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História Bite Me - Careless


Escrita por: Lunatic-fringe

Notas do Autor


LEIAM ISSO!!

Adivinha quem voltou depois de séculos, sobrevivente de semanas de provas terríveis e professores piores ainda? EU!

... Ninguém liga, okay...

É, vamos ao terceiro capítulo daquela história que, depois de umas certas solicitações e pessoas dizendo que não achavam que essa estranha história de "amor" entre Beatrice e Kenny Omega havia acabado, eu optei por continuar. E assim foi. Agora estamos no penúltimo capítulo, alguém vai sentir falta dessa fic? Sinto que não...


Ps* A solicitação pela adição de NJPW como categoria ou pelo menos Kenny Omega como personagem, mas Spirit e rapidez são coisas que andam distantes uma da outra. Mais fácil eu conhecer o Kenny Omega pessoalmente antes deles me atenderem.

Ps²* Por que eu pedi pra vocês lerem isso? Sei não...


Música de inspiração (apenas pra esse capítulo):
- Careless - Theory Of A Deadman

Capítulo 3 - Careless


Fanfic / Fanfiction Bite Me - Careless

Careless

 

 

“Eu já disse à mim mesma milhares de vezes, isso não vai acontecer de novo 

Mas parece que você sempre arruma um jeito de voltar à minha mente” 

{...}

Eu nunca acreditei em "finais felizes". Não desde que tive minha primeira mágoa. Decepções nos ensinam a crescer e, essa em questão, ensinou-me a desconfiar da maioria das coisas e pessoas. A memória falha-me, mas lembro perfeitamente de uma célebre frase ouvida por mim, quando mais nova. "O amor é um flor roxa que cresce no coração dos idiotas"; pode parecer cômica, porém realmente tinha certo significado para mim. Principalmente porque, neste caso, a idiota sou eu. 

Depois de meu trágico reencontro com ele, após a final do G1 27, a vida seguiu como poderia. Matt e Nick tentaram falar comigo naquela mesma hora mas não conseguiram. O motivo era simples: eu sabia me esconder muito bem quando queria. Evitei contato com o "mundo exterior" pelo resto do dia, voltando para o hotel sem eles e trancando-me em meu quarto. Àquela noite, adormeci em meio às lágrimas. Sozinha, como queria. A manhã seguinte forçou-me contato com os dois irmãos; apenas devido à nossa viagem, senão a realidade seria bem diferente. Tanto que nem fiz questão de passar de assuntos banais com ambos. 

Assim seguiu-se por mais ou menos 2 semanas até o mais novo dos Bucks convencer-me a sair do isolamento. O resto da Bullet (Cody, Marty e Page) já estavam estranhando minha ausência na maioria das reuniões e Matt nunca foi bom em guardar segredos. Se dependesse dele, uma hora ou outra, o acontecimento seria revelado. Resultado: fui obrigada a voltar a frequentar os encontros, as sessões fotográficas... Ah, e claro, conviver com Kenny. Tive de me forçar o silêncio e fingir que estava tudo bem. Não era boa nisso, mas situações drásticas exigem medidas também drásticas. Em pleno e literal sentido da palavra.  

O Cleaner, por sua vez, parecia ter nascido para isso. Conversava comigo como se nada tivesse acontecido. Nunca. Nem mesmo aqueles primeiros momentos quando tudo começou. A história fora apagada, feliz ou infelizmente. Normal. Eu conhecia esse lado dele; a maior frieza da qual ele era capaz, aquela vista oficialmente dentro dos ringues junta ao deboche. Eu era o alvo do momento e, tirando Matt e Nick, ninguém percebia. 

Porém, se ele quis assim, quem poderia discordar? Agi como mandava o contexto; escondi meus sentimentos e disfarcei qualquer incômodo. Aos olhos de geral, éramos apenas amigos não tão próximos. Os desconhecedores de nossa história nunca suspeitavam e, também, eles tinham coisas mais importantes com as quais se preocupar. Os Bucks estavam saturados de problemas. A WWE mandara-lhes um "Cease & Desist" (um tipo de processo) pelo gesto do "Too Sweet" e proibira-os de vender qualquer merchandising onde tal aparecesse. Que tipo de amiga seria eu se os incomodasse com meus estúpidos questionamentos? 

