Cadeados do coração
Bang desatou um suspiro pesado antes de levar a mão para o rosto de JunHong e o acariciar delicadamente com o polegar, desenhando ali, enquanto sua outra mão se ocupava em amaciar as costas nuas do loiro, estas, que se arrepiaram levemente com o toque dos dedos suaves do homem.
- Olha… É uma longa história. - O moreno falou, usando um tom calmo, quase rouco. - Quer ir tomar um banho antes e colocar uma roupa? É um assunto muito delicado para ser tratado… Assim… - Referiu-se à nudez de ambos na cama e a forma como estavam expostos. Não que aquilo imcomodasse Bang, mas o fato era que iria voltar ao ponto de seu passado onde mais lhe machucava e não estava lá em suas melhores condições para tratar o assunto, não exposto do modo como se encontrava.
- A-ah, tudo bem… - JunHong sorriu fraco, um tanto constrangido com aquilo. Queria que o outro estivesse totalmente confortável para lhe contar tudo, então de forma alguma iria contradizê-lo, sentia-se sujo com todo o suor empregnado em seu corpo, sem contar que era notável por si um certo líquido viscoso deslizando no meio de suas pernas. Lhe agradava também o perfume de YongGuk que havia grudado em seu corpo. Aquilo era algo tão novo que sequer sabia como reagir direito, a única coisa que tinha certeza era de que havia feito a escolha certa em ter deixado que Bang tomasse seu corpo pela primeira vez. Ele cuidara de si de um jeito nunca imaginado antes, lhe tratou de modo como se não importasse o fato de ser “defeitoso”, lhe mostrara coisas incríveis e o fizera sentir sensações maravilhosas. Estava realizado, pois nunca em toda sua vida tivera tanta certeza de algo; YongGuk era aquilo que procurava o tempo todo para se preencher. Notava a sensação absurda de conforto instalada dentro de si; aquilo lhe fazia sorrir abobado, era como se aquele homem houvesse ocupado todo o espaço que antes era vazio.
E fora então que percebeu; Bang havia se tornado único em seu coração. Poderia ser arrogante, ignorante ou até mesmo estúpido, mas… Ele havia se tornado o seu estúpido. Seu adorável e belo arrogante, que esbarrara em si por conta do destino e agora estava bem ali, prestes a abrir o coração e desatar os cadeados que haviam em seu peito. Ele estava inteiramente entregue para si, e JunHong também se encontrava da mesma forma, entregara seu corpo, seu coração e sua confiança para ele. Estava feliz, inicialmente pensara que talvez fosse algo não recíproco, mas YongGuk tomara a iniciativa de provar o contrário, ele lhe tocou de jeitos delicados, lhe mostrando seu lado doce; jamais imaginou que aquele homem poderia esconder um coração tão belo em meio à tantos cadeados.
Bang era intenso, de todas as formas possíveis e existentes. No final das contas, levara um tempo para perceber que, na verdade, ele nunca fora frio; era mais como… Uma tocha que fora apagada e agora se acendera novamente. Tal descoberta o surpreendia de modo extraordinário; YongGuk era quente… Tão quente quanto os belos sorrisos que tanto admirava.
- Eu não sei o que fazer agora que você ficou pensativo do nada. - YongGuk brincou, cortando seus pensamentos.
- D-desculpe, eu nem percebi… - Sorriu, se levantando um pouco, puxando o lençol para cobrir seu corpo, sentindo Bang se levantar também. Abraçou os próprios ombros por conta do frio daquela noite. Logo sentiu lábios carinhosos selarem suas testa e braços reconfortantes o abraçando, como se sentasse o esquentar. Sorriu abobado e encolheu-se diante de tanto carinho que estava recebendo. - Pode me ajudar a chegar até o banheiro? Deixei minha bengala na sala…
YongGuk não o respondeu, apenas sorriu e escondeu o rosto na curva de seu pescoço, depositando diversos selares ali, inspirando o ar de sua pele, mordendo-a em seguida. O loiro apenas fechou os olhos, levando quase de imediato a mão para as madeixas escuras do homem, entrelaçando seus dedos ali.
