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História Bleeding Heart - Fifth Day - Part II


Escrita por: HaNi-Raissa

Capítulo 7 - Fifth Day - Part II


Eu havia escutado direito? Meus olhos piscavam sem parar, enquanto contemplavam seu rosto sério. Meus braços ainda envolviam seu corpo magro possessivamente, fazendo com que a posição o desse a chance de deitar a cabeça em meu ombro e parcialmente em meu braço, olhando para mim. Seus olhos se encontraram com os meus, tão lindos e puros, tão certos do que diziam, que, por um segundo, senti inveja.

Como ele podia dizer aquilo tão facilmente?

Ele não podia. Era evidente que pensara bem antes de dizer aquelas palavras, e que por dentro, estava morrendo de nervosismo. Eu via em seus olhos a esperança de receber palavras gêmeas. Contentar-se-ia apenas com uma palavra semelhante, ou mesmo genérica, se fosse possível. Queria poder-lhe dizer que gostava dele, não tanto quanto ele de mim, mas gostava. Como se isso já não fosse evidente, a partir do momento em que havia chamado-lhe para morar comigo.

Com o quê eu deveria responder-lhe? Qual seria a melhor maneira? Eu nunca soubera demonstrar sentimentos. Mesmo os mais puros mantidos por mim, sempre foram escondidos a sete chaves dentro do gelo de meu coração. Embora ele tenha derretido boa parte do mesmo, ele não era pulsante como o seu. Não mesmo. Talvez, nunca seria. SungMin tinha aquele ar cálido de criança, que não importa quanto tempo passe, sempre lhe dará aquela aparência infantil. Mordi meus lábios, tentando encontrar a melhor resposta para ele. Não que houvesse feito uma pergunta, de todo caso. Eu sentia algo especial por ele, era mais do que certo. Mas amor? Não sei se poderia classificá-lo assim.

– Kyu... – ele murmurou e remexeu-se por entre minhas pernas, ajeitando-se melhor.

Engoli em seco, afastando de mim todos aqueles discursos prontos de cara solteiro, que eu usara por toda a vida. Não poderia dar-lhe um desses, pois tais palavras visavam o futuro afastamento do ouvinte, e o que eu menos desejava era que ele afastasse-se de mim. Muito pelo contrário. Desejava que estivesse ao meu lado, cuidando de mim, como ninguém nunca cuidara durante muito tempo. Repirei fundo e juntei o restante de coragem que havia em mim.

– SungMin eu... – seu dedo voou para os meus lábios, em um sinal para que eu me calasse. Conseguindo o efeito desejado, silenciei-me, surpreso. Ele não queria uma resposta minha.

– Kyu, não diga nada... – ele sorriu.

– Mas eu lhe devo uma resposta, não? – murmurei contra seu dedo, e ele recolheu-o.

– Não... – retirou os dedos e sorriu-me – não deve nada. Eu não lhe fiz uma pergunta. Apenas disse o que queria. Se você não quiser, não deve falar nada.

– SungMin... – hesitei – eu não sei o que lhe dizer...

– Então não diga – deu de ombros, sem deixar o sorriso esmorecer um segundo sequer – apenas cumpra com o que prometeu anteriormente.

– Que não irei parar de falar com você?

– Exatamente... – sua mão levantou-se e pousou em meu rosto, acariciando-o de leve – você irá se afastar de mim? – seu rosto implorava por uma resposta negativa.

– Não. – balancei a cabeça. Minha mão levantou e encontrou a sua, fazendo um carinho leve por cima – não irei lhe deixar. O convite para morar comigo continua em pé, assim como o pedido de namoro.

– Para mim, isso já é o suficiente. Você não precisa dizer que me ama, ou que gosta de mim, embora eu deseje ouvir tais palavras. Enquanto eu for a pessoa que mais se aproximou, cuidou e ficou ao seu lado, durante a sua vida, eu serei feliz.

– Você precisa realmente de apenas essas coisas pequenas? – tirei sua mão de meu rosto, abri-a na minha, e levei-a até meus lábios, beijando sua palma.

– Se for coisas pequenas vindas de você... – uma pausa - Já são enormes – ele sorriu, aproximando seu rosto do meu – afinal... – seus olhos retiraram-se dos meus, e foram postos em meus lábios – você não é alguém fácil. Eu cheguei o mais longe que alguém um dia pôde chegar, não é verdade?

– Próximo disso... – sorri, apertando-o com o braço que ainda o envolvia.

– Mas até agora...? – novamente nossos olhos se encontraram, e percebi que, pelo menos, dessa resposta ele precisava.

– Você é o único... – acabei com a distância que nos separava, e colei meus lábios nos seus.

Tão doces e ternos, vertiam o alimento que eu precisava para minha alma. SungMin em poucos dias, havia tornado-se preciso para mim. Ele não conseguia imaginar que, embaixo daquele aspecto sério e não entregue, meu coração pulsava seu nome. Meu corpo gritava sua presença. Ninguém, nunca, chegara tão próximo de mim, era verdade, e se não fosse ele, nunca chegaria. Porque havia apenas uma pessoa no mundo com tais dons. Havia apenas um SungMin. Nossos lábios separaram-se, mas ele voltou para um pequeno selinho. Tão carinhoso, que me fez sentir mal. Ele merecia mais do que apenas um cara feito eu. Ele merecia o mundo, e eu não poderia dar-lhe.

– Eu preciso apenas de você, Kyu... – ele falou, como se pudesse ler meus pensamentos. Não resisti, e juntei nossos lábios novamente. Quem sabe algum dia, eu não pudesse dizer-lhe tudo o que pensava?