Não vou mentir, ainda pensava nele. Além do que deveria. Certos dias, era impossível encontrá-lo e passar o resto do tempo fingindo estar bem quando, por dentro, o incômodo persistia. Noutros, a situação mudava: a convivência ocorria perfeitamente... Até eu voltar para casa (ou quarto de hotel, que fosse) e ver-me sozinha com meus próprios pensamentos. Cada detalhe vinha-me à mente. Os cachos de seu cabelo, a cor de seus olhos, o sorriso quase sempre ladino, as mordidas que me tiravam o ar. Infelizmente, já nem era mais apenas desejo. 

Tudo atraía-me de volta para o mesmo. Sentia falta dele e daquela pequena sensação de que era meu... Mas Kenny nunca fôra. Podia apostar o quanto sua mente ainda vagava ao pensar em Kota. Talvez eu tivesse apenas servido de mera distração por curto tempo, como um objeto imprestável e descartável. Ah, como queria odiá-lo! Tecer-lhe um rol de xingamentos por me fazer amá-lo; mas não conseguia. Era como se, no fundo, entendesse seu lado. 

Os Bucks sabiam disso, ou ao menos tinham certa ideia do que se passava em minha mente. Portanto, não forçavam o assunto nem perguntavam; apesar de eu ter quase certeza do quanto ambos ainda me queriam junto ao Cleaner. Principalmente Matt, o mais velho e inconformado dos dois. Porém, o destino estava selado. Sem outras histórias de amor deturpadas com Kenny Omega. Assim prometi à mim mesma. 

{...}

- ... O que tá fazendo? Tirando foto?  

- Não... Tô olhando a parede! - respondi, ríspida e sarcástica, dirigindo meu olhar à Marty; que já me observava em silêncio fazia tempo. Ainda assim, ele pareceu não entender. - Claro que estou tirando foto né, Marty!? Que pergunta besta! - revirei os olhos, largando minha câmera na mesa ao lado.  

Verdade seja dita, não peguei tão pesado para alguém que acordara um tanto mal-humorada. Mas, isso já foi o suficiente para o inglês começar com seu clássico drama. Em questão de segundos, o mesmo moldava uma expressão de tristeza, também chamada de "a clichê carinha de cachorro sem dono", no rosto e olhava-me como se eu o tivesse machucado, ameaçando chorar à qualquer momento e fazendo questão de afastar-se. Isso era demais pra mim.  

- Oh God... Calma, Marty, eu não falei por mal! Desculpa - sim, eu fiz questão de seguí-lo; pousando minha mão em seu ombro para que voltasse a me olhar.  

Inacreditavelmente, foi só ele virar um pouco o rosto para eu ver o quanto fora trouxa. O inglês estava com a mais cínica cara de riso que já vira. "E o prêmio de mais trouxa do ano vai para... Beatrice!", pensei, revirando os olhos em puro ódio. - Sério, Marty? Sério mesmo?! - fuzilei-o.  

- O que? Eu não fiz nada - ele sorria, forjando uma perfeita inocência.  

- Ah, claro! - bufei. - Fez nada não que eu sei. Acredito muito... - no quesito dissimulação, ele não era o único mestre; eu tinha minhas manhas mas, sinceramente, nem queria mais falar com o mesmo. Por isso que me virei, ignorando-o. A lista de afazeres estava longe de ser pequena. 

Wait... Espera um pouco, por favor! - ele se precipitou, seguindo-me inquieto como uma criança. - Fica comigo, eu estou tão sozinho...!  

- Você tem um Meet & Greet pra participar. - apesar de seu choramingo, fui ríspida. Não estava em posição de me importar com isso. Amanhecera com uma terrível dor de cabeça que, até agora, não apresentara sinais de melhora e meus pensamentos faziam complô, prendendo-me num loop de lembranças de Kenny.  

- Mas falta muito tempo... !  

- Não ligo. - continuei andando. Alguns funcionários olhavam-me como se eu fosse doida. Tanto faz, estava sem clima para conversa e não seria um vilão que me convenceria do contrário.  

- Por favoooooooor - Marty arrastava vogais da palavra, exagerando no sotaque enquanto vinha com a brilhante ideia de me agarrar pela barriga para que eu não pudesse andar. Se ele queria me parar, tinha conseguido. Até tentei seguir caminho, mas a diferença de força impediu-me.  

