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História Behind the roses - X - Can I get a little more from you?


Escrita por: wellcarryon

Notas do Autor


Não, não é uma miragem! Sim, eu estou aqui, em um horário diferente do habitual.
Brincadeiras à parte, estive ausente por problemas técnicos, mas sem mais desculpas! Boa leitura!

Capítulo 10 - X - Can I get a little more from you?


Os dias que seguiram ao Halloween se desenrolaram com tranquilidade, o tipo de calma despropositada que, por conhecimento natural, precede algo grande. Frank, entretanto, ignorava essa concepção, optando por apenas desfrutar da calmaria que rodeava sua rotina, dia após dia.

Naquela sexta-feira em especial, a coisa mais excitante do dia acontecera logo nas primeiras horas da manhã: depois de algum tempo de caçada, finalmente o rato que semeara o caos na cozinha semanas antes fora capturado. Na verdade, Frank havia esquecido completamente daquele quinto inquilino indesejável, mas o cheiro nojento que impregnara a cozinha naquela manhã não poderia significar outra coisa, e quando Bob foi checar, lá estava ele, preso na ratoeira.

Depois que o cadáver foi dispensado e todas as aberturas da cozinha escancaradas para dissipar o odor, tudo voltou ao normal. O dia continuou sem problemas, e a noite caiu lançando um tapete de estrelas ao céu, prometendo tempo bom para o dia seguinte.

Frank observava as estrelas pela janela de seu quarto, enquanto vestia seu pijama. Ainda era cedo e ele não estava com sono, por isso preferiu aconchegar-se embaixo das cobertas e reler pela milionésima vez seu livro favorito.

Embora houvesse ganhado um passe livre para o acervo literário de Gerard Way, ainda não se sentira à vontade o suficiente para entrar no escritório dele e pegar algum livro para ler. O passeio no Halloween serviu para aproximá-los um pouco, e até podia-se dizer que havia uma amizade entre eles, mas era o tipo de vínculo com ressalvas. Havia muita coisa no caminho entre os dois. Gerard por vezes se perdia em pensamentos e se tornava distante; Frank tinha seus próprios fantasmas, com os quais nem sempre conseguia lidar.

Além disso, havia o trabalho. Frank tinha que parecer profissional, principalmente sob o olhar analítico de Ray, e mesmo que cometesse alguns deslizes ocasionalmente, tentar ser amigo de Gerard quando estava sempre sob vigilância era uma missão praticamente impossível, e aproximar-se fora do campo de visão dos colegas, quase um milagre.

Esses pensamentos logo abandonaram a mente de Frank, conforme ele mergulhava na história em suas mãos, com a profundidade de quem a lê pela primeira vez.

...

Um ruído repentino fez com que Frank despertasse. Ele abriu os olhos, sentindo as páginas gastas do livro contra a pele de seu rosto, e ergueu as mãos para removê-lo, cegando-se momentaneamente pela luz do teto que ficara acesa. Esticou-se até alcançar o interruptor e apagá-la, e então se deixou cair na cama novamente, coçando os olhos.

O ruído persistia. Aguçando seus ouvidos e prestando atenção, em poucos segundos desvendou sua origem.

Com um suspiro, aconchegou-se nas cobertas, fechou os olhos e tentou voltar a dormir.

Não era da sua conta. Ele não tinha nada a ver com isso.

Mas e se não fosse o que ele pensava? Se alguém estivesse arrombando o telhado da casa?

Abriu os olhos.

Hesitou por um momento antes de levantar-se da cama, vestir um casaco e uma calça sobre o pijama, e sair do quarto silenciosamente. Atravessou o corredor e a cozinha com os pés descalços, carregando seus tênis na mão, e os vestiu quando alcançou a porta da rua.

Estava muito claro do lado de fora, uma cortesia da lua cheia, que brilhava com toda a intensidade no céu. Frank contornou o canto atrás da casa e caminhou pela calçada com passos cautelosos, tomando especial cuidado ao passar pela janela do quarto de Bob. Embora tivesse ouvido os roncos baixos do colega quando passara por sua porta, não convinha arriscar.