- Estou com preguiça de levantar. - Bang riu, fazendo o outro sorrir, ainda acariciando seus cabelos. - E aqui também está muito bom… - Sua voz preguiçosa saiu abafada. O homem ergueu o rosto apenas para se aproximar do seu com suavidade; mordiscando seu lábio inferior, pronto para tomar-lhe os lábios. No entanto, o roncar do estômago do loiro o fez parar, encarando-o com uma expressão divertida. - Está com fome?
- U-um pouco… - Respondeu baixo, constrangido. Bang soltou um suspiro divertido, depositou um selar em sua testa e outro em seus lábios, afastando-se por fim.
- Enquanto você toma banho, eu faço algo para comer, tudo bem? - Sentiu o a movimentação do moreno na cama e logo seus joelhos foram contornados pelos braços do mais velho, sentindo seu rosto encaixar-se no pescoço bronzeado do mesmo, aproveitando para inspirar o perfume delicioso que vinha dali.
- Tá… - Ajeitou-se timidamente nos braços dele, querendo muito que aquele momento não acabasse nunca. Sentiu Bang começar a andar e não demorou muito para ser colocado no chão com cuidado e delicadeza. Seu corpo se arrepiou ao sentir o piso gélido abaixo de seus pés. A mão do moreno tocou a sua, levando-a para algo que lhe aparentou ser o registro do chuveiro, tentando o guiar para saber onde ficava o quê.
- Vou pegar umas roupas pra você e uma toalha, não se preocupe em demorar e… Tome cuidado para não escorregar, tudo bem? - E não esperou por uma resposta, depositou um selar estalado em sua bochecha e então saiu, deixando-o ali, sorrindo abertamente.
- Você é tão… Adorável. - Fora o que saiu de seus lábios em um tom quase mudo, antes de erguer a mão, procurando o registro, ligando-o assim que o encontrou.
Bang foi diretamente para seu guarda-roupa, pegando um short qualquer e o colocando, apenas para não ter de ficar andando nu pela casa, mesmo que aquilo não incomodasse tanto. Foi para a sala, observando as roupas de JunHong no sofá e as pegou, colocando-as no varal para que secassem logo.
Seguiu para a cozinha e tratou de esquentar a água para fazer um chá, pegou alguns biscoitos dentro do armário e os colocou em um recipiente qualquer, voltando para o quarto, enquanto esperava a água ferver. Encarou a cama e foi rápido em começar a trocar os lençóis, jogando estes no cesto de roupas sujas. Quando terminou o que tinha para fazer ali, ouviu o som do chuveiro sendo desligado e se apressou em abrir o guarda-roupa para tirar uma peça para o outro, escolhendo por fim; uma regata branca e um short escuro simples. Pegou uma toalha em uma das partes do guarda-roupa e então saiu em direção a o banheiro. Entrou no pequeno cômodo e encontrou um JunHong de cabelos molhados, os fios grudando na propria testa, trêmulo, provavelmente de frio; sorriu com aquilo.
Se aproximou e tocou uma das mãos do loiro, o puxando para si, enquanto envolvia a toalha em torno deste, fazendo-o se surpreender um tanto com o ato. Bang ergueu uma das mãos para pegar outra toalha seca ali perto, levando esta para as madeixas de JunHong. Começou a secá-las com cuidado para não o machucar, no entanto, viu um sorriso se formar nos lábios do rapaz, fazendo-o erguer uma das sobrancelhas.
- O que foi? - O moreno quis saber; já sabia que JunHong sorria para tudo, no entanto ali naquele momento, era como se ele tivesse aberto uma sessão de sorrisos, apenas para si.
- E-eu… - Mordeu o lábio inferior, sentindo as bochechas formigarem. Ergueu suas mãos para tocar as do homem, estas, que estavam em seus cabelos, mas pararam. JunHong levou as palmas do homem para seu rosto e então fechou os olhos ao sentir os dedos do mesmo acariciarem suas bochechas com o polegar. - Obrigado.
Bang sorriu, colando suas testas, deixando que os narizes se encostassem.
- Por que está agradecendo? - Indagou o moreno em tom baixo, sem parar de sorrir.
