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História Blood, sweat and tears - Uma fenda


Escrita por: DonaMor

Notas do Autor


Capítulo para a quarentena, espero que gostem!

Capítulo 18 - Uma fenda


A Barreira Mágica permanecia monumental em seu devido lugar. Era ostensiva, suntuosa, altiva.  
           Os primeiros raios de Sol eram refratados por ela, criando novos caminhos de luz. Os três membros do Conselho estavam novamente parados a frente dela, dessa vez, acompanhados por Mavort, Raven e um grupo maior de subordinados. Haviam se preparado durante toda aquela noite para aquele momento, para o momento em que finalmente entrariam na Floresta Proibida.  
             Não iria ser fácil.  
          Passariam dias e noites naquele lugar inóspito procurando por alguém que sequer sabiam se encontrariam. Todavia cada minuto ali, cada mínimo esforço valeria a pena para completar aquela missão.  
            Raven estava com os braços cruzados sobre o peito e o peso de seu corpo vertido para apenas uma de suas pernas. A ideia de passar dias, semanas e até mesmo meses em uma floresta não lhe agradava. Por sorte ela não precisava dormir, embora o fizesse com frequência. 

 Vestia-se com uma peça única indo, uniformemente, da gola alta em seu pescoço até seus tornozelos cobertos por uma bota cheia de fivelas. As escamas do couro de sua roupa eram longas semelhantes a penas da cor do petróleo, emitiam rajadas de brilho conforme os raios de luz passavam por elas. Sobre a cabeça, o habitual capuz que compunha sua capa. Somente suas delicadas mãos estavam à mostra, exibindo suas unhas escarlates bem cuidadas.  
        Foi em direção à parede invisível que dividia os territórios, tocou-a e sentiu seu corpo tremer, olhou através dela as árvores com inclinações estranhas, as folhas frágeis caindo e se quebrando como pergaminhos antigos. Se perguntara mil vezes se aquilo valeria mesmo a pena, se aquela maldita garota era realmente necessária para o sucesso do plano do Conselho. Achava que não, mas o Mestre insistia tanto nela que chegou a duvidar de si mesma.  
 

Mais à frente, Mavort pediu a todos que se afastassem sendo atendido complacentemente. Ele se posicionou e fechou os seus olhos. Raven manteve sua atenção fixa nele, analisando cada movimento, cada detalhe. Estaria atenta caso ele não fosse realmente confiável.  
            O misterioso mestre em magia bateu com a ponta inferior de seu cajado no chão e um círculo de luz esverdeada surgiu abaixo de seus pés. Passo a passo, se aproximou da Barreira e tocou-a com a extremidade da bengala. Capas e capuzes dançavam com o redemoinho de vento que se formou e foi se intensificando a medida que ele adentrava a parede com o bastão. Quando ela foi perfurada, a lufada de ar tornou-se quase insuportável, um dos membros se soltou da terra e foi jogado para longe, como um pássaro enfrentando o vendaval.  Os pulmões sofriam com a pressão exercida.  
       O pequeno orifício logo se tornou uma fissura. O vento cessou como o fim de uma melodia e todos se estabilizaram em seus lugares. Raven olhou para a muralha. A energia daquele monumento tremeluzia ao redor da rachadura em cores de arco íris.  
             _ A abertura não vai durar muito tempo. - Mavort segurava aquela ranhura com toda sua força. - Vão! RÁPIDO!  
             A equipe passou em fila pela grande divisória. Raven aguardou até que o último passasse.  
             _ Quando encontrarmos ela, como faremos para sair? - A mulher perguntou antes de atravessar para a Floresta.  
             _ Apenas voltem para este mesmo lugar, eu estarei aqui.  
        Ela hesitou, não podia deixar de desconfiar dele e de suas palavras. O desconhecido poderia ser algo assustador e traiçoeiro, principalmente quando se tratava de alguém com um poder tão extraordinário quanto Igo Mavort.  
             Ela olhou para o sorriso velho e cínico dele uma última vez antes de seguir em frente.  
 