Desacelerou quando alcançou o ponto onde havia o recuo do andar superior. Ao parar na calçada, estreitou os olhos em direção ao telhado. A parede da casa bloqueava o brilho da lua até certo porto, de forma que Frank teve apenas um vislumbre do contorno dos cabelos bagunçados que poderiam ser Gerard, tanto quanto poderiam não ser. Frank fora silencioso ao chegar até ali, de maneira que ainda não havia sido notado. Sendo assim, não lhe restava alternativa se não anunciar sua presença.

– Gerard? – sussurrou.

A silhueta movimentou-se até a borda do telhado, comprovando suas suspeitas.

– O que faz acordado à uma hora dessas? – perguntou Gerard, em tom igualmente baixo. Ajoelhou-se para ficar mais perto.

– Você pode ser bom em escalada, mas o silêncio ainda é uma habilidade a ser desenvolvida – brincou Frank, com expressão travessa.

Gerard assentiu, sorrindo brevemente.

– O que faz aí? – perguntou Frank, assumindo uma expressão mais séria.

Gerard deu de ombros.

– Não estava conseguindo dormir, então achei que um pouco de ar fresco poderia ajudar.

Frank assentiu e apertou um pouco o casaco em torno de si. Um instante de silêncio se passou. Gerard se abaixou no telhado e deitou-se de barriga para baixo, apoiando o queixo nos braços cruzados, de forma a poder observar Frank e aguardando que ele dissesse mais alguma coisa. Mesmo conhecendo-o pouco, sabia que aquela era a expressão que ele fazia quando o anjo e o diabo em seus ombros entravam em conflito, e era algo interessante de se ver.

Depois de pensar um pouco, mas não o suficiente para que perdesse a coragem, Frank acabou perguntando:

– Quer companhia?

Gerard aproveitou sua posição para sorrir sem que o outro pudesse perceber. Como resposta à pergunta, esticou o braço e ofereceu-lhe a mão.

Frank aceitou a ajuda, e em segundos estava sobre o telhado, satisfeito em perceber que sua habilidade como escalador havia melhorado desde a última vez que estivera ali.

Afastaram-se da borda e acomodaram-se rente à parte. Frank deixou o olhar vagar pela vista que se estendia à sua frente – o céu estrelado de encontro com as sombras enegrecidas do alto das árvores, que escorregavam até mesclar-se com a cerca viva e o gramado, metros abaixo. A lua lançava seu brilho prateado sobre tudo, conferindo textura às sombras.

Frank conseguia entender porque Gerard gostava dali. Era a versão dele para sua recém descoberta “calçada-do-lado-de-fora-da-cozinha”. Dava uma sensação de liberdade e calma para colocar a cabeça em ordem. Mas, como aquele não era o seu lugar, também lhe parecia incompleto. Se fosse o seu lugar, precisaria de um acréscimo, alguma coisa na paisagem em que pousar os olhos. Durante o dia talvez tudo parecesse certo, mas na escuridão tudo o que via eram sombras, e isso lhe causaria um pouco de angústia se estivesse ali sozinho.

Não entendia nada de decoração e paisagismo, especialmente o tipo que a casa de Gerard exigia – cheio de classe e refinado – mas pensou que talvez algumas roseiras com lâmpadas de jardim iluminando-as de baixo para cima, ficassem bonitas naquela parte do quintal. E deixariam o lugar mais confortável.

Não exteriorizou nenhum desses pensamentos, entretanto. Em vez disso, desviou o olhar discretamente para Gerard, mas a discrição era desnecessária, pois encontrou-o tão imerso em seus pensamentos que talvez não percebesse se Frank o encarasse por quinze minutos, com os olhos arregalados e o rosto à 10 centímetros do seu.

Pensando bem, ele estava ali sozinho sim. Gerard estava fisicamente ao seu lado, mas sua cabeça estava há milhares de quilômetros, em algum lugar que ele não podia imaginar.

Analisou a figura de Gerard, atrás de algo que pudesse lhe dar apenas uma sugestão do que ele estava pensando. Seus cabelos bagunçados pendiam sobre o lado esquerdo do rosto, mas estavam acomodados atrás da orelha no lado direito. Seu olhar estava vazio, perdido em algum ponto inespecífico à sua frente, e seus polegares brincavam um com o outro nas mãos entrelaçadas. Fora isso, não havia nada legível em sua postura ou expressão.