- Bem… - Sorriu timido. - É que… Você está cuidando tão bem de mim e… Ninguém nunca me tratou assim… É a primeira que sinto como se a minha vida valesse de algo… - Tentou não se embolar mais nas próprias palavras, mas seu constrangimento estava lhe tomando cada vez mais. - D-digo… É a primeira vez que me sinto importante para alguém… E-então… Quero que saiba que v-você também é especial para mim.
YongGuk piscou algumas vezes após ouvir aquela declaração. Suas sobrancelhas estavam arqueadas em surpresa pelo o que ouviu, e novamente repetiu a pergunta para si mesmo; até quando aquele pirralho pretendia estraçalhar seu coração?
Não pensou muito, apenas soltou um rosnado e tomou os lábios do rapaz com fúria, envolvendo a cintura deste com força. JunHong se sobressaltou com aquilo, realmente não esperava que fosse ser atacado daquela forma, mas não iria dizer que não gostava de toda sensualidade que o outro impunhava no beijo. Sentiu a toalha que estava enrolada em seu corpo deslizar lentamente por seus ombros e cair no chão, e a outra que estava em sua cabeça que caiu também logo em seguida.
Bang o apertou mais contra si, deslizando a língua na cavidade alheia, explorando tudo com tamanha afobação, sentindo as mãos do rapaz, subindo lentamente por seus ombros e nuca, até chegar nas madeixas negras, as apertando. JunHong tentava acompanhar seu ritmo, mas era quase impossível para alguém que havia dado o primeiro beijo no dia anterior; sentia a língua dele entrar em contato com a sua, a acariciando, serpenteando sua boca de modo que arrancara seu ar quase por completo. Aquele beijo cheio de sentimentos, estava a lhe causar sensações tão intensas, o que o fez pensar que talvez estivesse se derretendo nos braços daquele homem. Seu coração batia descompassado, sentia-se queimando por dentro, seu corpo formigava, reagindo muito bem a todas as vezes que Bang se inclinava mais contra si, fazendo-o se curvar um tanto, praticamente o engolindo. Timidamente, tocou os ombros do mais velho e os apertou, deslizando novamente para o peito do homem e as descansando ali. O rapaz começou a arfar alto, causando um eco no cômodo; YongGuk também respirava com dificuldade, e parou somente por este motivo.
Separou-se dos lábios do loiro, dando um bela mordiscada no inferior deste, ainda o apertando contra si, em um abraço sufocante. O homem escondeu o rosto na curva no pescoço albino, depositando selares ali, respirando com dificuldades.
- Droga, JunHong… - Ofegou. - Não fique dizendo essas coisas pra mim…
- G-Guk…
- Ouça. - Pediu, mesmo não estando nas melhores condições para dizer algo sem arfar. - Você é importante pra mim. E eu quero cuidar de você. - Colou os lábios em sua testa, ainda arfando. - Apenas me deixe fazer isso… E confie em mim.
- Eu confio. Você sabe que confio. - JunHong sorriu com aquilo. Os pelos de seu corpo se arrepiaram por conta do frio, logo tremulou.
- Vem, se troque logo ou vai acabar pegando um resfriado. - O moreno sorriu, tocando sua mão e lhe guiando para fora do banheiro. - Ah, droga! Tinha até me esquecido da água que coloquei para ferver. - Bang se lembrou, lhe entregando uma peça de roupas e então saiu apressado para um outro cômodo.
Após trocar-se, JunHong ouviu os passos do homem se aproximando. O mesmo tocou-lhe as mãos, o entregando algo com delicadeza.
- Tome cuidado, está quente. - YongGuk avisou, colocando a alça da xícara em suas mãos.
- O que é isso? - JunHong inspirou o ar ali, tentando descobrir. Sentiu um cheiro doce, algo como camomila; sorriu. - Chá?
- É. - Selou sua testa, lhe puxando para que se sentasse na cama consigo. JunHong se acomodou ali, sorrindo, como sempre. O moreno pegou o recipiente de biscoitos que também havia trago e assim começaram a comer. Quando a fome de ambos fora saciada, Bang deixou a xícara vazia deste na cômoda ao lado e tocou sua mão com suavidade, para que este se levantasse. - Vem, estou enrolando muito para te contar isso…
- Onde vamos? - JunHong indagou, sendo guiado pelo homem enquanto andavam com calma pelos cômodos.
