POV CAMILA
Me permiti aprofundar o beijo, eu precisava sentir seu gosto, precisava me render nem que fosse só por aquele momento. E foi o que eu fiz, explorei cada canto de sua boca, sua língua enroscada na minha, um arrepio correndo pelo meu corpo, sua mão descendo e subindo pela minha cintura. Como um raio me afastei de Lauren, sentindo minha respiração ofegante.
- Desculpa, Camz. Eu não quis... - A interrompi.
- Laur, não precisa se desculpar, vamos deixar acontecer.
Lauren não me disse nada apenas assentiu com a cabeça. Deite na cama me sentindo um pouco fraca por conta da febre. Lauren ficou sentada ao meu lado acariciando o meu cabelo. Fechei os olhos ao senti-los pesados, a carícia de Lauren era tão intensa que podia sentir o sono chegando.
[...]
Acordei com um barulho infernal que eu já não escutava a alguns meses, meu celular despertava indicando que era a hora de acordar para ir ao colégio. Abri os olhos com um pouco de dificuldade e senti um frio arrepiar o meu corpo, olhei lentamente para o lado vazio da cama. Estranhei o fato de Lauren não estar ali, mas minha dúvida logo foi embora quando a morena saiu já pronta do banheiro. Ela estava linda como sempre, usava uma calça jeans branca com varias partes rasgadas, das coxas até as pernas, uma camisa preta curta, deixando parte de sua barriga de fora e seus inseparáveis coturnos preto desamarrados.
- Eu peguei uma roupa sua, espero que se não incomode. É que já usei essa roupa no colégio ontem. - Lauren me mostrava as roupas que estavam em suas mãos. - Ai, sei lá, né? Vai que alguém vê. - Ela fez uma careta linda.
- Não tem problema. Vou só tomar um banho rápido e nós vamos juntas ao colégio. - Tentei me levantar, mas ela foi mais rápida que eu. Lauren me segurou pelos ombros e me fez deitar novamente.
- Nada disso. A senhora estava com febre ontem, hoje vai descansar. - Ela fez um carinho gostoso em meu rosto.
- Exatamente! Eu estava com febre ONTEM. - Dei ênfase no ontem. - Hoje eu já estou bem. - Lauren colocou a mão em minha testa.
- Você ainda está febril, por tanto ficará de repouso.
- Lauren... - Eu ia reclamar, mas ela não me deu chances.
- Nada de Lauren. Descanse e mais tarde venho ver se você está bem. Por mim, nem iria ao colégio, mas Clara está no meu pé. Então melhor eu não vacilar. - Lauren forçou um sorriso e veio em minha direção. - É... - Me encarou um pouco, meus olhos oscilavam de sua boca aos seus olhos. tentei fixar apenas nos verdes intensos. - Eu vou indo.
Lauren me deu um beijo na testa e caminhou até minha porta, para logo sair. Cruzei os braços e bufei tediosa, imaginando como meu dia seria tenso, já que eu não conseguiria dormir depois de ter despertado. Pelo menos eu ainda teria o trabalho e Lauren não estaria por perto para me impedir de ir.
[...]
POV LAUREN
Estávamos Verônica e eu sentadas em nosso banco principal do pátio do Colégio de Campos LA. Eu confesso que estava com saudades daqueles momentos com Vero e o pessoal, mas a minha saudade por Camila era maior e eu não via a hora daquele intervalo acabar e das aulas também, estava louca para sair correndo para a casa da morena e ver como ela estava. Camila e eu não tínhamos voltado, digamos que estávamos apenas nos dando bem.
- Senti sua falta, sabia? - Verônica me fez despertar de meus pensamentos.
- Também senti sua falta, falta do colégio. - Mordi um pedaço de meu hotdog.
Meu celular soltou um bipe e logo em seguida começou a tremer em meu bolso. O retirei rapidamente pensando na possibilidade de ser Camila, mas não era, era uma nova mensagem no whatsapp com o número restrito, meu corpo rapidamente gelou e meu coração começou a saltitar. O fato de Gregg estar solto e eu receber uma mensagem de um número restrito me deixava horrorizada, não por medo do que ele poderia fazer comigo, mas sim do que poderia fazer com Camz. Viver brigada com Camila já me deixava mal, imaginar que "A" ou Gregg sei la, poderia piorar nossa situação me deixava apavorada.
