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História Bells of Notre-Dame - Às margens da cidade


Escrita por: ElvishSong

Notas do Autor


Oláááá! Cá estou, com novo capítulo para vocês! Aviso aos diabéticos: a insulina pode ser necessária, para a leitura deste capítulo!

Capítulo 13 - Às margens da cidade


                - Acho que a capa ficou pequena... – riu-se a adolescente; e pensar que pegara uma capa de Miro, tido como um homem relativamente alto! Aaron era, em fria análise, um verdadeiro gigante! Que casal mais estranho não deveriam formar, ela tão pequena, com menos de um e sessenta, e ele superando um metro e noventa... Como se não bastassem as discrepâncias entre suas roupas, gestos e tons de pele... Sim, eles juntos eram uma visão no mínimo singular.

                - Quer parar de rir? – perguntou ele, levemente desconfortável, mas sem conseguir se zangar com a jovem – isso vai nos causar um problema.

                - Não a essa hora, fique tranquilo. – a cigana avançava pelas ruas com confiança, seguida de perto pela cabritinha que pulava junto a seus calcanhares – se Djali não chamou a atenção, não serão suas botas a fazê-lo. – ela reduziu o ritmo acelerado que vinha mantendo, olhando para um lado e outro de cada rua e viela antes de cruzá-las – fique atento, aqui. A maior parte das pessoas não nos faria mal, mas não posso garantir que seja uma verdade para todos.

                - Aonde estamos indo? – perguntou ele, confuso. O que, afinal, a moça queria lhe mostrar?

                - Nenhum ugar específico, por hora – respondeu ela – quero que conheça meu mundo, os lugares aonde vou, as pessoas com quem vivo... Quero que entenda quem sou, e o que. – ela sorriu e moveu os pés sobre o chão de pedras soltas, como se o acariciasse com as solas – este é o chão que me viu crescer. Cada pedra conhece o toque de meus pés e sabe se estou feliz, triste ou com medo. O vento – como se respondesse à palavras dela, uma brisa suave soprou, lançando para trás os cachos negros – que me ensinou seu bailado e sua música, e foi testemunha de cada ato meu... O céu, com suas estrelas... A lua... Este é o jardim em que repouso, aguado com generosidade pela chuva e, no inverno, coberto pelo generoso manto da neve. – ela sorriu, lembrando-se de como, nos primeiros invernos, encarara a neve como um vilão que trazia o frio e a morte, até descobrir que o mundo podia ser mudado, se ela o encarasse de modo diferente. Assim, a neve se tornara, para ela, o manto com o qual a terra se cobria para repousar, e com isso chegava o inverno.

                - Fala como se os elementos estivessem vivos – sorriu Aaron, fascinado com o encanto e brilho que havia nos olhos de Esmeralda, e que sofrimento algum podia apagar.

                - Mas estão! – confirmou ela, veemente – a maioria não sabe disso, é claro, porque as pessoas estão sempre ocupadas com seus próprios pensamentos barulhentos. – Ela segurou a mão do organista e fechou os olhos, sentindo a brisa – mas quando fecho os olhos, e aquieto a mente... Eles falam, Aaron – e abriu o olhos, para encontrar as duas chamas douradas no rosto dele – ou melhor, cantam! Você é músico, certamente sabe do que falo! Nunca se sentou nas altas torres de Notre-Dame e apenas ouviu as notas que o vento toca? Que a chuva cria ao cair sobre os telhados? Que as árvores entoam, quando a brisa as faz se curvar?

                Sim, Aaron já ouvira. Nas poucas ocasiões em que tivera paz, em sua vida, gostava de simplesmente ouvir os ruídos do mundo, que se apresentavam como uma cacofonia quase melodiosa. Quantas obras não se haviam inspirado naqueles sons? Porém, nunca os havia encarado como uma linguagem... Nunca lhes havia atribuído algum sentido além do simples fato de existirem, como Esmeralda fazia.

                - Eu já os ouvi. Mas nunca pensei neles como uma linguagem. Não como você.

                - Se já os ouviu, então sabe o que querem dizer. – sussurrou ela, sempre com aquele semblante misterioso.

                - Eu não falo a língua do vento, cigana – respondeu o artista, divertido, mas a moça parecia muito séria quando retrucou:

                - Só vai entendê-lo quando parar de tentar compreender. Quando simplesmente ouvir, então ele se fará entender. – ela riu – devo estar parecendo uma louca, para você.

                - Gosto de suas loucuras... Fazem sentido de um modo que as coisas sãs não costumam fazer. – as mãos grandes pousaram nos ombros dela, e dedos carinhosos subiram pela curva de seu pescoço até acariciarem o rosto, enrolando-se aos fios que escapavam da faixa em seus cabelos. Os olhos dourados brilhavam no escuro, hipnotizantes, parecendo puxá-la para si...

