Dean passava mais um dia cansativo em seu trabalho. Eram planilhas e mais planilhas chegando em seu e-mail, novas reuniões sendo marcadas, processos jurídicos renovados. Sua cabeça estava prestes a explodir. A sorte é que neste exato momento, sendo mais coerente, 1:00P.M, era seu horário de almoço.
— Mon ami, agora conte-me sobre o garoto de ontem a noite. — disse Benny sorrindo cafajeste. Dean tombou a cabeça para trás e riu baixinho para não chamar a atenção do povo do restaurante.
— Benny, meu irmão, se eu lhe contar nem acredita! — ele disse e sorriu ao lembrar da face ruborizada do rapaz. Ele realmente esperava chegar em casa e vê-lo em sua cama.
— Mon frère, avec elle! — retrucou Benny bebericando seu vinho. Dean mordeu os lábios.
— Eu não fiz nada com ele. — ele respondeu e deu de ombros. O loiro que antes levava a comida até a boca, parou o garfo no meio do caminho e abriu a boca abismado.
— Qu'est-ce?! Vous êtes fou?! — Benny quase berrou indignado. — Vous avez payé U$40.000, Dean! U$40.000 e nem o beijou?!
— Benny, tem a outra parte da história... — ele quase sussurrou para o amigo que havia se calado desta vez.
— Continue, Dean.
— Quando eu deixei-te no bar, fui apanhá-lo, ele parecia tão doce, que senti-me estranhamente feliz por dentro. As bochechas eram coradas e os olhos brilhavam reluzentes...
— Dean, não seja maricas! — zombou Benny. Dean revirou os olhos e pôs-se a rir.
— E somos o quê? — ele indagou rindo, o loiro gargalhou e quase se engasgou com a bebida.
— Certo, certo, mas agora continue. — ele pediu.
— Recapitulando, eu o levei pro carro, até abri a porta! — disse Dean encenando com as mãos e com cara de indignado. Benny se matou de rir do melhor amigo.
— Qu'est-ce? Dean Winchester est vous-même? — Benny chegou a engasgar com a macarronada.
— Cala a boca mariquinha. — Dean revirou os olhos e voltou ao assunto, novamente. — Ele era tão lindo, juro pelos deuses! Mas até aí tudo bem, então chegamos em casa, e eu abri a porta de novo, e ele parecia estar nervoso.
— Oh, bien sûr, mon frère, ele sabia que um pau de quase 90 metros iria perfurar o baço e o pâncreas dele. — disse irônico enquanto zombava cada vez mais do amigo. Dean queria enfiar o garfo no olho dele, mas se segurou.
— Dá pra ficar quieto, se não eu não termino a história, cacete! — ele disse. — Enfim, eu levei uma bebida pra gente, e ele tava tremendo muito, parecia que ia ter uma convulsão, aí eu fui me aproximar dele e ele se afastou, mas do nada começou a chorar e pediu pra eu não machucá-lo. Eu não entendi foi pilegas nenhuma, meu irmão.
— Hum, intéressant, mon ami. — dizia Benny com a mão sobre o queixo, provavelmente pensando em alguma hipótese. — Pense comigo, Dean: Blue é um novato no Bar, une vierge, provavelmente algo no passado o aterroriza, e isso deve incluir abus et de torture.
— Pode ser que seja isso. — respondeu Dean. — Se você o tivesse visto, teria a mesma sensação que eu tive. Não pude fazer nada além de abraçá-lo e acariciar seus cabelos. Ele dormiu no meu colo, Benny.
— Et il ainda está lá? — indagou o mais velho.
— Não tenho certeza, mas acho que não. O prazo é de que ele volte pela manhã, que eu saiba. — ele disse. — Se ele não estiver lá, não sei se o verei novamente.
— Mas é só ir ao bar, Dean.
— O caso é que eu não o quero dançando para aqueles homens nojentos e nem tendo que se vender. Você sabe o que é o mundo da prostituição, Benny. — disse o loiro coçando a barba já rala. Ele suspirou e saiu do departamento acompanhado do amigo.
Há algum tempo atrás, Benny tinha conhecido um rapaz, seu nome era Samandriel, ele era pequeno, indefeso, e não via maldade no mundo. Ele o ajudou bastante, assim como o Dean. Ajudou o garoto a terminar o secundário e até mesmo entrar para uma boa faculdade, mas ele ainda assim continuava preso ao mundo da prostituição, para conseguir se sustentar, e isso chegava a doer dentro do peito do mais velho, que gostava tanto dele.
Certo dia, quando Benny e Dean foram sair para beber durante uma noitada, pensaram que o encontraria lá, como na maioria das vezes, sendo alisado pelos senhores de idade, que praticamente devoravam o menor. Mas foi justamente ao contrário. Natasha, a moça que anunciava as atrações da casa, estava com os olhos inchados e parecia ter chorado a noite inteira, e então a notícia surgiu.
Samandriel tinha saído para fazer um programa para um homem, já velho, que havia pago bem caro por ele, e ele não tinha voltado no prazo, e no dia seguinte, haviam encontrado seu corpo jogado entre os destroços da lixaria. O garoto tinha sua pele toda mutilada, e os olhos torcidos, como se estivesse pedindo a súplica de que parassem, e a pior parte, era saber que mais de quatro homens haviam feito uma covardia daquelas com uma criança. Benny nunca se perdoou por aquilo.
— Não foi sua culpa, B. — disse Dean dando tapas nas costas do maior, que apenas entortou os lábio e respirou fundo.
— Mas sinto como se fosse, Dean. — ele disse. — Parfois petits mots, provoquent de grands actes.
