A princípio, olhei ao redor para ter certeza que a dona das palavras não estivesse se referindo a mim. Ela não sabia que eu era capaz de fazê-la engolir os próprios dentes.
Olhei de soslaio para Alexia que mantinha seu olhar direcionado para trás de mim. Cerrei meus punhos girando sobre meus calcanhares e olhei para trás.
Me deparei com um grupinho de garotas desajeitadas e visivelmente… Fodidas. Meu olhar pairou sobre a loira magricela estática na frente de todas as outras, ela me olhava com nojo e deduzi ser a cadela suprema de todas as outras cadelinhas.
— Espero que não tenha falado comigo, plastificada. — Murmurei baixo. — Aliás, estou em perfeita forma para se referir a mim dessa maneira.
— Não por muito tempo. — Alfinetou. — Você é muita baixa! Essas suas roupas são ridículas, e você não tem tanto corpo quanto eu.
— Nossa! — Coloco a mão sobre meu peito. — Me sinto ofendida por me comparar à uma tábua feito você. — Ri sarcasticamente, vendo sua cara se retorcer em uma careta de raiva.
— E esse cabelo vermelho, outra coisa ridícula. — Quem pediu a opinião dela? — Está desbotado e muito grande, começaremos com um corte exemplar. — Ela esticou seus dedos finos para tocar meu cabelo, segurei com força em seu pulso, forcei-a me encarar.
— Ninguém toca no meu cabelo. Aliás, meu cabelo não é rola para andar em mão de vadia.
— Me larga sua peste! — Ela deu um tranco tão forte em seu braço, que quase caiu em cima das outras garotas. — Se não quiser apanhar terá que me obedecer. Eu mando por aqui, estou aqui a mais tempo do que qualquer outra vadia.
— Apanhar? De você? Não me faça rir. — Gracejei. — Agora saia da minha frente antes que eu reboque sua cara de barbie e a transforme em uma boneca de plástico derretido. — Dei um passo em direção a porta mas elas entraram em minha frente. Essa garota está me tirando do sério.
— Somos três, e você, coitada, é só uma qualquer.
— Se eu fosse uma qualquer, seu chefe não teria perdido tantos homens só pra conseguir me capturar.— Alfinetei ao mesmo nível que o seu.
— Você vai ter o que merece! — Ela caminhou raivosa em minha direção mas Alexia entrou em minha frente. Alexia deveria saber que eu sei lidar muito bem com vadias escandalosas.
— Não Mindy! Não vale a pena. Sabe o que o Albert vai fazer com você se souber que tocou nela, não sabe? — Franzi meu cenho.
— Cale a boca Alexia, sua imprestável! Quer que eu te bata de novo? — Arqueei as sobrancelhas.
— E a finada Molly, bateu nela também? — Perguntei com um tom debochado.
— Você matou a Molly? — A tal Mindy questionou, a expressão surpresa.
— Em carne e osso! — Debochei novamente estendendo os braços. Nesse meio tempo que elas brigavam, eu abri as algemas.
— Agora eu vou te matar! — Ela gritou.
— Já falei que hoje não, Mindy! — Alexia se alterou.
Mindy a encarou e deferiu um belo tapa estalado no rosto da Alexia fazendo com que ela caísse no chão. Meu rosto ferveu de ódio, Alexia tentou me defender e apanhou. Pois agora, eu vou defendê-la.
— Não se meta sua hipócrita! Eu... — Mindy ainda gritava com Alexia no chão, tanto que nem me viu chegar.
Dei um soco de direita na bochecha de Mindy. Ela cambaleou e seu corpo despencou em cima de outra garota.
— Efeito dominó! Essa é a melhor forma de se brigar. — Ri sarcástica enquanto as outras garotas se preparavam para atacar.
Uma garota veio pra cima de mim com a expressão de deboche e a fim de me dar um tapa. Olhei em sua direção com deboche e chutei seu estômago, ela caiu no chão.
Mindy já estava de pé, ela voou em minha direção e me deu um tapa, cambaleei para trás. Caminhei até ela, porém, senti braços prenderem os meus atrás das costas. Me debati.
Mindy sorriu vitoriosa e se aproximou de mim. Ela deferiu o primeiro soco em meu estômago, gemi de dor. Essa vadia está pedindo para morrer.
Mindy se preparou para dar o segundo soco. Soltei o peso do meu corpo, fazendo com que a garota não me aguentasse e eu caísse no chão. Coloquei minhas mãos espalmadas no chão e virei minhas pernas, passando uma rasteira em Mindy e na outra garota, as duas despencaram feito sacos de batata.
Ergui meu olhar vendo que Alexia saía nos tapas e puxões no cabelo com uma das garotas.
Eu já estava cansada daquela palhaçada de brigar com garotas estúpidas. Elas querem marcar território para mostrar quem é a mais fodona? Pois eu irei mostrar a elas.
Alcancei uma tesoura pequena no canto da pia e me virei com a mesma em punhos. Meu alvo foi a garota que se levantava cambaleante, sorri e fui em sua direção.
Empurrei seu corpo contra a parede com força, seus osso estalaram e emitiram um som oco e intenso com o impacto de suas costas contra a parede. Espalmei minha mão contra seu rosto e penetrei a parte fina da tesoura contra seu pescoço.
Suas órbitas saltaram levemente para fora quando sua jugular começou a espirrar seu sangue para fora, jorrando gotículas em meu rosto e escorrendo por entre meus dedos. O som de gritos horrorizados uníssonos invadiram meus tímpanos.
Dei passos para trás, assistindo a cena da garota se afogando no próprio sangue e retirando a tesoura de dentro do próprio pescoço.
— Espero que sirva de lição a vocês.