- Já vai saber. - Respondeu, depositando um selar em sua bochecha e entrelaçando seus dedos; JunHong corou com aquilo e deixou-se ser levado por ele.
Bang o guiou pelo corredor até chegarem em frente à porta do quarto rosa. Soltou um suspiro pesado e ergueu a mão livre para tocar a maçaneta, girando esta lentamente, fazendo um ruído ao abri-la. Entraram e então YongGuk soltou a mão do rapaz, como se o deixasse adivinhar onde estava. Olhou em volta e tudo estava na mesma; as cortinas, a cama, o abajur e também a pequena caixinha de som.
- Mofo. - JunHong falou baixo, virando a cabeça para os lados, inspirando o ar.
- O que?
- Este lugar está mofado. Não sente o cheiro? - Indagou.
- Na verdade, não… - Coçou a nuca, franzindo o cenho. A verdade mesmo era que havia se acostumado tanto com aquilo que sequer notara que aquele cômodo precisava ser limpo.
- Onde estamos? - JunHong estava curioso.
- No quarto da… - Limpou a voz. - Minha filha.
O rapaz franziu a testa, não entendendo nada.
- V-você tem uma filha?! - Deu um passo para trás, encolhido, colocando a mão no peito, sentindo seu coração parar.
- Se acalme. - Bang riu de sua reação, e soltou um suspiro leve. - Ela não está mais aqui… Não aqui entre nós.
Fora então que JunHong compreendeu; seus ombros praticamente despencaram para baixo e sua boca se abriu um pouco em surpresa.
Então era isso…
- Ela…
- Sim. - Bang o respondeu já sabendo o que iria perguntar. - Ela está morta.
JunHong respirou fundo e fechou os olhos, sentindo suas costas encontrarem a parede logo atrás de si. YongGuk por sua vez, apenas observava suas reações, enquanto recostava o quadril na cômoda ao lado da cama cheia de pelúcias.
- Tem certeza de que quer falar sobre isso? - Indagou o outro, hesitante.
- Absoluta. - Respondeu firme.
- C-certo… - Se acanhou, sem saber o que dizer diante do que havia acabado de descobrir.
- Eu… Não sei por onde começar. - YongGuk continuou.
- Você nunca sabe. - JunHong sorriu, fazendo o outro rir baixo.
Bang decidiu que iria contar tudo desde o início para não ter de confundir o outro. Estava pronto para se abrir, de forma como jamais havia feito antes, estava mais do que preparado para falar sobre aquilo. Sobre o seu passado.
- Bem… - Começou. - Há alguns anos atrás eu me casei com uma mulher para assumir a responsabilidade de ser pai pela primeira vez. SeungMin, este era seu nome… - Nem notara o quão fixamente estava encarando o rapaz à sua frente, encostado na parede. - Na época éramos muito jovens e a gravidez foi algo não planejado. Acabamos por não nos previnir como deveríamos e então eu tive que assumir a criança que estaria por vir. Não que aquilo me incomodasse, mas eu praticamente fui forçado à me casar aos 16 anos. - E riu ao se lembrar de toda confusão que fora para pedir SeungMin em casamento. - É claro que eu tive que trabalhar muito para poder dar um lar a ela e a criança que estava vindo, sem contar que meus pais também ajudaram muito com isso, e então compraram esta casa, como um presente de casamento. - Soltou o ar, sorrindo fraco, no entanto seus sorriso se desmanchou no momento em que se lembrara de sua primeira perda. - Sete meses se passaram e então o grande dia havia chegado… - Respirou fundo. - A criança estava vindo antes da hora... Os médicos já tinham avisado antes de que aquilo poderia ter arriscado e que Min, por ser muito nova, poderia ter complicações na hora do parto… - Suspirou, deixando que sua expressão se tornasse vazia aos poucos. - Aconteceu que ela não… Ela não resistiu à tudo e… Se foi. - Seus olhos se fecharam, seu coração falhou uma batida. - Nos últimos segundos ela me fez prometer que cuidaria daquela criança... E eu nem soube o que fazer quando ouvi o barulho da máquina irritante, apitando constantemente ao lado da cama…
JunHong estava boquiaberto, no entanto não ousou em dizer nada e acabar por atrapalhá-lo; sequer sabia o que dizer ou o que fazer, toda a verdade por trás daquele homem estava lhe estapeando de forma absurda.
