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História Behind Closed Doors - Chapeuzinho e Lobo mau


Escrita por: TrizCampos

Capítulo 7 - Chapeuzinho e Lobo mau


A rejeição é um dos piores sentimentos. É da natureza humana buscar aprovação das pessoas que amamos, pais, amigos, namorados e figuras de autoridade. Nós queremos um “Parabéns”, e “Muito bem”. Nós queremos ser reconhecidos, associamos a aprovação ao amor.

E quando ela não vem, quando tudo o que se recebe é o silêncio, nós sofremos. Quando a sua figura de amor escolhe outro alguém, quando tudo o que lhe resta é o segundo plano, a dor é inevitável. É um sentimento lacerante, capaz de deixar marcas eternas.

Quando se é rejeitado pela primeira figura de amor. Quando alguém que deveria lhe amar incondicionalmente, não ama, você sofre. E não há como se recuperar de algo assim. Essa dor deixa marcas tão profundas, que são capazes de mudar um indivíduo por completo.

Garotas precisam de mães, eu precisava de uma mãe. Ela fez seu papel corretamente, amou incondicionalmente, mas não a mim. Ela o amou e me rejeitou.

Mas esse não é o ponto, o ponto é: a rejeição muda as pessoas. Foi por isso que tudo aconteceu naquele dia.

- E agora, o que a gente faz? - perguntei jogando meu caderno em cima da cama.

- Vai ter uma festa hoje à noite, no terceiro prédio, quarto 123, muito álcool e algumas drogas. Topa?
- Drogas, é? - arqueei a sobrancelha - Isso não dá expulsão?

- Só se formos pegos - sorriu malicioso.

- Certo - inclinei a cabeça sorrindo -, talvez eu apareça por lá.

- Então talvez eu te espere por lá - disse com um sorriso sugestivo.

- Okay - umedeci os lábios.

- Okay - disse mordendo o lábio.


Mais tarde, naquele mesmo dia eu coloquei uma calça preta Louis Vuitton e um cropped azul sob medida. Quando terminei de me maquiar eu me senti linda, verdadeiramente linda, e por um segundo fui novamente Safira Jackson.

Mas então eu era novamente Safira, uma garotinha assustada. Suspirei, reunindo toda a minha coragem para colocar meus saltos e sair. Esse foi meu primeiro erro.

Não encontrei ninguém no caminho até o terceiro prédio, mas assim que entrei pude ouvir a música. Estranhamente não havia nenhum segurança ou inspetor por todo o campus. Foi fácil achar o quarto 123, estava lotado e cheirava a maconha, havia pessoas nos corredores e a festa havia se expandido para outros quartos. Assim que pus meus pés dentro do quarto fui recebida por um abraço, era Harry, em jeans pretos e camisa branca, como sempre.

- Você veio - sorriu.

- É, eu vim - sorri sem mostrar os dentes.

- Então - disse passando o braço direito ao meu redor - O que vai beber? Vodca, uísque, talvez uma batida? Ou você prefere drogas?

- Uísque, puro - disse ao seu ouvido, a música mesmo não estando muito alta tornava difícil conversar.

Ele caminhou até uma grande mesa e pegou uma garrafa de Johnnie Walker. Acompanhei cada movimento de seu corpo, sem conseguir evitar suspirar com a forma que tirava o cabelo dos olhos a cada dez segundos, e o fato de estar sempre sorrindo. Ele era simplesmente lindo, e foi naquele momento que percebi que estava completamente ferrada.

Harry me entregou um copo de plástico cheio até a borda assim como o seu, ele levantou o copo e se aproximou do meu ouvido.

- Um brinde - sussurrou com os lábios roçando meu lóbulo -, ao fato de eu estar acompanhado da garota mais bonita daqui.

Umedeci os lábios e engoli em seco, eu estava dividida entre as lembranças do passado e as emoções do presente. Minha respiração estava descompassada, e eu não fazia idéia se era pelo medo ou pela excitação. Por isso me afastei, e esse foi meu segundo erro naquela noite.

- Eu… Eu preciso ir ao banheiro - apontei para fora do quarto. Não esperei resposta e saí o mais rápido que podia de lá. Precisei colocar as mãos sobre os joelhos e me inclinar para recuperar o fôlego.

- Puta que pariu - gritei assim que levantei a cabeça, Luke Hemmings estava parado na minha frente com um sorriso malicioso e olhar predador - Você assustou - soltei um riso nervoso.

- Essa é uma pose bem sugestiva - sussurrou em tom rouco.

- Certo - tentei sorrir para disfarçar o medo - O que está fazendo aqui, Luke?

- Só estou de passagem - continuou com o sorriso malicioso.

- Espero que aproveite a festa, eu tenho que ir agora - me pus de pé e comecei a me afastar como me afastaria de um animal selvagem, calmamente e sem muito alarde.