                - O que faz comigo, parisiense? – perguntou a moça, estendendo a mão para tocar-lhe o rosto – chama-me de feiticeira, mas sou eu quem está enfeitiçada... Por você! Jurei que jamais haveria de me apaixonar, pois não queria ser prisioneira de meu coração, e agora vejo-me enredada na luz de seus olhos, como uma mariposa é atraída para uma vela... O que está fazendo comigo?

                - O mesmo que seus olhos fazem comigo, feiticeira – sussurrou ele, envolvendo-a pela cintura. – acha que enfeitiçamos um ao outro?

                - Estou quase certa – ela inclinou a cabeça e o beijou, sentindo seu coração acelerar tanto que parecia prestes a explodir! Quando ele a soltou, estava ofegante e levemente trêmula – liberte meus olhos, senhor, pois preciso deles para manter-me alerta, aqui!

                - Posso proteger a nós dois, senhorita...

                - Jura? – escarneceu ela, e debochou numa imitação de dama – ah, o que eu faria sem meu bravo cavaleiro, para me proteger?!

                - Não deboche, menina.

                - De nós dois, fui eu quem te salvou, até agora! – riu-se a garota, puxando-o consigo – mas não vamos ficar muito tempo no mesmo lugar: a maioria das pessoas, aqui, não nos faria mal, mas não posso garantir que isso se estenda a todos. – assim dizendo, ela o guiou através de becos, ruas estreitas, caminhos entre casas...

                Em dado momento, ela se espremeu entre duas residências e adentrou o espaço que havia no interior da quadra: ali, em vez de construções, havia um recanto cheio de plantas. Uma horta relativamente bem cuidada, em cujo entorno cresciam plantas perfumadas. Aaron se adiantou e abaixou, reconhecendo algumas das plantas que vira descritas em tratados de botânica... Sua educação não conhecera limites, uma vez que era viciado em leitura e buscava aprender o que estava ao seu alcance. Infelizmente, seus conhecimentos médicos nunca haviam saído do plano teórico. Esmeralda sorriu ao ver seu interesse, e explicou:

                - Os moradores se preocupam com a horta, mas eu estou mais interessada no que cresce rente às paredes, onde não reviram o solo... – ela se abaixou junto ao homem foi identificando as plantas – alfazema, Artemísia, alecrim... Mil-ramas, louro, milefólio... Aquela árvore é um salgueiro, cuja casca uso para baixar febres e tratar dores. – ela tinha os olhos sonhadores – não temos muito, mas fazemos o melhor que podemos, com o que nos é dado. É claro, a horta também me ajuda: alho, cebolas, acelgas... Faço o que posso, com o que encontro. – e ao ver Djali se abaixar, interessada demais nas plantas – nem pensar, Djali! – a cabritinha deu um salto ao se ver pega em flagrante, e saiu cabriolando em direção à rua, correndo com o ânimo dos filhotes para lá e para cá pelo corredor estreito. O casal riu, e o mascarado perguntou:

                - Onde aprendeu a tratar doenças?

                - Minha mãe. – ela deu de ombros – infelizmente, morreu antes que eu pudesse aprender tudo o que ela sabia, mas lembro-me bem de muito do que fazia. Não sou uma especialista, mas posso tratar uma febre, ferimentos... – ela o fitou longamente, e sabia que ambos pensavam no dia em que o protegera e cuidara dele após a exposição na berlinda.

                - Por que me ajudou, Esmeralda? Naquele dia, depois que eu a ataquei... Por que me ajudou?

                Ela baixou os olhos e começou a remexer nos torrões soltos de terra junto a si, antes de responder:

                - Ninguém merece passar por aquilo. Se eu queria puni-lo? Sim, eu queria. Teria esfaqueado você, sem hesitar... Mas aquela humilhação, aquele sofrimento... – ela fitou os céus, e Aaron viu pela primeira vez a sombra do medo naquele olhar esverdeado – vi muitos autos-de-fé. Assisti enforcamentos. Vi pessoas a quem amava serem chicoteadas até a morte. Coisas assim não saem de sua mente, não importa o que faça. E acho que saber que facilmente seria eu ali, em seu lugar, e sem sequer precisar de um bom motivo... – ela o encarou, e de repente o gigante se sentiu muito pequeno, com a intensidade daquele olhar – como disse, fiz por você o que queria que fizessem por mim, no dia em que for eu a ser exposta, chicoteada ou, Deus me livre, queimada viva. Compaixão. É o que todos queremos, no final, não é? De qualquer modo, que ameaça você me oferecia, amarrado e ferido? Naquela hora, era só mais um dos enfermos de quem cuido. – ela riu baixinho – se eu soubesse que ia me apaixonar ainda mais, é claro que teria fugido para bem longe.