- Mas então… - Bang continuou, a voz em um fio, quase rouca, melancólica, ganhando alegria novamente. - Não sei explicar, mas foi como se tudo tivesse parado no exato momento em que colocaram aquela criança nos meus braços. Foi… A coisa mais linda do mundo. - Sorriu largo, tão largo que sequer notara a lágrima vazia deslizando em sua bochecha.
- Como… Ela se chamava? - JunHong inquiriu, sentindo a alegria na voz do homem ao falar de algo tão precioso.
- À pedido de Seung, decidi batiza-la como MinHee. - Seu sorriso apenas se alargou. - Aquela criança foi… Foi… - Levou as próprias mãos para seu campo de vista, tentando encontrar palavras para se expressar. - Ela foi o único motivo pelo qual eu ainda levantava da cama todos os dias ela… Ela me abraça, me beijava, dizia que me amava, e isso todos os dias sem excessão, eu… Eu vivia apenas para ela e por ela… Eu me sentia o homem mais feliz do mundo por ter sido capaz de gerar aquela… Criatura tão linda. - Suas mãos começaram a tremer. - Ela era simplesmente perfeita, JunHong. Se você um dia tivesse a oportunidade de conhecê-la, com certeza diria o mesmo. - Afirmou trêmulo. - Eu decidi seguir a vida e me ocupar com a minha filha, deixando a morte de Seung para trás, até porque… Ela havia ido embora, mas me deixou aquele presente tão lindo… Foi o suficiente para que eu me contentasse com a sua ausência durante um bom tempo. Eu me dediquei em cumprir a promessa que fiz no dia em que Hee nasceu, eu cuidei dela com todo o carinho que poderia dar, eu a amei de todo coração como nunca havia amado ninguém antes. - Seu sorriso se tornou terno, cheio de sentimentos. - Era difícil para mim ter que dizer a verdade quando Hee me perguntava sobre sua mãe. No entanto… Ela sempre foi compreensiva. Nunca me cobrou a presença de uma mulher na casa e foi isso que me sustentou. Hee nunca reclamou de nada, nunca foi desobediente ou fazia birra quando eu lhe dava uma bronca por algo errado que havia feito. Ela… Era perfeita. Foram os sete anos mais felizes da minha vida. E-eu… Queria poder ter sido capaz de cuidar dela como havia prometido… Mas… Mas… Inferno, eu fracassei! - Seu tom se exaltou e logo entrou em um conflito interno consigo mesmo, praguejando-se por inteiro, sentindo as lembranças lhe invadirem como um baque abrupto. Tornou a encarar as próprias mãos, a visão turvou, pois seus olhos já estavam marejados e desta vez nem foi preciso ficar chapado para que a tristeza lhe invadisse por completo. - Eu… Estava indo buscar ela na escola, como fazia todos os dias, MinHee já estava me esperando bem enfrente ao portão, ela sorria docemente para mim… E eu mal sabia que aquela seria a última vez que a veria sorrir. - Fechou os olhos, apertando os punhos com muita força, lembrar daquele dia em especial era como estar levando facadas a cada palavra nova proferida. - Ela decidiu atravessar a rua antes que eu o fizesse, e… Eu tentei gritar quando percebi um carro em alta velocidade se aproximar, mas ela não me ouviu... Foi tudo muito rápido, quando fui perceber, já havia muito sangue no chão e o corpo dela… Havia sido arremessado para longe. Eu… Eu senti meu mundo desabar bem ali, senti como se… Tudo tivesse acabado para mim… Eu perdi a única coisa que ainda me dava forças e não pude fazer absolutamente nada! - Sua voz já estava embargada, porém ele ainda lutava inutilmente contra o pranto doloroso. - Deixei que a coisa mais preciosa do mundo escapasse por entre meus dedos pela segunda vez… Eu a perdi, JunHong! - Encarou o rapaz quieto, no canto da parede. - E não há um dia sequer que eu… Não pense nela, ou na voz dela… Ou que eu não imagine como seria bom, ao menos por alguns segundos ver ela correndo de novo por esta maldita casa!