                                                                             •••••••••••• ♤ •••••••••••• 
 
          Do outro lado da Barreira, no centro da extensa Floresta, em um lugar em que o Sol brilhava com o ápice de sua força e as folhas já mortas das grandes e viçosas árvores planavam indecisas para cair contra o chão macio; um lugar onde um tapete de pequenas flores de um rosa tímido cobriam o solo, o orvalho escorria pelos arbustos rasteiros e as aves cantavam em coral; um pequeno pedaço daquela floresta em que o tempo não parecia passar e a neblina não tinha influência; miúdas criaturas mágicas com corpo uniforme e peludo semelhante a de pequenas lontras, do tamanho de insetos e com asas de mariposa, asas em tons terrosos e ornamentadas com grandes olhos negros, voavam emitindo um nítido ruído.  
           Próximo, a silhueta de uma mulher ouvia aquela sinfonia com um sorriso em seu rosto sereno. A pele rosada de seu corpo esguio era coberta por um vestido de faixas, fluido, branco e puro de tecido leve, deixando apenas as laterais nuas e terminando em vapor esbranquiçado flutuante à altura dos pés. Correntes finas douradas caíam pelos seus ombros delicados se unindo em uma pedra azul com forma de gota em seu busto e fitas da mesma cor trançavam suas pernas. Os cabelos brancos escorriam pelas suas costas e findavam em leves ondas como a enseada de uma praia; no alto da cabeça curtos chifres com pouca angulação eram trançados por linhas de flores. A face calma era estampada por olhos de um azul tão claro que poderiam ser comparados a fragmentos do céu, por bochechas rosadas e esbeltas além da boca naturalmente avermelhada e fina com um arco do cupido bem delimitado. 
         Ela estendeu uma das mãos em concha para um dos miúdos bichos que voavam, de maneira arisca Ele se aproximou aos poucos pousando com indiferença, primeiro com as patinhas, até se aconchegar por completo no abrigo dos dedos da mulher. Ela sorriu com sinceridade e passou graciosamente o polegar sobre a diminuta cabeça da lontra voadora que chacoalhou suas asas agradecida.  
          Subitamente o ser voou de sua mão e junto com sua manada fugiu rapidamente para dentro de um tronco oco de uma das árvores. Segundos depois, ela pôde entender o motivo da fuga. Sentiu um tremor perpassar pela linha de seu corpo e, de imediato, reconheceu sua origem: A Barreira Mágica.  
           Fechou a mão com rispidez e levou-a ao peito. Ela podia sentir tudo que acontecia com a barreira, era um de seus dons. Nada acontecia naquela floresta sem que ela soubesse e a última vez que sentira algo ferir a integridade da divisa foi quando Aurora havia entrado por uma das fendas. 
           O ser místico tinha conhecimento sobre o enfraquecimento do grande muro, sabia que os Guardiões que a controlavam buscavam a sua quebra, no entanto, aquele ataque repentino não parecia ter vindo de um Guardião, e ela sabia que somente um outro grupo de pessoas seria capaz de sulcar a Barreira além dos Guardiões. Todavia era impossível, já que há muito tempo não se ouvia relatos sobre eles, os seres fundamentais.  
            Após alguns segundos de contemplação, um redemoinho de pétalas de flores girou furiosamente ao redor dela e em instantes a mulher misteriosa desapareceu como o vapor de água em ebulição. 
 
 
                                                                            ••••••••••• ♤ ••••••••••• 
 
           Quando finalmente adentrou a Barreira Mágica, Raven sentiu a potência, a força e a magnificência daquela magia antiga, uma magia praticamente morta, petrificada em forma de uma redoma de vidro. Foi rapidamente arrebatada pelo vigor daquela escultura como se o oceano a inundasse com suas águas profundas. 
           Sentiu a atmosfera mudar imediatamente quando afundou suas botas na terra esponjosa. Uma névoa fina assentou-se acima de seus pés e um vento úmido soprou fazendo as árvores rangerem, como se a floresta estivesse dando um aviso, um último e piedoso aviso para quem estava invadindo o seu território. Viu sua energia ser sugada aos poucos por aquela paisagem nefasta como se um verme estivesse roubando-lhe o sangue.  
             Renunciando todos os avisos de seu corpo, a mulher foi adiante, se encontrando com os outros membros do Conselho.  
            _ Estão todos aqui? - ela perguntou enquanto verificava cada face coberta pelo capuz. Quando teve certeza de estarem todos reunidos, ela abriu um mapa amarelado e corroído contendo uma imagem parcialmente apagada da extensão da Floresta, e prosseguiu. - Dividimos o território em quatro partes: norte, sul, leste e oeste. Cada grupo formado anteriormente será responsável pelas buscas em uma dessas partes. O grupo Um irá ao norte e será liderado por Joah, o grupo 2 à oeste comandado por Thelas, o terceiro grupo irá ao leste obedecendo a Pita e o último grupo procurará ao sul com Larcade. - Fez uma breve pausa, apontando para o mapa que flutuava no ar. - Apenas enviem um sinal caso encontrem Aurora, nenhum grupo é permitido abandonar a busca para interceder por outro, sendo assim, cuidem para que não morram, pois ninguém estará lá para te salvar. - a essa altura sua voz tinha abandonado o tom democrático e se tornado terrivelmente sombrio. - é um terreno amplo e cheio de armadilhas, então espero que sejam minuciosos: procurem em cada centímetro, atrás de cada árvore, debaixo de cada pedra. Fracassos não serão admitidos. - ao proferir essa última frase seus olhos se fixaram em Joah. - Quando terminarem voltem para esse mesmo local. Alguma pergunta?  
             _ Com quem você irá? - uma voz ecoou ao fundo.  
            Raven sorriu e respondeu: 
             _ Eu irei sozinha. Agora, vão, mexam essas bundas inúteis!  
         Os grupos foram se dispersando por meio de portais que os levariam ao seu local designado, alguns, no entanto, preferiram voar impulsionados pelo fogo de suas mãos, por asas escondidas ou pela simples magia de levitação.  
 

Estando finalmente sozinha, Raven inspirou profundamente sentido o odor do orvalho que aos poucos se difundia com o ar, olhou em volta imaginando os tipos terríveis de criaturas que se escondiam aqui. Esboçou um pequeno sorriso ao sondar com magia a área ao seu redor. Suas pernas se elevaram e se cruzaram. Ela sentou -se, pairando, sobre o ar; levou as mãos a frente com apenas seu indicador e dedo médio erguidos, uniu-as, voltando uma para baixo e a outra para cima. Seus olhos foram tomados por um brilho púrpura intenso e cintilante.  
            Ela invocou os seus corvos e em alguns segundos uma nuvem negra a rodeou. Olhando mais de perto, podia-se distinguir as asas, os bicos e os olhos vermelhos das pequenas aves. O canto desarmônico dos pássaros soavam como a mais pura música aos ouvidos de Raven. Ela estirou o seu corpo ainda flutuando em meio ao vendaval escuro.  
            _ Vão, meus pequenos, vigiem os Membros do Conselho e procurem pela garota. Sejam meus olhos e ouvidos. - ela ordenou enquanto aquela fumaça viva se dissipava sobrevoando a Floresta Proibida


Notas Finais


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