História Black Forest - A Fresh Start

– Corte a cabeça dele. – Vossa majestade ordena.

– Não! – Mesmo que eu gritasse era impossível de ser ouvido, pois a plateia começava uma contagem regressiva.

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0…

Outra lágrima cai pelo canto do meu olho esquerdo, passando pela minha bochecha e encontrando o chão quente de areia da arena...

Os segundos decresciam lentamente, parecia que tudo estava lento para mim, enquanto os demais euforizavam a arena velozmente e com empolgação. Cada número decrescente passava em minha frente, minha cabeça raciocinava individualmente cada um deles, tortuosamente.

As vozes eufóricas criavam estática em meus ouvidos, sentia-me sufocado, com falta de ar, só de ver o carrasco levantando o machado.  Minha mente foi a mil, pensava nas diversas controvérsias que estavam me aterrorizando.

Desde pequeno, nunca tive muitos amigos, aliás nenhuma pessoa que eu tratasse assim. Meus familiares mortos. Todos a minha volta parecem desaparecer diante os meus olhos.

Mas isso não irá continuar. Eu preciso agir.

Enquanto o povo gritava os últimos segundos de vida do meu amigo, corri em sua direção, usando as mínimas forças que restavam em meu corpo, esbarrando meu tronco brutalmente na lateral de Jeongguk, fazendo ambos cairmos de qualquer jeito no chão, levantando areia e cessando os berros da fervescente plateia.

– Você me salvou. – Jeon diz, suas lágrimas eram videntes, assim como as minhas. – Obrigado, eu sabia que você conseguiria. – Ele desaba em choro enquanto me abraça.

– Parabéns, Taehyung. Você provou fidelidade ao meu filho, você passou no julgamento, mas estarei de olho em você.

Como? O que está havendo?

A plateia ergue-se da arquibancada e ferve novamente a arena, porém dessa vez de aplausos.

– Kim Taehyung! – Vossa majestade se pronuncia. – Creio que meu filho fará melhores explicações do que eu. O que eu tenho a te dizer agora é que você não estaria vivo se não fosse por ele.

A nobreza e as majestades deixam o local, com isso a plateia começa a se esvaziar também, porém não deixo de perceber o sorriso e olhares sobre mim.

O carrasco nós coloca de pé e convida nos a sair da arena. Ao lado de Jeon, caminho a grande porta que entrei naquele lugar. Ambos calados, eu preso aos meus pensamentos perdidos, a cada momento encaixando uma peça daquele quebra-cabeça confuso, e Jungkook somente olhando-me confuso, limpando as lágrimas em segredo.

– Ele é seu pai? – Pergunto ao sair da arena, notando mais nenhuma presença de guardas.

– Sim, mais ou menos. – Ele responde curto, talvez não querendo puxar algum assunto agora, mas eu insisto.

– Você sabia disso tudo e não me avisou? – Elevo meu tom de voz.

– Não, Taehyung. Eu não sabia. – Mesmo seu tom parecendo não ter um pingo de falsidade, julgo-o mentiroso e soco algumas vezes seu braço.

– Eu podia ter morrido do coração naquela arena. – Bagunço meu cabelo e respiro fundo. Algumas lágrimas teimosas escorrendo no canto de meu olho.

– Não sabia que você se preocupava tanto comigo. – Ele diz. Bato nele mais uma vez, dessa vez mais forte que antes, fazendo-o gritar de dor. – Para, isso já está doendo.

– Nunca vai ser doloroso o bastante, para se comparar ao que eu senti naquela arena. – Encaro suas íris negras que escurecem mais ainda, permiti-me perder meus sentidos por alguns segundos.

Jeongguk fica fixamente olhando para mim, como se fosse explorar minha alma. Algo faz eu virar meu rosto na direção oposta e propusemos a andar pelo corredor daquele lugar desconhecido por mim.