                - Você não teme a morte, o suplício e a vergonha, mas teme se apaixonar? – ele apertou de leve a bochecha dela, como faria com uma criança – Não faz muito sentido.

                - Não é que não tema a morte ou a dor... Mas é algo inevitável, ao qual simplesmente aceitei. Já amar... O amor nos deixa vulneráveis. Quando amamos alguém, fazemos qualquer coisa por aquela pessoa, e... Apenas não é uma boa ideia, em nossos dias.

                - Não tenha medo, minha cigana – sussurrou ele, tocando a fronte dela com a própria, sua mão entrelaçada ao cabelos negros – ninguém vai machucar você, enquanto eu viver.

                - Não prometa o que não pode cumprir, Aaron. – sussurrou ela – sei que fará tudo o que puder para me manter a salvo, mas se um dia eu for presa, não deve se sentir culpado por isso.

                - Se for presa, eu arrancarei até a última pedra de Paris para encontra-la. – jurou ele, intenso. Não era um blefe, ou uma falsa promessa: era apenas a afirmação de uma decisão bem clara, em sua mente e coração. Levantaram-se juntos, Aaron ainda segurando as mãos da moça nas suas, e cantou baixinho:

                - Mes amies les gargouilles qui veillent sur toi (minhas amigas, as gárgulas, que velam por você)

Te protégeront de tous les imbéciles (te protegerão dos imbecis)

Quand tu auras besoin d'un abri (quando precisar de um abrigo)

Tu n'auras qu'à venir demander asile (não precisará senão vir e pedir asilo) – era a primeira vez que Esmeralda ouvia Aaron cantar, e nunca poderia imaginar aquela voz, nem aguda nem grave, potente e límpida como o repicar dos sinos de Notre-Dame! Era uma voz puramente masculina, mas tão suave como veludo! Os sons pareciam envolve-la e confortá-la como o manto do crepúsculo a cair sobre o mundo!

- Notre-Dame de Paris (Notre-Dame de Paris)

C'est ma maison, mon nid (É minha casa, meu ninho)

C'est ma ville, c'est ma vie (minha vila, minha vida)

Mon air, mon toit, mon lit (meu ar, meu teto, meu leito) – e acariciou o rosto dela, fascinado - Dans ma maison à moi (em minha casa)

Il y fait toujours beau (todos os dias são belos)

L'hiver il fait moins froid (no inverno, é menos frio)

L'été il fait moins chaud (no verão, menos quente)

Tu viendras quand tu veux (você virá quando quiser)

Quelle que soit la saison (qualquer que seja a estação)

Ma maison si tu veux (minha casa, se quiser)

Ce sera ta Maison (será a sua casa).

 

Uma lágrima brilhante escorreu pelo rosto de Esmeralda, e ela se assustou ao perceber a própria emoção! Enxugando a gota salgada com um gesto ligeiro, olhou para Aaron e viu em seu rosto um sorriso compreensivo, então tratou de se explicar:

- Desculpe-me, é só que... Não estou acostumada a ter alguém que se preocupe comigo, fora do clã... – ela baixou o rosto, ficando extremamente surpresa ao sentir seu amado envolve-la num abraço e, cingindo-a contra o peito, pousar o queixo sobre sua cabeça:

- Não se desculpe, Esmeralda. Nunca mais estará sozinha, meu pequeno anjo. – ela o fitou, guardando cada detalhe do rosto semiencoberto por uma máscara que escondia o lado direito deformado, os olhos dourados brilhando quais os de um gato, no escuro.

- Amo você, Aaron.

Foi a vez do artista deixar escorrer uma lágrima: não estava habituado a ouvir aquilo, e demoraria a se acostumar. Ele, uma criatura deformada da qual todos sempre haviam tido medo, de repente era amado pela mais bela e doce de todas as mulheres! Como podia ser? Como podia ser merecedor dela, com as trevas que sempre haviam cercado sua vida?

- Você é meu anjo, Esmeralda. O anjo que veio tirar-me das trevas...

Pela primeira vez naquela noite, ela não retrucou, não riu nem respondeu de qualquer forma: apenas sorriu e se aninhou mais naqueles braços, feliz como não imaginara ser possível, com um simples abraço. Foi só após longos minutos que se afastou, ainda sorridente, e falou:

- Quero lhe mostrar mais algumas coisas. Quer ver?

- Tudo o que tiver para me mostrar.

Saíram da pequena horta e voltaram às ruas; o amanhecer ainda estava longe, então a moça o levou até uma confluência de vias estreitas. Naquelas paragens havia pouquíssimas carroças ou cavalos, por serem animais caros demais de se manter, de sorte que eram caminhos usados quase que apenas por pedestres, e fora ali que começara a se apresentar, quando ainda não era ousada o bastante para tentar o centro da cidade, na Ile de la Cité.

