História Blindfolded - Ideias Estranhas

Clarke sabia que aquela não era uma boa ideia, mas deixou que Raven falasse mesmo assim.

– Vamos, Clarke! Por favor! – Ela reclamou olhando para a amiga, que se encontrava deitada no sofá assistindo algum filme na Netflix. Clarke sequer tirou os olhos da tevê.

– Eu preciso de um acompanhante, o ticket é para duas pessoas. Sem você eu não posso entrar. – Raven continuou.

– Você pode levar outra pessoa. – Clarke resmungou, pegando sem cuidado um punhado de pipoca do balde próximo a ela.

– Quem? Finn, o nosso ex, ou quem sabe Lexa, a sua ex? – Raven retrucou. – Monty e Jasper estão fora da cidade, então essas são as únicas opções restantes.

– Você realmente acha sensato ir à um encontro às escuras? Tipo, literalmente sem ver nada? – Clarke disse, pausando o filme e finalmente olhando para Raven, que fazia uma dancinha da vitória mentalmente ao capturar a atenção da colega de apartamento. – Você não vai saber com quem está falando!  

– E é esse o propósito! Se eu gostar da pessoa, vai ser pelo que ela tem a dizer, e além do mais, se no final ela não fizer meu tipo, não é como se o encontro fosse um compromisso. – Ela retrucou. – O lugar é disputadíssimo e eles sempre fazem uma pesquisa sobre os clientes antes de cadastrá-los. Ninguém que eles não aprovem entra lá, então a gente não vai encontrar nenhum serial killer.  

Clarke franziu o cenho.

– Espera, se eles fazem uma pesquisa sobre os clientes antes... Você já me cadastrou?! – Ela perguntou, indignada. Se isso fosse verdade, Monty ou Jasper nunca haviam sido uma opção, mesmo se eles estivessem na cidade, já que Raven havia ganhado os tickets para o restaurante semanas atrás e sabia que, se tivesse avisado com antecedência sobre os encontros, Clarke teria dado alguma maneira de recuar.

– Ops. – Raven murmurou, dando um sorriso amarelo em seguida. – Por favooor? Você não precisa ir pelo encontro, você pode ir só pela comida, que é mais ou menos o que eu estou fazendo, se eu for honesta. Dizem que a comida lá é maravilhosa, e que como nós não vemos nada nosso paladar fica mais aguçado. Sinceramente, eu não sei se a última parte é cientificamente correta, mas sobre a comida ser boa eu tenho certeza e euestoufalandodemais, eu sei, mas não é como se você fosse fazer alguma coisa amanhã e eu realmente preciso de você.

Clarke suspirou, balançando a cabeça.

Ela sabia que não devia ter deixado Raven falar, já que geralmente a mecânica estava certa. Ela não iria fazer nada no dia seguinte, e seus únicos planos eram estudar para uma prova da faculdade e colocar alguma série em dia. Um encontro às escuras não era algo que Clarke se submeteria por vontade própria, mas Raven sabia como ela funcionava e jogava as cartas certas.

– Então...

– Então? – Raven repetiu, ansiosa.

– Tudo é de graça, certo? – Clarke perguntou, e Raven sorriu abertamente.

 – Sim! Você nem precisa rachar o Uber comigo, tudo sai de graça.

– Bem, – Clarke suspirou de forma dramática, já tendo cedido aos argumentos de Raven. – Você não me deixa escolha. Comida e transporte de graça? É um encontro. – Ela piscou para a amiga, que riu em seguida.

– Você é a única pessoa no mundo que alguém tem que convencer a comer de graça, sério. – Raven disse ainda rindo. – Clarke Griffin: Personificação do Grumpy Cat.

– Eu aceito ir e você já começa a me insultar? – Clarke reclamou ainda dramática, jogando pipoca na colega de quarto, que desviou facilmente.

– E a sua mira continua péssima. – Raven provocou, indo em direção ao seu quarto. – Boa noite!

– Você é que é uma ninja, a minha mira é ótima. – Ela retrucou enquanto ria, continuando a jogar pipocas, sem sucesso em atingir seu alvo.

Depois de aceitar participar do estranho encontro duplo com Raven, Clarke viu tevê por mais alguns minutos, mas logo ficou entediada. Ela não estava realmente prestando atenção, e não sabia mais o que estava acontecendo no filme em pouco tempo. Assim, ela logo fez o mesmo que Raven, e foi para o seu quarto com a intenção de acordar somente após o meio-dia.

Porém, sua mente parecia não concordar com ela. Deitada, Clarke começou a pensar no que havia se metido.

Ela iria em um encontro literalmente no escuro. Com um desconhecido. Havia algum tipo de dresscode nessa situação? Ela teoricamente poderia ir de pijamas se quisesse? Clarke tinha que fazer essa pergunta a Raven assim que pudesse. Olhando para o teto, ela respirou fundo.

Clarke não precisava ficar nervosa sobre isso, afinal, ela só estava indo pela comida e nada mais. Claro, já tinha se passado um tempo desde a última em vez que ela havia ido propriamente a um encontro, e dois meses desde o término com Lexa. Clarke não sabia dizer se isso era tempo suficiente para seguir em frente, mas...

– Chega. – Ela sussurrou para si mesma, virando de lado e olhando para o criado mudo. Ela poderia pensar nisso amanhã.

Logo seus pensamentos foram levados para outros tópicos.

Tudo passava tão rápido. Daqui a pouco ela estaria se formando em Medicina, tudo que sua mãe queria, e poderia reingressar na universidade em pouco tempo no que ela realmente tinha interesse. Ela tinha uma ótima(e persuasiva) colega de apartamento, próximo à uni, e um lugar garantido no hospital em que sua mãe coordenava(sussurros sobre nepotismo continuavam sendo espalhados pelo lugar, mesmo após Clarke ser selecionada em uma entrevista feita por um departamento que não era o de Abby, mas nada que não fosse ser calado assim que Clarke fosse efetivada. Apesar de tudo, ela era muito boa no que fazia.). Tudo parecia ocorrer bem em sua vida, e ela não precisava de ninguém para preenchê-la.

Mas o encontro talvez fosse uma boa oportunidade para parar de pensar de vez no término com Lexa e, na pior das hipóteses, ela estaria jantando em um bom restaurante ao invés de deitada vendo Orgulho e Preconceito pela vigésima vez ou atualizando alguma série pendente.

E ela ainda tinha descolado a corrida do Uber de graça.

Tsc, e a Raven se achando esperta.

Assim, Clarke foi dormir pensando no que o dia seguinte traria para ela.