~*~*~*~

Ele pulou na cama e enterrou a cabeça no travesseiro, claramente cansado. Sorri de sua ação tão parecida com a de uma criança de oito anos e balancei a cabeça, indo até o armário. Abri-o e tirei de lá um secador de cabelos de aparência antiga e desenrolei-o do fio. Andei até a parte da frente da cama, procurando a tomada na qual deveria ligá-lo. Encontrei-a, e apertei o botão, verificando se estava esquentando. Aquele secador era antigo, e tinha-o ali desde que me lembrava. Poderia muito bem estar falhando. O barulho ensurdecedor invadiu o quarto, e apontei o vento feito para minha própria mão. Após um segundos, constatei que estava quente o suficiente para meu objetivo. Desliguei-o e sentei na beirada da cama, pegando o pé de SungMin, para chamar-lhe a atenção.

– Vem cá – chamei, e ele apenas girou a cabeça, procurando meu olhar.

– Que foi Kyu? – reclamou, manhoso – estou com sono... Quero dormir – um bico formou-se em seus lábios, como se isso já não fosse algo natural para ele.

– Não antes de secar esse cabelo. Vai acabar pegando um resfriado se dormir com ele molhado, e eu não vou cuidar de ninguém... – joguei o secador na cama. Ele levantou-se e engatinhou até mim, com um sorriso nos lábios.

– Isso quer dizer que você se preocupa comigo? – ele ria divertido, tirando conclusões precipitadas.

– Não – girei os olhos – só não quero dormir em uma cama molhada, que, aliás, você já molhou o travesseiro. Dê-me ele aqui.

Estendi a mão, esperando que ele obedecesse-me. Ele recuou, com outro bico nos lábios e jogou o travesseiro o em mim. Peguei-o em pleno ar segundos antes de bater em meu rosto. Olhei-o com certo desdém e ele riu. Meu respeito já estava tendendo à zero. Ignorei-o e liguei o secador, usando-o no travesseiro.

– Kyu... não... secador... bem...

– O quê? – falei.

– Não... secador... ouvir...

– O quê? – repeti, desligando o secador.

– Isso faz barulho demais, não consigo te ouvir! – disse, apontando para o secador.

– Você esperava o quê? Que eu te ouvisse também? Secador já é barulhento naturalmente, uma velharia dessas então...

– Então desliga isso. Não me importo com travesseiro molhado. E nem com meu cabelo... – sentou de pernas cruzadas, ajeitando-se na cama.

– Mas eu me importo com alguém tossindo e espirrando ao meu lado. Tenho sono leve...

– Sono leve? – uma gargalhada alta – sono leve é o que você menos tem – ele tombou a cabeça para o lado, rindo ainda.

– Fica quieto e pega logo esse secador – estendi-o para ele – só vou deixar você dormir depois que secar esse cabelo.

– Ah! Verdade. É o que eu tava tentando lhe dizer enquanto esse dirigível não deixava – ele pegou o cabo do secador – não sei usar isso...

– Como não? – sorri sarcástico – é só ligar no botão e colocar na cabeça. O vento quente faz o trabalho todo – dei as costas – vou pra sala ver se tem um filme passado na TV...

– Kyu... – senti sua mão pegar a barra de minha camisa, impedindo-me de ir.

Estanquei e virei-me novamente para ele. Seu rosto expressava pura inocência. A expressão “cara de cachorro que caiu do caminhão de mudança” não poderia identificar nada tão bem, quanto seu rosto no momento.

– Diga... – sentei na beirada da cama.

– Seca pra mim? – um bico nos seus lábios, tão charmosos e vermelhinhos, que não impedi o impulso de beijar-lhe levemente, um simples encostar.

– Você não sabe mesmo fazer isso?

– Mais ou menos – ele sorriu, mordendo os lábios – devo saber, mas nunca tentei. Posso me queimar...

– Você está tentando fazer charme, ou é só impressão? – levantei uma das sobrancelhas.

– Só um pouco... – ele sorriu, envolvendo meu pescoço com seus braços macios. Pude sentir aquela tez tão suave contra meu pescoço, e não evitei envolver sua cintura com meus braços.

– Você quer me chamar pro segundo round, é isso que estou entendendo? – sorri de canto.

– Claro que não... – ele deu-me um tapa nas costas – eu to com sono, já falei... – ele riu – e já teve o segundo “round”... – suas bochechas ficaram vermelhas.

– Verdade, havia esquecido... – sorri significativamente, e recebi outro tapa.

– Para com isso! – ele abaixou a cabeça, envergonhado. Já havíamos feito aquilo, qual o problema de conversar sobre?

– Tudo bem... – levantei seu queixo com o dedo e selei seus lábios – agora vira de costas, que eu vou secar seu cabelo.

– Jura? – seus olhos brilhavam.

– Se você não virar logo, dou as costas e vou embora.

– Duvido que faria isso – virou-se do mesmo jeito, sorrindo, o convencido.

Agora fique quieto para eu não lhe queimar.

~*~*~*~

Assim que seu cabelo estava seco e arrumado, ele engatinhou de volta, com o travesseiro em mãos, e logo que encostou a cabeça no mesmo, entrou em sono profundo. Ele tinha sempre o sono pesado, e pelo visto, não mentia quando dizia que estava cansado. Guardei o secador no lugar de onde tirei, e fiquei a olhar seu semblante quase imóvel, balançando-se apenas por causa do oscilar de seu peito, a cada respiração. Não resisti ao impulso de sentar-me ao eu lado na cama, e passar a mão em seus cabelos. Seu rosto adormecido era quase tão adorável quanto a expressão que fazia, quando sorria-me. Aqueles lábios que formavam um bico natural eram convidativos até mesmo naquele estado, e não resisti a passar a ponta de meus dedos neles.