Suspirando profundamente, Frank deixou os ombros caírem. Toda vez que via Gerard, era como se ele erguesse uma parede de mistérios entre os dois, e Frank ficava parado como um tolo do lado de fora de sua mente, ponderando sobre o que fazer para penetrá-la.

Franzindo o cenho, se perguntou quando isso havia começado a incomodá-lo.

Cerrou os punhos sobre as pernas, sentindo os dedos gelados por conta da temperatura. Enfiou as mãos nos bolsos do casaco, e sua mão esquerda fechou-se em torno de uma coisa redonda. Retirou-a do bolso, e descobriu ser o bombom que Julian lhe oferecera no dia anterior, do recipiente com doces no balcão da lavanderia.

Girou-o entre os dedos por um momento, antes de, por impulso, segurá-lo em frente ao rosto de Gerard, em resposta a uma ideia recém produzida.

– Um bombom por seus pensamentos – disse, atraindo a atenção do homem.

Gerard encarou o doce por um instante antes de finalmente pegá-lo. Segurou-o entre os dedos, brincando com o papel, parecendo buscar as palavras adequadas. Frank apenas aguardou, observando-o com expectativa.

– Estou pensando em uma coisa há dias – começou, balançando a cabeça e olhando para o bombom. Fazia muito tempo desde a última vez que experimentara a sensação de ter de dizer algo a alguém e não saber como. – Quase falei no Halloween, mas tive certeza de que você jamais aceitaria, e continuo tendo...

Frank lembrou-se do momento em que Gerard o chamara naquela noite, depois de se despedirem. Não havia pensado muito sobre aquilo, agora que buscava pelas memórias. De fato, era surpreendente que sua cabecinha terrorista não tivesse agarrado a oportunidade de martelar essa situação a semana inteira.

– Bem, você não pode ter certeza se não perguntar – disse, por fim.

Gerard deixou escapar uma risada baixa e irônica.

– Estou me sentindo um idiota – confessou ele, sussurrando como se esse diálogo não fizesse parte da conversa e lançando um rápido olhar a Frank.

Este, por sua vez, sentiu um sorriso satisfeito surgir em seu rosto, de forma que precisou apertar os lábios para disfarçá-lo. Não seria muito sensato rir de Gerard, mesmo que vê-lo desconfortável lhe causasse uma sensação estranhamente prazerosa. Era como uma pequena e doce vingança por todas as vezes que ele rira de sua vergonha.

– Tudo bem – disse Gerard, inspirando profundamente. – Eu ia perguntar se você aceitaria me acompanhar ao casamento de Michael.

O sorriso mal disfarçado sumiu imediatamente do rosto de Frank, que, boquiaberto, encarou Gerard com os olhos arregalados. Gerard encarou-o de volta, e sustentou seu olhar erguendo uma sobrancelha quando o instante de choque se tornou longo demais.

– Não... – começou Frank, adquirindo uma expressão confusa e balançando a cabeça em uma vã tentativa de clarear os pensamentos. Nem sabia o que dizer. Ir ao casamento de Michael? Ele? Com Gerard?

Gerard desviou o olhar de seu rosto e pousou-o em seus próprios pés.

– Espera... – continuou Frank. – O que... O que fez você mudar de ideia?

– Percebi que venho fazendo muito do que quero nos últimos anos – murmurou, sem voltar a encará-lo. – Está na hora de fazer o que preciso. Tenho a sensação de que se eu não for, algo importante irá se romper. E tenho pensado que talvez seja melhor tentar consertar algumas coisas enquanto ainda é possível.

Frank ficou em silêncio por um minuto inteiro, observando Gerard e pensando em como responder.

– Isso é... Ótimo. Certo... Tudo bem... – pigarreou. – Como faremos isso? Digo, e quanto aos outros?

Gerard voltou-se para Frank e encarou-o com surpresa, examinando-o em busca de uma prova de que havia entendido errado. Encontrou um misto de muitas coisas. Medo. Nervosismo. Curiosidade. Nenhum “não”.

– Ainda não sei – respondeu, balançando a cabeça e quase deixando um sorriso escapar. – Espere... Você concordou?

– Acho que sim? – devolveu Frank. – Não foi um convite?

– Foi, é claro, mas... Você disse que não era sua vida.