Me virei para as garotas vendo algumas delas com lágrimas nos olhos e outros completamente perplexas, Alexia estava inclusa no meio delas.
No mesmo instante, Albert acompanhado de dois de seus homens atravessaram a porta. O homem de jaqueta camuflada segurou nos braços o corpo enrijecido da garota com os olhos e revirados e o sangue ainda escorrendo, pressionou os dedos contra a ferida, tentando estancar o sangue.
Albert me olhou feio e eu sustentei o olhar com desdém. O outro homem puxou-me pelo braço com brutalidade para a saída.
— Voltem para seus quartos. — Albert ordenou antes de nos seguir.
Sorri psicoticamente para as garotas encolhidas no canto antes que as paredes no separassem.
Fui arrastada até o fim de um dos corredores e atirada brutalmente contra um quartinho escuro, frio e minúsculo. Trinquei meu maxilar ao sentir meus joelhos ralarem no chão.
— O que pensa que está fazendo!? Está aqui para me servir, não para me causar prejuízos.
— Tudo tem suas consequências. — Resmunguei friamente, lançando meu olhar em sua direção.
— Sete pessoas morreram para pegar você! — Vociferou.
Uma solene batida na porta atrapalhou a conversa, Albert girou sobre os calcanhares e abriu a porta. Um de seus homens do outro lado, com as mãos ensanguentadas, meneou a cabeça em negação, Albert fechou os olhos e coçou as têmporas fechando a porta.
— Oito… — Complementou.
Albert caminhou em minha direção e me puxou pelo braço. Continuei estática com a expressão debochada.
— Vai ficar aqui e pensar no que fez.
Ele me atirou no chão, saiu e fechou a porta atrás de si. Permaneci estática no chão com os olhos grudados no teto, aos poucos se perdendo na escuridão daquele quartinho.
————✴———•❄•———✴————
Fechei meus olhos adaptados à escuridão no momento em que a porta foi aberta e um clarão iluminou meu rosto. Alguns segundos depois ela foi fechada novamente, me transparecendo segurança para tornar a abrí-los.
Alexia estava encostada do outro lado do quartinho. Ela evitava olhar para mim, e empurrou uma bandeja com um sanduíche em minha direção com o pé, arqueei as sobrancelhas.
— Você é o meu jantar, Alexia?
Debochei, pegando o prato sobre a bandeja com o sanduíche e o atirando longe, o som do prato se quebrando assustou Alexia, que se remoeu mais ainda contra a parede.
— Não precisa fazer nada demais, eu já vou sair. — Disse com os lábios trêmulos.
— Está com medo, Alexia?
— Matou uma de nós.
— Uma de vocês, só se for. — Revirei meus olhos.
— Regra básica da sobrevivência hoje em dia. Ou você é a assassina, ou a presa. Eu não tive muitas opções.
— Elas só bateram em você, não precisava matá-la.
— Não interessa! — Alterei meu tom de voz, tornando a me encostar na parede. — Não permito que ninguém encoste em mim.
— Uma hora ou outra você será do Albert. — Murmurou.
— Isso não vai acontecer, nunca.
— Você é um monstro. — Murmurou com a voz embargada.
— Você será a próxima a parar de sofrer se continuar a falar assim comigo. — Sorri para ela.
— Não pode me matar sem uma arma.
— Tenho minhas mãos, elas são bem úteis.
— Não poderá sair daqui se eu estiver morta, não irá conseguir sem minha ajuda.
— Com sua ajuda ou não, eu vou sair desse inferno.
— Eles te matarão. — Alexia gira o pescoço. — Não vão hesitar.
Observo as marcas roxas nas pernas e braços de Alexia devido aquela briga toda. Uma das alças de seu sutiã exposto estava arrebentado. Como podiam obrigá-la a usar apenas isso?
— Pelo menos, morrerei tentando.
— Isso não faz sentido. — Balbucia.
— Nada faz sentido. — Resmungo.
— Prefere ficar lá fora com os andarilhos? Uma distração e você é devorada viva.
— Os monstros não são eles, e sim os que estão aqui dentro. Já passou da hora de saber a diferença, Alexia.
— Isso também não faz sentido. — Suspiro.
— Se conhecesse o mundo saberia do que estou falando, conheci pessoas piores do que as desse lugar. Alexia pondera com minhas palavras mordiscando o lábio inferior.
— Posso te fazer uma pergunta?
— Não.
— O que houve com seus pais? — Sou pega de surpresa, me remexo desconfortavelmente.
— Não te interessa. — Digo ríspida.
— Eles foram mortos, certo? Minha mãe também e provavelmente meu pai.
— Não sabe o que aconteceu comigo. — Tento encerrar o assunto.
— Não precisa ter medo, todos os nossos pais…
— Pare de falar nos meus pais! — Grito subitamente e Alexia se assusta. — Vá embora!
O meu grito é o suficiente para assustá-la e colocá-la de pé para se retirar do quartinho. Não sustentei seu olhar preso a mim e ela suspirou.
— Seus pais te amavam, Ariana. Ainda amam.
— Mentirosa. — Balbuciei ao ouvir a porta se fechar.
Eu estava sozinha novamente. Alexia estava sozinha com suas palavras, pois eu não iria trazer á tona meus pais em minha mente, não vale a pena.
Preciso cumpri minha promessa. Preciso lutar e sobreviver, ninguém nunca pode me machucar ou me fazer mal. Eu sempre dou a volta por cima e me livro de todo estorvo que estiver em meu caminho. Eu sobrevivo, e é assim que continuará.
Fugirei desse inferno. E a todos que criaram ele, viverão, comerão e morrerão nele.
Vou matar, machucar e apedrejar todos os malditos que entrarem no meu caminho.
E não vou me envolver com ninguém, nunca mais.
Nunca.
Continua...
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.