Ele suspirou fundo, e retirei os dedos, como reflexo. Um sorriso escapou-lhe dos lábios adormecidos. Foi impossível segurar o sorriso bobo que se formou em meu rosto. O que havia nele, que me atraía tanto? Ingenuidade? Não... Embora parecesse que ele fosse apenas uma criança de treze anos, e às vezes comportasse-se como uma, ele não era ingênuo. De forma alguma. Seria... Seu físico? Não. Embora tivesse o corpo belo, não era o primeiro que eu conhecia com. Pelo que seria então? Sua personalidade, talvez? Aquele ar de segurança que me dava, ao estar perto de mim? Porque uma coisa era certa: O sentimento que sempre andara de mãos dadas comigo ao longo da estrada da vida, a solidão, parecia inexistente ao estar ao lado dele. Seria isso então o que tanto me atraia e me ligava à ele? O sentimento se segurança? Talvez...

Afastei o cabelo de sua testa, e abaixei para beijar-lhe a testa. Ele murmurou algo e virou pro outro lado, fazendo com que um segundo susto tomasse conta de mim. Levantei-me, pegando o cobertor que estava dobrado perto de seus pés, e estendi-o sobre ele. Ele girou novamente, e dessa vez, ouvi o que murmurou. “Kyu...” Outro sorriso bobo apareceu em minha fronte. Ele já estava sonhando? E comigo, ainda por cima? Não consegui segurar novamente o impulso de beijar-lhe a testa, mas dessa vez, acabei por deixá-lo dormir em paz, saindo do quarto. Esperava que algum filme que estivesse passando na televisão tirasse-o da minha cabeça.

~*~*~*~

Cochilei durante alguns minutos do filme, mas em suma, perdi coisa alguma. Era uma comédio romântica, afinal, e por mais que você perdesse cenas, você poderia entender o filme completamente do mesmo jeito. A verdade era que o humor bonachão sempre presente nesse tipo de filme atraía-me pra nada. Era como assistir à alguma série de TV com final previsível. Assim que ele acabou, comecei a procurar outro programa que me distraísse do tédio, mas não me foi possível. Hoje em dia, até mesmo a TV a cabo tinha péssimos programas, de péssimo gosto. Acabei por deixar no canal que passava um documentário qualquer sobre animais. Dos males, o menor.

Estava em meio a uma divertida, empolgante e totalmente desnecessária explicação sobre os hábitos alimentares dos hipopótamos, quando ouvi a porta do quarto ser aberta. SungMin já havia acordado de seu sono? Fui rapidamente respondido, pela entrada dele na sala, passando a mão nos olhos, espantando a sonolência. Fiquei a fitar-lhe o passo calmo, arrastado. Quase não fazia barulho com seu encostar de pés no assoalho de madeira. Assim que chegou perto de mim, jogou-se no sofá, bocejando. Fiquei a olhar-lhe, porém, sua atenção estava completamente posta na televisão, como se estivesse hipnotizado. Estaria ele ainda dormindo? Ele era sonâmbulo?

– SungMin? – perguntei, endireitando-me no sofá e posicionando-me em sua frente, para chamar sua atenção.

– Ah... Hm... Kyu? – ele apertou os olhos e balançou a cabeça, como se estivesse em transe.

– Você está bem? – levantei as sobrancelhas, e ele sorriu.

– Estou, estou... Por que não estaria?

– Não sei... Você está estranho... – falei, como se fosse algo óbvio.

– É que ainda estou com sono – ele bocejou, confirmando o que havia dito – estou um pouco aéreo, ainda...

– Ah, claro... – sorri, deixando um estalar em sua bochecha – vê se acorda logo. Você fica estranho assim.

– Fico como todo mundo fica... – ele sorriu, passando a mão na bochecha.

– Tudo bem então...

Virei-me de costas, e deitei no sofá, colocando a cabeça em seu colo. Ele sorriu e começou a passar a mão por entre meus cabelos, em um carinho desajeitado. Seus movimentos ainda estavam lentos, mas diferente disso, era sua felicidade. Ela era completa e pura. Ele irradiava alegria. Olhando nos meus olhos, ele continuava a repetir o padrão de entrelaçamento de seus dedos, e por instantes, fechei os olhos, relaxando. Como eu poderia não gostar de uma pessoa daquele jeito? Como eu poderia recusar o amor dado de tão boa vontade, e com tanta sinceridade? Eu não era humano, caso o fizesse. Eu precisava dele, precisava de sua presença, e era-me impossível cogitar a hipótese de vê-lo afastado de mim, um segundo sequer.

Abri os olhos novamente, e ele já não olhava meu rosto como antes, embora suas mãos não parassem de acariciar minha cabeça. Ele olhava a televisão com as sobrancelhas unidas, estranhando algo. Girei em seu colo, procurando o que tanto ele olhava torto, e acabei por deparar-me com a cena pós-alimentação de um hipopótamo. O momento da defecação. Claro, porque a TV não poderia passar algo mais romântico do que isso. Comecei a rir e voltei à posição anterior, olhado para o rosto dele, que continuava com a mesma expressão estranha.

– Que nojo... – falou finalmente, balançando a cabeça – eu poderia ficar enjoado com isso.

– Grávido a essa altura do campeonato? – ri da expressão de “cala a boca KyuHyun” que se formou em seu rosto.

– Como sempre engraçado...

– Oras, é a piada de praxe, quando se faz um comentário do tipo.

– Não sou mulher... – ele fez um biquinho.