JunHong soltou o ar pesado que guardava por longos segundos em seus pulmões. Sentia fortemente toda a dor na voz do homem, sentia-a em si também, foi quase impossível não conter a suspiro triste de seus lábios. Não esperou que ele continuasse, se deslocou da parede e passou a dar passos cegos em direção à Bang, erguendo as mãos para o tocar. Quando finalmente o encontrou, não heistou em abracá-lo apertadamente, o sufocando com aquele contato. YongGuk o abraçou de volta, enterrando o rosto na curva do pescoço albino, soluçando ali, molhando a pele do rapaz.
- Bang… - JunHong levou as mãos para seus cabelos, os acariciando. Ali, naquele momento, percebeu o quão frágil aquele homem era. Aquele YongGuk arrogante com quem esbarrara antes era apenas uma máscara, esta que fora tirada e agora estava a revelar sua verdadeira face. Bang era forte. Mantera a postura séria desde o início, mas parecia ter chegado em seu limite, ele estava se abrindo, seu coração estava em pedaços e JunHong percebera que foi somente por isso que ele era tão arrogante, inicialmente. Bang estava machucado, tão machucado que tal ferida fora capaz de o fazer esconder todas as mágoas do passado atrás daquela máscara negra. Aquele homem tinha um bom coração, nunca duvidara daquilo, o soluçar do mesmo em seu ombro o fez ter a certeza de que ele era forte e aguentara tudo deste o início, todas as dores, todas as mágoas, as perdas… Mas ali, naquele instante, ele estava tão sensível em seu abraço que sentia-se até bobo ao comparar com o outro YongGuk que conhecera há semanas atrás. Quem poderia julgar sua arrogância diante de todos os fatos que lhe ocorreram?
Agora JunHong entendia completamente o seu lado. Sabia que seu coração estava farto de perdas e queria poder ajuda-lo a superar aquilo, mesmo que fosse somente para o fazer sorrir ou… Qualquer outra coisa que não o fizesse lembrar de seu passado como algo horrível. JunHong já tinha uma visão sobre a morte e o que ela significava para si, queria poder passar seu ponto de vista para ele, queria fazê-lo compreender melhor, queria realmente ajudá-lo.
- Bang… - O chamou novamente, sentindo que este já estava se acalmando, de acordo com que as carícias em seu cabelo aumentavam. - Me ouça, por favor.
YongGuk ergueu um pouco o rosto, para rir de soprado.
- Droga, eu sou um idiota por estar chorando assim… - Encarou a figura do rapaz. - Desculpe por isso.
- Não. Não! Bang, não diga isso… Você é forte.
- Não. - Negou freneticamente. - Não sou. Nunca fui… Eu sou fraco. - Murmurou amargurado.
- Está equivocado. - JunHong afirmou, o apertando mais contra si. - Eu admiro muito sua força... - Acalmou seu tom. - Você… Pode ser você mesmo quando estiver comigo… - Falou, aflito. - Sem máscaras, sem nada. Eu… Quero você por inteiro sem… Sem que precise fingir ser um homem carrancudo arrogante. Você… Tem um coração tão bonito… Por favor, não esconda ele de mim… - Murmurou. - Sei que ele está machucado por conta de tudo o que houve antes, mas… Se você me deixar entrar, eu… Eu prometo que irei fazer bons curativos para que ao menos cicatrize.
YongGuk o fitou por longos segundos, desatando um sorriso largo por fim, o abraçando com mais força.
- Seu… Idiota. Eu já te deixei entrar há muito tempo. - Riu baixo, sentindo as mãos delicadas do rapaz voltarem para suas madeixas, fazendo-o quase ronronar com a carícia reconfortante. - JunHong, eu não quero te perder como eu as perdi. - Falou, agora mais sério. - Eu não quero que... Você se vá como elas foram, entende? Eu… Não quero que tudo o que houve hoje seja apenas coisas de somente uma noite, eu… Eu quero você. E quero ao menos conseguir te proteger como eu não as protegi...
- Ah, Bang... - JunHong sorriu, o apertando mais contra si, sentindo seu coração se encher de tanta ternura. - Eu não vou à lugar algum… - Entrelaçou as madeixas negras em seus dedos. - Eu só temia que fosse se esquecer de mim quando a manhã chegasse.