- Mas já? Está muito cedo, Safira - a essa altura eu estava começando a ficar assustada.

- Eu acordei muito cedo hoje, estou com sono - continuei tentando sorrir.

- Você não está com sono, estava bebendo Uísque - a cada passo que eu dava para trás ele dava um passo na minha direção. Eu estava com medo, e ele sabia disso.

- Você tem razão. Não estou com sono, tenho que terminar o trabalho de literatura - tentei novamente me afastar dele.

- Você entregou o trabalho de literatura ontem, Safira - a forma como pronunciou meu nome me fez lembrar imediatamente de Nicolas. Ele continuou a me encarar como se eu fosse sua presa, sorrindo como se fosse o lobo mau e eu a chapeuzinho.

A cada passo que eu dava tudo o que conseguia era me afastar mais e mais das pessoas, então eu fiz a coisa mais estúpida que podia: me virei sobre os calcanhares e corri. Eu corria sempre que podia, me sentia livre ao fazer aquilo, mas naquela noite correr não me libertou.

Olhei sobre os ombros para ver Luke correndo atrás de mim. Eu não sabia para onde ir, e acabei fazendo o caminho até a piscina coberta. Não havia saída ou esconderijos então entrei na piscina e submergi.

Enquanto lutava para não me mexer e chamar atenção a voz de Luke preencheu meus ouvidos, soava abafada pela água.

- Safiiiraaa - chamou - Onde você está? Não se esconda, querida. Vamos brincar um pouco.

Era uma noite morna, mas a água estava gelada. Eu tremia, mas não sabia se era por causa do frio ou do medo. Eu precisa de ar, precisava respirar ou sufocaria, mas se eu subisse até a superfície ele me veria, mesmo meus anos de aulas de mergulho não poderiam me preparar para aquilo, minha garganta queimava e tudo o que eu queria fazer era respirar. Estava prestes a desistir de me esconder quando senti uma mão em meu pescoço, me puxando para cima.

Meus olhos encararam a penumbra da noite, enquanto meus pulmões desesperadamente buscavam ar. Quase me senti aliviada, se não fosse a mão de Luke em meu pescoço. Luke me empurrou contra a parede da piscina, prensando seu corpo contra o meu. Eu estava com muito medo.

- Olá querida - sussurrou em meu ouvido, seu hálito cheirava a uísque e sua voz me dava calafrios.

Eu queria gritar, queria implorar para que ele parasse, mas eu não conseguia. Eu estava de costas para ele, tudo o que havia a minha frente era a escuridão da noite.

Sua mão escorregou para dentro de minha calça, lentamente, mas sem pudor, exatamente como Nicolas fazia. Minha cabeça parecia pesar uma tonelada, e meus ouvidos zuniam. Eu ouvia minha própria voz abafada gritando e sentia lágrimas escorrendo pelo meu rosto, mas não tinha controle de meus atos. Tudo parecia um sonho distante, exceto a dor, ela era persistente e lacerante. Ele me puxou pelo pescoço para fora da piscina, eu estava aterrorizada, eu sabia o que viria a seguir, e preferia morrer a isso.

Ele jogou meu corpo contra o chão com brutalidade e eu poderia jurar que nunca mais andaria.

- Relaxe querida - sussurrou em meu ouvido, suas mãos deixaram meu pescoço e puxaram minha calça.

Então eu vi minha última oportunidade de fugir. Permiti que ele escorregasse a calça por minhas pernas, enquanto ele terminava de tira-lá eu mesma a puxei com o resto da força que me restava e corri. Todavia não fui além de dois metros antes que ele me alcançasse.

Ele pulou sobre mim e eu caí em um baque surdo, pude sentir meu tornozelo se dobrando e tive certeza que ele estava quebrado.

Cerca de dois dias antes um aluno havia quebrado uma das barras de proteção, e por isso a piscina estava interditada. Quando Luke pressionou meu rosto contra o chão eu a vi: do tamanho do meu fêmur, feita de aço. Eu não me lembro exatamente como tomei a decisão, só me lembro que num minuto eu bati a barra contra sua cabeça e de repente havia sangue por toda parte. Luke caiu inconsciente ao meu lado, uma poça de sangue ao redor da sua cabeça.

Minha calcinha estava nos joelhos, eu a levantei e comecei a andar.

Havia sangue por toda parte. No chão, na piscina e em mim. Havia sangue por toda parte. A pouca roupa que eu ainda vestia estava encharcada e grudava na pele, eu só não sabia se era por causa da água da piscina ou do sangue.

Minhas mãos apertaram o aço frio da barra com força, cada passo doía mais do que o anterior. Meu pé estava virado num ângulo que eu poderia jurar que era humanamente impossível.

Eu não me lembro de como consegui forças para chegar ao prédio da festa. Me lembro de cair no hall, me lembro de gritos e um par de olhos verdes. 



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