– Sei que não – sorri – é só uma piada, SungMin, relaxa.

– Tsc... – ele estalou a língua e bufou, porém, em momento algum deixou de passar a mão por entre meus cabelos – estou com fome...

– Teremos que sair pra comer alguma coisa... – constatei.

– Eu não quero sair – ele fez bico.

– Se não sairmos, você terá que fazer a comida. Não sei nem fritar ovo, não espere que eu vá fazer a janta – sorri, e ele bufou.

– Vou acabar virando seu escravo particular... Foi por isso que me chamou pra morar com você?

– Não... – eu sorri – e por isso estou te chamando para jantar fora.

– Mas eu não quero jantar fora... Quero comer em casa – outro bico.

– Então compramos a comida fora, manhoso, e trazemos para casa. Jantamos aqui...

– Ah... Tudo bem então – ele sorriu, satisfeito por eu atender seus desejos – não tem como pedir pra entregar em casa?

– Não sei, nunca fiz algo do tipo. E também, o centro da cidade é daqui um quilômetro, no máximo. Vai demorar mais se pedirmos do que se formos buscar...

– Tem razão, mas... Ah, não quero levantar daqui... – ele jogou o pescoço para trás, preguiçosamente.

– Você que sabe. Só terá comida quando trocar de roupa, eu não vou sozinho pra lá...

– Nem eu, nem eu... Podemos esperar um pouco, Kyu? Podemos ir daqui a pouco?

– Claro... Você que decide – dei de ombros.

~*~*~*~

As ruas estavam apinhadas de gente, e embora não fosse época de feriado ou mesmo de férias, o local estava cheio. Claramente era devido ao calor que fazia ultimamente. SungMin andava ao meu lado, olhando para todos os lados, contemplando cada barraquinha que se estendia pela praça principal do centro. Aproveitando o alto índice de turistas fora de temporada, os comerciantes trouxeram suas mercadorias para fora da garagem, e tentavam levar a vida na venda de objetos variados. Por várias vezes ele parou em uma barraquinha, e pude ver pelo canto de olho que procurava algo rapidamente. Nada comentei, apenas apressava-o, para que logo retornássemos para casa, com a comida em mãos.

O cheiro de incenso misturava-se à brisa marítima e ao cheiro das comidas que eram vendidas em cada parte. Vezes sem conta, ele espremia-se em mim para poder passar em um corredor apinhado de gente, e eu apenas sorria pelo contato. Para todos à nossa volta, parecíamos apenas dois amigos que procuravam algo em meio à tanta gente. Éramos os únicos que sabiam a verdade. Em meio às vozes altas que tentavam manter um ciclo de conversa infinita, ouvi por várias vezes SungMin pedir desculpa ao esbarrar em alguém. Ele tentava acompanhar meus passos, que já estavam acostumados a destrinchar aquele mar de pessoas avulsas. Sempre me dera bem em multidões, mas acho que aquele não era o forte dele.

O cheiro característico de frutos do mar apareceu no ar, e soube que estava no lugar certo. Mais alguns metros, e chegaria ao local desejado. Sorrateiramente, peguei sua mão, indicando que era para me acompanhar, para ficar mais atento. Suas bochechas ficaram vermelhas com o contato em público, mas acabou seguindo-me sem questionamentos. Assim que nos vimos livre daquele mar de gente, ele sacudiu a mão, livrando-se da minha, e apenas sorri de canto, continuando o caminho.

Chegamos à frente de um restaurante que havíamos ignorado mais cedo, por causa do movimento, e dessa vez não foi diferente. Estava cheio, e pelo que vi por cima, mesmo se quiséssemos ter uma mesa, seria impossível. Explicando para o atendente que não iríamos usar uma mesa, ele deixou-me passar na frente daqueles que aguardavam por uma, e pedi para SungMin que me esperasse do lado de fora. Ele acenou, dizendo-me que iria dar uma rápida olhada por aí. Concordei, avisando-o que não era para ir muito longe, que logo eu estaria de volta.

Adentrei o estabelecimento, pedindo licença a todos aqueles que se amontoavam no lugar. Fui direto ao balcão de pedido, ignorando o garçom que me perguntou o porquê de não pedir de minha mesa. Falando com a balconista, usando um pouco do charme que me fora dado a possuir, ela logo me atendia com um sorriso estampado no rosto. Em menos de vinte minutos, meu pedido estava completamente pronto. Usando o cartão, paguei a refeição e pedi para que ela embrulhasse-o para a viagem. Fui prontamente atendido. Ignorando o papel com o possível telefone dela, saí dali mais rápido do que havia entrado. Assim que me vi livre daquele tormento de lugar lotado, procurei SungMin, que deveria estar a minha espera.

Nada. Ele não parecia estar ali. O medo que tive no shopping, sobre o que haviam me dito, para tomar cuidado com ele, que poderiam tentar pegá-lo de volta, assolou-me em dobro. Eu estava tão avoado que me esqueci facilmente desse detalhe? Tentei ficar calmo, e apenas lembrar da roupa que ele usava, para melhor identificá-lo. Branca. Uma camisa de gola v branca, e uma calça jeans. Isso, nada muito incomum. Olhei em volta mais uma vez, tentando manter-me tranquilo, mas o pior de meus pensamentos assolava-me o juízo. E se ele houvesse sido recuperado? O que eu faria? O que faria sem ele? Meu tio sequer passou-me pela mente. Tudo o que eu temia era ver-me sem ele. Não medo da bronca que iria levar, da chamada ou mesmo da briga que provocaria. Mas sim, medo da sua ausência. Como pude ficar assim tão dependente dele?