Abri o aplicativo, mordi meu lábio com força criando coragem, senti o gosto ruim de sangue em minha boca, por conta da mordida no lábio, senti um olhar em cima de mim, provavelmente de Verônica sem entender o que estava acontecendo. Entrei na mensagem.
"A gata sai e a rata faz a festa. O que a ratinha deve estar fazendo enquanto a gata está estudando? Xoxo. - A"
Encarei Verônica séria que devolvia o olhar em preocupação, ela passou a mão em meu braço em uma carícia leve, fechei os olhos soltando todo o ar preso em meu pulmão.
- Ei, Laur. Está tudo bem? Aconteceu alguma coisa? - Verônica me olhava com carinho, soltei novamente um suspiro e tentei segurar a raiva.
- Olha. - Passei meu celular para ela. Verônica pegou o celular e analisou a mensagem por alguns segundos.
- Isso com certeza deve ser mentira, Laur. - Verônica me devolveu o celular.
- E se não for? - A olhei com um olhar triste. - Esquece eu preciso confirma nela. Eu prometi.
- Se tem tanta dúvida, por que não liga? Você vai ver que isso é apenas alguém querendo atrapalhar vocês!
- Você tem razão. vou fazer isso.
Peguei o celular e digitei o único número que eu havia decorado, nem o da minha casa eu sabia de cabeça. Chamou... Chamou... e caiu na caixa postal. Olhei para Verônica que devolvia o olhar de curiosidade.
- Caixa postal. Deve estar dormindo. Vou ligar para Sinu.
Verônica apenas assentiu com a cabeça. Dessa vez procurei pelo número residencial de Camila em minha agenda telefônica. Selecionei o número e mandei chamar. Não demorou muito para Sinu atender a ligação.
- Alô?
- Bom dia, Sinu. É a Lauren. Como está Camila? - Perguntei ainda olhando para Verônica que retribuía a olhar.
- Está melhor, meu anjo. Foi até para o trabalho.
- Mas, Sinu, ela estava febril, precisava descansar. - Abaixei o olhar, fitando o chão.
- Não se preocupe, eu a levei até o trabalho e irei buscá-la. Mila está melhor, não pode ficar trancada dentro de casa.
- Deixe que eu a busque. - Ordenei.
POV CAMILA
- Pelo amor de Deus. Depois de tudo que você me fez ainda acha mesmo que podemos ser amigos?
Estávamos em um conversa sem futuro a quase meia hora. O que estava me irritando, pois havia perdido todo meu horário de lanche para nada. Para um diálogo com alguém que eu não queria ver nem pitado de ouro.
Eu estava indo lanchar, caminhava pelo estacionamento pensando em comprar um achocolatado, já que na cantina da Warner estava sem. Uma figura vestida em uma calça jeans escura e um casaco de moletom branco me encarava desde a hora que passei pela porta, eu conhecia aquela silhueta de algum lugar, mas só fui me dar conta de quem era quando eu estava bem próxima. Era ele. E a única coisa que eu me perguntava era como ela havia conseguido entrar na Warner?
- Mila, eu sei que fui um monstro e eu estou me tratando, já fui punido por isso. Eu estou arrependido e quero me desculpar. Por favor! - Gregg pedia por isso pela sétima vez naquele diálogo de mais de meia hora.
- Gregory, por favor! Você me magoou muito, se realmente gosta de mim, se afasta.
Eu estava me virando para sair quando senti sua mão me puxar pela cintura e me abraçar com força.
- Eu te amo, Camila! Não faz isso comigo.
Eu tentava me afasta dele de alguma forma, mas ele era mais forte, seus braços envolviam minha cintura colocando nossos corpos por completo, seu queixo apoiado em meu ombro, minhas mãos apoiadas em seu peitoral, empurrando de forma inútil para afastá-lo.
- Gregory, me solta! - Supliquei.
- Por favor, por favor!
"- Tia, Mila! -" Uma vozinha conhecida se fez presente ainda distante.
Gregg me soltou e rapidamente levou suas mãos para atrás de seu corpo. Ajeitei minha camiseta para logo receber o abraço do baixinho. Logo atrás de Rafa vinha Rodrigo que nós encarava sério.
- Eu acho que vou indo.