- Me solta, Marty.  

- Não.  

- Agora. - ordenei.  

- Não quero.  

- A-G-O-R-A. - praticamente soletrei as palavras, cuidando para não aumentar o tom de voz. Já chamávamos atenção o suficiente pela situação, mais seria impensável.  

- O que eu ganho se lhe soltar?  

"Ah, não. Nem vem!", exasperei mentalmente, revirando os olhos. O Villain tinha esse problema. Sempre levava grande parte da coisas para o lado de sua maior inconveniência: a negociação. - Não pense que vou lhe oferecer algo em troca disso. É sua obrigação me soltar. - afirmei, resoluta, encarando-o sem titubear. 

Ele pareceu pensar um pouco antes de responder, dando de ombros logo que chegou à uma conclusão. - Então serei obrigado a fazer isso.  

Antes que eu pudesse perguntar a quê ele se referia, senti-me ser erguida e colocada em seu ombro, como um saco de batata. - Mas o quê... MARTY, ME SOLTA! - não tardei a gritar nem bater contra suas costas, exigindo que o mesmo me soltasse e, pelo amor de Deus, parasse de andar comigo pelo extenso pavilhão. - Marty, eu não tô de brincadeira. ME SOLTA AGORA, SEU DESGRAÇADO! - ordenei, socando-o com a máxima força de meus punhos. 

- Ai! Você bate forte pra uma garota, hein! Já pensou em ser lutadora? 

- Já sim. AGORA ME SOLTA!  

- Hum... Não! - seu riso parecia soar pelas narinas de tão puxado. Fofo, mas, no momento, tal ato só serviu para aumentar minha ira. 

- Marty, quando você me soltar... Vai ver só. - ameaçei, tratando de segurar a barra de meu vestido para evitar piores vergonhas.  

- Veremos, estressadinha, veremos. - ele me subestimava. Ainda pagaria muito caro por isso. 

- Marty Scurll, você não sabe... 

- Trixie! - era só o que me faltava. A voz de Matt interrompeu-me, anunciando sua presença conjunto ao irmão. Não precisava olhá-los para supor isso. 

Lamentavelmente, minha posição impossibilitava-me de cumprimentá-los. Acho que nem preciso especificar como Marty estava me carregando mas, uma coisa posso garantir: sentiria-me um tanto menos desconfortável se ambos vissem meu rosto e não a "outra face". Tudo pareceu uma eternidade até o maldito inglês largar-me no chão e eu poder me virar, assim tendo certeza do quanto a situação só piorara no quesito vergonha. Todos estavam juntos, incluindo Kenny.  

- Preguiça de andar? - Matt tirou sarro, vendo como meu rosto queimava de tão ruborizado. Provavelmente eu parecia uma nova espécie de tomate ou quase isso. 

- Ha Ha, muito engraçado. - revirei os olhos, evitando olhar para o Cleaner. Ele era o único a não rir, e era exatamente essa falta de humor que me desconcertava. 

- C'mon, Trixie! Não foi tão ruim - foi a vez do Villain se meter. - Eu aproveitei  como pude. - ...e também foi assim que seu rosto conheceu meu tapa. - AAAAI! O que eu fiz de errado?!  

- Nasceu. - não me arrependi de meu jeito ríspido dessa vez. Ele mereceu. Tudo bem que o mesmo começara de novo com o drama, mas eu tinha coisas mais importantes com as quais me preocupar; tipo o porquê de Kenny Omega ser o único remanescente sério. 

Seu olhar parecia perdido, irritado. Eu gostaria de pensar que era ciúmes mas no fundo sabia da verdade. Se houvesse uma lista de coisas impossíveis, esse seria o primeiro lugar. Enquanto todos enrolavam-se em uma confusa conversa, encabeçada por Marty, ele dispersava-se em pensamentos. Alheio, além do normal; permaneceu assim até decidir ir embora, fazendo questão de passar próximo demais à mim em seu caminho. 

- Precisamos conversar. - a voz dele soou profunda em meu ouvido, pegando-me desprevenida, o suficiente para provocar-me os mesmos calafrios de antigos momentos; mas eu não podia demonstrar nem imaginar nada. Era apenas uma frase qualquer. Ambígua, porém, simplória.  