Aquele sentimento estava pronto para tornar-me incoerente. Por segundos, cogitei a hipótese de jogar as sacolas que tinha na mão para o ar, desbravar aquela feira até encontrá-lo. Não deixaria ninguém sair dali, e muito menos deixaria um local sem vistoria. Eu o queria por perto. Comigo. E não arredaria pé dali sem tê-lo ao lado. Um balde de água fria foi jogado em meu corpo, assim que senti duas mãos tocarem minhas costas, como se quisessem dar-me um susto. Virei-me imediatamente, e senti o coração aquietar-se ao ver aquele sorrio que eu tanto gostava de ver. Repirei fundo, sem saber como reagir, e em um impulso, passei meus braços, mesmo ocupados com a sacola, em seu ombro, puxando-o para mim, em um abraço de alívio, como se assim constatasse que ele realmente estava ali, ao meu lado. Podia adivinhar que seu rosto estava vermelho, enquanto timidamente dava tapinhas em minhas costas, sem entender nada.

– Kyu... – sussurrou-me perto do ouvido – estão todos olhando...

– Que olhem... – apertei ainda mais seu corpo contra o meu – eu não me importo com isso.

– Eu também não me importo... – mentiu, dando um sorrisinho nervoso, claramente sem jeito – não muito...

– Desculpe – separei-me dele, com um sorriso sem graça, ignorando a atenção que era posta em nós.

– Tudo bem – ele sorriu – é melhor nós irmos logo...

– Sim – aquiesci.

– Lembra onde deixou o carro?

– Ah... Claro. Por aqui... – comecei a andar e ele veio junto, seguindo-me fielmente – SungMin, onde você estava? – continuei a andar, mas virei para olhar seu rosto.

– Eu fui dar uma olhada por aí, ver se tinha algo interessante... acabei comprando vinho – ele estendeu a mão, e reparei pela primeira vez que carregava uma sacola.

– Achou algo, além do vinho?

– Hm... Não – ele balanço a cabeça – nada em especial.

– Poderia ter ficado mais próximo de onde era o restaurante – repreendi-o levemente.

– Mas eu fiquei... Você que não viu.

– Deveria ter ficado onde meus olhos pudessem vê-lo – argumentei.

– Ficou preocupado? – ele sorriu – se ficou, é só dizer, Kyu, não há nada de mal...

– Não fiquei – emburrei – só não quis esperar muito.

– Então por que me abraçou? – ele sorria divertido. Estava claro que tirava proveito de meu momento de fraqueza.

– Por que deu vontade, não posso?

– Não disse nada disso – levantou as mãos, com a palma aberta em minha direção.

– Vem, vamos andando e pare de falar tantas besteiras – contendo a risada, ele seguiu-me até o carro, claramente adorando toda aquela situação.

~*~*~*~

a cozinha, enquanto eu apenas abandonava as sacolas em cima da mesa de jantar e me jogava no sofá. Ouvi o barulho de gavetas e portas de armário abrindo e batendo, sequencialmente, imaginando-o correr por toda a cozinha, levando e trazendo coisas na mão. Era completamente imaginável que ele estivesse correndo com aquilo tudo, e que logo viria arrumar a mesa de jantar para que jantássemos. Como pensado, ele logo apareceu com uma pilha de pratos e talheres, que me senti obrigado a levantar para ajudá-lo. Não desejava exatamente passar o restante da noite catando cacos de louça por baixo do sofá.

Ele sorriu, aceitando a ajuda, e quando dei por mim, já estávamos à mesa com nossas devidas refeições à frente. Degustávamos o vinho que foi escolhido por ele, tendo nossa refeição, mantendo uma conversação amigável. Não tínhamos assunto realmente, então nos contemos em conversar sobre o tipo de comida que nos agradava, programas que nos divertíamos com... Coisas completamente superficiais, mas que desconhecíamos um do outro.

Ao final, ajudei-o a recolher tudo da mesa, embora não me dignasse sequer a dar uma olhada pela pia cheia de louça. No dia seguinte, a moça que meu tio contratava para limpar a casa a cada quinze dias iria até lá, ela poderia dar conta do recado. Já passava das nove da noite. Nossa excursão rápida até a cidade havia demorado mais do que o previsto, e o sono começava a apoderar-se de mim. Ao contrário do meu cansaço, SungMin estava elétrico, e procurava um programa bom na televisão, incessantemente. Segundo ele, queria assistir algo divertido comigo.

Eu estava em pleno bocejo, quase dormindo com a cabeça repousada em seu colo, quando ele agitou-se, empolgado com algo. Girei a cabeça lentamente, com movimentos retardados, para poder ver do que se tratava. Propagandas diversas passavam no canal e fiquei sem entender o motivo da empolgação.

– O que foi? – perguntei, levantando de seu colo e passando a mão nos olhos, para afastar o sono.

– Vai passar um filme bom na TV – ele sorriu – assiste comigo?

– Assistir com você? Eu estou quase dormindo aqui... – soltei outro bocejo, como se fosse para ilustrar minha fala.

– Ai, por favor, Kyu... Aguenta um pouco... – ele fez bico, e logo percebi o motivo disso.

– É de terror? – ri.

– Sim... – ele abaixou a cabeça.

– Você vai ficar tendo pesadelos depois...

– Mas eu quero ver...

– E eu que terei que ser sua babá?

– Se você ver comigo, eu não vou ficar com medo.

– Claro que vai. Não quero você choramingando no meu ouvido de noite.

– Mas eu vou dormir com você, não terei medo.

– É sério que você vai me fazer assistir esse filme com você? – suspirei, rendendo-me.