Me virei com Rafa no colo e dessa vez Gregg tinha suas mãos dentro dos bolsos do casaco. O moreno deu um sorriso fraco e abaixou a cabeça saindo. Rafa começou a me dar vários beijinhos na bochecha.
- Está tudo bem? - Rodrigo perguntou me analisando.
- Agora sim. - Forcei um sorriso.
POV LAUREN
Finalmente a bosta do sinal de fim de aula tocou, peguei minha mochila rapidamente, saquei o celular do bolso e sai esbarrando em todos que estavam em meu caminho. Pude escutar alguns resmungos, mas ignorei a todos, eu precisava ligar para Camila, precisava ouvir sua voz, precisa afastar esses pensamentos negativos de dentro de mim. Chamou... Chamou... Finalmente atendeu, mas nesse momento me arrependi por completa de ter ligado.
"- Alô?" - Uma voz conhecida me fez parar no estacionamento em frente ao meu carro. Meu corpo começou a tremer.
- O que está fazendo com o celular de Camila? - Perguntei raivosa.
- Lauren? - Perguntou de forma idiota, já que meu número estava registrado no celular dela.
- Lógico! O que você está fazendo com o celular dela, Gregory?
- Camila esqueceu aqui!
"Camila esqueceu aqui!" Aquela frase ecoou em minha cabeça por alguns segundos. Como assim Camila esqueceu o celular aqui? E onde seria esse aqui? A nova casa de Gregg? Camila estava se encontrando com Gregg?
Fiquei tonta com aquela informação, abaixei a mão que segurava o celular para não ouvir mais a voz daquele individuo. Entreabri os lábios a procura de ar, ar que não chega em meus pulmões de maneira alguma. Aos poucos e com muita dificuldade consegui tranquilizar-me. Entrei no carro e dei partida.
[...]
POV CAMILA
Eu podia me definir como zumbir, eu realmente estava cansada, ainda me sentia febril e o dia não havia ajudado, ele havia sido longo, fora a presença de Gregg. Tínhamos muitas cenas para serem gravadas com a nova temporada, a adaptação do pessoal do Brasil estava um pouco lenta, eu entendia perfeitamente o que eles estavam passando.
Pri e eu caminhávamos em direção ao estacionamento a gargalhadas, comentávamos sobre a última cena que havíamos gravado aquela tarde: Priscilla teria que jogar um sorvete em mim, mas ela acabou errando a pontaria e acertando em Leonardo, nosso diretor, a cara do homem se sujou toda de sorvete e a cínica da Priscilla disse que tinha sido sem querer, mas aposto que no fundo ela teve intenção.
Continuamos caminhando em meio a risadas, mas Pri logo parou e com seu braço esquerdo me catucou, fitei a morena ao meu lado e percebi que seus olhos fixavam um ponto, acompanhei seu olhar e me deparei com uma jovem bem conhecida, seus braços cruzados abaixo dos seios, suas pernas cruzadas, seu corpo sutilmente encostado em seu carro totalmente preto, seu rosto em uma expressão neutra e seus olhos verdes nos fitavam. Nós aproximamos dela.
- O que está fazendo aqui? - A encarei.
- Vim te buscar! Você está doente, lembra? Não devia ter vindo trabalhar. - Lauren descruzou os braços e deixou seu corpo ereto.
- Camila está ótima, Lauren! - Priscilla se pronunciou.
- Exatamente. Estou ótima não tinha necessidade de ter vindo.
- Desculpa por me preocupar com você. - Lauren revira os olhos.
- Eu não falei por mal. Só acho que você está exagerando.
"- TIA LOOOOUUUU." - A voz do pequeno Rafa se fez presente.
- Pequenino. - Lauren se abaixou para receber o abraço do baixinho.
Era lindo ver como Lauren se dava bem com as crianças, ela de certa forma tinha uma paciência que as vezes eu não tinha, nem mesmo com Sofi. Com certeza Lauren seria uma excelente mãe, ela tinha um dom incrível para isso e eu confesso que amava admirá-la enquanto cuidava de uma criança.
Rodrigo se aproximou com um copo de café na mão. Rafa enchia Lauren de beijos enquanto a morena afagava seus cabelos. Priscilla se aproximou e pegou o baixinho no colo.
- Vamos, filho! - Ela olhou para a Lauren. - Tchau, passiva! - Me fitou enquanto Lauren bufava. - Boa sorte, Mila!
