História Beware of an angel - Lacrimosa

***Zacky***

            Eu estava terminando de almoçar num restaurante em Venice Beach com Brian, quando as pessoas estavam acessando os celulares e comentando fervorosos. Não entendi nada, mas o garçom ligou a TV na CNN, me obrigando a prestar a atenção na noticia, havia acontecido um atentado em Anaheim, no centro comunitário Martin Luther King, o mesmo que Sammy fazia aulas de teatro. Tentei não lembrar dela, eu tinha que comemorar o meu divórcio. Parei de prestar atenção na noticia, pedi uma dose de uísque depois daquilo.

- Cara, negocio doido é esse? Matar pessoas envenenadas. – Brian ficou nervoso. – Parece que teria uma peça de teatro e tinha dezenas de pessoas, o assassino não poupou nem crianças e nem mulheres gravidas.

- Que horror, cara. – O garçom trouxe um copo de uísque, bebi rapidamente.

- Imagina se sua ex está lá, você não será divorciado e sim, viúvo. – Deixei o meu copo na mesa.

- Péssima hora para brincar com algo desse. – Meu celular começou a tocar. – Ainda bem que estão me ligando, para não ouvir as suas merdas, Gates. – Tirei o meu celular do bolso e o número era desconhecido. – Alô?

- Senhor Baker? – Era voz de mulher.

- Sim, quem deseja? – Eu me ajeitei na cadeira.

- Eu sou assistente social do hospital geral de Anaheim, houve um acidente com sua esposa e filho, preciso que venha imediatamente para cá. – Fiquei nervoso, derrubei o celular no chão.

- O que houve, cara? – Senti uma aflição.

- Aconteceu um acidente com a Meaghan e o meu filho, eles estão no hospital geral de Anaheim, preciso ir embora. – Eu levantei da cadeira e quase caí.

- Calma, cara. Eu te levo, você não está em condições de dirigir, senão vão ser três acidentados. – Brian me ajudou a me colocar novamente na cadeira. – A conta, por favor e me vem um copo de água.

- Eu não quero água, quero ir ao hospital. – Reclamei.

            Brian pagou a conta no cartão, em seguida fomos ao carro dele mesmo, coloquei a mão no rosto, sentei no banco do passageiro, pedi para Brian acelerar com o carro para poder chegar mais rapidamente ao hospital. Chegando lá, a entrada estava tumultuada, diversos jornalistas fazendo reportagens, curiosos. Foi difícil para chegar na porta da frente, tinha um segurança barrando a entrada, eu o encarei.

- Minha família está aí dentro, acabaram de me ligar do hospital. – Ele pegou um tablet.

- Preciso dos nomes e sobrenomes. – Homem foi frio perante ao meu desespero.

- Meaghan e Tennessee Baker. – Ele olhou no tablet um pouco.

- Meaghan Baker está lista, sinto muito, pode entrar.

            Entramos correndo, mas tinha uma fila enorme na recepção para ter informações, pessoas chorando na emergência. Mesmo desesperado, tive que entrar na fila para poder receber alguma informação, isso me deixou ainda mais desesperado. Colocaram mais recepcionistas para nos atender, então rapidamente chegou a minha vez. Pediram os dados de Meaghan, mas eu estava tão nervoso que não conseguia me lembrar das coisas.

            Respirei fundo, pediram para que eu me sentasse para aguardar a assistente social do hospital me atender, avisaram que demoraria um pouco porque a demanda era enorme, devido ao atentado no centro comunitário. Cruzei os braços, tentei me acalmar, era difícil, a minha ansiedade estava me consumindo por dentro. Brian me trouxe um café, mas eu recusei. Resolvi me sentar numa mesa de centro, passei a mão na minha barba, então Brian apertou meus ombros.

            Fiquei esperando por mais de uma hora, estava com as mãos suado e bastante irritado. Finalmente chegou a assistente social que nos levou até a sua sala no hospital. Pediu para que nos sentassem, Brian ficou preocupado, entretanto ficou de pé, eu me sentei porque estava com medo da notícia.

- Senhor Baker, desculpe a demora é que o atentado fez com que o hospital lotasse muito, apesar de que algumas pessoas fossem levadas para outros hospitais, está uma loucura. – Ela buscou a ficha dentro do armário.

- O que houve com a minha família. – Ela achou a ficha e ficou olhando.

- Bem, como deve saber sua família também estava no centro comunitário. – Eu me assustei. – Calma, sua esposa não foi envenenada, ela caiu de uma altura considerável, mas sobreviveu a queda. – Eu continuei nervoso.

- Quer que eu fique mais calmo com isso! – Dei um soco na mesa de ferro que afundou um pouco, a mulher se assustou e colocou a ficha no peito. – Quero vê-la agora! E meu filho, o que aconteceu com ele?

- Não tem uma forma… - Respirou e depois limpou o pigarro da garganta. – Gentil para lhe contar. – Brian se encostou com o rosto virado para a parede.

- Eu quero saber a verdade! – Meus olhos começaram a lacrimejar.