Cheguei a arquear uma sobrancelha, perguntando silenciosamente o porquê em nossa breve troca de olhares. Ele não fez questão de responder. Sua expressão impassível apenas observou-me por poucos segundos, provavelmente para confirmar se eu o seguiria, e depois tornou-se para o caminho à frente. Certas sensações dentro de mim aconselhavam-me a ignorar, mas, a curiosidade sempre falara mais alto. Então, assim fui; saindo despercebida da roda que se formava com a presença de todos (o inteiro cast do Being The Elite - Matt, Nick, Marty, Cody e Page). 

Com o canto de olho, tive a impressão de que um dos Bucks notara meu afastamento. Nick parecia me observar, não diretamente, mas certamente percebera minha saída com Kenny. Talvez, no fundo, tivesse alguma ideia do motivo. Nada de preocupante, em si; pois ao contrário de seu irmão mais velho, ele sabia guardar segredos e disfarçar. Nessas horas, eu agradecia ao fato de Matt estar entretido em uma estranha conversa com o Villain. 

Segui na mais aparente calma que conseguia forjar. Andando de modo despreocupado e tentando me manter afastada o suficiente para não levantar suspeitas. Por dentro, meu coração palpitava. Eu prometera a mim mesma: sem esperanças. Mas a situação era diferente desta vez... De alguma forma, era. Kenny levou-me até um ponto distante, remoto, do centro, fixando-se no corredor de uma das saídas emergenciais. Havia duas salas, apenas uma delas entreaberta. 

Um tanto incerta, após checar os arredores, adentrei o corretor a passos curtos; logo vendo-o encostado contra a parede de frente à porta entreaberta. Temerosa por motivos desconhecidos, pus-me no lado contrário e comecei a observá-lo. Sua expressão parecia tão fria... Minha certeza era de que toda a serenidade faltante em mim, transbordava nele. Ao meu ver, ele continuava lindo. O bastante e até mais para eu desejar quebrar a distância e buscá-lo.  

Incrível como, sem aviso prévio, meus sentimentos tinham acordado e inundado a mente. A idiotice era tamanha a ponto de pedir por um simples abraço, tudo para ter seu corpo junto ao meu. De novo. - O que você queria falar comigo? - quebrei o silêncio, chamando sua atenção, e lentamente observei-o dirigir o olhar à mim e aproximar-se. Foi o suficiente para que eu tensionasse todos os músculos e me recolhesse à insignificância de encarar o chão. 

Seus passos eram silenciosos mas, acompanhados das batidas descompassadas de meu coração, eram a perfeita sintonia para minha ânsia. O que esperar quando sua mente parece presa a uma pane? Nunca saberia a resposta. Em pouquíssimo tempo, eu já tinha Kenny Omega à frente. 

Respirando como se o ar me faltasse repentinamente, não ousava olhá-lo; mas ele fez questão de levantar meu queixo. E antes que eu pudesse questionar o porquê... Senti meus lábios serem levados ao encontro dos seus. 

Um beijo. Há quanto tempo ansiava por isso? Não sei. Eu deveria afastá-lo, mas nunca o faria. Precisava disso mais do que posso explicar; tanto que, sem nem pensar, depositei minha mão direita sobre seu abdômen e puxei-o de encontro à mim pela camisa. 

Ele parecia tão necessitado quanto eu. Isso me motivava; tanto que, ao sentir sua mão direita descer por minhas costas, permiti-lhe tocar minha bunda e levantar breve parte de meu vestido. O suficiente para eu fervilhar internamente e desejar mais. 

Mais... Eu poderia ter isso. A sala ao lado, vazia e aberta, permitia-nos. Talvez fosse errado, proibido, mas não estava em ocasião para questionar o tênue inverso do certo. Sua força alçou meu corpo com a mesma agilidade de sempre, entrelacei minhas pernas à parte inferior de seu torso e deixe-me levar.  

Cada ato por mísera fração de segundo condizia com a intensidade já inexplicável do beijo. Intercalávamos mordidas entre buscas por fôlego. Minhas costas arqueavam contra a parede; eu dedilhava seus cachos, enroscando-os, enquanto minha mão direita depositava-se ao cós de sua bermuda num silencioso pedido. "Agora, por favor", não aguentava mais procrastinar. Queria esquecer por completo os arredores, além do que já esquecera. 

