Um mês havia se passado desde que Aizen e Orihime começaram a namorar. Era um namoro ainda muito discreto de modo que apenas Rangiku sabia, e, embora desconfiasse, Ichigo preferia não tocar no assunto, pois tinha medo de ouvir a resposta.
Desde a cena no consultório, Ichigo e Orihime se distanciaram ainda mais, se falando somente quando as circunstâncias obrigavam e faziam o máximo de esforço para não deixarem nenhum ressentimento que houvesse entre ambos afetasse o pequeno Kazui. Outra preocupação para a cabecinha de Orihime: Kazui. Como ela iria contar para o filho que estava namorando outra pessoa que não era o pai?
- Orihime, está tudo bem? – perguntou Aizen durante um almoço dos dois.
- Hm... – ela concordou com um sorriso amarelo.
- Sabe, eu não sou telepata. Não ainda.
Ela sorriu com o comentário dele.
- Me desculpe. Não foi minha intenção esconder nada. Só estava pensando em algumas coisas.
- Tipo?
- Faz um mês que estamos namorando...
- Vai fazer e eu pretendo comemorar.
- Co-comemorar!?
- Claro!
- Acho que não precisamos disso tudo...
- Precisamos sim. Quase não temos tempo para nós então decidi fazer uma coisa... especial daqui a três dias.
- Mas... eu não bolei nada... na verdade, ando preocupada.
- Com o quê?
- Kazui. Me sinto péssima por estar escondendo essa situação do meu filho.
- Simples: então vamos contar para ele.
- Mas, em contrapartida, sinto que ainda é muito cedo para falar a verdade para ele. Estou em um impasse! – ela desabafou.
Aizen pegou nas duas mãos dela.
- Orihime, olhe para mim. – ele pediu – Respire. Você está muito tensa. Precisa se acalmar. Você está com uma aparência cansada... está dormindo direito?
- Mais ou menos...
Ele fez uma expressão mais séria.
- Não. – ela revelou, embora para ele não fosse nenhuma surpresa.
- Preste atenção: não estamos namorando para que você fique tensa ou estressada. Minha intenção é exatamente o oposto. Essa situação na qual nos encontramos é passageira, então na faça dela um momento crucial. – ele sorriu – Se não quer contar para o Kazui, ótimo. A gente espera. De fato, é muito cedo para contar para ele que ainda é uma criança. – ele acariciou os dedos dela – Mas algo me diz que tem mais uma coisa que te perturba...
- Ichigo... – ela disse hesitante.
- O que tem ele? – perguntou, soltando as mãos dela – Ele te perturbou de novo?
- Não. Não é isso. Na verdade, estou pensando em conversar com ele.
- Conversar?
- É. Nossa situação ficou insustentável e ao mesmo tempo inacabada. Pelo menos é o que eu sinto. Quero conversar com ele para dar um fim de vez em tudo.
- Um basta definitivo?
- Isso. - ela respondeu, esperando ele dizer o que pensava.
- Eu não concordo com isso. Na verdade, não gosto. Acho que se nós assumirmos nosso namoro, ele vai entender tudo, assim como todo mundo. - ele olhou para ela que desviou o olhar em dúvida - Mas... – Aizen suspirou – se isso vai te fazer se sentir melhor, não vou me opor.
- Sério?! – Os olhos de Orihime brilharam.
- Orihime, eu não sou seu dono. Você é livre para fazer o que quiser. Só espero que se lembre do carinho que tenho por você.
- Eu me lembro o tempo todo. – ela disse timidamente.
No final daquele dia, depois de sair do trabalho, Orihime ligou para Ichigo.
- Alô! Ichigo?
- Fala.
- Er... preciso conversar com você. Teria como passar aqui em casa?
Ele suspirou.
- Não dá para falar por telefone?
- Não. É importante.
- Ok. Passo lá assim que acabar meu expediente.
Do outro lado da linha, um Ichigo envergonhado encarava o celular. Ichigo havia passado dos limites com Orihime e sabia disso e agora havia dado o empurrão necessário para que ela e Aizen ficassem juntos, e, embora não tivesse certeza, suspeitava, pois cada vez que ia ver Kazui, Orihime evitava olhá-lo nos olhos e ficava envergonhada sem motivo aparente. E outra coisa era o celular, pois quando ela atendia, procurava ficar longe dele e de Kazui.