- Está vendo este entroncamento? Foi aqui que me apresentei, no começo. Tinha doze anos, e ainda não era ousada o bastante para me atrever a ir ao centro. – ela tocou as pedras, como se cada uma guardasse as memórias daquele tempo – bons tempos, aqueles. Eu não conseguia tudo o que consigo, hoje, mas os tostões que obtinha eram uma alegria, e os levava cheia de orgulho para meu pai. – e riu – lembro-me da primeira vez que levei dinheiro para casa... Alguns tostões de cobre, apenas, mas parecia um tesouro, para meu pai.

- O que ele fez?

Esmeralda desatou a faixa da cintura, e a mostrou a Aaron: moedas de cobre perfuradas e costuradas ao pano eram o que fazia barulho, quando a moça dançava. Um trabalho delicado e cuidadoso, de fato, que perfurara o metal sem trincar a peça.

- Ele separou sete moedas de cobre e pediu para minha tia Alba fazer este xale para mim. Perfurou-as e prendeu-as ao tecido ele mesmo, dizendo que ele me traria prosperidade e boa sorte, como de fato tem feito. Adicionei mais moedas com os anos, mas as sete originais continuam aqui. – e tornou a amarrar o tecido brilhante na cintura – não posso me queixar, já que minha dança me permite ganhar muito mais do que a maioria.

- E, se a conheço, você usa isso para ajudar os demais.

- De que me serviria aquilo que ganho para além de minhas necessidades? – perguntou a garota, com tanta simplicidade que o homem se surpreendeu. Ela realmente não via nada de extraordinário no que fazia, e isso só o fazia cada vez mais certo de que só podia estar diante de um anjo! Meneando a cabeça, ele a viu se abaixar e tocar as pedras, e nesse instante a Lua saiu de trás das nuvens, banhando em prata a pele morena e os cabelos de ônix, que brilharam no mesmo tom da luz! Fascinado, ele se sentiu atraído o bastante para se atrever a um pedido:

- Esmeralda... Seria muito ousado de minha parte pedir que dance para mim?

- Dançar?

- Sim. Por favor.

Ela sorriu e se levantou: nunca tivera problemas em dançar, e não seria agora que passaria a ter. Fitou a Lua nos céus, sua mãe, amiga e irmã, e começou a cantar sem pretensão alguma – sem perceber o efeito inebriante que sua voz despretensiosa e magnífica tinha sobre o amante das artes:

- Vivre (viver)

Pour celui qu'on aime (para aquele a quem se ama)

Aimer (amar)

Plus que l'amour meme (mais que o próprio amor)

Donner (doar)

Sans rien attendre en retour (sem nada esperar em troca) – seus quadris se moviam no ritmo da música, os pés pequenos batendo no chão, os braços morenos executando volteios e ondulações no ar em movimentos graciosos. Em dado momento ela parou por alguns instantes, e fitou Aaron fixamente, com um sorriso enigmático:

 

Libre (livre)

De choisir sa vie (para escolher sua vida)

Sans un anathème (sem maldição)

Sans un interdit (sem proibição)

 

Libre (livre)

Sans dieu ni patrie (sem deus nem pátria)

Avec pour seul baptême (tendo por único batismo)

Celui de l'eau de pluie (apenas a água da chuva) – aquelas palavras, que antes teriam horrorizado Aaron como blasfêmias, agora o faziam enxergar Esmeralda em todos os seus aspectos: sem deus nem pátria... Ela não tinha lugar, não pertencia a nada, e tampouco alguma religião poderia ditar seus atos. Sim, ela tinha fé. Fé, não religião. E por isso mesmo não possuía peias, nem coisa alguma a temer. E tal liberdade se refletia nos singelos movimentos de seu corpo, tão liberto quanto a alma de andorinha!

- Vivre  (viver)

Pour celui qu'on aime (para aquele a quem se ama)

Aimer (amar)

Plus que l'amour même (mais que o próprio amor)

Donner (doar)

Sans rien attendre en retour (sem nada esperar em troca)

 

Ela parou e foi até Aaron; não dançava mais, mas sua voz se manteve inalterada ao cantar, pousando a mão em seu peito:

 

- Ces deux mondes qui nous séparent (esses dois mundos que nos separam)

Un jour seront-ils réunis (um dia se reunirão)

Oh ! je voudrais tell'ment y croire (ah, eu queria verdadeiramente crer nisso)

Même s'il me faut donner ma vie (mesmo se tivesse que dar minha vida)

Donner ma vie (dar minha vida)

Pour changer l'histoire (para mudar a história!) – apenas as palavras dela foram capazes de despertar uma intensa dor no homem: perder Esmeralda? Não! Ele jamais poderia aceitar a ideia de sua preciosa musa morta... Sem ela, que sentido haveria na vida? No mundo? Não, ele não conseguia conceber tal ideia, por ser mais dolorosa e desesperadora do que era possível suportar. Em que momento aquela menina de tez morena e olhos vivos havia se tornado tão importante em sua vida?