– Nós chamamos lá de Arena da Khila. – Jeon faz uma pausa para me olhar enquanto anda. – Deusa da terra, ou guardiã da floresta. Diziam que ela conseguia se transformar num lobo, incrível, não? – Concordo submerso na lenda. – Uma pelagem branca cintilante e grandes olhos negros. Muitos contavam que quando a viam seus destinos mudavam. Seria interessante a ver por aí.

Eu estou ficando louco, ou eu realmente acho que a avistei? Aquele lobo à qual eu tanto aprecio é… Khila?

– Ora Jeon, acreditas em lendas? – Pergunto, esboçando certo deboche pela crença do rapaz, mesmo acreditando em seus deuses.

– Sim, acredito e acho que deverias fazer o mesmo. – Olho-o pasmo, mas o deixo continuar sua fala. – O lobo na psicologia significa sexualidade, então muitos à associam ao pecado da luxuria, ou como os mais românticos acreditam, mudança amorosas. – Ele ri baixinho. – Dessa eu devo discordar, um lobo nunca saberá amar, concordo com o que os psicólogos dizem, ele é o símbolo da sexualidade, agi apenas por instintos e só vai atrás do prazer.  

– Certo… – Acabo deixando o momento estranho, mas não posso evitar. Ainda há tantas perguntas na minha cabeça, como onde estou, onde meu filho está, o motivo de eu estar aqui e coisas do tipo. Não estou a fim de ouvir lendas. – Desculpe. – Falo depois de uns segundos em silêncio. – Onde estamos?

– Estamos em Khila’s Grotto, você provavelmente nunca ouviu falar. – Assinto, mas para mim, do que para Jeon que andava mais a frente. – Fica bem adentro da Floresta Negra. Há poucos habitantes, e poucos burgueses, muitos que veneram meu pai, o rei, ficam em Rock Bottom, que é a cidade mais perto.

– Estamos perto daquele lugar? – Faço cara de desgosto.

– Não é tão ruim, mostrar-te-ei algum dia, só é preciso saber aonde pisar. – Jeongguk ri de alguma memória, e eu deixo que se esvaia minha curiosidade sobre, para perguntar outros assuntos a ele.

– E aonde estamos indo agora?

– Para um lugar que você vai passar a amar.

– Como assim?

– Aqui chamamos esse lugar de “jardim proibido”, mas proibido é só no nome, pois todos podem visitar. – Ele ri soprado, e eu acompanho a risada. – Sabe o jardim proibido da lenda de Khila? É uma representação dele.

– Que interessante. Mas por que eu vou gostar dele?

– Pois… – Ele para na frente de uma porta. – Olha, já chegamos. – Jeon segura na maçaneta, fazendo mistério para abrir a porta. – Há alguém te esperando aqui. – Assim que Jungkook termina sua frase, o jardim se revela para mim.

A luz do lado de fora invade o corredor mal iluminado que estávamos. O ar fresco, vindo das laterais abertas, com toque doce das flores, invade minhas narinas, dando imensa sensação de conforto a antes sensação de sufoco.

Tudo parecia ser esculpido pela mão dos deuses, uma mistura de cores tão elegantes que eu podia babar de puro prazer. Cada árvore, enormes com mais ou menos seis metros, parecia ter sido colocada por um propósito, e delicadamente combinada com cada flor daquele jardim.

Alguns bancos prateados, nas sombras das folhas das copas, davam um ar mais sofisticado, juntamente com os bebedouros de pássaros e trilhas complexas de pedras robustas, levando para várias lados, rodeando árvores, trilhando para mais dentro do jardim, ou levando aos bancos e outros elementos.

– Por aqui. – Jeongguk diz seguindo um dos caminhos.

Passando por uma trilha larga, adentro o jardim, os cheiros diversificados aprofundam meu olfato, a brisa suave acolhe meu corpo em suas passadas lentas, e minha visão extasia-me com uma paisagem exuberante, e, o melhor de tudo, um pequeno garoto brincando com os dedos num banco prateado, meu filho querido.

– Shin? – Grito por seu nome.