– Sim – ele sorriu, vendo a batalha ganha.

– Tudo bem, mas não me culpe se eu dormir no meio dele...

– Vamos assistir no quarto, então... Eu não quero te acordar para ir pra cama, se você dormir...

– Eu não irei lhe morder.

– Sei que não – ele sorriu, passando a mão pelos meus cabelos – mas não quero te acordar, de qualquer forma. Tenho dó. E acho que não te aguento no colo, como você faz comigo. Talvez sim, mas posso te deixar cair... É melhor evitar – ele sorriu sem graça.

– Não ia querer você me pegando no colo...

– Então, você vê comigo ou não?

– Vejo. Mas você leva a TV pro quarto.

– Certo!

Ele sorriu e levantou de prontidão, já dando a volta no armário, procurando a tomada para desligar a TV. O máximo de esforço que fiz para ajudá-lo foi pegar o controle remoto e desligá-la, antes que a tirasse da tomada, junto com o aparelho da TV a cabo. Em menos de dez minutos, ele puxava-me do sofá, para que me levantasse e fosse junto com ele assistir o filme no quarto. Acabei deixando-me levar, jogando-me na cama assim que pude. O canal já estava inclusive sintonizado, e o filme prestes a começar.

Acabei por assistir quase o filme inteiro. Entre cochilos esporádicos, interrompidos por um estremecimento por parte dele – já que eu dormia com a cabeça em seu colo – acompanhei todos os atentados infringidos à personagem principal, e nada era tão imperdível quanto minha cara de descrença, na cena em que as meninas tomam produto de limpeza em pleno palco.* Ao término do filme, ele me sacudiu, perguntando se estava ainda acordado. Respondi apenas com um “ahn...” e voltei a fechar os olhos. O sono era torturante, e ele havia me balançado exatamente no momento em que eu iria começar a dormir de verdade. Não demorou muito para ele cutucar-me novamente, e tive que esforçar-me para dirigir a palavra à ele.

– Diga... – murmurei, balançando a cabeça, tentando manter-me acordado por pelo menos mais cinco minutos.

– Onde tem um cobertor? Estou com frio...

No armário – murmurei, virando-me do outro lado e agarrando um travesseiro – procura em uma das portas que você acha...

– Mas Kyu... Qual delas?

Fiz um pequeno esforço mental, mas a ordem e o número não vieram em mente. Eu estava com a cabeça completamente anuviada por causa do sono, e não adiantava esforçar-me para pensar. Nada de bom ou confiável sairia daquele meu estado de letargia.

– Não sei, SungMin... Procura...

– Mas... Tá escuro – eu sabia! Sabia que ele ficaria com medo e cheio de frescuras depois do filme.

– Sério que você vai me fazer levantar para procurar um cobertor? – abri apenas um dos olhos, encarando-o. Em seus lábios ia o costumeiro biquinho de birra.

– Por favor... – seus olhos brilharam ao pedido, e apenas estalei a língua. O que eu poderia fazer para confrontar aquele tipo de ação?

Arrastei-me para a ponta da cama, parando sentado apenas para soltar um bocejo. Sacudi a cabeça novamente, e levantei, apoiando-me no armário. Instintivamente, liguei a luz e fui até uma daquelas portas, que eu sequer prestei atenção na contagem de qual era. Abri-a e tirei um cobertor branco, jogando-o em cima dele.

– Ai, Kyu... – reclamou, estendendo-o por sobre suas pernas – o que é isso? – apontou para dentro do armário, e senti-me obrigado a procurar a direção do que era.

– Isso? – perguntei, puxando de dentro um objeto grande, guardado dentro de uma capa de couro – um violão que era do meu pai... Por quê?

– Posso ver? – ele saiu debaixo do cobertor, engatinhando até a beirada da cama.

– Hm... Claro – afastei-me, deixando que ele tomasse meu lugar de poste em frente ao armário, voltando para a cama.

– Ele é pesado... – puxou-o, abrindo rapidamente o zíper – disse que era de seu pai... Tem problema eu tocá-lo?

– Acho que não. Meu tio costuma tocar esse violão, de vez em quando, então acho que não há problema.

– Obrigado – ele tirou-o de dentro, e sentou na cama com o violão do colo.

– Não... Você está brincando que vai tocar isso...

– Eu vou – ele sorriu.

– Mas agora? – fiz uma óbvia cara de incredulidade, o que ele riu.

– Deixa de ser preguiçoso. Não é nem meia noite.

– Isso porque você dormiu de tarde, esperto. Eu não dormi. Estou morrendo de sono.

– Eu sei... Quem sabe uma música não lhe acorda? Vai, Kyu, uma vez só... Deixa eu tocar pra você... – ele fez outra daquelas suas caras de pedinte, e não pude deixar de concordar. Como eu poderia batalhar com aqueles olhos tão brilhantes e cheios de carência? Era impossível negar algo à ele.

– Apenas uma, tudo bem?

– Certo! – ele sorriu, ajeitando o violão no colo.

Por minha vez, acabei enfiando-me para baixo das cobertas, mas mantendo-me sentado. Iria aguentar o sono até ele terminar aquela música, e depois abraçaria saudosamente meu querido amigo e companheiro, Morfeu. Ele deu uma tossidinha para limpar a garganta. Pelo visto, não iria apenas tocar. Ele estava realmente elétrico, e eu esperava que não demorasse muito para ele ser tirado da tomada. Minhas baterias e forças já beiravam a zero. Seus dedos formaram um acorde simples, e o outro braço passou pelas cordas lentamente, como se testassem a sonoridade.

– Ainda está boa... – ele disse, surpreso – está afinado.