 

- Vivre (viver)

Pour celui qu'on aime (para aquele a quem se ama)

Aimer (amar)

Plus que l'amour même (mais que o próprio amor)

Donner (doar)

Sans rien attendre en retour (sem nada esperar em troca)

 

Aimer (amar)

Comme la nuit aime le jour (como a noite ama o dia)

Aimer (amar)

Jusqu'à en mourir d'amour (ate morrer de amor)

Jusqu'à en mourir d'amour (até morrer de amor).

 

O canto mavioso morreu em uma nota final, e o silêncio que se seguiu trouxe Aaron de volta à terra, arrancando-o dos mundos de música e magia a que se alçara com aquela voz delicada e potente a um só tempo. Fascinado, ergueu as mãos para acariciar o rosto de Esmeralda, mas as manteve paralisadas no ar, como se temesse que tocá-la pudesse quebrar o encanto que mantinha tal fada naquele mundo. Foi só quando ela segurou suas mãos e as trouxe contra o próprio rosto que ele balbuciou, a voz embargada de emoção:

- Meu anjo... Minha musa... – e firmando a voz vacilante – Anjo da Música!

- Anjo da Música? – perguntou ela, com divertimento na voz – gostei. Mas não creio que seja tão boa assim!

- É ainda melhor. – sussurrou ele, beijando a tez macia da garota; de um estalo, enfim compreendeu aquilo que tanto o intrigara: fora ao ouvir Esmeralda cantar que se apaixonara por ela! Fora a voz maravilhosa que o atraíra até a jovem que orava a Notre-Dame, que o levara  fitar aqueles olhos que, com sua pureza, mistério e intensidade, haviam terminado de capturar o pouco de sua alma que a voz não pudera... E quando ele a vira dançar e cantar, dias depois, sua sina fora definitivamente selada. Voz e olhos o haviam rendido completamente, e agora ele pertencia á cigana! – Tão gentil, mas ao mesmo tempo forte... Linda, e de mente afiada... Corajosa como ninguém que eu já tenha conhecido. Às vezes penso estar num belo sonho, do qual você é parte, e receio acordar de manhã para descobrir que não era real.

Ela apenas sorriu e puxou a mão de Aaron, segurando-a entre as suas: acariciou a palma calejada pelas cordas dos sinos, sentindo cada nó, cada detalhe, as linhas profundas e marcantes, e sussurrou:

- Gostaria de saber o que sua mão conta sobre você... Se tivéssemos alguma luz.

- Lê mãos, também? – perguntou ele, divertido. – Imagino se há algo que você não faça.

- Mais coisas do que consigo numerar – sorriu a cigana, e então uma ideia lhe ocorreu: o horizonte tingia-se de azul-claro com o prenúncio da alvorada, e isso significava que logo os subúrbios começariam a fervilhar de vida. E àquela hora, havia alguém que já estaria desperta, certamente... Alguém a quem poderia apresentar Aaron sem medo ou culpa! – Venha comigo. Tem alguém a quem gostaria de apresenta-lo!

- Quem?

- Vamos dizer apenas que ela é capaz de dizer nosso passado, presente e futuro próximo com muita precisão! – respondeu a cigana – se quiser saber o que o destino pode ter reservado para nós, é claro.

- Não acredito em profecias e visões, Esmeralda. – respondeu ele, do modo mais gentil que podia.

- Então, venha comigo e encare isso apenas como uma diversão – pediu ela – Leoni é minha amiga mais fiel, e queria muito apresenta-lo a ela!

Com um suspiro resignado, ele aceitou e deixou-se conduzir pelas ruas labirínticas dos subúrbios até a casa daquela que Esmeralda dissera chamar-se Leoni. Afinal, o que poderia haver de mal em conhecer uma amiga da cigana? Quaisquer previsões que ela fizesse não passariam de suposições e palpites genéricos que, exatamente por serem tão vagos, passar-se-iam por corretos a qualquer pessoa crédula.

Ele não imaginava o quão errado estava.

 

POV Esmeralda

 

Meu coração ia aos pulos enquanto guiava Aaron pelas ruas que tão bem conhecia; meu Deus, estava levando o homem a quem amava para conhecer Leoni, que não era apenas minha amiga, mas minha conselheira! Aos vinte e um anos, era a melhor de nós na arte de ler as mãos e as cartas, capaz de descobrir a vida inteira de alguém em uma única leitura. Apesar do ceticismo de Aaron, eu ia pedir a ela que visse nosso destino – parecia estranho que um outrora inquisidor fosse cético, uma vez que vivera de arrancar confissões acerca de feitiçaria e coisas similares... Pensando bem, talvez fosse exatamente o que o tornara cético: arrancar tantas confissões de coisas mirabolantes à custa de tortura.