 

O exagerado pigarro soou como um alarme, reverberando por minha mente até eu reconhecer de quem era e pensar no que fazer. Não tardei a forçar nossa separação, saindo de seus braços como se, de repente, repudiasse aquilo que há poucos segundos se fazia meu lar. "Meu..."; essa palavra ainda me soava estranha, mas o tempo para maiores reflexões já acabara.  

Cada um deles olhava-nos com espanto. Cody, autor do pigarro, escondia quaisquer reação sob a face impassível, mas seu olhar parecia questionador. O resto, por sua vez, não fazia questão de esconder a surpresa... Bem, se é que isso pode ser chamado de surpresa. Matt e Nick eram os únicos cientes dos detalhes da sórdida história compartilhada entre mim e o líder da Bullet Club. Ainda assim, eles observavam-me num misto de opiniões. Opiniões estas as quais preferia desconhecer. 

Tudo ocorreu rápido demais para esboçar reação. O tempo estagnava-se sem consentimento enquanto meu corpo tremia. Minha mente ainda não raciocinara e os olhares sobre mim pareciam culminar com a tamanha lentidão da mesma. Em flashs, eu revia como a situação desmoronara por simples questão de momento. Quem diria que me arrependeria tão rápido do beijo?  

Como esperado de Kenny Omega, ele escondeu quaisquer reação. Eu não reunia grande coragem para olhá-lo mas tive essa certeza quando o ouvi dizer que precisava se arrumar para a luta e sair. Tão fácil, tão simples. A imunidade de ser o líder permitia-lhe tal façanha; ou talvez tudo isso fosse porque todos estavam sem palavras.  

O que eu mais desejava era sua sorte, pois bastou ele sair para os olhares de geral me tomarem como ponto fixo. Comprovei isso com uma simplória 'espiada' de canto; a coragem também me faltava ao lhes dirigir o mínimo olhar. Vergonha? Talvez. De repente, toda e qualquer certeza caiu por terra. Em mim predominava arrependimento e ódio, substituindo desejo e outro sentimento o qual teimava em nunca admitir. Tamanha felicidade seria se, sob meus pés, um buraco abrisse e engolisse-me por completo... Mas tinha conhecimento do quão impossível eram minhas vontades. 

Não sei exatamente o quê me levou a deixar a estagnação. Quando finalmente movi meus músculos, retesados até então, e ouvi Cody chamar meu nome; um último suspiro de coragem fez-me murmurar uma esfarrapada resposta ("Não quero falar sobre isso") e sair, sem olhar para trás. Minha especialidade. 

{...}

- Você sabe que precisa falar com ele, né?

Minha recepção ao sair do banheiro, plenamente vestida após um longo banho quente, foi uma afirmação disfarçada como pergunta. Não esperava que Matt e Nick já estariam no quarto quando eu terminasse mas podia muito bem ter imaginado. Ambos pareciam exaustos da luta mas felizes, até certo ponto; mais uma vitória consagrada, suponho. O olhar de preocupação só se fazia presente devido à mim, e, podia prever como eles não deixariam o cansaço derrubá-los até me convencer a falar com Kenny. De novo. - Como foi a luta? - desviei o assunto, aproximando-me de minha mala enquanto procurava não olhá-los. 

- Fantástica! Eles não tinham como... Espera um pouco. Você não está querendo me distrair, né? - Matt pareceu perceber, no último instante, minha intenção; ganhando um longo revirar de olhos do irmão, que massageava a têmpora mediante a ingenuidade do mesmo. 

- Eu? Nunca... - dissimulei, ainda evitando uma troca de olhares com ambos. 

- Ah, ótimo! Pois se você estivesse, eu... 

- Matt, ela está definitivamente te enrolando. - Nick interrompeu-o, atestando o óbvio.  

- ... ESTÁ?! - cada vez mais eu me surpreendia com a ingenuidade dele. - Beatrice, por quê você faz isso? 

Demorei a respondê-lo, jogando meu corpo sobre a cama e fechando os olhos. No fundo, eu só desejava esquecer tudo.Como sempre. - Não faço ideia... - balbuciei a primeira coisa que me veio em mente como resposta, ouvindo um longo e pesado suspiro de réplica. 