– Está? – passei a mão no cobertor, esticando-o – deve ter sido meu tio. Ele deve ter vindo não faz muito tempo, e afinou-o.

– Pode ser, mas é realmente surpreendente... Eu esperava um som mais... Estranho. Mas está agradável.

– Que ótimo SungMin, agora vamos logo com isso.

– Aish... Tudo bem – ele fez bico – calma.

Ele coçou a cabeça levemente, mas logo voltou a se reposicionar. Testou alguns acordes, sem que tocasse realmente, e limpou a garganta por mais uma vez. Dessa vez, seus dedos desceram no violão, e logo sua voz soou por todo o quarto.**

 

“You know you’re everything to me

Você sabe que é tudo para mim

And I could never see the two of us apart…

E eu nunca poderia nos ver separados... ”
 

No início, não reconheci a letra, por ser em inglês, mas aos poucos, conforme sua voz e dedos habilidosos destoavam a canção, reconheci as linhas e surpreendi-me com a letra.

 

“And you know I give myself to you

E você sabe que eu me dou para você

And no matter what you do... I promise you my heart…

E não importa o que você faça... Eu te prometo meu coração...”
 

Ele estava cantando aquilo por querer, ou foi uma música escolhida aleatoriamente?

 

“I’ve built my world around you and I want you to know

Eu construí meu mundo ao seu redor e eu quero que você saiba

I need you like I’ve never needed anyone before...

Eu preciso de você como nunca precisei de alguém antes...”
 

Seus olhos procuraram os meus. Quando se encontraram, um sorriso apareceu em seu rosto. O mais belo que já vi. Não, ele não cantava uma música aleatória. Ele a cantava para mim. Ele sentia a música. Aquela letra, daquela música, falava de mim.
 

“I live my life for you

Eu vivo minha vida por você

I want to be by your side

Eu quero estar ao seu lado

In everything that you do

Em tudo o que você fizer

And if there’s only one thing you can believe

E se há uma coisa que você pode acreditar

Is true, I live my life for you…

É verdade, eu vivo minha vida por você…”

 

Por que ele cantava aquilo? O que afinal, alguém com o coração tão belo e puro, poderia ver em mim? Ele iria dizer mesmo que viveria a vida dele por mim? Que ele ficaria ao meu lado? Não diga isso, SungMin... Não diga. Eu posso cobrar, e nunca mais deixá-lo ir. Eu posso... Apegar-me. De verdade, o mais forte possível...

 

“I dedicate my life to you

Eu dedico minha vida a você

You know that I would die for you

Você sabe que eu morreria por você

But our love would last forever

Mas nosso amor pode durar para sempre

And I will always be with you

E eu sempre estarei com você

And there is nothing we can’t do

E não há nada que não possamos fazer

As long as we’re together

Enquanto nós estivermos juntos”

 

Não diga isso. Não diga que ficará para sempre ao meu lado. Não diga que morrerá por mim. Não diga que dedicará sua vida à mim. Eu já disse, posso cobrá-lo. E se eu realmente apegar-me à você, não existe forças nesse mundo que façam eu soltar. Se você realmente for meu, SungMin... Será para sempre. Amor... Como você tem tanta certeza do sentimento que tenho por você, quando eu mesmo estou cheio de dúvidas? Amor... Palavra forte, não acha? Como você pode ter noção desse sentimento que guardo à sete chaves dentro de meu coração? SungMin, a verdade, é que...

 

“I Just can’t live without you and I want you to know

Eu não consigo viver sem você e eu quero que você saiba

I need you like I’ve never needed anyone before…

Eu preciso de você como nunca precisei de alguém antes...”

 

O sono já havia me abandonado. Cada pequeno pensamento que estava sendo gasto anteriormente para concentrar-se no sono, agora queria ouvir a música e toda sua mensagem. Eu esforçava-me para entender a letra com meu inglês falho, junto com a não fluência dele. Eu poderia estar ouvindo coisas erradas, não?

“I live my life for you

Eu vivo minha vida por você

I want to be by your side

Eu quero estar ao seu lado

In everything that you do

Em tudo o que você fizer

And if there’s only one thing you can believe

E se há uma coisa que você pode acreditar

Is true, I live my life for you…

É verdade, eu vivo minha vida por você…”
 

Não repita isso, SungMin... Não repita! Seu sorriso em momento algum escapou de seus lábios. Eu o quero ao meu lado, SungMin. Quero-o como nunca quis ninguém antes. Fique aqui. Nunca me deixe...

 

“I’ve built my world around you and I want you to know

Eu construí meu mundo ao seu redor e eu quero que você saiba

I need you like I’ve never needed anyone before...

Eu preciso de você como nunca precisei de alguém antes...”

 

Precisar talvez não fosse a palavra correta... Eu necessito de você, SungMin. Nunca se afaste, eu posso... volver-me louco, na sua ausência.

 

“I live my life for you

Eu vivo minha vida por você

I want to be by your side

Eu quero estar ao seu lado

In everything that you do

Em tudo o que você fizer

And if there’s only one thing you can believe

E se há uma coisa que você pode acreditar

Is true, I live my life for you…

É verdade, eu vivo minha vida por você…”


Ele parou, sorrindo, e engatinhou até o meu lado. Seus olhos não saíam dos meus, e pude constatar a doçura que emanava deles. Como ele conseguia? Eu tinha noção que minha expressão de surpresa e de completo fascínio era incrível, e que eu não conseguira dissimular meus sentimentos como o usual. Ali estava eu, em sua frente, vendo aquele sorriso destinado à mim, e apenas à mim. A verdade, SungMin, é que não posso mais enganar-me. Eu te amo, como nunca amei ninguém, e como nunca amarei. Por favor, cumpra tais palavras, e nunca me deixe...