- Ora, seu… Imbecil, como eu poderia me esquecer de você? - Bang brincou, erguendo a sobrancelha, fazendo o outro sorrir mais largo. - Prometa… Que irá ficar comigo.
- E-eu prometo… Eu prometo, Guk. Vai ficar tudo bem a partir de agora… - Inspirou o ar delicioso dos fios escuros do homem. - Ouça. - JunHong falou. A voz calma do mesmo, a suavidade dele, o abraço quente que lhe envolvia, a forma como aquilo acalmava os gritos internos do homem era anormal. Bang ergueu o rosto para o olhar. - Não sei se acredita em vida após a morte, mas queria te dizer algo. - Suspirou. - Nada morre exatamente... As pessoas com quem vivemos são apenas uma essência de algo que está muito além da “carcaça”. - O rapaz finalmente encontrara a brecha para lhe passar seu ponto de vista sobre a morte. - Para mim, quando as pessoas passam desta vida para outro plano, ainda que seja inexplicável, elas continuam vivas, de algum modo, em algum lugar, porque… A essência nunca morre. Ela é viva e… Está entre nós, em tudo ao seu redor, nas pessoas, entende? Pode ser que… Seu corpo desfaleça, seus pulmões parem de se encher de ar ou que seu coração pare de bater… Sua visão irá escurecer e… Será o fim. Mas… A sua essência é unica e… Ela sempre vai estar viva.
YongGuk franziu o cenho, tentando compreender aquelas palavras.
- E o que quer dizer com isso?
- Que… Mesmo que… Elas tenham ido dessa vida para outro plano, suas essências ainda estão vivas, em algum lugar por ai. Só não sei aonde, mas estão. - Concluiu, sorrindo fraco. - Por isso… Não fique falando como se isso fosse definitivo. Como se… A morte fosse o final da linha para tudo. Nós, seres humanos temos a mania de ver o fim quando se chega nas fronteiras que ficam entre a vida e a morte, mas… Nunca paramos para nos perguntar o que há além delas. Eu não sou ninguém para me rotular como o mais esperto ou sábio, na verdade eu sequer aprendi um terço do que a vida ainda tem a me ensinar, mas… Eu acredito com todas as forças em minhas próprias teorias. A essência ela é… Muito delicada para que seja jogada fora assim… Então, acredito que há um lugar para todos nós após passarmos dessa vida. Só estou te dizendo isso porque… Não quero que fique se lamentando pelas suas perdas. Se elas se foram, é porque… Havia um motivo maior para que não ficassem. - Piscou algumas vezes. - Bang, eu não gosto de ouvir alguém chorar, isso… Me parte o coração, então, sorria... Pode ser que vocês se reencontrem do outro lado.
YongGuk pensou naquilo por um bom tempo e sorriu por fim.
- Bem… - Suspirou, quase extasiado com tudo o que ouviu. - Eu não estou com nenhuma pressa de ir para o “outro lado”, até porque… Agora eu tenho um motivo para querer ficar aqui. - Selou sua bochecha demoradamente, fazendo o rapaz corar até as orelhas com aquela confissão indireta.
- E-eu fico feliz por estar te fazendo pensar assim. - Fora tudo o que conseguiu dizer diante de tanta vergonha.
- O jeito como você lida com essas coisas me faz duvidar de que seja um adolescente. - Ergueu uma das sobrancelhas. - Você é muito esperto para um pirralho.
- Ah, Bang… - Sorriu docemente. - Estou vendo que você ainda tem muito para aprender…
- É. - Riu, o abraçando, deslizando a ponta de seu nariz no pescoço do mesmo. - Ainda bem que agora você é meu.
- Não fale assim… - Fez um pequeno bico. - Não sou objeto, YongGuk.
- Não, claro que não é. - Falou como se fosse o óbvio, sorrindo sacana. - Até porque, objetos sem valor são descartados por mim. Se você fosse um, eu não teria te levado pra cama.
O rosto do rapaz ferveu; como aquele homem conseguia falar de algo tão constrangedor com tanta calma?!
YongGuk notou a vermelhidão em seu rosto, enquanto ria de sua expressão indignada.
- N-não fique falando essas coisas pra mim! - JunHong resmungou, as bochechas queimando.