- Você precisa falar com ele.  

- Sobre...? Acho que já tivemos conversa o suficiente por um dia. - ironizei, tendo pleno conhecimento de minha condição.  

Mais um suspiro, dessa vez misturado com o bufar. - Na verdade, você precisa falar com ele sobre seus sentimentos. 

A afirmação fez-me erguer o corpo, começando a fuzilar Nick como se toda a decepção, misturada com meus mais confusos sentimentos, se unisse em único momento. - Meus sentimentos?! Se você não lembra, eu já falei sobre isso com ele. Quer dizer, tentei! E sabe o quê ganhei em troca?! Um "vai embora"! - exasperei. O suficiente para surpreendê-los, mas eu ainda não tinha terminado. - Irônico, não? A resposta para meu "Eu te amo", foi uma ordem para que eu fosse embora e o deixasse em paz. E assim fiz! Fingi que estava tudo bem por muito tempo, mais do que eu mesma pensava conseguir, convivi com ele como se nada tivesse acontecido... - dentro de mim, algo transbordava. Mágoa, talvez. - Foi tanto que até julguei tê-lo esquecido. Mas nada passou de uma mentira contada à mim mesma... - minhas lágrimas, formando-se no canto de meus olhos, forçou a parada. Se pudesse ser sincera, diria que ainda restava muito a falar. 

Eles permaneceram calados, atônitos. Eu em si não esperava resposta nem fiz questão de esperar. Em golpe rápido, levantei da cama e, sem pensar, peguei minha jaqueta acima da mala; dirigindo-me à porta num modo quase automático. - Aonde você vai? - Matt foi o primeiro a perguntar, sobressaltando-se junto ao irmão.  

- Lugar nenhum. - fui ríspida, fechando a porta atrás de mim após responder para não ouvir mais uma palavra sequer.  

O quarto que dividia com eles era no nono andar mas, no momento, eu fazia questão de descer sei-lá-quantos lances de escada só para despitá-los. Não queria ser seguida. Tamanha vontade motivou-me a ignorar o cansaço e chegar à recepção do hotel, respirando com dificuldade devido à velocidade com a qual desci e logo buscando um local para passar o resto da noite.  

Eu não tinha intenção de voltar. Preferia perder meu tempo, sozinha, encostada em algum lugar, do que aguentar mais uma conversa sobre o quanto minha situação está fadada ao fracasso. Como eles ainda tinham esperança num final feliz entre mim e Kenny?! Isso nunca foi um conto de fadas. "Tudo não passou de um erro...", concluí mentalmente, ainda cuidando para recuperar o fôlego da recente corrida. 

Ironicamente, se eu buscava a plena solidão com meus pensamentos, não a teria de modo tão fácil. À poucos passos, Cody e Marty conversavam, em tom alto, animados aparentemente pelos resultados da recente luta. Pelo visto, a mesma fora realmente fantástica como disse Matt. "Pena que não a vi...", lamentei, tratando de fugir aos olhares de ambos. Já tive "conversas" demais por uma noite. 

Meu grande desvio ao passar pelo saguão do hotel levou-me até o canto mais isolado do pequeno bar adjacente. Pouca iluminação, mesa para apenas uma pessoa... A perfeição para quem desejava a solidão e o esquecimento. Não pretendia jantar nem beber nada. E foi com tal pensamento que me alojei e deitei minha cabeça sobre a madeira fria, cobrindo-me com a jaqueta a qual trouxera para disfarçar meu desleixado modo e me proteger do frio noturno. Passaria assim a noite. Lamentável? Talvez, mas estava longe de me importar.  

{...}

Onze horas e onze minutos. Um horário um tanto quanto irônico para quem nunca acreditou em horas iguais. Mas, parece que o destino optou por receber-me com mais uma ironia.

Piscando os olhos languidamente, só conseguia enxergar os números fosforescentes do relógio disposto à certa distância. O torpor fizera-me cochilar durante uma hora talvez, suficiente para eu me erguer levemente tonta e com um estranho vazio no peito. Sonhara com ele, tenho certeza.  