- Eu sinto muito, mas seu filho foi uma das vítimas do envenenamento. – Comecei a chorar em desespero. – É complicado, os paramédicos informaram que sua esposa tentou o suicídio depois de vê-lo morto.

- Por que isso aconteceu? – Deu um grito de desespero.

- Senhor, um terrorista… não faz sentido, só esperamos que façam justiça. Quer ver a sua esposa? – Continuei chorando.

- Não sei o que vou dizer para ela. – Então a mulher mordeu o lábio inferior, desviando o olhar.

- O médico vai poder te explicar melhor, o estado clinico dela, eu realmente sinto muito. Vou te levar ao médico responsável por ela, o neuro cirurgião Peters, ele é o melhor da cidade. – Tentei me levantar, mas quase caí.

            Brian me ajudou a me levantar, saímos na sala, fomos andando pelo corredor, chegamos até o elevador. Abriu a porta, entramos no elevador, subiu bastante até o decimo andar, saímos. Tinha um médico alto tomando café, nos aproximamos dele, a assistente social cochichou algo em seu ouvido, ele fechou a expressão, a mulher foi embora.

- O que aconteceu com ela? Quero ver a minha mulher! – O homem fez sinal de silêncio.

- Ela vai ser operada devido a fratura no crânio, foi um milagre ter sobrevivido a queda. – Voltei a chorar. – Há poucas esperanças dela se recuperar, mas temos que esperar para ver o que vai acontecer.

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***Sammy***

            Alguns dias depois, eu ainda estava no hospital tomando soro na veia, me recuperando, tinha sido bastante traumatizante. Não aguentava mais as pessoas dizendo o quanto eu era sortuda por não ter bebido os refrigerantes envenenados. A minha única sorte era que não havia perdido o bebê com o susto, contudo precisava ficar de observação no hospital, não pagaria a estadia por causa da repercussão do caso.

            O médico me deu alta, agradeci e fui até o quarto de Aaron, ele estava de olhos abertos, sentei na cadeira ao lado de sua cama, segurei sua mão, porém não parecia me conhecer. Não entendi nada, a enfermeira colocou a mão no meu ombro, tentei não chorar na frente dele.

- O que está acontecendo com ele? Ontem a gente conversou e agora ele não me reconhece. – Fiquei confusa, Aaron fechou seus olhos e voltou a dormir.

- Senhorita, ele tem encefalopatia, devido ao envenenamento… eu não sei muito, sou apenas uma enfermeira, mas… se ele sair dessa cama vai ser um milagre. – Saiu do quarto.

- Sem vocês, eu nem sei para onde ir… - Comecei a chorar, ouvi barulho de porta. – Ah, pode me deixar sozinha, por favor.

- Ok, volto mais tarde, Sammy. – Era voz de Matt, eu me levantei e o abracei forte. – Eu te procurei por todos os hospitais de Anaheim, foi complicado.

- Eu preciso tanto de um amigo. – Ele afagou os meus cabelos cacheados. – Eu não tenho mais ninguém, nem lugar para morar. – Eu o apertei em meu corpo e desabei em lagrimas. – Não queria fazer isso, mas preciso de dinheiro para sair da cidade.

- Por que? Sei que vai difícil sobreviver sem seus amigos, não precisa fugir, seja forte! – Eu me afastei e ele secou as minhas lagrimas com as mãos.

- Não é por isso, estou gravida do Zacky. – Cruzei os braços, suspirei. – Não quero mais problemas, quero sumir e criar meu filho em paz. – Mexi nos meus cabelos.

- Eu te empresto o dinheiro que você quiser, acho melhor você ir mesmo porque o Zacky perdeu o filho e Meaghan está em coma. – Levei um susto.

- Como assim?

- Parece que a Meaghan estava com o Tennessee no centro comunitário, o menino tomou o refrigerante envenenado e Meaghan se jogou no palco. – Por mais que não gostasse da Meaghan, nunca imaginei algo assim.

- Caralho! – Fiquei de costas para Matt. – Como eu não tenho condições, ele pode querer tomar a guarda do meu filho, isso não vou permitir. – Então me virei novamente. – Por favor, não conta pro Zacky que estou gravida, não quero passar por exames de DNA e ter assistentes sociais indo na minha casa.

- Respeito a sua decisão, vou depositar o dinheiro na sua conta, assim que você me passar os dados bancários. Quando você se estabelecer, eu vou mandar coisas dos meus filhos não usam mais. – Ele me deu um beijo no alto da cabeça.

            Algumas horas depois, eu estava no cemitério com uma mochila nas costas, já estava com o dinheiro na conta, mas não havia comprado a passagem para partir. Coloquei uma rosa em cada tumulo das pessoas que haviam assassinadas no centro comunitário, até mesmo no tumulo do Tennessee. Tinha vários brinquedos no tumulo dele, era mórbido demais, me afastei e dei de cara com Zacky que me encarou profundamente, continuei andando, entretanto ele segurou o meu braço com força.

- Sammy, quero falar com você. – Meu sangue gelou.