História Bem-vindo ao meu delírio - Bem-vindo ao meu delírio 2

```A dor da solidão```

Sozinha.... Em um lugar escuro.

Sentia as lágrimas sendo derramadas, escorrendo por seu rosto... As secava com rapidez. Se vissem, a chamariam de fraca. Ela era fraca, mas não queria que soubessem.

"Gotta stay high all the time to keep you off my mind"

"Tenho que ficar bêbada o tempo todo para te tirar da minha mente"

Nunca foi de beber... Ela não sabia extremamente se estava tentando tirar alguém da mente. Era, na verdade, algo...

O vazio... Era doloroso sentir o vazio...

Era chamada de dramática. Era chamada de carente... Pois sempre queria alguém para preencher o vazio...

- Eu quero morrer... - Disse a si mesma.

Doía tanto... Não se sentir amada pelas pessoas ao seu redor. Não sentir que tinha amigos. Sentir que tudo de ruim era sua culpa... Sentir os olhos se encherem de lágrimas e ter de controlá-las todas as noites...

Ela tinha pessoas que a amavam... Sabia disso. Mas as pessoas que fingiam a amar lhe machucaram tanto... Queria ter se tornado uma pessoa fria, porém não conseguiu.

Como doía... Sentir que não tinha um ombro amigo... Se sentir usada pelos outros... Sentir seu mundo cair, como se tivessem puxado do tapete debaixo de seus pés.

O vazio. Era imperecível... Nunca o teve preenchido. Nunca tinha amigos o bastante... Nunca era boa o bastante.

Dolorido...

Tudo lhe machuva. Era sensível e fria.

Quem diria que debaixo da expressão rígida, feliz, dos cabelos escuros e óculos de armação pesada havia uma mistura de alegria, tristeza, raiva, loucura, depressão...

Ninguém imaginava...

Nós temos a mania de almejar a vida do outro. O outro sofre como nós.

Se a dor não é sua, não chame de drama... A dor alheia é irreconhecível. Inimaginável.

Faz um tempo já. Ela era cheia de inspiração. Criava histórias, rimas, versos... Até mesmo frases. Estava sem vida... Algo havia mudado. Onde havia parado aquela menina cheia de amor? Cheia de sentimentos?

Não sentia nada. Era literalmente preenchida pelo vazio.

Ultimamente era indiferente. Isso doía tanto... Chorava, mas não por tristeza. Chorava para preencher o vazio com as lágrimas. Fazia muito tempo que não chorava... Mas as vezes queria lavar a alma.

Estava mais fria ultimamente. Aprendeu, recentemente, que deveria colocar seus sentimentos acima dos de outros.

Era estranho... Sentia tanta falta daqueles que amava... A melhor amiga fazia falta sempre. Era difícil sem alguém com que podia deitar no colo e chorar quando precisava...

Estava mais determinada do que nunca a ser perfeita. Pobre garotinha... Se soubesse que ninguém pode ser perfeito.

A poucos dias havia encontrado um antigo esconderijo de suas lâminas. Olhou para o lugar, agora vazio. Em primeiro pensou: "Se eu tivesse pelo menos uma..." mas logo se recriminou. Não machucou só a si mesma quando se cortou. Afetou aqueles a seu redor... Não queria isso.

Queria sorrir normalmente, bem... Fazia isso. Mas não sentia que era verdadeiro... Havia tempo que não sentia a verdadeira felicidade.

Ninguém precisava saber... Mas queria poder gritar sua dor bem alto...

Declarar-se um ser meramente infeliz... Mas era muito insano fazer isso.

Bem... Se sentia insana mesmo. Não conseguir notar seus sentimentos era algo a levar alguém como ela a loucura.

"Como assim alguém como ela?"

Alguém com uma mente desnorteada. Que notava qualquer alteração em si mesma. Alguém tão... Lúcida.

Se sentir sã era raridade ultimamente.

Parecia que seu corpo estava em modo automático. Seguia a rotina... Sem se importar muito.

A vontade de chorar e a força para segurar cada uma das lágrimas... Era totalmente incomum. Mas era o que acontecia.

Se sentia assustadoramente gorda. Não era gorda. Mas havia ganhado alguns quilos... Isso a fazia querer ser mais perfeita. Só que, ainda insensivelmente, ela se arrumava. Somente para ser deixada em paz em público.

"Deveria usar mais maquiagem..."

Esse tipo de comentário a incomodava. Mas ouvir isso a fazia sentir viva... Pois ficava triste. Parece sem lógica e louco, mas ela procurava cada vez mais se sentir humana. Era estranho alguém tão sensível quanto ela simplesmente ficar fria... Queria ser fria o bastante para não se importar.

Mas o vazio lhe causou insensibilidade. Não o bastante para não doer.

A falta de pessoas que se importassem lhe fez ficar razoavelmente fria. Não o bastante para não doer.

Não se importava com quase nada...

Naquela noite fria...

Sozinha. No escuro... Naquele silêncio assustador...

Lágrimas silenciosas.

Finalmente, se entregou a elas. Deixou que todas descessem. Abafando o barulho com o travesseiro. Novamente, como eu já disse, sentia as lágrimas sendo derramadas, escorrendo por seu rosto. Mas não as secou... Deixou que todas se fossem para que pudesse se sentir mais livre no outro dia...

Era isso que precisava.

Não precisava que ninguém a fizesse rir.

Não precisava que ninguém a fizesse se sentir bonita, muito menos ela mesma.

Tinha que deixar os sentimentos aflorarem novamente.

- Não posso desistir...

Sussurrou para si mesma, derramando mais lágrimas ainda. Finalmente, se sentia mais humana. Se sentia mais... Viva.

E não ia desistir...

- Não quero morrer... Não vou desistir enquanto ainda estou alcançando...

Sussurrou mais uma vez...

Sua respiração estava ofegante... Sua cabeça doía. As lágrimas ainda não haviam parado.

No dia seguinte, acordou com a luz que vinha da janela em seu rosto, sentindo uma dor de cabeça fraca.

Pegou o celular pra ver as mensagens da noite anterior, a melhor amiga havia lhe dito que sentia sua falta...

Soltou um leve sorriso... Em seguida, deitou a cabeça no travesseiro novamente. Ficou encarando o teto com a luz um tanto incomoda em seu rosto...

A mesma que a incomodava refletia nos cachos escuros baguncados. Fechou os olhos castanho-claro lentamente e pensou:

"Aquele que nunca cometeu um erro, nunca tentou algo novo."

Einstein.

Ela ia errar. Mas tentaria coisas novas... Aprenderia com elas...