E mesmo duvidando, ele me acompanhou, com Djali pulando em nossos calcanhares. Chegamos à casa de Leoni – uma habitação de três andares, da qual o primeiro servia de lar a minha amiga, seu esposo e o filho pequeno, Nikolai – e tomei a liberdade de entrar pelo corredor lateral estreito, oculto da rua por um cobertor surrado, e bati à porta, sabendo que minha amiga acordava bem antes da aurora que tingia o horizonte. Ela atendeu depressa, linda com seus cabelos castanhos presos em trança lateral, pele moreno-clara – bem mais clara que a minha – e olhos castanhos esgazeados que possuíam um brilho inteligente e vivo; era alta e costumava chamar-me de formiguinha.  Ao me ver, abriu um sorriso enorme e abriu os braços, envolvendo-me pelos ombros:

- Esmeralda! Fazia semanas! Achei que Clopin nunca mais a libertaria de sua vigilância!

- Acredite, ele não queria me libertar. – afastei-me rindo de minha amiga, e recuei até Aaron – Mas tem alguém a quem quero lhe apresentar, minha amiga.

Ela me fitou com assombro, e sei que percebeu logo de cara de quem se tratava aquele homem. Mas maior do que sua sagacidade, apenas sua discrição, de modo que sorriu e estendeu a mão a meu mascarado, que lhe beijou os dedos com extrema cortesia; com um sorriso, Leoni nos convidou a entrar.

- Bem vindo, Aaron – saudou ela, e ante a perplexidade dele – oras, Esmeralda já me falou de você, não se sinta tão impressionado. – Adentramos a casa, chegando a um aposento amplo que servia de sala e cozinha à morada. O quarto era separado por uma parede simples de tábuas velhas, mas ainda assim era um cômodo separado, um luxo raro naquela região. Um menino de cabelos claros e olhos escuros curiosos deixou o quarto e entrou correndo na sala, ao que minha amiga ralhou – Nikolai, eu mandei você ficar na cama! Sabe que não deve levantar antes do alvorecer! – o motivo da proibição era bem simples: era nas horas sem luz que Leoni lia as mãos e as cartas para seus “clientes”, e nosso povo era bem claro quanto a ser essa uma atribuição feminina, dos quais homens e meninos não deviam participar, senão dentro do seio de sua família. Jamais perante estranhos. Assim que o menino retornou para seu quarto com gritinhos de protesto, minha amiga se voltou para nós – desculpem, Nikolai acabou de fazer dois anos, ainda não é muito disciplinado.

- Ele é um amor – respondi, enquanto Aaron apenas esboçou um sorriso de canto de lábios.

- Então... Você é o famoso Aaron – eu me senti corar ante a entonação de Leoni – Fico satisfeita em conhece-lo, Monsieur, e ver que apesar do sangue em suas mãos, o senhor é um homem decente. Esmeralda merece apenas o melhor das pessoas, embora nem sempre seja o que recebe.

- Concordo plenamente com Madame – respondeu ele, sério, visivelmente constrangido por seu passado. No momento seguinte, porém, minha agitada amiga se manifestou ao mudar o rumo da incipiente conversa:

 – Esmeralda, quero que se sente comigo. Tive um sonho perturbador com você, e preciso ler sua sorte!

- Era exatamente o que eu gostaria que você fizesse, minha amiga – respondi, e puxei Aaron pela mão, sentindo seu desconforto – mas para nós dois, por favor. Queremos saber o que o destino guarda, para nós!

Ela encarou meu amado examinando-o de cima a baixo, como se seu olhar pudesse atravessar sua pele: às vezes parecia que a mulher podia ver a própria alma das pessoas! Com seus costumeiros modos enigmáticos, que faziam parte do show para atrair clientela, foi até o baú onde guardava suas coisas e retirou de lá uma toalha vermelha, bordada, e um baralho. Veio até nós e nos fez sentar à mesa que ocupava boa parte do aposento, estendendo a toalha e pondo as cartas sobre o tampo:

- Sinta-se à vontade, Aaron. Alguém que faça Esmeralda feliz já tem minha consideração. – e terminando de arrumar as coisas - Geralmente não uso o tarot, mas o sonho que tive perturbou-me muito para ler apenas suas mãos. Então, vamos lá... – ela encarou Aaron – Não preciso de cartas para dizer seu passado, Monsieur: seus olhos dizem tudo. Não é magia. É apenas observação. Quem tem olhos para ver e ouvidos para ouvir consegue perceber os pequenos sinais que contam a história de uma pessoa. – foi até ele e pegou suas mãos – calos nas palmas. Pela disposição deles, ou é um trabalhador braçal, ou tocava os sinos da Catedral. Sua máscara revela sua identidade, é claro, assim como seus olhos. E seus sentimentos estão estampados no modo como se porta, reservado e desconfortável na presença de uma estranha. Uma vez que não parece temer os ciganos e suas pretensas feitiçarias... – ela acendeu a vela sobre a mesa, e se sentou de frente para nós – seu passado não é difícil de desvendar, mas seu presente e futuro próximo são um livro a ser aberto, se desejar.

