Não sei como cheguei em casa, nem o quanto de vergonha passei. Tenho alguns surtos de memória sobre ter dançado com muitas garotas e de ter beijado outras tantas. Minha cabeça latejava mostrando que a noite tinha sido bem longa e que o meu corpo não tinha nenhuma preparação para o contato com álcool. Eu estava destruída, moralmente e fisicamente.
A luz entrava pela janela do meu quarto enquanto tento abrir os olhos, mas a dor me faz gritar de leve. Como as pessoas aguentam ressacas repetidas?
Meu telefone tocou e cada som parecia o badalar de um sino dentro da minha cabeça. Tentei pegá-lo na mesinha de cabeceira e acabei derrubando um copo de água que estava próximo.
- Alô! - Falei com a voz de quem não bebe água ao preço de uma eternidade.
- Eu estou tentando me convencer de que você não esqueceu e está, apenas, fazendo charme. - A voz irritada era familiar. Minha melhor amiga estava zangada e eu não sabia o por quê.
- Amanda, eu não sei o que fiz, mas já estou pagando por isso com essa ressaca absurda. - Respondi, tentando acalmar as coisas.
- Hoje é o meu aniversário, teremos uma festa e você sabia disso. Eu te dou trinta minutos para chegar aqui e eu ainda te recebo para conversar, depois disso, não quero papo. - Eu ainda não acreditava no que tinha feito, claro que era aniversário dela, eu me propus a ajudar com tudo que pudesse.
- Chego aí antes disso.
Eu corri para tomar banho, deixando a água gelada escorrer por meu corpo na tentativa de que pare de queimar. Vesti a primeira roupa que achei e saí correndo pela sala enquanto minha Mãe gritava da cozinha alguns xingamentos por algo que fiz ontem. Eu não entendi e também não parei para pensar.
Quando cheguei, a festa já tinha começado, a piscina estava lotada de pessoas que nunca vi. Percorri todo o lugar em busca de um rosto familiar e nada. Entrei na casa e mais pessoas desconhecidas, quando a Amanda me vou estreitou o olhar de leve se questionando se falaria comigo ou não.
Caminhei em sua direção.
- Eu, desculpa por isso, você sabe que é a pessoa mais importante pra mim, não esqueceria do seu aniversário se não estivesse esquecido meu próprio nome. - Eu estava torcendo pelo perdão.
- Eu posso ficar com sua próxima cirurgia da neurologia? - Golpe baixo.
- Fechado. - Ela sorriu e percebi que ela nunca pretendeu ficar com raiva, só queria mesmo a minha cirurgia.
- Eu quero te apresentar alguém. - E me puxou pela cozinha tentando chegar a sala.
Ela tocou no ombro da moça e exigiu que olhasse para trás.
- Claire, essa é a Jasmine.
Um arrepio percorreu minha coluna enquanto encarava seus lindos olhos verdes. Ela estava diferente, tinha o cabelo mais ajustado e semblante nada triste, seu sorriso me fez sorrir de volta.
- Olá, estranha, espero que não tenha bebido tanto quanto queria.
- Eu também queria.
- Vocês se conhecem ? - Perguntou Amanda, não conseguindo entender.
- Bebemos juntas uma dose de tequila ontem. - Jasmine respondeu e eu observei o movimento da sua boca enquanto falava.
- Que bom!- E saiu em direção ao corredor.
A música começou a tocar e ela fechou os olhos por uns instantes sentindo o que a canção proporcionava. Ela parecia um pouco bêbada, mas pude perceber outros detalhes seus. Tinha uma tatuagem no ombro direito, um disco voador, seus lábios eram cheios e rosados e eu imaginei mil formas de tocá-los. Veio até mim dançando e encostou seu rosto no meu.
Senti meu coração ceder e bater descompassado, não saberia explicar a forma como ela me atraia, nem muito menos todas as coisas que ela me proporcionava sentimentalmente, mas ela o fazia com maestria. Fazia meu corpo arrepiar e minhas pernas tremerem enquanto minha mente fantasiava o encontro dos nossos corpos.
- Eu não posso te beijar. - Ela quebrou o silêncio e saiu no meio da multidão antes que eu pudesse reagir. Olhei ela virar as costas, sem ação alguma, tentando racionar direito e sentir minhas pernas novamente.
Jasmine era como uma dose diária de um veneno, eu deveria ter percebido isso nesta noite, mas não o fiz. Bebi outras doses e clamei por mais. Mas isso é uma história para o próximo capítulo.
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