Encaramo-nos por alguns segundos, e por fim, ele enlaçou meu pescoço com os braços, aproximando nossos rostos. Aproximou-se mais, ainda olhos nos olhos. Um sorriso estampado em seu rosto, e o término da música.

 

“I live my life, for you...”

 

Nossos lábios se tocaram levemente. Ele voltou a olhar-me com aqueles orbes brilhantes. Por que diabos eu havia demorado tanto para encontrá-lo nessa vida? Meus braços enlaçaram-no pelo meio das costas e puxaram-no novamente para mim. Entregamo-nos à uma dança totalmente sincronizada de nossos lábios. Meu coração gritava por ele. Gritava tanto pela presença dele, que nada, nada poderia substituir aquele momento. Nem mesmo em mil anos. Perdemos o fôlego, e ele se afastou, sentando-se ao meu lado, rindo igual um bobo. Ele realmente gostava de mim, certo?

– Gostou, Kyu? – ele olhou-me, esperançoso.

– Hm... Gostei – sorri, um pouco constrangido.

– Kyu, eu... Fecha os olhos.

– Se eu fechar os olhos, eu durmo... – sorri, pegando sua mão entre as minhas.

– Não, não durma. Espere um pouquinho. Feche os olhos.

– Tudo bem, mas seja rápido...

– Certo!

Fechei-os, e sua mão escapou das minhas. Ele mexeu-se na cama, ação que percebi pelo balançar das molas. O que ele estaria fazendo?

– Me dê a mão Kyu... – estendi-a e abri um pouco os olhos.

– Não! Feche os olhos! Não mandei abrir!

– Desculpa, desculpa... – sorri, cerrando-os e voltando a estender a mão.

Senti sua pele na minha. Em um aperto, ele segurava minha mão e separava meus dedos. O que ele estava fazendo? Senti algo gelado tocar a ponta de meu dedo anelar. Aquilo era o que eu estava pensando? Um metal escorregou por ele, até encaixar-se perfeitamente. De todas as coisas que eu pude pensar que ele iria fazer, aquela era a menos provável.

– Pode abrir...

Obedeci-o, e meus olhos logo caíram para minha mãe direita. Um anel de prateado ornava meu dedo, como se indicasse compromisso. Onde ele havia arranjado aquilo? Uma aliança... Era sério que ele queria que eu a usasse? Olhei para ele, que sustentava o sorriso, e acabou por estender a mão para mim, mostrando a duplicata em seu dedo. Fiquei sem reação. O que eu poderia fazer?

– Gostou? – ele olhou-me, curioso. Esperança era evidente em seus olhos. Assim como uma pontinha de medo de minha reação.

– De todas as coisas que você poderia fazer, essa foi a que mais me surpreendeu... – sorri sem graça, girando o anel no dedo.

– Você não disse se gostou ou não... – fez bico.

– Quando comprou isso?

– Quando fui comprar o vinho. Não achou que eu demorei tanto apenas para comprar aquilo, não é?

– Faz sentido... – dei de ombros, voltando a vislumbrar a joia em meu dedo.

– É claro que é algo simples e tudo o mais, mas achei que deveríamos ter algo que significasse nosso namoro. E bem, uma aliança é a melhor maneira, não?

– Sim... – sorri sem graça, balançando a cabeça afirmativamente.

– Você ainda não me disse se gostou... – ele fazia novamente aquela expressão de pedinte. Como eu poderia lutar contra aquilo?

– Eu não estou acostumado a usar anel, Minnie...

– Se não quiser, devolve então – ele tentou pegar minha mão para retirar o anel, mas escondi-a atrás das costas.

– Eu não disse isso... – sorri, tirando-o de perto da minha mão com a outra – eu gostei.

– Por que não disse antes?

– Porque adoro ver você nervoso – sorri, dando-lhe um leve selinho.

– Idiota... – emburrou, virando pro lado.

– Não fique assim, SungMin... Eu gostei, de verdade. Obrigado. Mas agora, eu preciso dormir... Eu to morrendo de sono, e dessa vez é sério. – puxei a coberta, escorregando para baixo dela e fechando os olhos – Sem falar que iremos para casa relativamente cedo, amanhã... Guarda o violão e apaga a luz, por favor, sim?

A cama mexendo. Barulho de zíper. A luz se findando. A coberta se levantando. Em questão de segundos, ele já me abraçava por debaixo dos lençóis. E finalmente, pude deixar que o sono apoderasse-se de mim. Era inexplicável a calmaria que ia ao meu coração, reforçada apenas por aqueles braços que rodeavam minha cintura. Dormir com ele ao meu lado, mesmo que ele mexesse-se a noite inteira, era a melhor coisa do mundo. Era o segredo para uma boa noite de sono. Apenas uma coisa eu tinha certeza, diante de todas aquelas dúvidas que viriam atormentar-me no dia seguinte, apunhalando-me cruelmente. Eu havia crescido com um buraco afetivo em meu peito, e finalmente, apareceu alguém que o preencheu. SungMin. A única pessoa em todo o mundo, que poderia tapar tal buraco e fazer-me dependente de sua presença. A única pessoa que eu verdadeiramente amo.


“Why is the clock even running

If my world isn’t turning?

Hear your voice in the doorway wind…”


Notas Finais


*Eles assistiam ao filme "White - The Melody of The Curse"
**http://www.youtube.com/watch?v=aY2sBDPgOXU&ob=av3e I Live My Life For You, do Firehouse


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