. Sentamos no banco-balanço adornado de rosas artificiais e de estofado lilás - recente aquisição da minha mãe, um sonho de infância dela - e demos um impulso para balançar um pouquinho.

A luz do quintal estava acesa, deixando os fios ruivos de Felix ainda mais intensos. Seria clichê se eu dissesse que eram como fogo, mas não havia comparação melhor do que essa.

Tão lindo, Felix é lindo demais e tão inacreditável que tenho a impressão de que ele poderia desaparecer com o meu toque. Mas ele estava ali, do meu lado, e tudo estava tão nos conformes que eu temia falar algo de errado e vê-lo ir embora, cansado de escutar as idiotices que saem da minha boca.

—Ainda não estou crendo na reação dos seus pais. — Felix quebrou o silêncio. — Eu jurava que eles diriam algo como "vocês não podem ficar juntos porque isso não é de Deus" ou algo do tipo.

—Você sabe que minha família não é muito religiosa.

—Mesmo assim, não dava para saber qual seria a reação deles. Estou aliviado.

—Também estou.

Eu me sentia leve e não havia mais aquela incômoda tensão em meus ombros. Relaxei meu corpo no balanço e deixei que Felix nos balançasse igual duas crianças no parquinho. No entanto, Felix ainda parecia estar inquieto.

—Ei, com o que está tão incomodado? — Perguntei.

—É que eu… — Ele respirou fundo e virou-se para mim, colocando os pés no chão, parando de balançar. — Eu queria te pedir desculpas pela pressão que fiz em cima de você. Estive pensando sobre certas coisas que eu disse, e percebi que eu estava desesperado para te tirar do armário, quando na verdade deveria ter respeitado seu ritmo.

—Não precisa pedir desculpas por isso, eu estava evitando o inevitável, você ajudou a me tirar de dentro da minha casca.

—Casca. — Ele deu uma risadinha e balançou a cabeça. — Não foi bem assim, eu só queria te colocar no mesmo barco que eu, sabe? É egoísta, mas eu sentia um pouco de raiva ao ver que você estava protegido na sua zona de conforto, mesmo que no colégio nós sofremos discriminação de alguns alunos idiotas. Enfim, você me perdoa?

—Eu continuo não achando que você deva se desculpar, mas sim, eu perdoo.

Levantamos do balanço e demos um forte abraço. Era inacreditável como eu me sentia seguro naqueles braços e como era intenso o meu desejo de protegê-lo até o fim da minha vida.

Deitamos na grama e passamos um tempo ali, observando a lua e as estrelas.

Mas, quando eu pensei que todos nossos problemas estavam resolvidos, um vislumbre do ensino médio passou por minha mente, me deixando preocupado. Ainda tínhamos muitos assuntos pendentes.

Mas eu não queria estragar o momento, portanto guardei aquilo para mim, pelo menos até o dia em que estivéssemos prontos para conversar daquilo novamente. Durante aqueles minutos, eu só queria estar ao lado dele e relaxar.

Quanto ao resto, nós pensaríamos depois. 


Notas Finais


gente faltam exatamente 2 semanas para o meu aniversário, amoh
mandem mimos pra virginiana aqui tah meninas toh na esperah
quem nao concorda que virgem eh o melhor signo é comunista taxista telefonista dentista motorista

entao, antes que vcs se desesperem, tem mais um capítulo, taokei? Na verdade nem era pra ter mas eu tive um surto de inspiração depois q terminei a fic e pensei "puts mas o que aconteceu depois disso? preciso escrever" e eis que surgiu o capítulo 4

Recomendação de música: Years & Years - Ties ---> https://open.spotify.com/track/4KDKoOYAnLnR7Tek17eD02?si=--0t_HzXTpKwMnNuG7VKTg
UM HINO ESCUTEM YEARS & YEARS SO TEM MUSICA BOA PUTA QUE PARIU

eh isso esperem até semana que vem
e obg pelos comentários, mano vcs sao maravilhoses eu sURTO
e dscp se tiver algum erro, nois revisa mas né, as vezes alguma coisa foge dos meus olhos de águia


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