***
O restante do dia passou calmo. Dean se sentia bem ao conseguir se abrir com um amigo, o ajudava bastante. O loiro estava observando algumas fotos em seu computador. Seu telefone social tocou e ele atendeu.
— Sim, Jô.
— Sr. Campbell, tem um garoto aqui, alegando que deixou currículo.
— Não lembro de ninguém ter me dito nada, Jô. — ele franziu a testa.
— Certo, devo despistá-lo? — ela indagou.
— Não, pode deixá-lo subir. — ela afirmou e desligou o aparelho.
O Winchester não lembrava de ter pedido novos empregados, afinal, não contratara mais nenhum depois que seu irmão, Samuel, tinha se mudado. Dean levantou-se e observou a cidade do topo do prédio. Uma batida na porta o fez despertar, mas ele continuou a encarando, apenas disse em alto tom um "Entre" e escutou os passos lentos, deveria ser uma mulher.
— Bom dia, Sr. C-Campbell. — disse a voz e o coração de Dean parecia ter parado de bater por alguns instantes. Ele se virou e deu de cara com quem menos esperava.
— Blue?! — ele indagou surpreso e o menino fez o mesmo. Suas pernas ficaram até bambas e se não estivesse sentado, Blue provavelmente teria caído.
— Sr. W-Winchester?! — ele indagou impressionado.
O rapaz estava lindo. Dean tinha se surpreendido, afinal, todos os homens que havia conhecido e que trabalhavam muitas vezes em prostíbulos, tinham a aparência um tanto estranha. Mas Blue era diferente. Seus olhos azuis pareciam estar focados e as bochechas voltaram a corar. O suéter branco estava tão limpo quanto sua face.
— Não sabia que procurava um emprego, Blue. — comentou Dean sentando na ponta da mesa, bem próximo do menor, que sentiu-se pressionado.
— E-Eu preciso, o dinheiro do b-bar não ajuda m-muito, e aqui tem estágios. — ele dizia entre os gaguejos. Dean sorriu e lambeu os próprios lábios.
— Posso ver seu currículo, Anjo? — questionou o loiro estendendo a mão direita para ele. Dean tinha o blazer aberto e a camisa social desabotoada até o terceiro botão. Blue elevou sua mão com a papelada para o mais velho.
— E-Eu sei que n-não é muito b-bom, mas é t-tudo que tenho. — ele dizia e seus olhos estavam quase marejando com o pavor de não conseguir o emprego.
— Hum, Francês avançado, Alemão médio, muito bom... — dizia ele lendo e logo leu seu nome. — Castiel?
— S-Sim...
— Um belo nome, não acha? — ele indagou tentando interagir com o moreno, que a todo o instante, parecia estar aterrorizado.
— F-Foi meu p-pai que me deu. — ele respondeu e encarou suas próprias mãos.
— Posso perguntar algo, Castiel? — disse Dean. O nome do rapaz parecia soar bem melhor em seus lábios. Delicioso de se escutar. O moreno concordou com a cabeça. — Onde ele está?
— Quem? — Castiel não entendeu e tombou a cabeça para o lado, o que o loiro achou realmente atraente.
— Seu pai. — a palavra 'pai' parecia ter um efeito negativo sobre o garoto, já que este pareceu querer chorar naquele momento.
— E-Eu não s-sei. — respondeu Castiel verdadeiramente e fungou, desta vez tentando não gaguejar. — A última vez que o vi, eu estava no hospital.
— Hospital? — indagou Dean curioso.
— É-É, eu estava com f-febre. — ele mentiu. Dean notou que era uma mentira, sabia decifrar isso apenas por seu olhar.
— Bom, estou vendo aqui que você terminou a escola com... — Dean parou de ler e ergueu os olhos estranhamente. — Espere, você ainda está estudando?!
— Sim... — Castiel quase sussurrou.
— Quantos anos você tem, Castiel?
— E-Eu, hum, fiz 16.
— O que?! Você não deveria estar naquele bar! Eu pensava que só haviam maiores de idade naquele lugar. Deus, me segure para não quebrar a cara de Azazel! — o loiro quase berrou em plenos pulmões. Seus olhos ferviam de raiva. — O que você acha que estava fazendo lá?
— E-Eu não tenho mais f-família, então tive que me virar. — ele respondeu ainda encarando os próprios pés, afinal, sua vergonha era notável. Dean notou que ele não se sentia bem com esse assunto e tentou mudar.
— Hum, certo, Castiel. — ele disse. — Infelizmente, eu não tenho vagas de estágio aqui. Acabaram no mês passado, Anjo.
— Mas j-já acabaram? — ele perguntou com um semblante triste.
— Mas eu preciso de um assistente pessoal. — disse ele. — Você passaria quase o seu dia inteiro comigo, até mesmo em casa, exceto nas horas de escola, Castiel.
— Eu moraria com o senhor? — questionou o menor surpreso.
— Basicamente, sim. Eu preciso que alguém me ajude com os telefonemas e que agende minhas reuniões. — resumiu Dean. — Por favor, Anjo, não me chame de senhor, sou tão velho assim?
— Sim, digo, n-não, desculpe, eu f-fico um pouco nervoso. — Castiel disse e sorriu mordendo os lábios. Esse gesto fez com que Dean fosse a loucura, mas se segurou para não fazer algo imprudente.
— Fica nervoso perto de qualquer um... — questionou o loiro aproximando-se do menor que arregalou os olhos. — Ou apenas comigo?
— O-O que? E-Eu só não estou a-acostumado. — ele diz completamente corado. Dean segurou seu queixo com a ponta dos dedos e deslizou o indicador sobre seus lábios finos.
— Esteja aqui amanhã 12:30A.M.
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