- Ichigo, tudo bem? – perguntou Rukia ao ver o colega perdido em pensamentos.
- Mais ou menos...
- Era a Inoue? Como ela está?
- Bem, eu acho.
- Acha?
- Eu vacilei com ela e estamos ainda mais afastados.
- Você não aprende, não é?
- Não. Eu sou um idiota.
- Isso eu sei.
- Ela quer conversar comigo...
- Conversar? Isso não é bom?
- Se for o que estou imaginando, não vai ser nem um pouco.
Lá estava Ichigo, parado diante da porta de Orihime, sentindo a mão pesar uma tonelada para tocar uma simples campainha. Ele o fez e esperou, torcendo profundamente para que ela não estivesse em casa e que ele não precisasse encará-la depois do papelão no hospital. Na verdade, não era só esse o motivo. Ele estava envergonhado, e muito pelo que fizera, mas era outra coisa que o fazia hesitar e não querer estar ali: era o medo. Medo de confirmar o que seu coração já sabia.
Ele ia tocar de novo, mas não foi necessário, pois a porta foi destrancada e ao abri-la, Ichigo e Orihime se depararam um com o outro e um silêncio nunca foi mais constrangedor que aquele. Os dois se encararam e desviaram o olhar.
- Entra. – Pediu Orihime abrindo caminho.
- Obrigado. – disse Ichigo tomando passagem.
- Pode sentar.
Ichigo se sentou no sofá enquanto Orihime se sentou ao seu lado.
- Por que me chamou aqui? – ele perguntou nervoso – Pensei que não quisesse me ver mais.
- Bem... o que aconteceu no hospital me deixou triste e com raiva. Na verdade, fiquei com mais raiva que tristeza.
- Eu... sinto muito. – ele disse pesaroso – Eu disse aquilo porque estava nervoso e com medo.
- Medo?
- Medo de perder você. Me atrapalhei e disse aquelas coisas horríveis. Não penso nada daquilo de você. Só que imaginar você com... com outro...
- É sobre isso que quero falar...
- Sobre...
- Outra pessoa.
- Aizen.
Embora ele não tivesse perguntado, Orihime confirmou.
- Vocês...
Ela confirmou em silêncio de novo, evitando olhá-lo ao máximo.
- Entendo. Ele conseguiu, não é? A chance que ele tanto esperou... eu já imaginava. Só tinha medo de confirmar.
- Acabou. – ela disse com um fio de voz.
- Eu sei. Por minha causa... por minha culpa. Não vai adiantar se eu disser que vou consertar as coisas não é?
Ela negou sem dizer nada.
- Eu não consigo acreditar em você. Me desculpe. - ela explicou.
- Não precisa se desculpar. Você tentou. Você sempre tentou por nós dois, eu é que era burro demais e não percebi isso. Só percebi agora, depois que te perdi. – Ichigo suspirou. Queria sumir dali. Seus olhos queimavam e seu peito estava pesado – E Kazui? Sabe?
- Ainda não. Acho que é muito cedo.
- Você está certa.
- Você não vai...
- Ficar contra você? Colocá-lo contra você? Tentar tirá-lo de você? – Ichigo se levantou passando as mãos no cabelo enquanto um sorriso amargo se desenhava em seus lábios – Me pergunto que tipo de homem eu me tornei para que você pense esse tipo de coisa a meu respeito... mudei tanto assim?
Orihime não respondeu.
- Devo ter mudado. Afinal, o Ichigo de anos atrás jamais teria te perdido. Fico me perguntando em que momento eu deixei de ser aquele cara... mas fique tranqüila. Eu não vou fazer nada. Você é a mãe dele e tem feito um ótimo trabalho com o nosso filho.
Orihime levantou os olhos para ele, surpresa.
- Ichigo, eu... gosto de você. Mas tenho medo. Amor não pode existir com medo.
- Não. Não pode. E é por isso que estamos aqui. Dessa vez é definitivo, não é?
- Sim.
- Então... acabou.
- Acabou.
Orihime queria chorar, mas tinha que ser forte. mas por mais forte que quisesse ser ou parecer, as lágrimas fugiam.
- Não chore. Você tentou. Sempre. Quem deve se sentir mal sou eu.
- Mas eu não quero que você se sinta mal. Quero te ver bem!
- Eu vou ficar bem. – ele a abraçou – Seja feliz.
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