Jorel atingiu um ponto de sua vida em que encontrava-se em um impasse, acreditando que nada mais daria certo e nunca chegaria a realizar os sonhos que havia planejado desde que ele se conhecia por gente. Sentia culpa, arrependimento e um sentimento de desprezo por ele mesmo porque simplesmente estava cansado dar errado.
Suspirou pesadamente ao perceber que as coisas não se arrumariam sozinhas, Jorel se questionava como alguém conseguia fazer uma bagunça tão grande em um quarto tão pequeno, estava cansado daquela rotina e de se ver preso aquela bagunça que era seu apartamento e Danny.
A história deles era parcialmente confusa, tudo começou rápido, tornando-se sufocantemente bom. Aos poucos seu arsenal de músicas ocupou toda a playlist de Jorel, assim como suas roupas que se misturaram com as Danny até ele vesti-las pensando que eram suas.
Várias vezes a voz de Danny vinha em sua cabeça como um flashback aterrorizante, um pequeno flash das frases que ele dizia lhe corroíam cada vez mais sem que o mesmo percebesse, desejando a cada dia mais que aquelas lembranças fossem esquecidas.
Jorel ainda conseguia ouvir os gritos dele quando disse que queria terminar.
Danny berrava dizendo que era cruel, que não podia abandoná-lo, que não queria fazer aquilo. Dizia que ia mudar, choroso, mas logo em seguida voltava com as mesmas ameaças e chantagens.
Ele sempre caía em sua lábia.
Jorel simplesmente não conseguia se manter firme quando Danny agarrava seus braços dizendo que o amava. Apesar do amor ser algo que nos mantém vivos, ele não estaria vivo por dentro mesmo que quisesse.
Havia os momentos de lucidez em que Jorel procurava os resquícios da paixão existentes no início daquele relacionamento e procurando motivos para manter-se de mãos atadas, aceitando o que ele sabia não merecer. Por um momento jurou estar inventando coisas e que tudo não passava apenas de uma preocupação momentânea.
Daniel era errado de tantas maneiras, tóxico em tantos níveis e ambos eram desencaixados como peças de um quebra-cabeça que não foram feitas uma para a outra; ele era uma completa bagunça que havia arrastado Jorel para a tragédia que era sua vida repleta de antidepressivos e cigarros baratos.
Houve o ponto em que Jorel se destruía para consertá-lo. Porém, ele não havia notado que era Danny que estava o quebrando e quando percebeu isso já era tarde demais; sua estabilidade mental havia sido destroçada ao mesmo tempo em que Danny fizera o outro acreditar que ali era seu lugar; ao seu lado, seguindo suas ordens porque estas eram para o seu bem.
Jorel tinha receio de olhar-se no espelho e lembrar dos insultos, enquanto via as olheiras cada vez mais escuras. Desde o início havia idealizado o relacionamento perfeito, mas sua vida se tornou um verdadeiro inferno quando Danny começou a ter suas crises de ciúmes, iniciou-se com os gritos, depois uma briga mais fervorosa até que começaram os xingamentos, tapas, chutes e socos. Tinha hematomas e feridas pelo corpo e tentava escondê-los com roupas de manga longa, se algum amigo perguntava durante os ensaios o que havia o ferido, Danny riria, diria que não havia sido nada e ainda olharia de soslaio para Jorel.
As veias arroxeadas em seus pulsos eram a certeza de que estava vivo, pois a pílula do calmante rasga sua garganta duas vezes mais do que a sua voz estridente que ecoa pelos cantos do apartamento à procura do motivo pra seu coração bater mais rápido. No fundo, Decker odiava o modo que vivia, mas os calmantes e remédios para dormir ajudavam-o a acostumar-se com aquele relacionamento tóxico.
Fosse o gosto de nicotina em seus lábios, ou apenas o cansaço causado por uma noite mal dormida, as marcas ainda eram muito memoráveis ele sabia exatamente a dor de um abuso moral e terror psicológico. Danny nunca fora o que ele procurava em um relacionamento, ele era um buraco negro que destruía tudo e todos ao seu redor.
Na maioria das vezes, Jorel tinha a súbita vontade de pegar suas coisas, sair correndo dali e abandonar quem mais amava no mundo. Todavia, perdia as forças quando ouvia a voz de Danny, pedindo para ficar, jurando que mudaria. No fundo, ele sabia que as coisas não ficariam bem. Ninguém conseguia esconder os problemas e fingir que nenhum deles existiam só pelo o bem de uma relação.
E toda essa confusão de pensamentos bagunçados não tinha nenhuma lógica. Pensar antes de se entregar também não tinha nada a ver consigo e analisar os riscos antes de se jogar do abismo, muito menos.
A ruína de ambos era uma verdade tão barulhenta e quase impossível de ignorar. Estava nas escapadas de Daniel, nas tentativas falhas de Jorel e nas feridas nunca cicatrizadas.
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