Queria chorar, faltavam-me lágrimas para tanto do mesmo como faltava um lugar aonde ir. O American Nightmare e o Villain haviam partido, provavelmente retornardo a seus quartos, e os Bucks já teriam cedido ao cansaço pelo horário. Preocupados ou não, o dia fora longo. Sem chances de eu voltar para lá e incomodá-los. No fundo, era melhor assim. 

Na verdade, minhas pernas já haviam decidido por si só para onde me levar. Quando dei por mim; estava no elevador, pressionando um dos botões luminosos. Nono andar. A direção é além do quarto dos Bucks. Por que persisto em ir aonde não devo? Se fosse adepta da poesia, diria que sou como uma mariposa idiota atraída pela luz. Ou uma trouxa muito corajosa. Não sei. O torpor calou minha reflexão nesse ponto.   

Poderia dar meia volta. Ir embora e não olhar para trás. Isso era loucura, tanta que, ao chegar à sua porta, meus músculos retesaram, mantendo-me parada. A coragem, suficiente para me fazer vir até aqui, esvaíra-se. "Por que raios tive essa terrível ideia?", questionei internamente, culpando-me enquanto, em ato involuntário, batia levemente na madeira com as costas de minha mão.  

Minha visita talvez fosse uma perda de tempo. Ele poderia não estar; ou demorar a atender, o suficiente para eu ir embora e fingir que nada aconteceu. Era uma boa opção, até eu ouvir o barulho da porta sendo destrancada. Só assim reparei em como meu olhar depositava-se sobre o chão, sem coragem para erguer-se e encarar aquele do qual, primeiramente, vi os pés. Descalços, como já esperava.  

Com o abrir da porta, meu olhar subiu involuntariamente de encontro a seu; parando primeiro sob o roupão meio aberto que dava visão para seu abdômen. Controlei-me para não morder meus lábios, encarando finalmente o rosto. Em questão de segundos, nossos olhares se encontraram. E mais um milésimo foi o necessário pra ver um sorriso surgir em sua boca. Eu havia esquecido o quanto esse simples ato fazia meu coração palpitar. Esses olhos os quais eu nunca saberia definir a cor exata, por vezes cobertos pelos cachos do cabelo, bagunçado como sempre. "Por que nunca consigo lhe esquecer, Kenny?", essa era apenas uma das milhares de perguntas sem resposta. 

- ...  À que devo a visita? - seu tom de voz soou calmo, levemente curioso; além de me fazer acordar dos devaneios. Não podia me permitir uma distração dessas, mas engoli em seco ao perceber que nem tal pergunta eu seria capaz de responder. 

{...}

"Toda vez eu acabo voltando a bater em sua porta"


Notas Finais


Vamos terminando aqui, cuidando para não irritar meus caros leitores que POSSIVELMENTE querem me trucidar...

Então, que final hein!? Por que a Beatrice fez logo isso? Como o Kenny a tratará? Essas e mais milhares de perguntas formam-se agora.

Ps* NÃO ME MATEM POR TERMINAR O CAPÍTULO ASSIM! No próximo vocês saberão o, enfim, final dessa história conturbada, e um tanto envolvente, entre Kenny Omega e Beatrice. Mas, contem-me, o que estão achando? Marty, Cody e Adam Page fizeram uma participação um tanto especial... E viram o que não deveriam! E o que falar dos Bucks? Nick e sua vontade de ajudar, Matt e... Sua tapadice extrema, porque né.
Aliás, deixei aquele gostinho de "quero mais" e "o que aconteceu"? Espero que sim porque esse é sempre meu objetivo hehe. Segurem a curiosidade que o fim lhes dará uma graaaaande surpresa.

Ps²* Não matem o Kenny também. Sei que vocês já tão com essa vontade desde o último capítulo, mas, controlem-se! Vai valer a pena, juro.

Ps³* Não procurem meu endereço para mandar mercenários nem etc. Se vocês acharem um prédio, na frente de uma araucária, com 21 andares, de nome FlexCity; em Curitiba... Eu não moro aí não, quem mora aí é a Juanita (não questione).

Comentários são sempre bem vindos então já sabem.
Até o próximo e último capítulo, serzinhos adoráveis! ~sai fugida de modo mais rápido que o Flash~

Aparência da Beatrice ~> https://www.polyvore.com/careless/set?id=228566776
Música inspiração ~> https://www.youtube.com/watch?v=Efgst97IE8E


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