- Senhorita, aqui estou por causa de Esmeralda. É um prazer conhece-la, mas, com todo o respeito, não dou muito crédito a visões e profecias.

- Oras, mas que cavalheiro educado! Não estou acostumada a falarem comigo de modo tão polido! – provocou ela, envolvendo os cabelos num xale azul - Pois bem... Deixe-me tirar as cartas para o senhor, Monsieur, mesmo que não creia nelas, e então tirarei para esta menina, que geralmente me oferece as leituras mais complexas possíveis! – e assim dizendo, ela tomou de seu baralho.

As leituras de Leoni chegavam a ser assustadoras: ela passava minutos em silêncio, fitando a chama da vela antes de embaralhar suas cartas e as dispor diante do consulente, em cruz, como fez com Aaron. Seus olhos pareciam levemente desfocados, e sua voz parecia vir de outro mundo quando, virando a primeira carta, falou:

– o Cavaleiro de Copas... É o senhor mesmo, Monsieur. – virou as outras cartas: o Imperador, a Torre, a Rainha de Copas, os Enamorados. – bem, Aaron... Você vive uma crise em sua vida... Uma ruptura com aquele que o criou, a destruição de certezas e dogmas que lhe pareciam imutáveis... – ela estava definitivamente em transe – você perdeu coisas importantes em sua vida, viveu enormes decepções, e foi atraiçoado. Uma turbulência, em cujo fim está um belo arco-íris: esta moça, diante de você. Sua companheira, a mulher que você ama, e que retribui o sentimento. Ela surge em sua leitura como a carta gêmea da sua, o que mostra uma ligação forte entre ambos; e a carta dos Enamorados apenas confirma o elo nascido. Mas cuidado: o homem representado pelo Imperador ameaça este relacionamento... Ameaça a Rainha de Copas! Tome cuidado, ou o Imperador destruirá a felicidade de ambos... Ele quer destruir sua dama, seu amor. Ele deseja retornar ao que era antes, reerguer a torre que o destino destruiu. Tome cuidado, ou perderá a felicidade que só começou a conquistar. – vi o rosto de Aaron ficar tão pálido que tinha quase a mesma cor de sua máscara! Para um cético, ele fora atingido em cheio pela leitura de Leoni!

Sua mão buscou a minha com ansiedade, e apertou meus dedos entre os seus de modo quase doloroso, como se quisesse se certificar de que eu estava ali e não desapareceria. Confesso que também estava preocupada com a leitura, pois A Torre nunca prenunciava coisas boas, mas não via motivos para grande alarme. Alguém querer matar uma cigana, como dissera a Aaron, não era uma novidade.

Entretanto, Leoni recolheu as cartas e voltou-se para mim, e a intensidade de seu olhar já revirou meu coração, fazendo-o disparar no peito... Ainda em transe, dispôs as cartas para mim, mas não em cruz, e sim num círculo de sete unidades... E à medida que as foi virando, meu peito se apertou mais e mais, e agora devia ser eu quem estava tão branca quanto a máscara de Aaron: a rainha de copas – ou seja, eu – o Cavaleiro de Espadas, o Sacerdote e o Cavaleiro de Copas... A Torre, O Diabo e A Morte! Congelei no lugar, sem precisar que minha amiga me dissesse o que via... Aquela tríade final era o pior presságio que podia existir em uma leitura!!! E também o rosto dela estava retorcido em horror, ao avisar:

- Você está em perigo, Esmeralda. Um enorme e terrível perigo! – seus olhos estavam desfocados, perdidos na chama da vela – Três homens voltaram seu olhar para você: um deles a ama de modo verdadeiro e sincero, e por você daria a própria alma ao Inferno. Mas os outros... Luxúria, orgulho, ódio... Você é o objeto que desejam, a vitória que almejam, e nada além disso... Desses dois, um é pouco poderoso, e tentará feri-la pela força, por ser sua única arma. Mas o outro... O Sacerdote é um homem poderoso, e muito perigoso; mas não é tudo! Ele está louco. Fará de tudo não apenas para tê-la: fará o impossível para destruí-la, e a seu Cavaleiro de Copas. Ele a odeia por sua simples existência, mas não se contenta em mata-la: irá possuí-la, consumi-la completamente, arrancar de você cada gota refinada de dor e desespero até reduzi-la a nada... Até que a morte pareça a você o destino mais suave possível. Destruirá sua alma, sua mente e seu coração, antes de dar fim a seu corpo... Na mente dele, você padece dos piores males, das piores torturas, até implorar pela morte. E se não for cuidadosa, ele obterá êxito naquilo que almeja.