- Vai se foder! - Lauren soltou.
- Essa palava é feia, tia Lou. - Rafa a encarou sério.
- Desculpa, pequenino. Sua mãe que me irrita. - Lauren passou a mão nos cachinhos de Rafa.
- O que é pasilva, mamãe? - Rafa fitou a mulher que o segurava.
- Uma mulher que se acha poderosa, mas não é de nada, só sabe gritar! - Priscilla explicou.
- Tia Lou, você glita muito? - O baixinho dessa vez fitou Lauren.
- Acho melhor a gente ir. - Rodrigo interrompeu. - Até amanhã. - Rodrigo abraçou Priscilla e os três foram em direção ao seu novo carro.
- Vamos? - Lauren abriu a porta e me deu espaço.
Eu não disse nada, apenas estrei no carro. Lauren deu a volta e fez a mesma coisa, sentando no banco do motorista ao meu lado. Colocamos o cinto de segurança e quando achei que Lauren ia da partida, ela apenas segurou o volante, seus olhos perdidos em algo que eu não conseguia identificar, seus lábios se separavam em uma tentativa falha de falar. Lauren me olhou, mordeu o lábio inferior provavelmente criando coragem e finalmente soltou.
- Você tem algo para me dizer?
POV LAUREN
Eu estava me controlando ao máximo para não me estourar, não queria deixar aquela Lauren impulsiva tomar conta da situação, mas Camila não ajudava, já estava com ela há alguns minutos e ela ainda não havia me contato nada, resolvi perguntar o que ia contra os meus princípios, pois queria ouvir dela.
- Você tem algo para me dizer? - Perguntei contra minha própria vontade.
- Não. - Camila franziu as sobrancelhas.
Ótimo, Camila! Eu estava me matando para me controlar e você omitindo toda a situação. Senti meu sangue ferver, uma vontade louca de estourar ali mesmo, mas ao invés disso, voltei a olhar para frente e dei partida, minhas mãos apertavam o volante com força, tentando aliviar a raiva.
- Por que? - Camila continuava me fitando.
- Por nada! - Respondi de forma rápida sem encará-la. - Eu te liguei, mas você não atendeu!
- Ai, nem fala. - Camila ligou o som. - Perdi a droga do celular, acredita? - Ela colocou os pés em cima do porta trecos, quase deitando o seu corpo no banco.
Ela estava mentindo, mas por que estava fazendo aquilo? Poxa, eu estava me esforçando para não ser aquela Lauren desconfiada que coloca os pés pelas mãos e ela estava "traindo" minha confiança. Eu estava sentindo o que Camila sentia quando eu não confiava nela, eu não poderia me entregar, algo estava errado e eu não podia ser impulsiva naquela hora, precisava continuar me controlando, mesmo sendo muito difícil.
O resto do caminho foi todo em silêncio, exceto pelo barulho do rádio. Tentava jogar toda minha raiva no volante, minha mão estava ficando pálida de tanto eu apertar o volante. Resolvemos ir para o lago, passar um tempinho lá antes de irmos para casa.
POV CAMILA
Assim que chegamos no enorme e solitário lago, Lauren deu a volta rapidamente no carro, abriu a minha porta e estendeu a mão para me ajudar. Confesso que toda aquela proteção estava me irritando, não que fosse ruim ter Lauren por perto, mas o exagero sem motivo estava me sufocando.
- Lauren, eu estou bem. Não precisa disso tudo. - Sai do carro bufando, sem pegar sua mão.
- Camz? Eu só quero que você fique bem. - Sua voz manhosa vinha atrás de mim.
Ignorei a morena e continuei andando em direção a cabana, parando em frente a porta. Lauren se aproximou sorrindo e abriu a porta me dando espaço para passar, revirei os olhos quando ela tentou me segurar pelos braços, me livre de sua ajuda e caminhei até o sofá, onde sentei, cruzei os braços e novamente bufei.
- Fica ai quietinha que vou preparar um lanche para a gente.
- Eu ajudo.
Dei um pulo do sofá e quando pensei em andar, Lauren foi mais rápida colocando suas mãos em meus ombros e me forçando a voltar a sentar. Revirei os olhos furiosa.
- Nada disso! Você descansa e eu faço o lanche.