Surpreendo-me ao vê-lo virar, seu sorriso encantador ilumina meu dia, sem hesitar corro até o mais novo e aconchego ele em meus braços, enquanto deixo-me desabar em lágrimas. Shin agarra firmemente minhas costas e também não se dá o luxo de segurar o choro. Ambos caímos de joelho no chão, abraçados como se fossemos dependentes de um do outro, o que não é mentira.

– Você está bem, graça aos deuses. – Afago o cabelo do meu pequeno, apertando-o mais sobre meu peito.

– Papai, eu sinto saudade. – Shin se aperta mais, afastando-se em seguida e fitando-me. – Você tem que ver o brinquedo que Jeon me deu.

– Vamos lá, mostre-me. – Digo sorrindo, observando cada movimento da criança.

– É por aqui. – Ele diz, segurando minha mão e mostrando o caminho.

Acompanho-o mais feliz do que nunca, é tão bom revê-lo, saber que ele está bem, que ele … não morreu.

Ora, por que eu pensei tal coisa? É claro que um menino tão esperto como o meu, sairia bem por aí, mas ele é muito precioso para mim, portanto cada segurança é pouca.

Seguindo mais atrás, Jeon calado.

Por que ele não me disse que Shin estava seguro? Podia ter me avisado antes. Eu juro, se Jungkook não me contar o que está acontecendo com clareza, farei coisas que eu não quero, afastar-me dele.

É o único jeito de voltar ao que era antes…

Ele mexe muito comigo…

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– Desculpa interromper esse momento de pai e filho, mas Taehyung, você pode me acompanhar? – Jae entra no cômodo, enquanto eu observava meu pequeno, brincando com o pequeno soldadinho que Jeongguk havia lhe dado.

– Ah sim, claro. Só um instante. – Levanto dando um beijo na testa de Shin e caminho até a porta. – Jungkook, tome conta dele, por favor. – Assim que ele assente, saiu do cômodo satisfeito, seguido pelo Jae.

Acabamos parando no mesmo jardim que eu havia encontrado o Shin, mas Jae se acomodou num dos primeiros bancos que alcançamos, sem adentrar muito aquele mini labirinto de trilhas. Em seguida, convidou-me a sentar ao seu lado.

– Eu prometi te contar algumas coisas, caso você passasse no julgamento. E aliás, parabéns por ter conseguido. – Ele abri um pequeno sorriso. – Vamos, pergunte-me qualquer dúvida sua.

– Jeongguk me disse que estamos em… – Tento recordar do nome, mas é uma tentativa falha.

– Khila’s Grotto. – Jae me completa.

– Isso! Obrigado. Por que eu fui trazido para cá?

– Bom, creio que respondendo sua pergunta, milhares de outras encheram sua cabeça com a minha resposta, mas que assim seja. Jeon quebrou uma promessa.

– Uma promessa? Que tipo de promessa? – Interesso-me, querendo cada vez mais perguntar.

– É uma antiga promessa que todos nós devemos fazer, há anos nunca foi quebrada, e agora meu irmão faz a idiotice de quebrá-la, sem ofensas, mas era uma tradição.

– Sem ofensas? Tradição? – Maldita curiosidade!

– Sim, bom. Deixe-me explicar, mas por favor não me interrompa, creio que dúvidas surgiram, porém será o máximo que eu posso explicar. – Jae diz autoritário, eu apenas observo seu semblante sério e escondo minhas perguntas.

– T-Tudo bem…

– Eu vou tentar resumir, pois boa parte dessa lenda, você já deve conhecer – Ele respira fundo e olha-me calmo. – Khila’s Grotto antigamente era o esconderijo da deusa Khila, por isso o nome… Ela chegou a ser uma das esposas de Granty, teve dois filhos com ele, nove netos e por assim vai, criou-se uma família com a genética de Khila. Infelizmente, houve um grande massacre, muitos morreram, inclusive grande parte da herança dessa deusa, porém, alguns sobreviveram, inclusive meu avó. – Jae suspira pesadamente, e eu, com meus olhos arregalados e cabeça avoada na história, deixo-me vidrado em seus movimentos. – Meu pai e eu, herdamos as habilidades dela, já Jeon, ele é um caso a parte, ainda não sabemos exatamente quem é o pai dele, mas Jeon WonWon adotou-o como um filho, Jungkook é muito mais poderoso que todos nós, muito mais impulsivo que os outros… Um sedento por sangue.