- O que devo fazer?! – se antes eu fazia pouco da ameaça de Frollo, aquela leitura acabara com minha displicência. Aquelas cartas não saíam para alguém, a menos que forças extremamente sombrias e destinos terríveis ameaçassem os consulentes! Bem, agora eu realmente estava com medo, e me sobressaltei quando senti a mão de Aaron em meu ombro; ele sentiu meu tremor, e aproximou sua cadeira da minha, de modo a me abraçar. Leoni tinha os olhos fechados e se recuperava de suas visões, e não havia parte de mim que não estivesse acometida de um frio inexplicável, que tinha origem no puro medo. E quando a outra cigana finalmente abriu seus olhos, creio que nós dois devíamos parecer dois cadáveres, pois ela logo se manifestou:

- Estão horríveis! – e se levantou, vindo até mim – não me lembro de tudo o que disse, Esme... O que houve?

Mesmo confuso, Aaron repetiu o que havíamos ouvido, sem entender por que ela não se lembrava. Ah, depois eu teria de explicar a ele como funcionava a vidência, mas no momento não conseguia falar direito. Céus, por que Frollo voltara tal ódio para mim?! Morrer era algo que eu podia aceitar sem medo... Mas aquele ódio gratuito... Que motivos poderia ter para querer  minha total destruição?! Acho que, se tentasse, não conseguiria me levantar sozinha, e foi uma bênção ter o braço de Aaron ao meu redor, quando tentei.

- Esmeralda... – lamentou Leonie, segurando minhas mãos – Não se exponha. Não fique ao alcance deste homem, quem quer que ele seja, ou a morte será seu destino. – ela encarou meu mascarado – Aaron é um bom homem, e vocês têm um destino juntos. Confie nele, fique próxima a seu Cavaleiro de Copas, e tudo correrá bem. Mas não se arrisque, minha amiga, por favor!

- Prometo que não o farei, Li. – jurei, realmente decidida a não me expor; afinal, ser presa, violada, torturada até a morte não fazia parte de meus planos... – obrigada por fazer essa leitura. Eu sei o quanto odeia usar de verdade a vidência...

- Eu sabia que era preciso. E agora sabemos de onde vem o perigo. Agradeça-me ficando a salvo! – e para Aaron – mantenha-a segura, mascarado. Por favor, mantenha-a segura! Perto de você ela estará a salvo, mas não sei em que outro lugar isto seria uma verdade. Por favor, não deixe que ela seja ferida!

- Juro por minha vida que cuidarei de Esmeralda, senhora. Ela é minha amada, a mulher que quero ao meu lado pelo resto de meus dias – meu coração disparou ao ouvir aquelas palavras, e de repente uma imagem formou-se em minha cabeça: Aaron e eu, juntos, em meu carroção restaurado, tendo uma menina pequena ao nosso lado e um bebê em meus braços... Poderia haver um futuro para nós? Um futuro juntos? Isso era algo com o qual eu ainda não havia ousado sonhar, mas as palavras dele, subitamente, despertaram-me a noção de que existiria um amanhã. E eu queria muito que Aaron fosse o meu amanhã... Mas para isso, primeiro precisava me livrar da hostilidade de Claudius Frollo...

Ante o dia que raiava, despedimo-nos de Leoni com a promessa de retornarmos – juntos, é claro – em dia mais propício. E naquela manhã não houve palavras que demovessem meu amado, que me conduziu até as portas de Paris, mesmo que isso pusesse em risco sua integridade física.

Despedimo-nos com um beijo, e corri para cruzar os portões antes que alguém me interceptasse; mas a sorte não devia estar ao meu lado, pois mal meus pés adentraram o círculo que nossas tendas e carroças descreviam, surgiu ao meu lado a última pessoa que eu queria ver: Clopin. Pensei que me faria um sermão, mas seu semblante era grave, angustiado mesmo! Sem sequer esperar que eu me refizesse ou dissesse algo, disparou:

- Esmeralda, precisamos conversar.


Notas Finais


Geeeente, a coisa ficou feia para o lado de Esmeralda e Aaron! E para quem estava tão cético, ele até que aceitou rapidinho os acertos da cigana, não é? (afinal, melhor prevenir do que remediar, quando tem um homem doido atrás da pessoa que você ama). Mas agora, Clopin pegou a menina para uma conversa séria, e o que pode advir disso?!
Deixem reviews, mis amores!
Optchá!


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