Frank observou-o com uma expressão interrogativa no rosto, até algo se acender em sua mente e ele finalmente perceber.

– Você entendeu errado! – disse, estendendo a mão para tocar o braço de Gerard sem perceber. – Quando eu disse isso, quis dizer que fomos criados em ambientes diferentes e que eu me senti perdido quando cheguei aqui, ainda me sinto às vezes, mas não que eu... Seja lá o que for que você entendeu...

Olhou com surpresa para a sua mão apoiada no tecido macio do casaco de Gerard, e recolheu-a para si, prendendo-a com sua outra, como se tentasse impedi-la de fazer algo parecido novamente. Sentiu o rosto esquentar e agradeceu à escuridão por não tornar isso visível à Gerard.

Por mais que estivesse com outras duas camadas de roupas por baixo do casaco, Gerard sentiu seu braço formigar no lugar – agora vazio – onde Frank o tocara.

– Enfim – disse Frank, balançando a cabeça e encarando-o. – Se você acha que isso é importante, estou com você.

– Obrigado – disse Gerard, sorrindo timidamente. – Você não precisa se preocupar com nada, vou pensar em alguma coisa e resolver tudo.

– Certo. Quando é o casamento?

– No próximo sábado.

– Tudo bem. Acho melhor eu descer agora e ir para a minha cama. Você deveria fazer o mesmo – disse Frank, e em seguida franziu o cenho. – Digo, para a sua cama. Você- Quer dizer... Desculpe.

Gerard riu.

– Vou ficar mais um pouco.

Frank assentiu e engatinhou para a beira do telhado. Gerard ajudou-o a descer e ambos encararam-se por um momento.

– Boa noite – disse Frank, quebrando o contato visual e dando as costas para Gerard, iniciando sua caminhada silenciosa por trás da casa.

– Boa noite – murmurou Gerard, mesmo sabendo que Frank não podia mais ouvi-lo.

Frank caminhou na ponta dos pés pela calçada até o canto da casa, e seguiu normalmente até chegar à cozinha. Depois de trancar a porta atrás de si, despiu os sapatos e carregou-os nas mãos até seu quarto.

Mal podia acreditar que Gerard depositara confiança nele para algo tão importante. Agora que estava sozinho, podia se permitir as reações exageradas que tomavam conta de si, desde que não fizesse barulho. Cerrou os punhos e transformou o que seria um grito estridente em um som agudo e baixo feito em sua garganta; pegou o travesseiro da cama e bateu com ele sobre o colchão repetidas vezes, antes de pular com os joelhos dobrados para minimizar o ruído, dando voltas em torno de si.

Sentindo-se um pouco menos nervoso e um bocado mais insano, despiu o casaco e as calças e finalmente enfiou-se embaixo das cobertas.

Que loucura acabara de acontecer?! Ele saía de sua cama no meio da noite atribuindo um significado sério à sua mera curiosidade – por que obviamente não seria um ladrão no telhado, e mesmo que fosse, o que Frank poderia fazer? Gritar e correr até ser apanhado e levar outra surra? – e voltava com uma incumbência importante e desafiante como aquela?!

Mas daria tudo certo. Gerard era esperto e bolaria um plano. Ele nunca havia ido a um casamento, seria divertido afinal de contas.

Ele conheceria a "famosa" família de Gerard.

Um novo tremor de nervosismo percorreu seu corpo. Ele conheceria a família de Gerard com Gerard no casamento do irmão dele. E se eles pensassem algo errado sobre isso? E se descobrissem que ele não era um amigo e sim um empregado? Achariam que ele estava se aproveitando?

Ele poderia ser demitido?

Respirou fundo e disse a si mesmo para parar de surtar.

Daria tudo certo. Gerard era esperto e daria um jeito. Ninguém pensaria nada.

...Frank viu o dia amanhecer com os olhos cravados no teto do quarto.


Notas Finais


Então, curiosidade sanada sobre o que o Gerard queria perguntar ao Frank. E agora, o que será que vai acontecer?

Comentários me deixam feliz! Me digam o que acharam! Espero que tenham gostado. A propósito, chegamos aos 50 favoritos, muito obrigada! <3 Vejo vocês lá embaixo, ou no próximo capítulo <3


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