Eu juro que minha vontade era de mandá-la para aquele lugar, mas me segurei. Lauren estava querendo ser fofa, mas ela não tinha noção do quanto estava me irritando. Uma coisa pesou em minha cabeça, eu não tinha contado a Lauren sobre Gregory, de repente era melhor não tocar no assunto, aquilo com certeza iria tirá-la do sério, ela tiraria suas próprias conclusões e a gente brigaria.
Droga, Camila! Você não pode fazer isso. E cade toda aquela coisa de confiança? Se eu omitisse tudo, eu estaria dando motivo para Lauren se aborrecer, não podia fazer isso com ela, Lauren havia me pedido para ajudá-la a melhorar e não a perder a confiança.
Não demorou mais de onze minutos para Lauren voltar da cozinha com dois sanduíches, provavelmente de maionese com peito de peru e dois achocolatados, nosso lanche preferido. Pude escutar minha barriga roncar de fome e minha boca salivar. Lauren sentou ao meu lado, colocou os dois copos em cima da mesa de centro e me deu um dos sanduíches.
- Obrigada.
- De nada. - Ela sorriu e eu levei o meu sanduíche até a minha boca.
- Laur... - Abaixei o sanduíche sem se quer dar uma mordida.
- Não me chama assim, Camz. Eu sei que a gente não está mais juntas por enquanto, mas eu gosto quando me chama de Lolo. - Ela me olhou e fez uma careta.
- Eu também gosto de te chamar de Lolo, mas é que... - Dei uma pausa procurando as palavras. - Eu...
- O que foi, Camila? Você está se sentindo mal? - Lauren largou o sanduíche em cima da mesa de centro e levou a mão em meu rosto, medindo minha temperatura.
- Não, Lauren! - Tirei sua mão do meu rosto e a segurei. - Me escute! - Ela apenas assentiu. - Eu encontrei o Gregg hoje!
- Como é que é? - Sua frase parecia de surpresa, mas seu rosto era neutro, como se já soubesse de tudo. Franzi as sobrancelhas estranhando.
- Na verdade eu estava no estacionamento da Warner saindo para comer algo e acabei encontrando ele.
- Por que não comeu na cantina? - Lauren me encarou séria.
- Porque não tinha o que eu queria. Lauren... - Eu ia começar, mas ela me interrompeu.
- Desculpa! Agora está explicado. - Seu olhar vagava para baixo. - Por isso ele atendeu quando liguei para você.
- Ele atendeu?
- É. - Ela me encarou. - Eu te liguei e ele disse que você tinha esquecido o celular.
- Esquecido o celular? - Soltei a mão de Lauren e dei uma risada sarcástica. - Esse garoto está ficando doente.
- Ficando não, ele é. - Lauren revirou os olhos.
- Por que você não acreditou nele e brigou comigo? Por que foi tão calma o dia todo?
- Porque eu confio em você e preciso conquistar sua confiança, eu também queria ouvir de você tudo, sabe? Não queria ser a impulsiva como sempre fui. Não quero ficar brigando com você, Camz! - Lauren tinha um olhar triste. Levei minha mão até o seu rosto e comecei a acariciá-lo.
- Você está conseguindo, Lolo! - Dei um beijo em seu rosto.
- É mas não vou deixar de ser impulsiva com esse idiota. Ele vai me pagar.
- Lauren! - A repreendi.
- Nada de Lauren, vou te deixar em casa, ai ligo para ele e pego seu celular de volta! - Lauren disse levantando e pegando seu achocolatado.
- Nada disso! Você não vai a lugar nenhum. - Me levantei e fiz o mesmo movimento.
- Camila, ele não vai ficar com seu celular, eu vou pegar de volta.
- Eu vou com você, então.
- Claro que não!
- Claro que sim! - Me coloquei na frente dela e cruzei os braços a baixo do peito.
- Tudo bem. Você fica no carro esperando. Vou ligar para ele. - Lauren sacou o celular do bolso.
[...]
Estávamos na pracinha de sempre. Na verdade, Lauren estava na pracinha, eu estava no carro em frente a pracinha a esperando. Estávamos a quase quinze minutos ali e nada de Gregg, mas logo ele apareceu. Gregory vestia uma calça jeans surrada e o casaco de capuz branco, o mesmo que usava da última vez que o vi.