- Tá, tá… - Riu, enquanto voltava a enterrar o rosto na curva do pescoço alheio. - Você é muito tímido para o meu gosto.
O loiro tornou a acariciar delicadamente seus cabelos, não respondendo àquele comentário constrangedor.
Ficaram um bom tempo naquele silêncio, apenas apreciando o calor do corpo alheio. O contato de ambos agora era o que mantia seus corações aquecidos, unidos um ao outro. Agora que o rapaz sabia sobre seu passado, iria fazer de tudo para que não sofresse mais, para que não chorasse ou tivesse outra decepção da vida.
- JunHong. - O chamou, após um bom tempo em silêncio, apenas se deliciando com as carícias que recebia.
- Sim? - Respondeu baixo, sorrindo fraco.
- Obrigado.
- Não me agradeça, Bang… - Levou os lábios para os ouvidos do homem, um sorriso de meia lua brincando ali. - Apenas me deixe cuidar de você também…
YongGuk fechou os olhos, o apertando mais contra seu peito, o sufocando com aquele contato. Não o respondeu, pois JunHong já sabia que tinha sua resposta àquele pedido.
Bang bocejou preguiçosamente, virando o rosto para o loiro, selando brevemente seus lábios.
- Tudo bem se formos descansar agora?
- Certo. - Sorriu, sentindo sua cintura ser puxada e logo este ter os joelhos contornados e então ser içado do chão com cuidado, levando um quase susto pela abruptidão do ato. - B-Bang! Por favor… Quando for fazer isso, avise antes… Assim você me assusta, não posso ver, muito menos deduzir suas ações… - Se encolheu nos braços do outro, fazendo um pequeno bico, este que YongGuk não pensou duas vezes antes de o selar.
- Quanta reclamação. - Bang zombou, rindo da expressão brava do outro, esta que ao seu ver, pareceu totalmente adorável. Começou a andar e em segundos, já estava colocando o corpo do loiro em sua cama. - Até parece que vou te deixar cair.
- Mas mesmo assim me assusta! - Fez outro bico, irritadiço, este que rapidamente se desfez quando sentiu as cócegas em sua barriga. - G-Guk! P-pare! - Gargalhou alto, tentando segurar as mãos do homem sobre si. Aquela brincadeira não durou muito, logo YongGuk tratou de tomar seus lábios com suavidade, fazendo-o quase amolecer abaixo de seu corpo. As línguas se encontraram e então as mãos do homem se concentraram em tocar-lhe a cintura, levantando a regata branca, apenas para apreciar mais aquele corpo albino e a pele macia do mesmo, cheio de marcas de chupões aqui e ali. Suspiraram ofegantes e logo Bang cessou o beijo para desferir outros contra o pescoço do loiro. Ficou um tempo ali, enchendo-o de carícias, até que suas pálpebras pesaram e o sono lhe invadiu. Ergueu os braços para pegar o cobertor que estava na cama e cobriu seus corpos; aquela madrugada em si, estava um tanto fria, ótimo para que pudessem esquentar um ao outro. Acomodou o corpo ao lado do rapaz, deixando sua cabeça sobre a barriga do mesmo, sentindo as mãos delicadas se encaixarem em suas madeixas, as acariciando de forma que o fez até ronronar. Sorriu fraco e fechou os olhos.
JunHong ainda estava acordado, pensando sobre tudo o que havia descoberto naquele dia, amaciando as madeixas negras e sedosas que tanto apreciava. Ouviu a respiração leve do homem e sorriu ao deduzir de que este havia enfim dormido. Ali, pensou consigo mesmo em o quanto queria cuidar dele, de o quanto queria o guardar em seu coração para sempre e de o quão importante aquele homem se tornara para si em tão pouco tempo. Não queria de modo algum que ele se machucasse novamente; não poderia deixar que isso acontecesse. E então decidiu o que iria cuidar daquele homem. Iria fazê-lo esquecer as dores do passado para que vivesse as felicidades do presente. Iria fazê-lo sorrir.
Afinal; sorrisos, era isso que admirava.
Um dos cantos de seus lábios se ergueu levemente, fechou os olhos e soltou a frase em um sussurro para não acordá-lo:
- Eu te amo.
[...]
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