– Como? – Não me contento. Aonde ele está querendo chegar? Sedento por sangue? Ah, eu odeio esse mistério!

– Olha, eu vou ser direto. Todos que temos a genética da Khila, temos o mesmo poder que ela, podemos nos transformar num lobo. – Ele realmente disse isso? – Há anos que ficamos no anonimato e não contamos para ninguém quem somos, ou sequer mantemos contato com um humano. Você já deve estar associando uma coisa, com a outra. Jeon quebrou a promessa do anonimato e falou com você. Sem ofensas, mas tentamos te matar várias vezes, todavia Jungkook ficava te protegendo toda vez, isso me deixou bastante irritado e eu fui pessoalmente falar com ele. Jeon estava muito furioso que não percebeu seu cheiro irresistível de carne fresca, mas eu percebi. – Jae faz um pausa e dá uma longa fungada no meu pescoço, afastando-se em seguida, revirando os olhos. – Você estava nos espiando, espertinho. Mas não tanto, justo na noite que eu havia trago milhares de homens comigo, você fez o favor de arriscar a vida do seu filho, deixando ele sozinho em casa. Em troca da segurança de Shin, Jeon se rendeu, e finalmente depois de muito tempo, conseguimos trazer você para a arena.

– O que você quer dizer com se transformar num lobo?

– No sentindo literal mesmo, como ganhar pelos, garras, presas, ir caçar humanos e coisas do gênero. Como vocês sacos de carnes falam lobisomens.

– Eu não entendo. – Falo, tentando ao máximo compreender, mas é quase impossível. Como ele quer que eu acredite que existe lobisomens do nada? Isso é história para crianças dormirem.

– Você não precisa entender tudo isso agora, vá aos poucos, mas deixe-me ajudar. Se lembra de um lobo te atacando? Não, não era o Jeon, era eu, numa das tentativas de te matar, mas Jungkook apareceu, empurrou você tão forte que tu nem se lembra de nada, lutou comigo, e saco… – Jae bate forte no banco. – Aquele garoto é mais forte que qualquer outro soldado meu, é horrível ter que admitir isso.

– Jungkook estava me protegendo?  

– É, e você protegeu ele durante a arena, parabéns aos dois. – Jae suspira, apoiando em seguida a mão no meu ombro. – Olha desculpe-me, mas eu sigo ordens, matar qualquer humano e proteger meu povo daqueles que nos chamam de monstro e que no passado nos destruíram. Você já ouviu muito por hoje, creio que ainda não raciocinou metade das coisas que eu falei. Qualquer dia que você tenha aceitado melhor isso tudo, venha falar comigo, ou pergunte ao próprio Jeon, tudo bem?

– Tudo… – Falo avoado.

– Fique aqui mais um tempo, pense um pouco, esse jardim ajudará a absorver mais suas dúvidas, depois vá passar o tempo com seu filho. – Assinto para Jae que olha-me preocupado. – Eu vou deixar guardas na porta, ninguém entrará, será só você aqui para conflitar-se. Sinta-se a vontade, até logo.

– O-Obrigado, até.

E foi assim que eu parei de pensar.

Encarei minhas mãos, com o peso da clareza na minha cabeça, ao mesmo tempo que tudo se encaixava, milhares de peças ficavam soltas.

Um vazio completo.

Como eu pude ser tão cego?

Novas verdades.

Esse tempo todo ele, o misterioso Jeon, estava me protegendo?

Lendas, antes histórias para crianças dormirem, agora realidade.

Os deuses são reais?

Mitos virando fatos.

O lobo branco é... Jeon? Khila? Jae?

O começo de uma história completamente diferente.

O que o futura reserva para mim?

Existem muitas coisas a serem descobertas ainda, tantas peças para se encaixar...