Olhei para os dois tentando entender o que eles estavam dizendo, mas eles estavam a uma distância razoável, impedindo que eu pudesse escutá-los. A conversa não parecia boa, Lauren não recuava e Gregory tampouco, os dois se encaravam com raiva, era nítido que se pudesse cairiam no tapa ali mesmo. Gregg passou meu celular para Lauren e depois falou algo, a morena apontou com o dedo indicador direito em direção ao rosto dele, falou alguma coisa e deu as costas para ele, caminhando em minha direção bufando. Abriu a porta e a bateu com força, colocou o cinto de segurança.
- Está tudo bem? - Perguntei mesmo sabendo que não estava.
- Tudo ótimo! - Lauren me passou o celular e deu partida no carro.
Passamos todo o caminho em silêncio, só voltei a falar, ou melhor, berrar pelo nome de Lauren quando chegamos em frente a minha casa onde ela saiu que nem um furacão do carro para entrar na mesma, eu apenas a segui. Passamos pela sala, corredor, subimos as escadas e logo em seguida entramos em meu quarto. Lauren se jogou na minha cama, ficando sentada, caminhei até a cama, parei em frente a morena e a encarei, ela continuava com a cabeça baixa.
- O que foi isso, Lauren? - Comecei a gesticular com as mãos. - Você não pode sair entrando em minha casa assim, ainda mais agora que nós... - Ele me interrompeu.
- Terminamos. - Lauren levantou seu rosto me fitando, seus olhos estavam cheios de lágrimas. - Foi exatamente isso que o Gregory me disse. Nós terminamos, Camila.
- Lauren... Eu... - Eu procurava por palavras que eu não conhecia, que eu não sabia como formar. Lauren chorava em silêncio.
- Não precisa dizer nada. Ele está certo, eu não consegui ficar com você nem um ano se quer, você sempre sofre ao meu lado, eu só te faço mal, não consigo fazer nada certo. Tentei me segurar a tarde toda e agora me estourei. Imagina se seus pais estivessem em casa e vissem como eu agi? Gregg tinha razão, eu não sou diferente dele. - Lauren abaixou o rosto e continuou chorando sem pudor algum. Me ajoelhei em sua frente, segurei seu rosto e o leventei, fitando-o.
- Ei, não diga nunca mais isso! Você não tem nada a ver com ele. Gregory é um monstro, um doente. Você é uma pessoa boa, maravilhosa. A gente está passando por uma situação difícil, mas isso vai passar, okay? - Comecei a fazer um carinho no rosto de Lauren.
- Eu te amo, Camz! Me perdoa por ser tão estúpida?
- Você não é estúpida e eu te amo muito, princesa.
Continuei fazendo carinho em seu rosto. Lauren fechou os olhos, virou o rosto em direção a minha mão e depositou um beijo na palma da mesma, continuei a observando enquanto acariciava o seu rosto. Me perdi naquela pele pálida e macia que eu tanto amava.
As vezes eu tinha vontade de apertar o botão do foda-se e me entregar a ela, mas eu sabia que se eu cedesse, Lauren nunca aprenderia a confiar em mim, eu precisava ser forte, mesmo que aquela situação estivesse mexendo comigo.
- Pequena, - Lauren abriu os olhos me permitindo fitar seus olhos avermelhados por conta do choro. - vai para minha casa comigo? Dorme comigo hoje?
- Lauren, não! Eu não posso!
- Tudo bem! - Lauren se levantou limpando o rosto. - Eu vou indo, porque está ficando tarde.
Eu até separei os lábios para chamar pelo seu nome, mas ela logo saiu ignorando qualquer ação minha, sentei no chão encostando minhas costas na cama, apoiei meus cotovelos nos meus joelhos, para apoiar a minha cabeça em minhas mãos, que cravaram os dedos em meus cabelos.
Eu não sabia se estava fazendo a coisa certa, eu só tinha certeza de uma coisa, aquilo estava me machucando, vê-la sofrer daquela forma por minha culpa, doía mais do que bater o dedinho do pé no pé da mesa, mas do que cortar a mão com papel, mas do que aquelas cólicas infernais de pré menstruação que só as mulheres sabem como é. Uma dor que eu não sabia como lidar, mas que eu precisava sentir. Lauren havia me pedido ajuda e eu apenas estava ajudando-a.
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